Vários Artigos nesta seção tratando sobre a posição ateística ou agnóstica.

1. Reflexões sobre Anti-Mormonismo Secular

2. O Caso contra um Universo Aleatório
(traduzido da Meridian Magazin por Fernando Campos de Abreu)

3. Deus & mr. hitchens - Revisão Crítica do Livro "deus não é Grande: Como religião envenena tudo" de Christopher Hitchens
(artigo original do Dr. Daniel C. Peterson - Professor de Estudos Islâmicos da BYU)

4. Neuroteologia. Acaso toda Espiritualidade está em sua mente?
(traduzido da Meridian Magazin por Chris Ayres)

Reflexões sobre Anti-Mormonismo Secular
Por Daniel C. Peterson

A um prolífico ex-Mórmon, agora autor ateísta sobre tópicos históricos Mórmons, foi perguntado se ele estava planejando assistir ao simpósio da FAIR, ele respondeu que não, não iria. “Eu vejo”, disse ele, que Dan Peterson estará falando sobre ‘anti-mormonismo secular’ – em outras palavras sobre ‘Signature Books’”. Bem, estou satisfeito e grato que ele coloca “Signature Books” na categoria de “anti-mormonismo secular”. Estou fortemente inclinado a concordar com ele nesse ponto – pelo menos devido a tantos títulos da Signature – e ele e eu concordamos muito pouco em outras coisas. Porém, estou feliz também em demonstrar sua incapacidade em ler mentes, uma vez que uma declaração como essa implicitamente exija esta habilidade. Tal habilidade parece ter sido igualmente fundamental em sua recente biografia sobre Joseph Smith. (Uma abordagem de seu livro que aparecerá no próximo número da “FARMS Review” chama esta habilidade implícita de “clarividência”.) De fato, eu não focarei na “Signature Books”, e nunca intencionei em fazer isto. (Já disse a maior parte do que me importaria em dizer sobre “Signature Books” em 1992, na introdução do quarto volume do que foi então chamado Revisão de Livros sobre o Livro de Mórmon “Review of Books on the Book of Mormon.”)

Eu irei, conforme anunciado, refletir sobre "anti-Mormonismo secular." Sou grato por esta designação porque, francamente, anti-Mormonismo do tipo evangélico conseguiu, com algumas poucas exceções, entediar-me intensamente. Não é somente que este último tipo de anti-mormonismo tende a ser repetitivo e desinteressante – acho que já mencionei aqui antes o filme que eu e meu amigo Bill Hamblin temos rido muito em realizar; “A Excelente Aventura de Bill & Dan no Inferno dos Zumbis Anti-Mórmons”. Não é meramente que os mesmos argumentos reaparecem ad nauseam, não importa quantas vezes tenha sido refutado, é que revisar essencialmente o mesmo livro pela trigésima segunda vez deixa qualquer um cansado. (Vocês já devem ter ouvido que a definição de insanidade é quando alguém continua fazendo sempre a mesma coisa, vez após vez, e espera atingir resultados diferentes do que até agora tem obtido). Isto é também um profundo rastro de desonestidade intelectual que corre por grande parte da indústria contra-seitas, o triunfalismo que exagera e até mesmo inventa problemas do lado Mórmon enquanto efetivamente finge que nenhum problema resta para ser tratado do tão chamado lado "Cristão". (Isto não pode ser mais claramente ilustrado do que no recente uso por evangélicos e fundamentalistas protestantes de dados de DNA a fim de lançar dúvidas sobre o Livro de Mórmon. No que pode ser descrito como uma apresentação ou de assombrosa ignorância ou então de desapontante cinismo, estes cruzados anti-mórmons ignoram o fato de que as premissas fundamentais para os atuais e profundos estudos históricos de DNA plenamente contradizem compreensões tradicionais e largamente aceitas pelo conservadorismo Protestante sobre o livro do Gênesis.)

Não! Estou bem contente em hoje, pelo menos, concentrar-me sobre anti-mormonismo secular, o qual eu freqüentemente acho muito mais interessante e intelectualmente desafiador; e que, eu venho a acreditar, constituirá o real lócus de ação nos anos vindouros. Eu chamo meu artigo “Reflexões sobre Anti-Mormonismo Secular.” Estranhamente, a inspiração que realmente veio à minha mente para isto foi o título que o grande erudito bíblico Germânico do século XIX, Julius Wellhasen deu a uma de suas publicações: Skizzen und Vorarbeiten ("Rascunhos e Estudos Preparatórios"), e este artigo deve ser realmente visto como meramente idéias iniciais.

Um Fórum de Mensagens Cheio de Irados Apóstatas

Comentarei rapidamente sobre um fórum de mensagens de que gosto monitorar o qual é, do jeito que é, um tipo preservação para a vida selvagem dos anti-mórmons seculares. Alguns de vocês provavelmente estão familiarizados com ele. Embora seja de inquestionável interesse sociológico e psicológico, ele oferece pouco, se é que oferece alguma coisa de mérito intelectual. O que foi uma vez dito de William Jennings Bryan pode ser dito o mesmo dos postantes e das muitas estrelas neste fórum de mensagens: “Pode-se dirigir seu barco para qualquer parte de seu argumento e nunca sequer arranhar um fato.” Vários, mesmo dos postantes com as maiores pretensões intelectuais do fórum, consistentemente demonstraram-se incapazes de sumarizar as posições e argumentos dos Santos dos Últimos Dias, muito menos genuinamente capazes em interagir com as mesmas. Não é difícil pensar neste contexto em Groucho Marx; “Desde o momento em que eu peguei o seu livro até o momento em que eu o larguei,” Groucho escreveu ao novelista Sydney Perelman, “Tive convulsões de risadas. Algum dia talvez eu tenha a intenção de lê-lo.” Muitos deste particular fórum de discussão parecem ter a mesma mentalidade do acadêmico a quem foi perguntado se ele já havia lido o novo livro do Professor Jones. “Lê-lo?” Ele replicou. “Por quê? Eu ainda nem o revisei!”

O que o fórum realmente oferece são demonstrações de bravatas, gabolagens, argumentos de fiéis completamente mal-compreendidos e mal-representados, desafios ousados vomitados contra aqueles que estão barrados de responder, e gargalhadas de triunfo sobre inimigos que não estão permitidos em replicar. Dissensão é rigidamente excluída deste fórum, um oxímoro, uma vez que seus freqüentadores continuamente criticam a Igreja por suas supostas "repressões." Entretanto, não obstante a exclusão rigorosa de todos os dissidentes problemáticos deste domínio, a fé que estes postantes têm em seus próprios e brilhantes egos é estranhamente confortador ver em ateístas, pessoas que esperaríamos que não acreditassem em absolutamente nenhum Deus.

Voltaire uma vez explicou que "Minha única oração para Deus é uma muito curta: ‘Ó Senhor, fazei com que meus inimigos se pareçam ridículos.’ E Deus,” disse ele, “concedeu-me esta graça!”

Mas isto não exaure os prazeres daquele fórum de mensagens. É abundante em abusos pessoais e tenebrosa hostilidade, comumente obscena, dirigida contra pessoas que nem mesmo conhecem e com quem nunca nem mesmo se encontraram – contra o Presidente Hinckley, Joseph Smith, as autoridades gerais, aos demais membros da Igreja, e até mesmo, algumas vezes até obsessivamente, contra algum insignificante professor em particular da BYU. Membros comuns da Igreja – “Morgbots” ou “Morons” (Nota do tradutor: ofensivamente falando, pessoas retardadas ou estúpidas) ou “Ovelhinhas”, de acordo com o jargão do fórum – são continuamente estereotipados como insanos, tirânicos, vulgares, intolerantes, mal-educados, irracionais, sexualmente reprimidos, estúpidos, gananciosos, tolos, rudes, sorrateiros, injustos, doentes, sem cultura ou cérebro. Havia certa vez um tópico – e não estou inventando isso – devotado a discutir como Mórmons faziam barulho ao tomar suas sopas nos restaurantes. Postantes freqüentemente lamentavam a estupidez e ingenuidade dos líderes da Igreja, vizinhos, pais, esposas, irmãos e até mesmo de seus filhos – quem poderiam estar totalmente inconscientes da anônima vida dupla secreta do postante de desprezo e descrença. É uma esplêndida ilustração cibernética daqueles que apontavam o dedo com atitude de mofa no “grande e espaçoso edifício” de I Néfi. Sempre que a cultura envenenada do ambiente é criticada; entretanto, seus defensores tomam refúgio na cultura de vitimização, mobilizando uma suposta necessidade por auto-expressões terapêuticas como uma toda abrangente desculpa.

Contemplando um depressivo número de postantes naquele fórum, eu cá pensei com meus botões, “se isto é o que causa a liberação do ‘mito’ mórmon – torna você uma pessoa vulgar ou ranzinza com dupla personalidade, cacarejando com malícia e desprezo – então eu preferiria despender os poucos anos que me restam (antes que eu me dissolva no irreversível e infindável oblívio que muitos dos postantes do fórum profetizam para mim e toda a humanidade) com pessoas que não foram “liberadas”. Penso nos apóstatas de Amoníah, mofando de Alma e Amuleque na prisão, “rangendo seus dentes sobre eles, cuspindo sobre eles e dizendo: Como pareceremos nós quando formos condenados?”1 Certamente os condenados não se parecerão muito diferentes do que isto.

Mas eu me preocupo ainda pela capacidade de fóruns de discussões de longe menos malévolos em suprir um tipo de comunidade artificial de apoio como uma alternativa à irmandade dos Santos, eu me preocupo que tipo de efeito a participação em tais fóruns (mesmo os benignos) possam ter sobre algumas almas dos Santos dos Últimos Dias. Tenho em mente um freqüente postante em particular, quem alega simplesmente estar perturbado e em dúvida, mas que de fato nunca perde uma oportunidade para um insinuante comentário sobre sua Igreja (na qual permanece ativo) ou seus ensinamentos. Estes ensinamentos envolvem ponderação sobre questões da mais alta importância. Milhões depositaram suas esperanças na mensagem do evangelho; e, se isto falso fosse, seria trágico e indescritivelmente triste. Talvez o cinismo que este postante e muitos outros cultivam é nada mais do que uma compreensível e psicológica concha de defesa, um assobio auto-protetor para quando passar pelo cemitério da dúvida. Todavia, mesmo assim, é uma concha que irá, temo eu, bloquear o Espírito. Não estou otimista sobre seus prospectos a longo prazo, ao barrar uma fundamental mudança de atitude (e, mesmo ainda com menos esperança, talvez uma mudança de personalidade).

Característico de grande parte da participação anti-mórmon secular na “Web” é um corrosivo cinismo que, em minha experiência, desbastará qualquer coisa com a qual entre em contato. Não é nada mais do que um exemplo de arrazoamento intelectual que vira uma atitude, ou mesmo talvez, um tipo especial de personalidade. Aqueles atingidos com tal tipo de cinismo são como os anões do último livro das Crônicas de Nárnia de C. S. Lewis, que eram, como Aslan os descreve, tão temerosos de receber ou falar com estranhos que não poderiam ser libertados. Tais pessoas clamam conhecer o preço de tudo e de todos, mas parecem reconhecer o valor de nada. Porém o problema pode bem estar no cínico do que no objeto de escárnio. “Nenhum homem,” como diz o ditado francês, “é um herói para seu valete.”2 Por quê? O filósofo germânico G. W. F. Hegel está certamente correto quando responde; “Isto não é porque o herói não é nenhum herói, mas porque o valete é um valete.”3

Secularismo Europeu

Uma forma interessante de anti-Mormonismo secular surge do, ou pelo menos está relacionado com, o secularismo geral da elite Européia.

Alguns anos atrás, com algum tempo em mãos logo após o término de um encontro acadêmica em Graz, Áustria, dispensei uma boa parte de um dia passeando pelas livrarias da cidade. O dólar estando fraco, os preços em alta, e minha bagagem já lotada, eu passei mais tempo folheando e fuçando do que comprando. Eu logo descobri um tópico extraordinariamente interessante: O tratamento do Mormonismo em livros de viagem publicados para Europeus que viajam para os USA. Desde então, tenho apreciado muitos livros semelhantes em livrarias francesas e italianas assim também como também através da Europa Germânica. Quase que uniformemente, o tom é de assombro – sutilmente expresso ou, freqüentemente, bastante abertamente – sobre a estupidez e ingenuidade do Santos dos Últimos Dias. Adicionalmente, a doutrina e história Mórmon são plenamente reduzidas também a patentes absurdos para que se justifique qualquer esforço pela acurácia.

Mas mórmons representam meramente uma oportunidade para uma mais genérica atitude Européia em focalizar sobre alvos hilariante. Em um livro recente tentando explicar a mente Americana para confusos falantes de alemão, Professor Hans-Dieter Gelfert observa que:

“Para os Europeus, a religiosidade Americana deve necessariamente parecer ingênua, se não primitiva. Aqui [na Alemanha], pessoas educadas são assistidas, acima de tudo, por iluminados [aufgeklärte] teólogos que reinterpretam o ensino Cristão como uma doutrina ética ajustada para o dia-a-dia, porém ao mesmo tempo filosoficamente abstrata. Neste meio tempo, há pastores que acreditam que possam trabalhar normalmente sem mencionar o nome de Deus. É completamente diferente na América, onde a Bíblia é ainda a Palavra de Deus”.4

De acordo com Phil Zuckerman, da Faculdade Pitzer, taxas de agnosticismo ou ateísmo na Escandinávia, na República Tcheca, e na França alcançam níveis superiores a cinqüenta por cento.5 Lá e alguns outros lugares, igrejas subutilizadas estão sendo convertidas em salas de concerto, museus, galerias de arte, lojas, restaurantes, condomínios e até mesmo em clubes noturnos. Na Escandinávia, por alguma razão, é popular transformar igrejas em lojas de carpete.6 É bem sabido que o ultimo papa João Paulo II acreditava que o futuro do Catolicismo não jazia na espiritualmente morta Europa, mas ao sul, na América Latina e, talvez ainda mais ainda, na África. Bento XVI parece compartilhar dessa mesma visão, e com razão.

" Aos olhos de muitos se não da maioria dos Europeus," Professor Gelfert observa, "O gosto Americano é completamente insípido."7 (Pode-se ser tentado a sugerir que, dado sua própria e ainda relativamente recente história de uma coisa ainda muito pior do que mau gosto, um pouco de humildade deveria fazer parte do cotidiano germânico, no mínimo. E eu digo isto como algo saindo de um germanófilo.)

Concluindo, a desdenha Européia pela religiosidade Americana funciona como parte de um desprezo mais amplo pela cultura Americana, muito bem corporificada, quando um surpreendente grande número de residentes tanto do continente como das ilhas Britânicas vêem nosso presidente como um cow-boy religioso e fanático. E o que poderia ser mais Americano do que A igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, largamente conhecida por seus recém escovados, ingênuos, missionários de dezenove anos de idade, nativos em sua maioria do Oeste Americano?

Anti-Mormonismo na Europa é em sua maior parte de uma variedade secular; anti-mormonismo evangélico, como um todo, nada mais é do que uma irritação menor, pois o mesmo secularismo Europeu que em geral diretamente desafia o sucesso missionário no continente e nas ilhas Britânicas também confronta e restringe a influência de nossos amigos evangélicos. Porém o anti-Mormonismo secularista está fazendo estragos reais a muitos testemunhos frágeis por lá. Este é um desafio que apologistas não somente na própria Europa, mas também de sua base doméstica na Igreja Americana urgentemente precisam tratar.

A Mídia

O eminente sociologista Austro-Americano de religião, Peter Berger, certa vez famosamente observou que, se a Índia era a mais religiosa das nações e se a Suécia era a mais secular, os Estados Unidos aparentavam ser uma nação de Indianos governados por Suecos. Pois a lacuna entre o Americano comum e a elite Americana sobre questões religiosas era vasta, e talvez crescente.

Pelo menos desde o famoso estudo por Stanley Rothman e Robert Lichter das atitudes entre jornalistas de elite, tem sido claro – e as descobertas foram replicadas em vários estudos desde então – que a classe do diálogo, conforme foram eles nomeados, estão bem longe e à esquerda da população média Americana em termos de atitudes sociais, preferências políticas e de crenças religiosas. Congregados, em sua maior parte, ao longo das duas costas (a Leste e a Oeste, notavelmente Nova York e Los Angeles), a elite de jornalistas, redatores, produtores, e diretores estão isolados (liberados?) da maior parte do resto da América. Suas maneiras são estranhas, exógenas e ameaçadoras. Conforme visto em provavelmente uma dúzia ou mais de filmes durante os terríveis anos Reagan da década de 80, inocentes urbanistas cujos carros quebravam por exemplo, no Condado de San Bernadino, eram muito prováveis de caírem como presas de corruptos sulistas, acentuadamente fascistas de pequenas cidades regidas por policiais assassinos onde suas feições selvagens misturavam-se e eram óbvias nas próprias faces de caipiras preguiçosos e queixudos. Um amigo meu, nascido e criado na Cidade de Nova York e educado em Johns Hopkins e Princeton, pegou muito bem este espírito, senão intencionalmente, quando ele me disse, alguns anos atrás, sobre o que havia sido até aquele momento sua única jornada transcontinental, uma viajem numa aeronave a jato para visitar sua namorada em Berkeley: “Não há realmente nada” disse-me num tom de assombro, “entre a costa leste e a Califórnia". Pensei imediatamente naqueles mapas que mostram os Estados Unidos conforme vistos a partir de Nova York: uma imagem bem detalhada de Manhattan, com as Grandes Planícies estendo-se por trás sem figuras algumas até que a ponte Golden Gate aparece para quebrar a monotonia.

Em um recente artigo de revista, Joel Kotkin, um incisivo observador de tendências sociais, os oferece um belo e concreto exemplo:

"Quando o executivo de Fargo, North Dakota, Howard Dahl embarca em um avião na Costa Leste ou voa para a Europa ou além, ele freqüentemente se choca com as idéias das pessoas com quem se encontra, especialmente seus preconceitos sobre esta parte do país. "Há um monte de condescendências. Vocês pensariam que ninguém aqui jamais leu um livro,” diz Dahl, “ou mesmo teve alguma idéia sobre qualquer coisa. Eles acham que somos todos fanáticos religiosos."8

Quanto mais ainda então, Salt lake City? Uma vez que, conforme os estudos demonstraram, jornalistas tendem fortemente, em sua maior parte, a serem seculares, politicamente liberais, anti-corporativos, e socialmente e moralmente progressivos, Mormonismo constitui um alvo perfeito. Eles serão naturalmente antipáticos à Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, uma igreja que é largamente considerada como socialmente retrógrada, politicamente conservadora, e hierarquicamente organizada.

“Ainda hoje,” escreve Hans-Diter Gelfer, Americanos promovem um contundente culto ao herói concernente a grandes figuras de sua história. Na Inglaterra, uma tendência para desmantelar seus antigos heróis começou após a 1ª Guerra Mundial, com o livro de Lytton Strachey Eminentes Vitorianos (1918). A mesma coisa aconteceu na Alemanha após a 2ª Guerra Mundial. Sempre que, entre nós, um artigo aparece na Spiegel acerca de alguma figura heróica já reverenciada da história da Alemanha, pode-se apostar que aquele personagem perderá seu lustro daquele momento em diante.9

Nesta linha, o jornalismo Americano se parece muito, muito com o Europeu. Desde os dias de Woodward e Bernstein e de Watergate, ele tem a tendência em sempre se colocar como adversário, quase muito freqüentemente operando sob uma premissa de culpa sendo encoberta ou escondida. O que poderia ser um alvo mais convidativo para jornalistas contemporâneos do que uma igreja corporativa com uma história vastamente documentada, muito visível e altamente controversa, solidificando considerável poder econômico, e alegando ser guiada por profetas vivos e apóstolos? É uma questão de heróis e valetes, tudo ainda mais uma vez.

O proeminente historiador eclesiástico do Estado da Pensilvânia, Philip Jenkins, comentando sobre secularismo entre políticos e sociais liberais, percebeu uma rica veia de amargo anti-clericalismo, aquele desprezo baseado de classe que imagina cada pastor como Elmer Gantry, todo crente como um corpo recrutante para o Talebã Cristão, e todo Católico como um escravo algemado de mente por um sacerdócio pederasta. Esta tendência alcançou seu ápice na convenção do partido Democrático em 1992, na qual o liberal Governador pró-trabalhista da Pensilvânia, Bob Casey foi excluído do palanque por causa de sua oposição ao aborto, enquanto feministas seguravam cartazes caricaturando Casey em vestes papais.10

Divertidamente, cada elemento de atitude contra a corrente comum do Cristianismo mencionado por Jenkis, até mesmo a mesma linguagem, pode encontrar paralelos – na verdade, pode-se encontrar paralelos diários – em meu laboratório do fórum de mensagens concernente ao Mormonismo. Mas esta atitude não está meramente confinada a alguns poucos pântanos de intolerância religiosa na Web. Em um artigo publicado tão recentemente quanto 15 de Julho de 2005, num periódico da Nova Zelândia, mas evidentemente também republicado em outros lugares, a jornalista esquerdista Americana Suzan Mazur, relatando sobre as nossas maquinações corporativas, Mórmons teofacistas, até mesmo incluiu ilustrações com o propósito de ilustrar a cerimônia de investidura dos Santos do Últimos Dias. Elas foram reproduzidas essencialmente a partir daquele “confiável” clássico de 1882, o livro de J.H. Beadle “Poligamia ou Os Mistérios e Crimes do Mormonismo, e eram até mesmas acuradas até nos detalhes das mitras dos bispos – claramente modeladas segundo o chapéu do papa – usadas pelos oficiantes do templo.11 (Para aqueles que realmente já freqüentaram o templo e não tendo visto ninguém vestido daquele jeito nem tais tipos de rituais, ainda assim Mr. Beadle poderia bem dizer, com desculpas mais uma vez a Groucho Marx, "Em quem você vai acreditar? Em mim, ou em seus olhos mentirosos?")

Anti-teísmo Secular em Geral

Agnosticismo ou ateísmo é o pano de fundo por “default” na maioria dos círculos de opinião política, tanto nos Estados unidos como na Europa. Em certa extensão, anti-Mormonismo secular é meramente uma ilustração, ou mesmo um eco, daquele fenômeno mais amplo. Uma importante articulação desta visão é o ensaio do filósofo Britânico Antony Flew “A Pressuposição do Ateísmo”12, embora eu venha a notar com considerável satisfação que Professor Flew, provavelmente o mais fluente filósofo ateísta da língua Inglesa desde a morte de Bertrand Russell no começo de 1970, recentemente anunciou que, compelido pelo o que hoje ele vê como evidência para um inteligente ajuste fino no universo, abandonou seu ateísmo e ele hoje abraça alguma forma de deísmo.

Alguns não teístas são bastante passivos sobre suas descrenças – alguém recentemente cunhou o termo apateísmo para descrever a indiferença para com a religião ou para questões religiosas que é visto como uma marca distinta da inteligência moderna – mas alguns são extremamente agressivos, mesmo se raramente eles rebaixem à brutalidade do fórum de mensagens que é meu local de pesquisa preferido para estudos de campo sobre patologia intelectual.

Não é incomum, por exemplo, ouvir ou ler referências à fé como “insanidade religiosa”.13 “Religiosidade”, disse o psicologista Albert Ellis, “é em muitos aspectos equivalente a pensamento irracional e perturbação emocional. ... A elegante solução terapêutica para problemas emocionais é para ser completamente irreligiosa. ...quanto menos religiosa elas forem, mais emocionalmente saudáveis elas serão.”14
Nisto, Ellis estava seguindo os passos do fundador da psicanálise, Sigmund Freud. “Religião”, escreveu Freud, “é a neurose obsessiva universal da humanidade."15

Religião impõe igualmente para todos o seu próprio caminho para a aquisição de felicidade e proteção contra o sofrimento. A técnica consiste em depreciar o valor da vida e distorcer a figura do mundo real de um modo ilusório... . A este preço forçosamente fixando-os em um estado de infantilismo psíquico e ao arrastá-los para uma ilusão de massa, religião tem sucesso em poupar muitas pessoas de neuroses individuais. Porém raramente conseguem mais do que isto.”16

Isto é mais sofisticado do que a descrição de "Morgbots" deixada em meu laboratório de fórum de mensagens, mas seu conteúdo geral é remarcavelmente similar. Ainda que seja demonstrativamente errado. Os dados; pelo contrário, consistentemente demonstram que Santos dos Últimos Dias que vivem vidas consistentes com suas crenças religiosas experimentam um maior senso de bem-estar geral, maior estabilidade familiar e marital, menor delinqüência, menos depressão, menos ansiedade, e menos abuso substancialmente do que aqueles que não vivem, e há muito pouca evidência de que a prática ou crença religiosa sejam danosas para a saúde mental.17

Conforme James R. Lewis argúi em seu livro de 2003 Legitimando Novas Religiões, "ataques contra grupos religiosos alternativos são um tentativa para transformar a questão num problema psicológico -- num problema médico que teria uma cura – uma controvérsia que, ao se fazer um exame mais profundo, é claramente uma controvérsia sobre ideologia e estilos de vida”.18 Numa linguagem, que pode possivelmente fazer lembrar os Santos dos Últimos Dias do anti-Mormonismo evangélico, mas que, bizarramente , forma um ponto de contato também com as mais virulentas formas do anti-mormonismo secular, Thomas Langham, ao revisar o livro de Lewis's para o “Journal of the American Academy of Religion” (Periódico da Academia Americana de Religião), salienta que oponentes de novos movimentos religiosos têm trabalhado para deslegitimá-los como se tivesse agindo como “empreendedores morais” que usam ideologias anti-sectárias a fim de vender estereótipos negativos no mercado, como o rótulo “seita”, para uma grande comunidade. Tais atividades levaram novos grupos religiosos … a serem classificados como ilegítimos ou ‘organizações perigosas.’19

Ainda, Lewis diz, não é auto-evidente que o secularismo deva ser o padrão pelo qual a religião seja avaliada. ... [A] metodologia humanística … deve tentar descrever religionistas como agindo a partir de motivos racionais do que a partir de erros de julgamento ou psicopatologia.20

De fato, como é incrivelmente reconhecido hoje em dia, pessoas religiosas tendem a ser mais saudáveis, não apenas mentalmente mas até mesmo fisicamente, do que seus pares não religiosos.

Concernente especificamente aos Mórmons, as taxas de morte de Utah estão bem abaixo da média da nação e dos estados das Montanhas Rochosas para as principais causas de morte, incluindo doenças do coração, câncer, doenças cardiovasculares, acidentes, doenças pulmonares, pneumonia/resfriados, diabetes, doenças do fígado e arteriosclerose. As taxas de suicídio em Utah são maiores do que media nacional, mas inferior aos demais estados das Montanhas Rochosas como um todo. Estudos específicos sobre populações SUD na Califórnia, Utah e Alberta, no Canadá, mostram que homens SUD têm metade da chance de morrer de câncer do que outros homens. Mulheres SUD também têm baixas taxas de mortalidade por câncer, mas as diferenças não são tão grandes quanto àquelas comparadas com as dos homens. Taxas de mortalidade são menores para Santos dos Últimos Dias que possuem altos níveis de participação religiosa. Em resumo, aderência ao código mórmon de saúde parece decrescer as taxas de mortalidade a partir de várias doenças.21 Os benignos “Morgbots” parecem que estão se saindo muito bem.

Mas quanto aos ateístas e agnósticos? Vamos dar uma olhada em outro laboratório: a Europa contemporânea, que tem sido não injustamente também chamada do “continente sem Deus.” Europa está não apenas em um estado de esterilidade demográfica mas também de esterilidade cultural, e está certamente afligida nestes dias por uma profunda amnésia histórica: Tucídides e o Iluminismo são mencionados no preâmbulo da nova Constituição Européia como constituintes da identidade Européia – mas não o Cristianismo.

Um contundente declínio ocorreu nas taxas de nascimento e casamento Européias, o que Phil Zuckerman da Faculdade Pitzer conecta com o igualmente declínio da crença religiosa. “Religião”, diz ele, “parece ser crítica para a decisão das pessoas em criar filhos. As pessoas nestas sociedades industriais avançadas vêem filhos cada vez mais como um passivo. Alguns perceberam que esta vida é muito melhor sem crianças. E você nem mesmo precisa se casar uma vez que não há nenhuma vantagem em se fazer isto.”

Mas Zuckerman, quem mesmo se professa anti-religioso, está alarmado pelo contraste entre as baixas taxas de natalidade dos Europeus com as altas taxas de natalidade da rapidamente crescente minoria islâmica dentro da Europa. Muçulmanos já são pelo menos um quarto dos residentes de Rotterdan, Marseilhe, e Malmö, na Suécia, e quinze por cento dos residentes de Bruxelas, a capital da União Européia. Dentro de poucas décadas, várias cidades Européias adquirirão maiorias muçulmanas.22 Observadores já têm começado a falar de uma “Eurábia”, ou de um “Europistão.” Outros têm feito alusão ao que parece ser um “desejo coletivo pela morte” entre os Europeus, à medida que suas taxas de natalidade caíram a níveis inferiores àqueles requeridos apenas para reporem eles mesmos na população.

Durante uma viagem à Inglaterra alguns anos atrás, eu fui além das minhas costumeiras visitas até certas partes mais remotas do país. Enquanto já estivesse bem acostumado à grande população Muçulmana de Londres, eu fiquei atônito ao ver açougues halal e vestimentas Muçulmanas nas mais simples vilas – em todo lugar.

Imediatamente após o seu assassinato alguns anos atrás, o político holandês Pim Fortuyn foi retratado na mídia como tendo posições anti-imigrantes, o que não era verdade. Mas ele também foi retratado como um direitista, o que era igualmente falso. A realidade era consideravelmente mais interessante do que o estereótipo inicial sugeria: Ele era, de fato, um homossexual praticante, quem temia que a ascendência demográfica de Muçulmanos conservadores raramente assimilados em seu país iria por fim à sexualidade ultra-livre que ele e muitos outros valorizavam como essencial à cultura da Holanda moderna. E, certamente, o assassinato recente do cineasta Theo Van Gogh em uma bem conhecida rua de Amsterdã por um Muçulmano Holandês, e os próprios atentados á bomba recentes perpetrados por Muçulmanos Britânicos, parecem sustentar suas preocupações. “O excelente é deficiente de toda convicção”, escreveu o poeta Irlandês William Butler Yeats, "enquanto o péssimo está cheio de intensa paixão."

Não obstante, é claro, não importa quanto possa desejar acreditar, e não importa claramente quanto possa visualizar os benefícios da crença, um descrente não é capaz, na grande maioria dos casos, simplesmente em render-se à crença. Não funciona desta maneira.

Um fluente crítico ex-Mórmon explicou no mais recente simpósio do “Sunstone” que foi o caso específico da aparente incapacidade de Deus para intervir e prevenir o mal, quase que subitamente, que matou a sua fé. Eu o interpretei literalmente. Até achei sua reação plausível, mesmo compreensível, e percebi que os seus subseqüentes argumentos contra o Mormonismo derivava daquela conclusão inicial, a qual servia como sua pressuposição.

Mas, aqui, uma observação precisa ser feita. Se, como neste caso, a perda de fé de um descrente brotou a partir do que possa ser bem visto e caracterizado como uma realização particular, quase revelatória, então quaisquer que sejam os argumentos colocados adiantes na seqüência, estes serão até um certo nível designados ad hoc – não menos do que aqueles dos apologistas em defesa da fé – para sustentar um paradigma que foi realmente escolhido em diferentes circunstâncias.

O tratamento que Dan Vogel toma das Testemunhas, por exemplo, salta aos meus olhos como embaraçosamente filtrado e quase desesperado. A partir de seu pressuposto ponto de vista ateístico, entretanto – tendo concedido que as testemunhas fossem perfeitamente sãs e sinceras, mas ainda não desejoso de conceder acurácia às suas declarações – é necessário, quase inevitavelmente, que ele os explique como visionários do século dezenove até o ponto de serem culturalmente incapazes de distinguir a fantasia da realidade.

É uma questão do que algumas vezes são chamadas de “possibilidades a priori”. Conforme Sherlock Holmes disse ao Dr. Watson, “Primeiramente, você elimina o impossível, e então qualquer coisa que for deixada, ainda que improvável, deve ser a verdade.”

O próprio problema do mal – tão letal à fé daquele ateísta do “Sunstone” – servirá como uma ilustração de como paradigmas e possibilidades a priori funcionam nesta questão. Para um agnóstico ou um ateísta, alguém que atribui uma probabilidade muito baixa (ou mesmo absolutamente nenhuma) à existência de Deus, a existência de massivos males naturais e humanos neste mundo constitui, se não meramente redundante, um golpe sério e fatal contra a crença teística. Para alguém, entretanto, que considera a existência de um Deus poderoso como provável, mesmo altamente provável ou certa; por outro lado, a existência de tais males massivos representa um problema a ser trabalhado à luz de suas premissas teístas.

Suas soluções propostas parecerão gratuitamente ad hoc para críticos ateístas; porém, dentro de seu paradigma funciona em grande parte do mesmo jeito como funcionam os refinamentos para expandir teorias científicas sob o estímulo de novos dados e problemas. Semelhantemente, defensores do Livro de Mórmon são algumas vezes acusados de improvisações ad hoc quando, de seus pontos de vista, eles estão meramente refinando e tornando mais preciso um paradigma que eles consideram como razoável e suportável em outros campos. Entretanto, conforme tenho tentado ilustrar, tal refinamento não está restrito a paradigmas teísticos; eles ocorrem justamente tão clara e naturalmente em tentativas naturalísticas para tentar explicar ou justificar alegações sobre o divino. Não é uma questão de branco ou preto, mas de plausibilidade relativa e riqueza da explicação.

Alguns ateístas estão positivamente eufóricos com as boas novas da descrença. Uma razão é claro é o triste e problemático histórico dos crentes religiosos. “Quando se considera quanto sangue foi derramado em nome da fé – com qualquer Deus que possa ser – pode-se talvez desejar” diz Hans-Dieter Gelfert, falando desta vez não como um mero observador dos Americanos mas como, sendo ele mesmo, um Europeu religiosamente céptico, “que os fundadores das religiões expansionistas, entre as quais figura o Cristianismo, escolheram não a fé mas a humilde dúvida como sendo o caminho nobre para Deus."23

A própria noção de fortes crenças religiosas tornou-se suspeita na era moderna, e particularmente desde 11 de setembro. Pegue, por exemplo, as palavras do Sen. Charles Schumer (Democrata-NY), um homem muito inteligente que representa, de várias maneiras, um dos estados mais azuis (referindo-se a liberal), durante uma audiência em Junho de 2003 sobre a nomeação de William Pryor para servir como juiz à corte de apelação dos Estados Unidos:

“No caso de Pryor, suas crenças são bem conhecidas, tão profundamente enraizadas que é muito difícil acreditar, muito difícil de acreditar que elas não irão influenciar profundamente a maneira com ele venha a dizer: ‘Eu seguirei a lei’. E isso seria verdadeiro para qualquer um que tenha idéias muito, muito convictas.”24

"Possuir idéias convictas ou profundas," veja você, é freqüentemente um termo código para “idéias religiosas” nestes dias, e cheira a teocracia. Durante uma visita alguns anos atrás ao Irã, sob os auspícios e o patrocínio daquele regime, vários dos cerca de duas dúzias mais ou menos de outros acadêmicos Americanos que faziam parte do grupo me pressionaram a reconhecer as alegadas e fortes semelhanças entre Utah e a República Islâmica. Está na moda em alguns círculos falar de Utah como uma teocracia, e mesmo dos Santos dos Últimos Dias como um Talibã Americano ou, resumindo, os “Utalibãs.” O que é, obviamente, puro absurdo. Mas o tão divulgado livro anti-religioso de John Krakauer Sob a Bandeira do Paraíso, o qual retrata Mórmons e Mormonismo essencialmente como uma violenta ameaça para aqueles que não são Santos dos Últimos Dias, foi um “best-seller” recente.

Críticos das religiões apontam recentemente para a al-Qa'ida, o Talibã, e o Wahhabismo. Mas eles não deveriam permitir esquecer-se de Josef Stalin, nem, para esta mesma questão, dos inúmeros genocídios do século vinte, nos quais ateus e quase ateus assassinaram milhões. Hitler, um virulento anti-Cristão, considerava a humanidade como uma bactéria na superfície da terra. E Stálin vituperou contra Deus até mesmo em seu horrível leito de morte em Março de 1953. Ele havia sofrido um severo derrame que havia deixado o seu lado direito paralisado, e suas últimas horas se passaram virtualmente em insuportáveis dores. Vagarosamente estava sendo sufocado. Conforme sua filha Svetlana mais tarde relata, seu pai se sufocava para a morte enquanto aqueles em volta de seu leito de morte observavam. Embora, já perto do final, ele parecesse quase já semi-inconsciente, ele subitamente abriu seus olhos e olhou ao redor do quarto, plenamente cheio de terror. Então, de acordo com Svetlana, “alguma coisa incompreensível e terrível aconteceu que até hoje eu não posso esquecer nem compreender." Stalin parcialmente se levantou de seu leito, cerrou seu punho em direção ao céu, e o sacudiu desafiadoramente. Então, com um murmúrio ininteligível, caiu de volta imóvel sobre seu travesseiro e morreu.25

Confesso que descobri que todos aqueles que se rejubilam no ateísmo são como bons contadores de blefes. Não é nada mais do que a idéia de um funeral ateísta: “todos muito bem vestidos para irem a lugar nenhum.” Penso de Beethoven, escondido embaixo no porão de sua casa com travesseiros em seus ouvidos, desesperadamente tentando salvar seus cada vez mais fracos sentidos da audição conforme estava trabalhando em seu majestoso “Concerto do Imperador”. Ou, um pouco mais tarde, conduzindo a magnificente Nona Sinfonia, a qual ele nunca ouviu, tendo que ser virado pelo mestre do concerto porque não sabia que a audiência o estava aplaudindo. Penso de Mozart, febrilmente tentando finalizar seu próprio Réquiem – morto aos trinta e cinco anos e atirado numa paupérrima sepultura sem nenhuma inscrição ou marca.

Tantas vidas foram encerradas tão cedo, deixando tantos poemas não escritos, tantas sinfonias a compor, tantas descobertas científicas a serem desvendadas.

De fato, difícil imaginar alguém que atingiu seu potencial pleno nesta vida. Interrupções trágicas não ocorrem apenas para os gênios. Uma vizinha e amiga foi atingida por esclerose múltipla bem no meio dos seus vinte anos e agora, em seus trinta anos jaz confinada a uma cama em um asilo. Bloqueando alguns incríveis avanços médicos, esta é a sua vida. Extraia a esperança por uma vida vindoura, isto é tudo o que ela sempre terá, não há mais nada a buscar em qualquer outro lugar. Meu próprio pai, pelos últimos seis anos de sua vida, cego por um igualmente e imprevisto derrame cerebral sofrido durante uma relativamente pequena cirurgia de rotina, estava incapacitado de realizar quaisquer das atividades nas quais outrora sentira ele satisfação, e desesperadamente indagou-me, algumas poucas semanas atrás. Se ele algum dia voltaria a ver novamente. Que conforto haveria em dizer, “Não, Pai. Isto é assim mesmo. Nada melhor está adiante. E então você logo morrerá.”?

Posso certamente compreender e chegar à triste conclusão de que isto, de fato, é a verdade sobre a condição humana: De que vivemos brevemente, então morreremos e apodreceremos. Assim também acontecerá aos nossos filhos e aos nossos netos. E isto também ocorrerá a tudo o que criamos – nossa música, nossos prédios, nossa literatura e nossas invenções. Que “tudo é apenas poeira ao vento.” Porém, eu não consigo compreender aqueles que consideram isto como gloriosas boas novas.

Talvez, pensando de outra maneira, embora eu possa compreender aqueles que possam ver isto como uma liberação. “Se não há nenhum Deus.” Diz Ivan Karamazov de Dostoievsky, (ecoando a sábia conclusão de Sócrates), “isto significa que tudo é permitido.” Por quê? Por que nada absolutamente mais importa; tudo é sem sentido ou significado. Entretanto, esta liberação vem a um preço muito, mas muito alto. “Se em nada acreditamos,” disse o grande escritor Francês e laureado pelo próprio Nobel, Albert Camus, “se nada tem qualquer significado e se não podemos afirmar valor nenhum para qualquer coisa que seja, então tudo é possível e nada tem qualquer importância. Não há nenhum pró ou contra: o assassinato não é certo e nem errado. Somos livres para incitar os fogos dos crematórios ou para nos devotarmos ao cuidado dos leprosos. O mal e a virtude são meros acasos ou caprichos.”26
“Quando chegamos ao ponto onde não mais seja possível dizer o que preto e o que é branco, a luz é extinta e a liberdade passa a se tornar uma prisão voluntária.”27

Considere também, esta suprema e complacente consideração, oferecida por um prolífico crítico ateísta do Mormonismo durante uma discussão pela Internet em 2001: “Se existisse um Deus,” ele refletiu, “acho que ele(a) desfrutaria um pouco a minha presença – talvez desfrutando um belo Merlot (vinho tinto seco da região de Bordeaux) sob o céu da noite enquanto tentávamos desenvolver uma grande teoria unificada.” Apenas alguém muito bem confortavelmente situado financeiramente poderia ser tão frívolo em suas satisfações pessoais sobre a questão se Deus existe ou não.

Mas a vasta maioria da população do mundo não possui esta estabilidade financeira, e, para eles, se o ateísmo é verdadeiro, isto realmente são notícias muito ruins. A maioria da população mundial, historicamente e ainda hoje, não vive bem alimentada, viaja confortavelmente ou vive até uma plácida idade avançada cercada por confortos da criatura. A maioria do mundo tem sido e é como as favelas do Rio de Janeiro, como os cortiços do Cairo, como as atrasadas vilas da Índia, como os cavaleiro famintos dos desertos da África Setentrional, ou como as cidades devastadas pela guerra do sul do Sudão e Ruanda. Se há de haver um verdadeiro final feliz para os milhões e milhões daqueles cujas vidas foram afligidas pela tortura, fome, doença, estupro e assassinato, aquele final chegará em uma vida futura. E tal vida futura parece requerer um Deus.

Sim, o problema da existência do mal é um grande problema, mas desistir de Deus é dar ao mal a vitória final. É admitir que estupradores de crianças e assassinos ditem os capítulos finais das vidas de suas aterrorizadas e agonizantes vítimas; de que Hitler, Stálin e Pol Pot realmente triunfaram, para sempre, sobre os milhões que eles sacrificaram; que, nas putrefatas carcaças de Darfur, do Iraque ou do Kurdistão, vemos o final, o capítulo definitivo de milhares de vidas; que não há, realmente, nenhuma esperança para aqueles cuja saúde está em um irreversível declínio; de que toda relação humana termine em morte, senão antes.
Isto não são boas novas, e não vejo qualquer razão que me compele a isto aceitar. De fato, vejo numerosas e persuasivas razões para rejeitar esta alegação. Todavia isso é um assunto não somente para uma outra ocasião, mas, necessariamente, para um grande número de outras ocasiões.

Anti-Mórmons seculares tipicamente criticam a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias em dois vastos campos. Primeiramente e antes de tudo, eles afirmam que suas alegações não são verdadeiras. Em seguida, eles acusam a Igreja e os seus líderes de comportamentos impróprios – com respeito, por exemplo, às origens do casamento plural, sua suposta manipulação da história ou quanto ao Massacre de Mountain Meadows. Mas não está claro que, sob uma base puramente secular e naturalística, qualquer forma de crítica possa ser coerente. A fim de que um ou ambos os tipos de criticismo sejam coerentes, é necessário que o teísmo seja uma precondição necessária. (Nota do Tradutor: Em um debate de discussões na Net, sobre a responsabilidade da Igreja no Massacre de Mountain Meadowns, foi apresentado aos críticos a carta e testemunho de John Haslan, com as diretrizes claras de Brigham Young para que os mórmons não fizesse mal algum aos imigrantes. Infelizmente a carta chegou tarde demais, somente após o massacre. O crítico então indaga: “Por que Brigham não recebeu uma revelação sobre as intenções dos mórmons sulistas em realizar aquele massacre, e enviou uma mensagem antes da de John Haslan?” Perceba que o foco da discussão mudou radicalmente, não é mais questionada a participação de Brigham no massacre, mas sim volta à tona o problema do mal. “Por que Deus permitiu que tal massacre acontecesse?”).
Permitam-me explicar, muito brevemente este pontos. Eu os tomarei em ordem reversa.

Primeiramente, a base crítica para criticar o Mormonismo sob bases morais é frágil, e sua coerência precisa ser demonstrada. (qual a base moral que um crítico secular está se apoiando para dizer que poligamia é errada, e.g., em todos os contextos sociais e históricos?)

“Rebelião não pode existir”, observa Camus, “sem o sentimento de que, em algum lugar ou de alguma forma alguém esteja certo.”28 Mas sob que base pode um materialista, cujo universo é exaurido por partículas materiais e vácuo, pode alguém alegar que alguma coisa é objetivamente errada? O Certo e o errado tornam-se meramente uma questão de preferência pessoal; e, talvez, de poder? Não apenas existencialistas, mas muito superficiais “conselheiros de vida” sugerem que deveríamos construir nosso próprio “significado” para a vida. Mas é a auto-construção do significado absolutamente um significado real? Ou não significa nada, antes, nada mais é do que alguma coisa que pode apenas ser recebida a partir de outra inteligência? E porque deveria uma pessoa qualquer mesmo prestar a menor atenção ao significado auto-construído por outrem?

Albert Camus observa que os revolucionários ateus Franceses de 1793, quando eles efetivamente “guilhotinaram” Deus, acabaram privando para sempre eles mesmos do direito de considerar alguns crimes como ilegais ou de censura por qualquer instinto malévolo.29 A partir do momento em que o homem submete Deus a um julgamento Moral, ele O mata em seu próprio coração. E então qual é a base para a moralidade? Deus é negado em nome da Justiça, mas poderia a idéia de justiça ser compreendida sem a idéia de Deus?30 Se aqueles que negam qualquer base objetiva para a moralidade não obstante seguem suas vidas comportando-se moralmente e invocando moralidade, podemos ser apenas gratos que eles não persigam as implicações de suas posições até uma lógica final, e deixemos que continuem a viver com um capital de moral emprestada.

Após estas brilhantes considerações e após refletir sobre os excessos revolucionários dos séculos XIX e XX, Albert Camus conclui que apenas o teísmo poderia providenciar uma base objetiva para julgamentos morais. Infelizmente, ele acabaria morrendo num trágico acidente de automóvel em 1960, enquanto estava dando sérias considerações para ser recebido na Igreja Católica Romana. Ele estava, estou adivinhando, horrorizado pelos excessos revolucionários dos séculos vinte e dezenove, e veio a suspeitar que apenas o teísmo pudesse providenciar uma base objetiva moral para julgamentos morais.

Dos revolucionários niilísticos que são o objeto de sua brilhante meditação em “O Rebelde”, Camus observa que Todos eles, ao depreciarem a condição humana e seu criador, acabaram por afirmar a solitude do homem e a não existência de qualquer tipo de moralidade. Porém ao mesmo tempo todos eles tentavam construir um puro reino terrestrial aonde seus princípios escolhidos iriam dentro oscilar.31

Este é precisamente o mesmo tipo de arrazoamento que levou o poeta anglo-americano W.H. Auden a abraçar o Cristianismo: Ele se encontrava assistindo a um filme na cidade de Nova York no fim dos anos 30, numa área povoada por imigrantes alemães. No começo passou um documentário descrevendo o barbarismo Nazista contra os judeus europeus, a audiência entrou em delírio gritando hurras e vivas e gargalhando de prazer. Abalado pelo que acabara de testemunhar, Auden percebeu que sua visão de mundo secular não providenciava nenhuma base moral a partir da qual poderia protestar que a brutalidade nazista era objetivamente maligna.

Camus e Auden podem estar corretos. Sob que base de princípios morais podem os críticos seculares pronunciar os erros da Igreja? Como foram esses princípios escolhidos, e por que deveria qualquer outra pessoa mais se render a eles? Mesmo se alguém fosse atribuir às alegações factuais sobre as quais se marca seus julgamentos morais, não está absolutamente claro que aqueles julgamentos morais sejam capazes de suportar qualquer peso real objetivamente.

Mas então, não está claro, segundo os princípios seculares, que conceitos como “alegações factuais” e “preferências pessoais” sejam mesmo coerentes – o que nos traz ao segundo tipo de objeção secular ao Mormonismo: A base crítica para criticar o Mormonismo sob bases intelectuais, dizendo que não seja verdadeiro, seja incerto e que sua coerência precisa ser demonstrada.

Por quê? Todos nós sabemos essencialmente o que significaria dizer que a idéia de um astrônomo sobre a atmosfera de Júpiter esteja correta, e o que significa dizer que as conclusões de um silogismo seguem a partir de, ou está atrelada pelas premissas do silogismo.

Entretanto, Segundo uma visão completamente secularista ou naturalística, parece que os ‘pensamentos’ são realmente meramente eventos neuroquímicos no cérebro, capazes (em princípio, pelo menos) de serem descritos pelas leis da física. Mas, as leis da física são determinísticas – deixarei a indeterminação quântica fora de consideração aqui, porque eu não acho que ela ajude muito qualquer dos dois lados – de tal forma que, se “pensamentos” são meramente físicos, não está claro como poderemos realmente dizer que uma conclusão segue a partir das premissas. Por quê? Porque dado qualquer estado do cérebro parece ser este determinado casualmente pelo estado imediatamente precedente. E é difícil, além do mais, visualizar em como uma condição neuroquímica do cérebro possa ter uma relação tanto de verdade ou falsidade com a atmosfera de um distante planeta – ou, por essa questão, com qualquer outra coisa mais. Um aglomerado de células não é verdadeiro nem falso. Não é “acerca” de qualquer outra coisa mais; é apenas isto, um aglomerado.

Destarte, críticos seculares do Mormonismo verdadeiramente consistentes podem ter serrado o tronco em que estão se assentando. Eles podem ter a si mesmo privados não apenas dos julgamentos morais que não podem ser descartados como meramente subjetivos, mas também de uma alegação coerente capaz de endereçar questões como verdadeiras ou falsas (a respeito do Mormonismo e de qualquer outro tópico). Alguma forma de teísmo, ou, no mínimo, de não naturalismo deve ser requerida para salvar suas posições de serem meramente auto-refutantes. (Se isto assim não for assim, terá então que ser demonstrado.) Mas se adotarem o teísmo, ou mesmo alguma forma de não-naturalismo, eles não mais serão críticos secularistas, mas terão que se tornar alguma coisa mais.

Muitos anos atrás, como um missionário na Suíça, outro élder e eu encontramos uma mulher numa porta quando estávamos fazendo alguns contatos. Quando lhe dissemos que representávamos a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, ela sorriu bem estranhamente e, ainda mais estranhamente para os padrões suíços, nos convidou para entrar. Ela imediatamente chamou seu marido e nos pediu para lhe dizer o nome da Igreja que nós representávamos. Ele também estranhamente sorriu quando ouviu, e comecei a me perguntar que tipo de pessoas havia encontrado. Mas então ele explicou que era um médico de naturalidade Iugoslava que outrora havia sido um portador do Sacerdócio de Melquisedeque em nossa Igreja. E ele nos contou uma história que, devo confessar, nunca tive a oportunidade de checar desde então; posso até ter alguns detalhes errados mas o grosso da história é mais ou menos assim: Décadas antes, ele servira como um conselheiro para um líder do sacerdócio em sua pátria natal quando os comunistas estavam consolidando seu poder por lá. Várias vezes, ele disse, seu líder do sacerdócio tinha sonhos alertando-o que membros de sua congregação precisavam fugir porque a polícia secreta logo viria atrás deles. E o homem estava certo todas às vezes. Entretanto, o ex-conselheiro, com que estava falando, conseguiu dar um jeito para ir para faculdade de medicina na Suíça, onde seus estudos haviam lhe ensinado que revelação era uma ilusão. Mas como, eu lhe perguntei, ele mesmo explicava a remarcável acurácia do registro de previsões de visitas da polícia secreta pelo seu líder do sacerdócio, um registro do qual eu nada sabia (e nada sei) exceto o que ele havia me contado? “Química cerebral e o acaso,” ele replicou. Não havia, em outras palavras, nenhuma ligação substancial ou necessária entre os vários estados cerebrais de seu líder do sacerdócio e os eventos externos. Que eles coincidissem era apenas umas boas doses de sorte para aqueles que na seqüência escaparam das algemas dos comissários. (Devo acrescentar que o missionário Alemão com quem estava trabalhando naquele dia em particular, um converso marinheiro mercante alemão que estava, colocando em termos brandos, plenamente falante, portanto perguntou se ele poderia visitar novamente aquele lar com seu gravador, por que, disse ele, este homem nos fornece um espécime inesquecível de como Satanás engana as pessoas. Visivelmente surpreso por tal insensibilidade, o homem concordou que ele pudesse retornar.)

Se houvesse poderosos argumentos compelindo-nos a abandonar a crença religiosa, e se não houvesse nenhum argumento persuasivo para tal crença, deveríamos nos sentir obrigado a aceitar o que eu, no mínimo, considero como a esterilidade da visão do mundo secular e naturalista. Porém, não somos compelidos tão facilmente assim, e existem argumentos persuasivos para a crença. A questão está no mínimo igualmente equilibrada. E em tais situações, conforme William James brilhantemente argumentava contra W.K. Clifford, a crença religiosa representa uma escolha racional. Mesmo se alguém ache que seja uma questão de 50% de chance para cada lado – o que eu enfaticamente não acho – O conselho de James para “escolher o lado mais ensolarado da dúvida” atingi-me como eminentemente razoável. Além do mais, conforme hoje sabemos, é mais saudável.(Nota: A Aposta de Pascal nos vêm à mente!)

Sou grato a Lou Midgley por chamar minha atenção a uma anedota relatada pelo eminente historiador eclesiástico Protestante Martin Marty com referência para A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Ela envolve a famosa anfitriã do século dezoito Marie de Vichy-Chamrond, a Marquesa de Deffand, uma amiga de Voltaire e de outros líderes intelectuais do seu tempo. Quando o Cardeal Polignan informou-lhe que o mártir São Dênis, o primeiro bispo de Paris, houvera caminhado cem milhas após sua execução, carregando sua cabeça debaixo do braço, Madame du Deffand replicou que, “Em tal passeio, é o primeiro passo que é difícil.” Ela quis dizer, é claro, de que não é a alegação de que São Dênis andou uma centena de milhas que estabelece uma dificuldade. Talvez ele realmente tivesse caminhado apenas noventa e nove milhas, ou quem sabe, caminhou cento e duas – tais diferenças são imateriais. A questão fundamental é se, após sua decapitação, ele absolutamente caminhou. Uma vez que esse ponto essencial foi uma vez confirmado, o resto é um mero detalhe.

Marty usa a história para identificar o que é fundamental nas alegações do Santos dos Últimos Dias, particularmente à medida que passaram a ficar sob as lentes daquilo que ele chama de “a crise da consciência histórica” – pela qual deseja ceticismo e intenso escrutínio da moderna pesquisa histórica, o que tem sido dirigido virtualmente contra todas as tradicionais posições, religiosas ou não, ao redor de todo o mundo. “Por analogia,” ele escreve, “se o começo da jornada da história Mórmon, a Primeira Visão e o Livro de Mórmon, pode sobreviver à crise, então o resto da jornada segue e nada do que acontece nela pode realmente desviar do milagre como um todo. Se os primeiros passos não sobreviverem, pode existir apenas um interesse antiquário, um interesse não decisivo e nem fiel pelo resto da história.”32

O que quer que possa ser dito sobre o envolvimento da Igreja como a Emenda por Direitos Iguais (ERA) e a Proposição 29 da Califórnia, ou sobre a personalidade de Brigham Young, ou sobre a história da Igreja concernente a questões raciais, ou sobre as finanças da Igreja ou o Programa de Integralização dos Índios, ou sobre a possibilidade de líderes locais imperfeitos, ou sobre qualquer número de outras questões nas quais algumas vezes nos perdemos, as questões fundamentais são realmente muito poucas. Mas elas são fundamentais. E, sobre elas, creio eu que nós nos saímos muito bem. Simplesmente devemos manter nossos olhos; e até quanto for possível, os olhos de nossos críticos, atentos sobre a bola.

Exatamente outra noite estava relendo o conto clássico das Mil e Uma Noites de “Aladim e a Lâmpada Mágica”. (para trabalhar, eu tenho de manter meu Árabe sempre ativo, de alguma maneira). Você provavelmente se lembra da história: Através do gênio e de sua lâmpada mágica, o paupérrimo e jovem Aladim conseguiu riquezas sem par e se casou com a bela princesa Badr al-Budur. Mas, um maligno mágico do norte da África cobiça a lâmpada e, um dia enquanto Aladim estava fora caçando, vem até seu palácio disfarçado como um mercador que deseja trocar “lâmpadas velhas por lâmpadas novas.” A princesa, nada sabendo sobre o poder da lâmpada e considerando tal negócio como uma ridícula barganha, entrega a velha e amassada lâmpada de seu marido por outra nova lâmpada, bela e brilhante. Nós estaríamos, creio eu, tão igualmente enganados à medida que trocamos a nossa lâmpada do evangelho por uma nova lâmpada que não tem seu poder miraculoso.

Notas

1 Alma 14:21.


2 "Il n'y a pas de grand homme pour son valet-de-chambre." Atribuída à letrada e instruída francesa Mme. A. M. Bigot de Cornuel (1614-1694). Ver Mlle. Aisse "Letters," (Paris, 1853), 161.

3 Hegel nasceu em 1770 e morreu em 1831. Uma variante da observação de Mme. De Cornuel também aparece no poeta Germânico Goethe (1749-1832): "Para um valete, nenhum homem é um herói" [Es gibt fur den Kammerdiener keiner Helden]. Ver Johann Wolfgang von Goethe, Wahlverwandtschaften (II, 5, Aus Ottilien's Tagebuche).

4 Hans-Dieter Gelfert, Typisch amerikanisch: Wie die Amerikaner wurden, was sie sind (Munich: Verlag C. H. Beck, 2002), 17.

5 Joel Kotkin, "Sects and the City: The New Urbanists Have Forgotten Thousands of Years of History," The Weekly Standard 10/31 (2 May 2005): 32. No Japão, que, obviamente, tem um background cultural e religioso muito diferente, aproximadamente sessenta e cinco por cento da população é atéia, por outro lado, em contraste, apenas 10 por cento dos Americanos assim se identificam.

6 Joel Kotkin, "Sects and the City: The New Urbanists Have Forgotten Thousands of Years of History," The Weekly Standard 10/31 (2 May 2005): 33.

7 Hans-Dieter Gelfert, Typisch amerikanisch: Wie die Amerikaner wurden, was sie sind (Munich: Verlag C.H. Beck, 2002), 136.

8 Joel Kotkin, "Sects and the City: The New Urbanists Have Forgotten Thousands of Years of History," The Weekly Standard 10/31 (2 May 2005): 30.

9 Hans-Dieter Gelfert, Typisch amerikanisch: Wie die Amerikaner wurden, was sie sind (Munich: Verlag C.H. Beck, 2002), 76. Indaga-se se o caráter psicosocial do "Grupo de Bloomsbury," ao qual Strachey pertencia,ajudou a motivar um desejo para "desmascarar" heróis do passado (e se isto estava relacionado à contundente falta de interesse nas conseqüências em longo prazo encapsulada no notório comentário de John Maynard Keynes, outro membro do "grupo," que, "no longo prazo, todos nós morreremos”). Se assim for, pode-se especular ainda mais adiante sobre certos grupos contemporâneos de ex-Mórmons secularistas.

10 Philip Jenkins, revisão críticas def Jim Wallis, God's Politics, e Dave Shiflett, Exodus, em The American Conservative 4/11 (6 June 2005): 31-32.

11 http://www.scoop.co.nz/stories/HL0507/S00222.htm

12 Ver Antony Flew, The Presumption of Atheism and Other Philosophical Essays on God, Freedom, and Immortality (New York: Barnes and Noble, 1976).

13 Conforme citado, por exemplo, por James R. Lewis, Legitimating New Religions (Piscataway, New Jersey: Rutgers University Press, 2003), 185.

14 A.E. Ellis, "Psychotherapy and Atheistic Values: A Response to A.E. Bergin's 'Psychotherapy and Religious Values'," Journal of Consulting and Clinical Psychology 48 (1980), 637.

15 Sigmund Freud, The Future of an Illusion, editado e traduzido por James Strachey (New York: Norton, 1975), 43.

16 Sigmund Freud, Civilization and Its Discontents.

17 Ver Daniel K. Judd, "Religiosity, Mental Health, and the Latter-day Saints: A Preliminary Review of Literature (1923-95)," Latter-day Saint Social Life: Social Research on the LDS Church and its Members, editado por James T. Duke (Provo, Utah: Religious Studies Center, Brigham Young University, 1998), 473-497. Este artigo foi originalmente publicado em Mormon Identities in Transition, editado por Douglas Davies (London and New York: Cassell, 1996), 112-124.

18 James R. Lewis, Legitimating New Religions (Piscataway, New Jersey: Rutgers University Press, 2003), 185.

19 Thomas C. Langham, revisão crítica de James R. Lewis, Legitimating New Religions, in Journal of the American Academy of Religion 73/2 (June 2005), 555.

20 James R. Lewis, Legitimating New Religions (Piscataway, New Jersey: Rutgers University Press, 2003), 226.

21 Tim B. Heaton, "Vital Statistics," Latter-day Saint Social Life: Social Research on the LDS Church and its Members, edited by James T. Duke (Provo, Utah: Religious Studies Center, Brigham Young University, 1998), 114-115. Compare James E. Enstrom, "Health Practices and Cancer Mortality among Active California Mormons," Journal of the National Cancer Institute 81 (1989): 1807-1814; reprinted in Latter-day Saint Social Life: Social Research on the LDS Church and its Members, edited by James T. Duke (Provo, Utah: Religious Studies Center, Brigham Young University, 1998), 441-460. Also James E. Enstrom, "Health Practices and Cancer Mortality among Active California Mormons, 1980-93," in Latter-day Saint Social Life: Social Research on the LDS Church and its Members, edited by James T. Duke (Provo, Utah: Religious Studies Center, Brigham Young University, 1998), 461-471; John W. Gardner and Joseph L. Lyon, "Cancer in Utah Mormon Men by Lay Priesthood Level," American Journal of Epidemiology 116 (1982): 243-257; George K. Jarvis, "Mormon Mortality Rates in Canada," Social Biology 24 (1977): 294-302; Joseph L. Lyon, John W. Gardner, and Dee W. West, "Cancer Incidence in Mormons and Non-Mormons in Utah during 1967-75," Journal of the National Cancer Institute 65 (1980): 1055-1061; James E. Smith, "Mortality," in Thomas K. Martin, Tim B. Heaton, and Stephen J. Bahr, eds., Utah in Demographic Perspective (Salt Lake City: Signature Books, 1986), 59-69.

22 Joel Kotkin, "Sects and the City: The New Urbanists Have Forgotten Thousands of Years of History," The Weekly Standard 10/31 (2 May 2005): 32.

23 Hans-Dieter Gelfert, Typisch amerikanisch: Wie die Amerikaner wurden, was sie sind (Munich: Verlag C.H. Beck, 2002), 151.

24 Citado em Charles Krauthammer, "In Defense of Certainty," Time 165/23 (6 June 2005): 96. O artigo de Krauthammer é uma leitura de grande valor dentro deste contexto.

25 Ver Svetlana Alliluyeva, Twenty Letters to a Friend (New York: Harper and Row, 1967), 5-11. Ver também o relato deixado por Ravi Zacharias em seu Fórum Harvard Veritas. Alliluyeva, filha de Stalin, foi uma testemunha ocular da cena. Zacharias ouviu a história a partir de Malcolm Muggeridge quem, por sua vez, baseou seu relato em três semanas de entrevistas com Alliluyeva, conduzidas para uma série de três seções para a BBC.

26 Albert Camus, The Rebel: An Essay on Man in Revolt, translated by Anthony Bower (New York: Vintage Books, 1991), 5.

27 Camus, The Rebel, 71.

28 Camus, The Rebel, 13.

29 Camus, The Rebel, 39.

30 Camus, The Rebel, 62.

31 Camus, The Rebel, 100.

32 Martin E. Marty, "History: The Case of the Mormons, a Special People," Religion and Republic: The American Circumstance (Boston: Beacon Press, 1987), 311.


2. O Caso contra o Universo Aleatório

O Caso Contra um Universo Aleatório

De Daniel C. Peterson e William J. Hamblin

 

Se suficientes macacos ficarem batendo nas teclas de máquinas de escrever, eles virão a produzir Hamlet de Shakespeare. Esta pitoresca alegação serviu por muito tempo para ilustrar que, num universo infinitamente grande e infinitamente velho, uma total e aleatória possibilidade garantia que vida poderia surgir em algum lugar, em alguma época, de alguma forma, sem a necessidade de intervenção externa.

 

Porém, um tanto difícil mas fascinante livro intitulado Um Caso contra Casualidade e Auto-Organização afirma poderosamente que tal cenário é impossível. Dean Overman, um proeminente advogado com uma sofisticada compreensão da ciência contemporânea e, principalmente, de matemática, critica teorias naturalísitcas do universo de vários ângulos, mostrando que são essencialmente declarações de fé, não apenas insustentadas na evidência, mas inviáveis.

Será que chimpanzés realmente escreveriam “Hamlet”? Overman seleciona uma breve passagem de Macbeth, de Shakespeare – sobre a suposta falta de significado da vida – para argumentar. Com apenas 379 letras -  muito menor que Hamlet – ainda assim a probabilidade de um trecho tão curto surgir por acaso é facilmente demonstrada ser de 1 em 10536 (isto é, 1 seguido de 536 zeros). A fim de compreender o quanto estas chances são pequenas, saber que há apenas 1080 átomos no universo observável e que, como Overman destaca em algum lugar, 1 em 1060 representa a sua chance de acertar um alvo de 2,5 cm, atirando de forma aleatória a uma distância de 20 milhões de anos luz, deve ajudar. Os cientistas basicamente consideram qualquer coisa cuja probabilidade é menor que 1 em 1050  como uma impossibilidade matemática.

 

Neste espírito, Overman afirma que a noção de que o universo surgiu e de que vida se originou por acaso é menos razoável que esperar um Boeing 747 emergir coincidentemente quando um tufão atinge um destroço. O universo é muito mais complexo que umas poucas linhas de Shakespeare. De fato, sua precisão é tão improvável e o número expressando sua impossibilidade é tão extenso que, caso quiséssemos escrever cada um dos dígitos do número numa partícula subatômica, o universo contém muito poucas destas partículas para isso. Até mesmo a organização das 2000 enzimas necessárias para formar uma única bactéria como a E. Coli tem uma probabilidade de não mais que uma em 1040.000 - um número bem, bem abaixo da impossibilidade matemática.

 

O livro de Overman é uma fascinante corrida através da ciência atual. Ele explica as quatro forças fundamentais no universo – gravidade, eletromagnetismo, e as forças nucleares fraca e forte – e observa que  mesmo uma inconcebível pequena mudança em qualquer uma delas teria resultado num universo sem galáxias, estrelas, átomos, ou até mesmo núcleos. -- e, portanto, obviamente sem vida. Ele comenta sobre o considerável fato de que nossa matemática mais elevada realmente encaixa o cosmos, e o faz em  maneiras que não pode ter surgido da evolução ou da expectativa de sobrevivência. (Ele é cuidadoso em dizer, incidentalmente, que não está argumentando contra a evolução em si, ou contra o gradual surgimento da vida – meramente contra sua ocorrência por acaso.)

 

Overman observa os famosos experimentos de Miller e Urey na década de 50, que tentava duplicar as condições em que a vida surgiu de matéria inerte. Os experimentos pareciam promissores, mas não atenderam à expectativa. Eles assumiram que a atmosfera no início da terra não continha oxigênio, pois os compostos orgânicos por que procuravam não puderam surgir em sua presença. Mas os cientistas agora acreditam que o oxigênio estava, de fato, presente. Sem oxigênio, nenhuma camada protetora de ozônio teria existido para salvar compostos orgânicos da letal radiação ultravioleta. Além disso, ainda que a teoria de Urey e Miller das origens da vida precisasse de uma sopa prebiótica a partir da qual a vida se desenvolveria, não há evidência em lugar algum de que ela tenha existido.

 

Com a aceitação geral do Big Bang como a origem do cosmos, e com melhor conhecimento de geologia e geofísica, cientistas não têm mais um universo infinitamente velho com que brincar. A vida surgiu dentro de um período relativamente curto, o que torna as chances de ter acontecido por acaso muito menos expressivas. Mesmo que aleatoriedade e naturalismo sejam os dogmas reinantes em livros didáticos do ensino médio e da faculdade, diz Overman, eles não se sustentam nos números. Apenas vá e faça as contas.

 

Daniel C. Peterson ensina no Departamento de Línguas Asiáticas e do Oriente Próximo e é co-diretor de pesquisa para o Instituto de Estudo e Preservação de Textos Religiosos Antigos da BYU.

 

William J. Hamblin (Ph.D, Universidade de Michigan) é Professor Associado de História na Universidade Brigham Young.


3. Deus & mr. hitchens (por Daniel C. Peterson)

    Christopher Hitchens é o quarto do que poderíamos chamar cavaleiros do Novo ateísmo – os outros três são Sam Harris,1 Richard Dawkins,2 e Daniel Dennett. 3 Hitchens é o autor de um recente “Best-seller” intitulado “deus não é Grande: Como Religião Envenena Tudo”.4 

   

   Perceba a letra minúscula para ‘deus’ no título de seu livro. Sutileza é raramente sua marca maior, e isto é emblemático da mesma abordagem séria e madura que ele toma para a questão (ironia). Christopher Hitchens tem sido uma presença na América por bastante tempo como um comentarista de política na televisão. Ele é um escritor Britânico que recentemente tirou sua cidadania Americana e tem aparecido em anos recente como um defensor da guerra no Iraque e, mais geralmente, da “guerra contra o terror.” Suas posições nesses tópicos deixam-me nervoso; pois, tendo agora lido seu livro duas vezes e concedido alguma ponderação a suas posições, eu me indago sobre suas motivações. Seria realmente defesa pela liberdade, ou seria apenas um desprezo por religião, um sentimento que é uma força muito, mas muito poderosa em sua vida? Perceba o subtítulo de seu livro mais uma vez: Como Religião Envenena Tudo.

    Em Maio de 2007, quando o Reverendo Jerry Falwell morreu, Hitchens tornou-se notório por seus comentários sobre Falwell em vários programas de televisão e em outros meios. O que ele disse na revista Slate servirá como um exemplo:

    “A descoberta da carcaça de Jerry Falwell no chão de um escritório obscuro na Virgínia tem quase significância zero, exceto talvez para duas categorias de espécies rotuladas “idiotas crédulos... como muitos pregadores fanáticos, Falwell era especialmente detestável em exudar uma personalidade quase assexuada enquanto investigava da aurora ao anoitecer sobre as vidas sexuais de outras pessoas. Sua obsessão com a homossexualidade estava no mesmo nível de suas invocações a lábios cerrados pelo fogo do inferno. De sua base operária para levantamento de fundos e de sua oportunista fábrica de rolar dinheiro em Lynchburg, VA, ele se punha a meter seus dedos do tamanho de salsichas na vida íntima de pessoas que não lhe faziam nenhum mal... .É uma vergonha que não há nenhum inferno para Falwell ir, e é extraordinário que nem mesmo tão escandalosa carreira tenha sido suficiente para abalar nosso estúpido vício em coisas fundamentadas pela fé” 5

    Isto não é um tipo muito comum de obituário.

     Christopher Hitchens também é famoso por desprezar Billy Graham, Mahatma Gandhi, e (na extensão de um livro) Madre Teresa de Calcutá. 6  Por outro lado, ele não é um completo misantropo. Ele descreveu Vladimir Lênin como um grande homem; e, ele ainda reverencia Leon Trotsky (pp. 151–53). Entretanto, seu “deus não é Grande” é explicitamente desrespeitoso a crentes religiosos, em excruciante extensão e em consideráveis detalhes. Ele despreza Jerry Falwell pelos seus alegados crimes, mas novamente, admira Trotsky, que é famoso por dizer, entre outras coisas, de que precisamos ir além "da baboseira eclesiástica sobre a santidade da vida humana,"7 uma idéia que Trotsky impôs a força, servindo, com Lênin, como o co-arquiteto do Gulag na União Soviética, levando à morte potencial de aproximadamente 40 milhões de pessoas.

Hitchens sobre os Mórmons


   Uma das exibições de caso de Hitchens contra religião é o Mormonismo. Ele tem uma curta é pobremente informada seção sobre Mormonismo em seu livro no qual ele descreve Mormonismo - e esta linguagem é bem típica da maneira com que aborda religião de forma geral – ‘como uma seita ridícula’ (p.161). Ele mais adiante afirma “que a atual história da fraude é quase embaraçosa de se ler, e quase embaraçosamente fácil para se descobrir” (p. 162). Ele praticamente dispensou uma grande quantidade de esforços para descobrir isto ao estudar a obra de Fawn Brodie. A história, Hitchens diz, “foi mais bem contada pela Dra. Fawn Brodie, cujo livro de 1945 Nenhum Homem Conhece Minha História foi uma tentativa de boa fé por uma historiadora profissional de colocar as melhores e possíveis interpretações sobre ‘eventos’ relevantes” (p. 162). Isto é bem típico de sua abordagem. Fawn Brodie se torna Dra. Fawn Brodie, mesmo embora, na realidade, ela nunca ter tido um doutorado. E ele faz este tipo de coisa consistentemente. O mais obscuro ateísta emerge como o “o grande fulano de tal,” “o ilustre beltrano,” por outro lado os grandes teístas – Tomás de Aquino, Santo Agostinho – são todos retratados, essencialmente, como idiotas completamente perdidos. Eu gostaria em particular de contrastar sua “Dra. Fawn Brodie,” que não tem um doutorado, com “William Albright de Baltimore” (p. 103), quem é considerado por muitos como sendo o principal arqueologista e erudito do Velho Testamento no século vinte. “Willian Albright de Baltimore” por acaso ensinou na Universidade John Hopkins, onde ele estabeleceu uma notável tradição de estudos bíblicos e arqueologia. Mas isto não vale, pois parece que ele era algum tipo de crente.

    Mormonismo mostra “o que acontece quando uma perfeita falcatrua se transforma em uma religião séria diante de nossos olhos” (p. 165). Joseph Smith foi um “bem dotado oportunista” cuja “esperteza foi... unir ingenuidade com uma antropologia meia-boca” (pp 161, 162). Hitchens também alega que Joseph Smith modelou a si mesmo em Maomé (p. 161). (Eu acho esta última asserção interessante, pois eu recentemente publiquei uma biografia sobre Maomé e não percebia qualquer conexão deste tipo.) 8 Aqui temos outro comentário de Hitchens de que gostei; “Smith recusou-se a mostrar as placas de ouro para qualquer pessoa, alegando que para que outros olhos a vissem isto significaria a morte” (p. 163). Ele não faz nenhuma menção às Testemunhas, talvez porque ele não saiba sobre elas. E além do mais: o Livro de Mórmon é “um pedaço de vulgar fabricação” (p. 166).

    Mas você aprende bastante sobre o Livro de Mórmon a partir de seu livro (ironia). Você aprende, por exemplo, sobre “Néfi, o filho de Léfi [sic]” e “a fabricada batalha de ‘Cumora’[sic], nota: falta o “h” no final em Inglês]. Tais comentários representam a pesquisa meticulosa que se pode encontrar por todo o livro de Hitchens, isto é porque eu posso seguramente usar sua abordagem do Mormonismo como uma ilustração, um microcosmo, da maneira com que ele geralmente aborda a inteira questão da religião.

    Falando sobre a política com relação ao sacerdócio dos negros com os mórmons, Hitchens informa a seus leitores que líderes Mórmons “tiveram ainda outra ‘revelação’ mais ou menos na época da passagem do Ato de Direitos Civis de 1965 [sic], em que finalmente lhes foi divinamente revelado que os negros eram humanos” (p. 167). Fora a má-representação do conteúdo teológico da revelação (eu já vivia nesta época, e tenho certeza que nós sabíamos que os negros eram humanos), eu me pergunto em como ele chegou na data de 1965 – não apenas pelo Ato dos Direitos Civis de 1964 (assinado como lei em 2 de Julho de 1964), mas também pela revelação do sacerdócio. Ele explicou, logo no início de seu livro, que sua pesquisa metodológica consistia principalmente da utilização do Google, mas mesmo assim ele deveria ter descoberto a correta data uma vez que não é nenhuma questão histórica obscura. Junho de 1978 não está perto do Ato de Direitos Civis de 1964, todavia isto se encaixa na tese de Hitchens para argüir que a revelação sobre o sacerdócio estivesse conectada com a passagem do Ato de Direitos Civis. Sua descrição sobre batismo pelos mortos é também cuidadosamente pesquisada: “Cada semana, em cerimônias especiais nos templos Mórmons, a congregação se reúne e é dada certa quota de nomes dos que partiram para “que se orem” pela sua igreja” (p. 168).

Hitchens sobre a Bíblia

    Hitchens devota apenas algumas poucas páginas aos Mórmons, porém devota muitas páginas à Bíblia – e, sobre esta questão e muitas outras, seu livro é um tesouro escondido. Eu me lembro de um antigo desenho do “Far Side” em que um cervo está olhando para outro cervo. O segundo cervo tem um alvo nas suas costas, e o primeiro olha para ele e exclama, “Minha nossa, marca de nascença!” Ou, doutra maneira, lembramo-nos de alguém caminhando com um sinal “Chute-me!” pendurado em seu traseiro. Eu sou um daqueles que, congenitamente não consegue evitar chutar. Eu menciono apenas alguns poucos itens, embora eu esteja aqui escolhendo a partir de um emaranhado de ricas inconveniências. “Todas as religiões,” diz Hitchens, “firmemente resistiram qualquer tentativa de traduzir seus textos sagrados para linguagem compreendida pelo povo’” (p. 125). Agora, quais são os fatos? De acordo com as Sociedades Unidas da Bíblia, partes da Bíblia foram traduzidas em mais de 2.426 línguas, com centenas de línguas mais em processo.9  E isto não é de maneira alguma meramente um fenômeno moderno: a Bíblia foi o livro mais largamente traduzido no mundo antigo. Foi traduzida para o grego (a Septuaginta) no segundo século AC; Aramaico pelo primeiro século AC; Antigo Latim por volta do segundo século AD; Siríaco (a Peshita) no terceiro século AD; Cóptico (Egípcio), quarto século AD; Alemão antigo (Gótico) no quarto século AD; Latim (vulgata Latina de Jerônimo), no fim do quarto século; Armênio, começo do quinto século; Etiópico, quinto século; Georgiano, quinto século; Nubiano antigo por volta do oitavo século; Antigo Eslavônico por volta do nono; e Árabe Cristão e Árabe Judaico (versão arábica judaica de Saadia Gaon) por volta do décimo século. Obviamente, um monte de esforços foi dispensado nestas traduções. E a história das traduções das escrituras Budistas também reflete um considerável nível de esforço ao longo dos séculos. Então, Hitchens não está bem informado sobre a história das traduções das escrituras. Ao invés disto, ele está procurando universalizar um fenômeno muito isolado conectado com uma controvérsia religiosa específica. Mas mesmo neste contexto limitado, seu argumento está baseado em asserções sem substância. “Não haveria existido nenhuma Reforma Protestante,” ele nos assegura, “se não fosse pela longa luta de ter a Bíblia numa ‘Vulgata’” (p. 125). Deixando de lado o fato óbvio que o termo ‘Vulgata’ não se refira a traduções da Bíblia para o vernáculo, mas a uma tradição latina particular do fim do quarto século realizada por Jerônimo conforme já acima mencionado, traduzir a Bíblia para o Alemão não parece entre as originais 95 teses de Lutero. Isto não foi uma grande questão para a Reforma. De fato, a Bíblia já havia sido traduzida para o Alemão no décimo quarto século, e uma Bíblia alemã havia sido impressa por Gutenberg em 1466, treze anos após sua publicação da Bíblia Latina. Por volta da época em que Lutero pregou suas teses na porta da Capela do Castelo de Wittenberg em 31 de Outubro de 1517 – o ato que é geralmente visto como o início da Reforma Protestante – a Bíblia Germânica de Gutenberg já estava com sessenta e cinco anos de idade. Quão séria questão poderia isto ter sido para Lutero? É claro que ele fez sua própria tradução, e sua própria Bíblia é tremendamente importante para a cultura Germânica, todavia isto não é uma questão central nas polêmicas da Reforma.

    Várias partes da Bíblia Inglesa foram traduzidas para o Anglo-Saxão a partir do sétimo século em diante, com versões interlineares Latim/Anglo Saxão por volta do décimo século. O Venerável Beda (672 AD? – 735), uma das maiores figuras na história eclesiástica na Bretanha, dizem dele que traduziu o Evangelho de João para o Anglo-Saxão. Isto pode vir como um choque para alguns Santos dos Últimos Dias, mas o problema durante a maior parte do período medieval não foi que a igreja estava tentando obstruir a tradição da Bíblia, mas antes que todas as pessoas letradas do começo da Idade Média conheciam Latim. Não havia nenhuma vantagem em ter outra tradução. Pessoas que não sabiam ler Latim simplesmente não sabiam ler mais nada.

     Hitchens lamenta que “homens devotos como John Wycliffe [ca. 1330-1384], Miles Coverdale [1488? – 1569], e William Tyndale [Ca. 1494 – 1536] foram queimados vivos por simplesmente tentarem realizar algumas primeiras traduções “ da Bíblia para línguas vernaculares (p. 125). Entretanto, este é outro exemplo do cuidado com que ele aborda sua pesquisa. Longe de ser queimado numa estaca, Wycliffe morreu enquanto escutava uma missa Católica em sua igreja paroquial. Coverdale morreu, sem nenhum chumaço, em 1569 na idade de oitenta e um anos. Dos três tradutores mencionados por Hitchens, apenas Tyndale (ironicamente, ele também era conhecido pelo nome adotado de família de Hitchens) foi queimado na estaca.

    Aqui temos um exemplo de interpretação bíblica, conforme ele a realiza: Hitchens completamente falha em dispor o akedah, o quase sacrifício do filho de Abraão dentro de seu contexto. Em sua discussão sobre o akedah, Hitchens o descreve como “loucura e obscuro” (p.53) e comenta, “Não há nenhuma maneira de suavizar o pleno significado desta terrível história” (p. 206) – que Deus iria requerer de humanos que sacrificassem seus filhos. Mas esta não é a mensagem que a antiga audiência teria obtido a partir desta história. A mensagem que eles teriam captado é que Deus não requer o sacrifício de seus filhos. Ele permite um sacrifício substitucionário ao invés do sacrifício humano.

  Há outros alegados problemas bíblicos para os quais ele aponta o seu dedo. Segundo Hitchens, “o Velho Testamento é um emaranhado de sonhos e astrologia, o sol se detém de tal forma que Josué possa completar seu massacre num sítio que nunca foi localizado” (p. 117) . Mas o sol se deter nada tem a haver com astrologia, a qual se desenvolveu alguns séculos mais tarde. E Gibeão, o sítio onde ocorreu a batalha, pode ser encontrado em qualquer atlas bíblico; é um sítio facilmente localizado. 10

    Mas e quanto ao Novo Testamento? Para Hitchens, o Novo Testamento “excede o mal do novo” (p. 109). Isto simplesmente é assombroso para mim, realmente. Isto demonstra em quão extremo seu caso é. A maioria das pessoas apontaria para as maldades do Deus do Velho Testamento, porém eles tipicamente se sentem mais confortáveis, mesmo se eles forem agnósticos, com o Deus descrito no Novo Testamento. Todavia, para Hitchens, Cristianismo é ainda pior do que a antiga religião Hebraica. Uma vez que ele tenha um ilimitado desdém pelo Velho Testamento, é muito difícil imaginar o Novo Testamento como sendo pior. O argumento básico de Hitchens é que “o caso pela consistência bíblica ou autenticidade ou ‘inspiração’ tem estado em frangalhos por algum tempo,...; e, portanto nenhuma ‘revelação’ pode ser derivada deste canto” (p 122). Tal como a Bíblia Hebraica, o Novo Testamento é para Hitchens meramente uma fraude “grosseira” (p. 110).

    Então se qualquer evangélico encontrou prazer na descrição de Hitchens do Livro de Mórmon como uma fraude grosseira, acaba de ter o sorriso apagado de sua face assim que descobre a visão de Hitchens sobre a Bíblia, a qual foi “compilada a força muito tempo após os eventos nelas descritos” (p. 110). Para Hitchens, a alegação de que os Evangelhos pudessem estar baseados em testemunhas oculares é patentemente fraudulenta. É um “erro” assumir que “os quatro Evangelhos sejam em qualquer sentido um registro histórico” (p. 111). Por acaso há um fascinante e novo livro sobre as testemunhas oculares no Novo Testamento. O livro de Richard Baukham “Jesus e as Testemunhas Oculares: Os Evangelhos como Testemunho de Expectadores Reais” 11 meticulosamente argúi que o caso dos Evangelhos do Novo Testamento são de fato baseados em relatos de testemunhas oculares – de que eles tiveram acesso ao testemunho de pessoas que efetivamente presenciaram seus eventos. Quer tenham sido eles escritos pelas próprias testemunhas oculares ou baseados em seus testemunhos é uma questão de irrelevância para Baukham. O fato é que eles aparentemente voltam a declarações de testemunhas oculares muito específicas, e ele é muito meticuloso em demonstrar este ponto. É claro que Hitchens não presta nenhuma atenção a este tipo de coisas. Sua pesquisa está limitada completamente ao que ele descobre no Google e ao que pouco é representado em um punhado de notas de rodapé. Ele faz as mais ultrajantes asserções, e se você procura quaisquer justificativas para elas, você não encontra nada. Pode-se ler vinte ou trinta páginas sem encontrar qualquer tipo de documentação.

 

    Esta é uma que eu gosto. Não é provavelmente coincidência que Hitchens não provê nenhuma fonte acadêmica para sua alegação de que os Evangelhos, conforme temos hoje, foram baseados em relatos orais. Por que ele não oferece nenhuma documentação para tal? Porque o consenso até mesmo entre eruditos bíblicos seculares é precisamente o oposto desta alegação. Mateus e Lucas usam pelo menos duas fontes escritas, Marcos e Q, segundo o consenso. (Q é uma abreviação para o Alemão “Quelle”, que simplesmente quer dizer “fonte.” É essencialmente definida como passagens encontradas em Mateus e Lucas, mas não em Marcos.) Hitchens está ciente desta fonte hipotética Q. Lembrem-se de que ele está falando sobre relatos consensuais, mas ele compreende Q em de uma maneira incrivelmente distorcida. Ele a considera como o livro no qual todos os quatro evangelhos possam possivelmente ter sido baseados (p. 112). Perceba que Hitchens esta ciente que Q é uma fonte escrita, um livro, a qual é uma contradição direta de sua alegação que os Evangelhos estejam baseados em fontes orais. Ele simplesmente não pode ter isto das duas maneiras. Na realidade apenas dois dos evangelhos são cridos, mesmo pelo consenso a quem ele se refere, como tendo usado a fonte Q: Mateus e Lucas. João não tem nada a ver com Q. João não é um dos Evangelhos Sinópticos. E Q está definido precisamente como o material comum a Mateus e Lucas, mas não encontrado em Marcos. Então de onde ele tirou esta idéia de que Q é a fonte de todos os quatro Evangelhos? Não há qualquer estudioso que sustente essa visão, muito menos ser isto um consenso.

  Hitchens está também enganado em sua alegação de que todos os discípulos de Cristo eram iletrados. Presumidamente ele esta fazendo esta alegação a fim de minimizar o seu valor como testemunhas; a pressuposição parece ser que pessoas iletradas são estúpidas e não podem reconhecer o que viram, nem o podem registrar, lembrar ou ditar acuradamente. De fato, embora não há qualquer evidência que fossem iletrados, mas ao invés disso há considerável evidência contra esta posição. Há muitos casos de epístolas a eles atribuídas e de Jesus lendo a partir de textos, por exemplo. Que o antigo movimento cristão foi dominado por iletrados é simplesmente insustentável pelas fontes históricas.

   Hitchens também descreve os Evangelhos como tardios. Uma vez que são tardios, é claro, eles não podem ser confiados como história. Todavia há vários argumentos para designar datas antigas para as fontes dos Evangelhos.

    Por exemplo, geralmente os eruditos do Novo testamento concordam que o evangelho de Lucas e o livro de atos foram escritos pelo mesmo autor. Tanto que muitos rotineiramente se referem a Lucas-Atos. Atos termina com Paulo pregando em Roma por dois anos como um cumprimento do plano de Deus para que levasse o evangelho aos gentios, porém não é mencionada a morte de Paulo, o que acredita-se ter acontecido algum tempo entre 62 AD e 65 AD. (Durante a 1ª perseguição dos cristãos promovida pelo imperador Nero) Se Atos tivesse sido escrito após a morte de Paulo, por que o autor não mencionou esse evento tão importante? Embora várias explanações tenham sido aventadas, a mais óbvia conclusão é que Atos foi escrito antes da morte de Paulo – isto é, no começo dos anos 60. Uma vez que o Evangelho de Lucas foi claramente escrito antes de Atos, isto nos leva a data do começo dos anos 60 – no máximo – para a composição do Evangelho de Lucas. Além do mais, uma vez que largamente aceito que Lucas seja dependente de Marcos, isto nos dá uma data para Marcos no máximo no fim dos anos 50. Na verdade, a principal razão dada para datar os Evangelhos após o ano 70 AD é que Jesus profetiza a destruição do templo de Jerusalém. Uma vez que Jesus prediz a destruição do templo, e uma vez que ateístas nos assegura que não existe tal coisa como uma real profecia, os Evangelhos devem ter sido escrito após aquela destruição ter ocorrido – em outras palavras, após 70 AD. Não obstante, este é um argumento cíclico, de fato é um argumento muito, mas muito fraco.

     Podemos estar olhando para documentos que foram escritos dentro de aproximadamente 20 anos após a morte de Cristo. Agora, como isto se compara com a historiografia secular do mundo antigo?

Hitchens sobre Historiografia Antiga

   Hitchens parece estar sob a impressão que nós simplesmente temos uma montanha de documentos antigos que foram escritos por testemunhas oculares para muitos dos eventos que nós falamos na antiga história. Mas isto não é verdade. A mais antiga biografia sobrevivente de Alexandre o Grande, por Diodoro, data aproximadamente três séculos após a morte de Alexandre em 323 AC. Os relatos de Lívio das campanhas de Haníbal foram escritos mais de um século e meio após a morte daquele general em 182 AC. Tácito escreveu seus anais por volta de 115 AD, ainda que ele cubra a história Romana de 14 AD até 68 AD, isto quer dizer que ele escreveu cerca de cinqüenta a 100 anos após os eventos que ele descreve.

   Suetônio escreveu sua história dos Césares no começo do segundo século. Sua biografia de Júlio César foi então escrita mais do que um século e meio após a morte de César. O ponto deve estar claro: pelos padrões do mundo antigo e do estudo da história antiga, os evangelhos estão assombrosamente perto dos eventos que narram, mesmo se você lhes dê uma boa margem para datas mais antigas. Heródoto escreveu relatos não observados por testemunhas das Guerras Persas, e seu tratamento foi escrito mais de cinqüenta anos após as datas que ele descreve. Nossas principais fontes sobreviventes para as vidas e ensinamentos dos mais antigos filósofos são de Diógenes Laércio, quem escreveu séculos após muitos dos homens cujas vidas ele registra. As famosas biografias de Plutarco, “Vidas de Plutarco”, são da mesma forma freqüentemente s séculos após o fato. Hitchens claramente não tem nenhum entendimento de historiografia antiga. Se fôssemos seguir pelos seus padrões, nós poderíamos essencialmente nada saber sobre o mundo antigo. Toda a história secular deveria ser jogada no lixo.

    Significativamente, Hitchens completamente ignora Paulo, que é nossa mais antiga fonte sobrevivente para a vida de Jesus. Pode-se reconstruir bastante sobre a vida de Jesus (incluindo coisas importantes como o relato da ressurreição) a partir das epístolas de Paulo, quem aparentemente escreveu antes que os evangelhos fossem escritos. As cartas do Novo Testamento que são universalmente reconhecidas como autenticamente Paulinas foram escritas nos anos 50. Estamos falando de uma lacuna de apenas cerca de vinte anos entre a morte de Cristo e os escritos das cartas de Paulo.

Alguns Erros Miscelâneos

    Hitchens comete alguns erros que demonstram a falta de seriedade e da mesma forma mostra quão seriamente deve ser ele tomado. Um dos meus favoritos é uma epígrafe no começo de um de seus capítulos. Ele está tentando demonstrar que todos os sérios pensadores Cristãos são idiotas, e então ele tem de tomar um dos maiores, Tomás de Aquino, reconhecido como o maior filósofo da Idade Média e certamente o maior do Cristianismo Ocidental. Aquino, Hitchens sugere, certa vez declarou que “Eu sou um homem de um livro” (p. 63). E pela frase “um livro” ele presumidamente quer dizer a Bíblia. Eu não podia me lembrar de jamais ter cruzado com uma passagem como esta de Tomás de Aquino. E, de fato, qualquer um que leu Tomás de Aquino sabe que continuamente ele está citando de Aristóteles, antigos comentaristas gregos sobre Aristóteles, Avicena, outros filósofos Arábicos e coisa parecida. Ele saca de todos os tipos de fontes. Ele é um homem de vintenas senão centenas de livros. Pelos padrões da Idade Média, o homem era uma biblioteca ambulante. Então por que diria ele “Eu sou um homem de um livro só”? Bem, e que bela surpresa! Ele não disse! Hitchens diz que ele disse isto, mas ele não o disse. De fato, se alguém seguir a própria metodologia de pesquisa de Hitchens e fizer uma pesquisa no Google por Aquino, descobrir-se-á uma citação atribuída a Aquino (provavelmente também não autêntica) em que ele diz, “Acautelai-vos do homem de um só livro.”12  Isto é precisamente o oposto, é claro, do que Hitchens procura colocar na boca de Aquino. Curiosamente, eu escrevi para o Professor Ralph McInerny de Notre Dame, quem é um dos principais especialistas do mundo em Tomás de Aquino. “Que coisa, veja você, da onde é que saiu isto?” ele me escreveu de volta. “Apenas peça para alguém olhar para as notas de rodapé nos textos de Aquino. Ele continuamente está citando tudo quanto é tipo de coisas. Esta é uma ultrajante má representação de Aquino."

    Outra ultrajante má representação: Hitchens tenta mostrar que religião é má em todos os seus efeitos. Um exemplo proeminente é Pio XII, o papa durante a Segunda Guerra Mundial, a quem ele descreve como um “pró-Nazista” (p. 240). Eu sei que isto tem sido uma acusação comum nas últimas duas décadas, porém isto é um absurdo. O melhor livro sobre isto que já vi é um escrito pelo Rabi David Dalin, um professor de história na Universidade Ave Maria na Flórida, intitulado O Mito do Papa de Hitler.13 Se qualquer um tomar as acusações contra Pio XII como absolutamente séria, ele ou ela deveria dar uma olhada neste livro. Ele simplesmente devasta e acaba com o argumento. Em 1945, Isaac Herzog, o rabi chefe do Mandatário Britânico da Palestina (e, subsequentemente, de Israel), enviou uma mensagem a Monsenhor Ângelo Roncallu (quem, em 1958, sucederia Pio XII como Papa João XXIII) em que ele expressava sua gratitude pelas ações de Pio XII em favor dos combalidos Judeus Europeus. “O Povo de Israel,” ele escreveu, “nunca esquecerá o que Sua Santidade e seus ilustres delegados, inspirados pelos eternos princípios da religião, os quais formam os próprios alicerces da verdadeira civilização, está fazendo por nossos desafortunados irmãos e irmãs na mais trágica hora de nossa história, o que é uma prova viva da Divina Providência neste mundo.”14 Além do mais, como se fosse para colocar um ponto de exclamação após o tribute do Rabi Herzog, Israel Zolli, o próprio rabi chefe de Roma, converteu-se ao Catolicismo logo depois da guerra.15 E, para honrar o papa pelo que ele havia feito pelos Judeus e pelo papel que ele teve na própria conversão de Zolli, ele tomou o nome de Eugênio — segundo Eugênio Pacelli, o nome do Papa Pio XII — para seu nome de batismo.16     Agora nestes dias, Hitchens pode talvez descrever o papa como pró-Nazista e levar isto adiante, mas judeus contemporâneos não pensam desta maneira – e nem pensavam os Nazistas. Há um novo livro intitulado “Uma Missão Especial”,17 sobre o complô de Hitler para seqüestrar o Papa Pio XII e executá-lo. Isso é o que Hitler geralmente fazia para seus fiéis apoiadores?

Hitchens sobre Glórias Seculares

    Há outra tendência presente em todo o livro de Hitchens: qualquer coisa que seja boa é secular; qualquer um que é mau é um crente, um fiel. Por exemplo, Hitchens admira Dietrich Bonhoeffer, o teólogo Germânico que morreu em 1945 como um mártir contra Hitler, pouco tempo antes do fim da Segunda Guerra Mundial. Bonhoeffer era um pastor Cristão que acreditava num radical discipulado de Cristo, e que o levou a se opor aos Nazistas. Porém Hitchens diz que Bonhoeffer não era realmente um crente, na verdade era motivado por um “nebuloso humanismo” (p. 7). Karl Barth, outro forte oponente de Hitler e provavelmente o mais proeminente teólogo Protestante do século vinte, é igualmente omitido, mesmo embora ela fosse o principal autor da Confissão de Barmen, a principal declaração Protestante denunciando o Nazismo. Por quê? È difícil escapar à suspeita que Barth é omitido por que ele não conta. E por que ele não vale? Porque ele não se encaixa na história que Hitchens está tentando contar. Além do mais, Martin Luther King, a quem Hitchens grandemente admira, acaba se transformando em nem mesmo ser absolutamente um Cristão. Isso seria um choque para King, que recebeu um doutorado em teologia na Universidade de Boston e cujos discursos eram pesadamente imbuídos com imagens bíblicas. Mas não, ele também não era um crente.

   Secularistas, acabaram se transformando, naqueles que puseram fim à escravatura. Verdade? O famoso John Brown era um pregador militante Calvinista que se opôs à escravidão. Mas parece que, para Hitchens, ele era um secularista. A não há nenhuma menção à William Wilberforce. Alguns devem ter assistido ao recente filme sobre Wilberforce e a oposição Cristã ao comércio escravo Britânico. Ele nos conta a história do movimento profundamente evangélico liderado por Wilberforce e seu amigo John Newton, quem escreveu o hino Amazing Grace. Não obstante, no livro de Hitchens, John Newton não é mencionado, nem é William Wilberforce. Acaba acontecendo que na versão de Hitchens a escravidão acabou dentro do Reino Unido devido aos secularistas. Não há também qualquer menção a Sojourner Truth, ou a Harriet Tubmanm ou a Hino da Batalha da República ou a Harriet Beecher Stowe (um membro daquela grande família de pregadores que também incluía Henry Ward Beecher), que escreveu “A Cabana de Pai Tomás,” “a pequena senhorita que deu início a guerra.” Não há nenhuma menção a eles, pois pessoas religiosas, de acordo com Hitchens, não poderiam jamais fazer qualquer coisa boa.

    Por outro lado, tudo que é ruim é realizado por pessoas religiosas. Por exemplo, pessoas religiosas puseram fim à ciência, tentaram impedi-la sempre que possível. E é claro Hitchens adentra o velho campo de guerra da ciência versus religião. As últimas interpretações da história da ciência, entretanto, sugerem que a ciência cresceu interessantemente suficiente, não na China, não no mundo Islâmico, nem na Índia. Tecnologias nasceram nestes lugares, é verdade. Porém a ciência desenvolveu-se na Europa Cristã. Por quê? Provavelmente especificamente devido aos atributos da cultura Cristã na Europa. Esta idéia, desenvolvida nas obras de Pierre Duhen18 e Stanley Jaki,19 por exemplo, é praticamente a visão consensual agora. Todavia Hitchens não sabe sobre isso, ou se sabe, ele não nos conta. Para ele, ciência e crença são inimigas, absolutamente opostos um ao outro. Galileu, é claro, é invocado, porém Galileu é aquele quem, desconhecidamente por Hitchens, disse que lemos sobre Deus em dois livros, o livro das escrituras e o livro da natureza. 20 Ele era um homem religioso. Ainda assim, a campanha de Hitchens exige que ele seja retratado como um secularista, e então assim ele o é.

    Um caso interessante é o de Sir Fred Hoyle, provavelmente um dos mais brilhantes físicos do século vinte. Ele era um agnóstico Britânico, não obstante no livro de Hitchens ele aparece como um criacionista (p. 65). Alguns devem lembrar que, uma vez, havia duas alternativas viáveis para a origem do universo: a teoria do big-bang e a teoria do estado estacionário. Fred Hoyle foi o fundador da teoria do estado estacionário, e Hitchens o retrata como sendo oposto à teoria do big-bang porque isto ameaçava o seu teísmo. Mas Hoyle era realmente um agnóstico ou um ateísta. Ele resistiu à teoria do big-bang precisamente porque ela parecia, para ele, carregar implicações teísticas. Hitchens consegue interpretar os fatos históricos completamente ao avesso. Em muitos casos, Hitchens está 180º graus errado. Ele está tão longemente errado que, se ele se mover um pouco, ele poderia voltar para a direção correta. Porém ele faz isto constantemente, e no caso de Hoyle, é especificamente divertido.

    Interessantemente, Hoyle esteve provavelmente tendo dúvidas sobre seu ateísmo perto do fim de sua vida. Ele é aquele (e Hitchens simplesmente lança-se deste fato) que disse que estudar a teoria da evolução o faz lembrar uma tempestade atingindo um ferro velho, e quando ela termina, um Boeing 747 emergiu. Porém ele não era de jeito nenhum um Cristão ardente. A ironia sobre isto é que embora Hitchens veja o big-bang como um inimigo da religião, adivinhe quem foi uma das primeiras pessoas a amar o big-bang? Ele foi tão longe que seus conselheiros o advertiram por isto e lhe pediram que se contivesse. Foi o Papa Pio XII. (Você se lembra dele – o suposto pró-Nazista.) Ele achou que ela fosse uma coisa maravilhosa. Ela o fazia lembrar-se de Gênesis 1, e então ele apoiou o big-bang. Por quê? Porque esta grande teoria “ateísta”, o big-bang, originou-se em certa extensão por Georges Lemaître, que era um sacerdote Belga assim como também um matemático e físico. Então Hitchens tem a história da ciência de ponta cabeça em sua mente. Ele simplesmente não sabe do que está falando.

"Novas e Brilhantes Maravilhas"

    "A Perda de fé," Hitchens diz, "pode ser compensada por novas e mais brilhantes maravilhas que temos diante de nós, assim como por imersão no quase miraculoso trabalho de Homero, Shakespeare, Milton, Tolstoi e Proust, todos os quais foram também 'feitos pelo homem'" (p. 151). Mas o que seria de Homero sem religião? O que faríamos com sua história da Guerra de Tróia, ou das peregrinações de Odisseu, sem os deuses? Você perde metade da narrativa exatamente aqui. E Tolstoi sem religião? Ele estaria chocado com essa declaração. Mas o que realmente me chama atenção é Milton sem religião. Aqui estão as linhas de abertura de seu Paraíso Perdido:

Do homem primeiro canta, empírea Musa,
A rebeldia — e o fruto, que, vedado,
Com seu mortal sabor nos trouxe ao Mundo
A morte e todo o mal na perda do Éden,
Até que Homem maior pôde remir-nos
E a dita celestial dar-nos de novo
....

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Da minha mente a escuridão dissipa,
Minha fraqueza eleva, ampara, esteia,
Para eu poder, de tal assunto ao nível,
Justificar o proceder do Eterno
E demonstrar a Providência aos homens.
21

    Esta é a declaração de propósito de Paraíso Perdido. Então, Hitchens aconselha, livre-se da religião, mas leia Milton.

    Porém imagine Dante sem religião! Tentei imaginar os Contos da Cantuária de Chaucer sem religião. É uma história sobre peregrinos; mas, retire a religião, peregrinação para que? Para onde estão eles indo? Imagine um mundo sem a Paixão de São Mateus de Bach, sem o Messias de Handel, sem o Réquiem de Mozart, sem Igor Stravinsky, sem John Tavener, sem John Coltrane – céus, mesmo sem Brian Wilson. Sem as catedrais. Sem a Mesquita Azul de Istambul. Quero dizer, tudo isso se foi. Você não pode imaginar que você possa se livrar de todas as partes ruins da religião e que você continue desfrutando de todas as suas coisas boas. Tudo isto teria de ir embora. Com o que você é deixado? Ao invés da catedral de Chartres talvez um cabana Quonset, alguma coisa puramente funcional.

Mais Atrocidades

    Agora chegamos a ponto realmente sério: Atrocidades totalitárias. O Livro Negro do Comunismo de 1997 estima que o total de mortes causadas pelo Comunismo entre 85 e 100 milhões,22 mas eu acho que mesmo a mais alta dessas estimativas pode ter sido baixa demais. Uma relativamente nova biografia de Mao Tse-Tung credita-lhe 70 milhões de mortes – de sua própria conta, em tempos de paz.23 E você ainda terá de colocar nesta soma Stálin, Trotski, Lênin e o resto. E então, é claro, há os Nazistas. Hitchens percebe que tais fatos constituem uma ameaça ao ateísmo que ele advoga porque religião é suposto ser a culpada por todos estes crimes e porque secularismo criará um admirável mundo novo de paz, justiça e harmonia e todo este tipo de coisa. Mas isto não parece funcionar. Então o Hitchens faz? Ele toma um passo completamente ousado. Ele declara que religião é quem criou o totalitarismo. Ele aponta, por exemplo, para as “missões” Jesuítas no Paraguai (pp. 231-232), um tema tratado no filme de Robert de Niro, “A Missão”, um belo filme realizado perto das Cataratas do Iguaçu, uma belíssima área perto da intersecção de Brasil, Paraguai e Argentina. As missões, Hitchens nos diz, foram um antigo estado totalitário onde os Índios eram mantidos em estado de terror e medo por estes sacerdotes Jesuítas. Porém deixe-me contar sobre estes sacerdotes Jesuítas. Havia dois deles para cada 3.500 Índios, e os Índios eram livres para vir ou ir embora a hora que quisessem. Que tipo de estado totalitário é isso? Hitchens representa completamente errado as missões. E então ele daí parte para dizer que toda forma de totalitarismo é religiosa. E totalitarismo não apenas se originou na religião; todo totalitarismo ( e aqui você acha que conhecia Stálin!) é realmente teocrático. É tudo coisa religiosa. Crentes são culpados por isso também. Ele fala de Saddan Hussein, por exemplo, “Eu simplesmente diria que aqueles que olhavam o seu regime como um regime secular estão a si mesmo se iludindo” (p. 25). Bem, eu daqui em diante me declaro iludido. Saddan Hussein era menos muçulmano do que eu sou, e o estado Iraquiano Baathista era um estado fascista. A ideologia Baathista foi fundada por um relapso Cristão chamado Michel Aflaq. Saddan Hussein era meramente um Muçulmano nominal, sim, mas seu primeiro ministro, Tariz Aziz, era um Cristão – da mesma maneira que Vito Corleone do “Poderoso Chefão” era um Cristão, porém um Cristão de algum tipo, pelo menos nominalmente. Que tipo de teocracia é isto? É bem verdade que após 1979 Saddan Hussein, sendo um brucutu, mas um brucutu muito esperto e um sobrevivente, sabia para onde o vento estava assoprando; então ele descobriu, por exemplo, que ele era um descendente do Profeta Maomé. Quem ousaria questiona-lo sobre isto? E então ele também colocou Allähu akbar (“Deus é o altíssimo”) na bandeira do Iraque pois ele sabia que direção os ventos ideológicos estavam soprando. Todavia ele nunca demonstrou qualquer sinal sério de religião. Ele perseguiu líderes religiosos no Iraque. Ele os matou aos milhares, tanto Xiitas como Sunitas. Não era como ele somente favorecesse os Sunitas; ele não gostava de todos. Qualquer um que fosse uma ameaça para ele morria. Então isto é uma alegação ridícula da parte de Hitchens.

    Hitchens descreve os experimentos de Trofim Lysenk com a genética Marxista-Leninista. Aqueles que leram alguma coisa da história Soviética podem se lembrar de Lysenco, que, sob os auspícios de Stálin, iniciou um projeto insano para criar uma ciência Marxista da agricultura. A idéia era rejeitar a genética Mendeliana e todo tipo de “absurdo científico” e prosseguir com princípios Marxistas-Leninistas não apenas na política e economia (onde falharam miseravelmente), mas também na genética (onde falharam ainda mais obviamente). Muitas pessoas morreram de inanição como um resultado dos experimentos agrícolas de Lysenko. Então, Hitchens, quem, lembrem-se, é um ex-Trotskista que realmente admira Lênin e Trotsky e todo o experimento Soviético, alega que “Stálin... pedantemente repetia a rotina papal [perceba a palavra papal] de fazer com que a ciência se conformasse ao dogma, ao insistir que o xamã e charlatão [mais uma vez, perceba a linguagem religiosa] Trofim Lysenko havia descoberto a chave da genética e prometia searas extraordinárias de vegetais especialmente inspirados [perceba a palavra conotativa inspirados]. (Milhões de inocentes morreram rangendo seus dentes de dores internas em conseqüência desta ‘revelação’ [uma vez mais, perceba a escolha de uma palavra religiosa, revelação].)" 24

    Ora, isto é apenas irresponsabilidade retórica. Mais uma vez, perceba a linguagem religiosa: inspiração, revelação, dogma, xamã, papal (trazendo à tona o papado Católico), tudo isto tinha a haver com um regime completamente ateu – um regime militantemente ateísta. Considere a deposição do grande teocrata e crente Stálin, que sofreu uma horrível morte em Março de 1953. Ele havia sofrido um severo derrame que havia deixado o seu lado direito paralisado, e suas últimas horas se passaram virtualmente em insuportáveis dores. Vagarosamente estava sendo sufocado. Conforme sua filha Svetlana mais tarde relata, seu pai se sufocava para a morte enquanto aqueles em volta de seu leito de morte observavam. Embora, já perto do final, ele parecesse quase já semi-inconsciente, ele subitamente abriu seus olhos e olhou ao redor do quarto, plenamente cheio de terror. Então, de acordo com Svetlana, “alguma coisa incompreensível e terrível aconteceu que até hoje eu não posso esquecer nem compreender." Stalin parcialmente se levantou de seu leito, cerrou seu punho em direção ao céu, e o sacudiu desafiadoramente. Então, com um murmúrio ininteligível, caiu de volta imóvel sobre seu travesseiro e morreu. 25  Isto foi uma morte santa (ironia), eu suponho.

    A tentativa de Hitchens em jogar a culpa das atrocidades dos Nazistas e dos Comunistas sobre crentes é uma coisa perto do obsceno. Permita-me ilustrar:

    Lênin escreveu a Maxim Gorky em 1913 que “qualquer idéia religiosa... é a mais perigosa tolice, a mais vergonhosa ‘infecção, ’” e que adoração nada mais é do que “necrofilia ideológica.”26 Em 1921, agora já firmemente controlando todo o país, ele designou o Partido Comunista a adotar um programa de “ateísmo militante” e “materialismo militante.”27

    Destarte, o semanário ateísta Bezbozhnik (Os sem-Deus) iniciou sua publicação em 1922, e um periódico intitulado Bezbozhnik ustanka (Os sem-Deus no mercado de trabalho) foi lançado. Em 1923 o Partido Comunista estabeleceu a Liga dos Sem-Deus. Em 1924 uma Sociedade de Militantes Materialistas foi estabelecida, e o partido lançou uma campanha nacional de propaganda ateísta e de demonstrações científicas. No próximo ano a relativamente pretensiosa revista Ateísta apareceu. Por volta de 1929 a Liga dos Sem-Deus tinha 465.000 membros e 9.000 células de agitadores ateístas, e ela mudou seu nome para a Liga dos Militantes Sem-Deus. Em 1932 ela alegava possuir 5.6 milhões de membros. Museus de ateísmo científico foram construídos ao longo da país. Durante 1940, cerca de 239.000 palestras anti-religiosas foram proferidas para uma audiência estimada de 11 milhões de pessoas por todo o país sob os auspícios da Liga.28

   Mas os Bolcheviques não se contentaram com a propaganda. Em 1922 igrejas Ortodoxas foram ordenadas a entregar todos os seus tesouros, incluindo cálices e vestimentas clericais, ao Estado. Quando patriarcas tentavam reter objetos relacionados aos sacramentos da igreja, eles eram aprisionados à força. Mais de 8.000 membros do clero foram assassinados durante o processo de expropriação, e mais de 1.400 combates violentos estão registrados entre agentes do estado e zangados fiéis. Por volta de 1930, estima o historiador Britânico Richard Overy, um quinto de todos aqueles aprisionados no complexo de campos de prisioneiros no longínquo norte, em Solovki, era “vítimas do clero da perseguição religiosa.” Em 1940 a grande maioria das igrejas, capelas, mesquitas, sinagogas e monastérios foram dinamitados, fechados, ou confiscados pelo estado para algum outro uso. Enquanto a Igreja Ortodoxa Russa tivera 46.457 igreja e 1.028 monastérios à época da revolução em 1917, por volta de 1939 havia menos do que um milhar ainda em operação – e algumas estimativas colocam o número ainda mais baixo perto de uma centena. Seiscentas comunidades religiosas existiam em Moscou em 1917. Por volta de 1939 apenas vinte sobreviveram. O famoso monastério Strastnoi, por exemplo, localizado no coração da cidadã, foi convertido no museu nacional anti-religião.29

    

    O novelista e historiador Russo Aleksander Solzhenistsyn coloca a proporção de mulheres aprisionadas devido a suas religiões em Suslovo por volta de um terço.30 Quando as mulheres da comunidade religiosa perto de Khosta foram presas e enviadas a Solovki, seus filhos foram deixados para se alimentarem sozinhos em suas fazendas. Eles cuidaram dos pomares e das hortas, ordenharam suas cabras, estudaram bastante na escola e enviavam suas notas a seus pais na prisão, “junto com a certeza que eles estavam preparado para sofrer por Deus assim como suas mães haviam. (E, é claro, que o Partido Comunista logo lhes concedeu esta oportunidade.)" 31

   “Naquela época,” diz Solzhenitsyn do próprio início do sistema Soviético sob a direção dos venerados por Hitchens Lênin e Trotsky, “as autoridades costumavam amar estabelecer seus campos de concentração em ex-monastérios: eles eram cercados por fortes paredes, tinham prédios bem sólidos, e estavam vazios. (Além do mais, monges não são seres humanos e podem ser enxotados á vontade.).”32 Em Moscou, por exemplo, havia campos de concentração em Andronnikov, Novospassky, e nos monastérios de Ivanovsky. Outros estavam localizados em conventos vazios em Nizhni Novgorod (já em Setembro de 1918) e em Ryazan.

    "Homens de religião," diz Solzhenitsyn,

    Eram uma parte inevitável de cada “caçada” anual, e seus cadeados de prata brilhavam em cada cela e em cada transporte de prisioneiros com rota para as ilhas Solovetsky.


  A partir dos anos 20 em diante, prisões foram também realizadas entre grupos de teosofistas, místicos, espiritualistas... .Também, sociedades religiosas e filósofos do círculo de Berdyayev. Os tão chamados “Católicos Orientais” – seguidores de Vladimir Solovyev – foram aprisionados e destruídos nesse tempo, assim como o grupo de A. I. Abrikosova. E, é claro, simples Católicos Romanos – sacerdotes Católicos Poloneses, etc. – foram aprisionados, também, como parte normal do curso dos eventos.

   Entretanto, a raiz da destruição da religião no país, que ao longo dos anos vinte e trinta era um dos mais importantes objetivos da GPU-NKVD, pudesse ser percebida apenas pelos aprisionamentos em massa dos crentes Ortodoxos. Monges e freiras, cujos hábitos negros houvera sido uma característica distintiva da vida da antiga Rússia, foram intensivamente cercados por todos os lados, colocados sob prisão, e enviados ao exílio. Eles prenderam e sentenciaram leigos ativos. Os cercos continuaram crescendo, até que eles começaram a alcançar os fiéis comuns também, os idosos, e particularmente mulheres, que eram os mais teimosos de todos os crentes... .

   Na verdade, eles foram supostamente aprisionados e perseguidos não realmente por sua fé, mas por abertamente declararem suas convicções e por criarem seus filhos no mesmo espírito. Conforme Tanya Khodkevich escreveu:

    Você pode livremente orar
    Mas desde que Deus sozinho possa te escutar.

    (Ela recebeu uma sentença de 10 anos de prisão por estes versos.) Uma pessoa convencida de que possuísse uma verdade espiritual era requerida a esconder isto de seus próprios filhos! Nos anos vinte a educação religiosa dos filhos foi classificada como um crime político sob o Artigo 58-10 do Código Civil comunista. 33

    Tais pessoas, Solzhenitsyn observa, tipicamente recebiam sentenças de 10 anos de prisão em campos de trabalho forçados e eram proibidas de retornar para seus filhos e lares mesmo após libertos. Em contraste, prostitutas costumeiramente recebiam sentenças de três anos de prisão, continuavam a exercer seus negócios entre os administradores de campo e guardas, e então voltavam para casa carregando valises cheias de presentes. 34

  O número de párocos Ortodoxos caiu de aproximadamente 40.000 no fim dos anos de 1920 para aproximadamente 4.000 em 1940. E isto não foi de maneira alguma meramente um resultado do atrito natural ou perda de interesse na religião. Muitos foram executados como contra-revolucionários ou morreram em campos de concentração embora um desconhecido número destes estivessem escondidos. Figuras religiosas Judaicas e Muçulmanas sofreram destinos similares. Em 1929 grupos de estudos religiosos e círculos bíblicos foram banidos, grupos de jovens religiosos ou grupos de mulheres religiosas foram proibidos, salas de leituras das igrejas e bibliotecas religiosas foram fechadas, e instrução religiosa foi considerada como fora-da-lei. Impostos sobre a renda de trabalhadores religiosos foram elevados até os 100 por cento. 35 Funcionários públicos foram despedidos se seus pais fossem sacerdotes Ortodoxos, pessoas que se recusavam a trabalhar no Domingo foram levadas à prisão. 36 Alguns crentes religiosos foram deliberadamente deixados à mingua para morrer. 37

    "Um rio nunca secou na U.S.S.R.," Aleksandr Solzhenitsyn poderia ainda escrever nos anos 70s em referência ao rio de prisioneiros indo para os campos de trabalho, e ainda fluem. Uma torrente de criminosos intocados pela “beneficente onda que convoca todos à vida (comunista).” etc. Um fluxo que fluiu ininterruptamente ao longo dessas décadas – quer queiram as normas “Leninistas fossem infringidas” ou estritamente observadas – e flui nos dias de Khruschev mais furiosamente do que nunca.

    Eu me refiro aos crentes. Aqueles que resistiram a nova onda de cruel perseguição, o fechamento por atacado de igrejas. Monges que foram expulsos de seus monastérios... . Estes não são em sentido algum políticos, eles são “religionistas”, mas ainda assim tiveram que ser re-educados. Crentes deveriam ser demitidos de seus trabalhos simplesmente por causa de suas fés; Komsomols deveriam ser enviados para quebrar as vidraças das casas dos crentes; crentes deveriam ser oficialmente compelidos a freqüentarem palestras anti-religiosas, portas de igrejas deveriam postas abaixo com tochas flamejantes, cúpulas deveriam ser derribadas com correntes amarradas em tratores, encontros de velhas senhoras interrompidos com jatos d’água fria. 38

    É simplesmente obsceno para Christopher Hitchens sugerir que crentes religiosos foram responsáveis pela União Soviética.

    Outra coisa que ele diz que eles também são responsáveis é pela violência. Hitchens mira a violência que, diz ele, é causada pela religião, e ele especificamente tem como alvo homens-bomba suicidas como um exemplo por essa coisa maligna. Ele aparentemente não percebe que faz uma admissão crucial quando ele reconhece que os Tigres Tamil do Sri Lanka “foram os pioneiros, muito tempo antes do Hezbollah e da Al-Qaeda, na desprezível de assassinatos suicidas.” (p. 199) Embora verdadeiro em forma, ele procura pintar a violência no Sri Lanka como uma guerra religiosa entre Budistas e Hindus, os Tigres Tamil não são motivados por religião. Hitchens reconhece que o conflito é devido a tribalismos étnicos, porém tenta obscurecer esta realidade ao apontar que os Tamils são “em sua maioria Hindus” (p. 199). Note essas importantes palavras “em sua maioria”. Isto significa que alguns deles não são Hindus e que a contenda é pelo menos reforçada em alguns casos pela religião. Considere a linguagem “teológica” nas exigências feitas em 1985 por uma confederação de grupos militantes Tamil:

1. Os Tamils devem ser reconhecidos como uma nacionalidade distinta;

2. O reconhecimento e garantia da integridade do território que abrange os tradicionais lares Tamils do Ceilão;
3.
O direito de auto-determinação da nação Tamil; e
4.
O reconhecimento de cidadania e direitos fundamentais para todos os Tamils que consideram o Ceilão como seu lar. 39

  Você enxerga alguma única palavra sobre religião nessa declaração? Não existe nenhuma. Porém isto é profundamente significante. Robert Pape, um cientista político da Universidade de Chicago, compilou um banco de dados de cada suicídio a bomba ou ataques suicidas ao redor de todo mundo desde 1980 até 2003 (um total de 315 ataques) e cuidadosamente os analisou. Em um livro de 2005 intitulado “Morrendo para Vencer: A Lógica Estratégica dos Terroristas Suicidas, ele conclui que embora possa parecer óbvio que o fundamentalismo Islâmico seja simplesmente a causa central, a presumida conexão entre terrorismo suicida e fundamentalismo Islâmico é errônea. Na verdade, os dados demonstram que há pouca conexão entre terrorismo suicida e fundamentalismo Islâmico ou quaisquer outras religiões do mundo. De fato, os instigadores líderes dos ataques suicidas são os Tigres Tamil do Sri Lanka, um grupo Marxista-Leninista [isto é território de Trotsky, Lênin e do próprio Hitchens] cujos membros provêm de famílias Hindus, todavia são determinadamente opostos a religião. Este grupo cometeu  76 dos 315 incidentes, mais ataques suicidas do que o Hamas. Ainda, o que praticamente todo terrorista suicida tem em comum é um objetivo estratégico bem específico: compelir democracias modernas a retirarem forças militares de um território que os terroristas consideram ser sua pátria mãe. Religião é raramente a causa raiz, embora ela seja freqüentemente usada como uma ferramenta  pelas organizações terroristas para recrutar e em outros esforços a serviço de um objetivo estratégico mais amplo.40

    David Martin, quem é um professor emérito de sociologia da Escola de Economia de Londres, respondeu a um livro de Richard Dawkins, um amigo e aliado de Hitchens.41 Martin diz que, a partir de um ponto de vista sociológico, o papel e natureza da religião variam de acordo com o tipo de sociedade na qual está presente, e o seu relacionamento com armas e guerras irá variar da mesma maneira. Isto é porque declarações como que o efeito de religiões é causar guerras não são provavelmente levadas muito a sério por sociologistas. (Outros acadêmicos têm escrito sobre as causas da violência, e religião é apenas um fator entre muitos nesses casos.) Martin continua:

    Eu não sei de qualquer evidência que mostre que a ausência de religião seja um fator na contenção de identidades rivais e alegações incompatíveis e que possam levar a uma diminuição no grau de inimizade e ferocidade... .A contribuição da religião ao invés disso tem sido um sinal de importância, e sempre tem sido quase inteiramente direcionada para uma internamente reconciliação pacífica e para a paz em conflitos externos. Se os argumentos de Dawkins estivessem corretos, então a separação de crentes e clérigos da população em geral deveria revelá-los como os principais proponentes da violência uns contra os outros e violência em assuntos internacionais. Isto é longe de ser o caso. A evidência não sustenta a contenção, o caso desmorona.42 (Nota: Basta ter em mente as pacíficas comunidades Amish nos USA)

   Agora, de fato, a causa da violência é o que sempre tem sido, e acontecesse com pessoas religiosas e não religiosas. Está relacionada com luxúria, cobiça, irritação, o desejo de poder – e todos estes tipos de coisa. Religião é um fator, mas não um fator principal. Como meu filho recentemente colocou para mim: “Hitchens parece estar dizendo que sem religião nós todos poderíamos nos dar às mãos e cantar ‘Kumbaya’ – exceto por, é claro, não poderíamos cantar Kumbaya, pois esta é uma canção religiosa”.

    Hitchens também alega que o Islã arruinou a cultura da Pérsia. Entretanto, a cultura da Pérsia é Islâmica. Os maiores escritores das tradições Persas são escritores Islâmicos, as pinturas em miniaturas Persas são pinturas Islâmicas, o maior poeta da Pérsia é Jalal ad-Din Rumi, quem é um poeta místico Islâmico. Seu livro, o Mathnawi, é freqüentemente chamado “o segundo Corão” ou “O Corão Persa.” Se você se livrar do Islã, você livrar-se-á de todos os principais poetas da tradição Persa pelos últimos 14 séculos. Você livrar-se-á de cada pedaço de arte e pintura Persa. Declarações como estas são de uma ignorância abissal. É simplesmente um assombro as lê.

    O livro “deus não é Grande” tem estado na lista dos mais vendidos. Mas é recheado até o ponto de explodir de erros, e a coisa mais gritante sobre isto é que os erros estão sempre, sempre, a favor de Hitchens. Se você tiver um contador ou um caixa que cometa erros, mas esses erros sejam randômicos, algumas vezes para mais, outras vezes para menos, você diz ok, tudo bem; mas se uma caixa de banco está sempre cometendo erros em seu favor, você começa a cheirar algo podre no Reino da Dinamarca. Bem, no caso de Hitchens eu já comecei a sentir esse cheiro. Não há um único fato polêmico ou mesmo um fato que me chamou a atenção como questionável a medida que checava o livro de Hitchens onde este não se revelou que ele estivesse errado. Toda e cada vez que fiz isto. Isto me faz lembrar uma bem famosa revisão crítica do livro de Lillian Hellman, quem escreveu uma memória chamada “Tempo Cafajeste”. Ela foi revista pela sua antiga arquiinimiga Mary McCarthy, que apareceu num show de televisão da PBS, o antigo Dick Cavett Show. A certo ponto da entrevista (isto aconteceu em 1979) quando lhe foi indagado sobre o livro “Tempo Cafajeste”, ela replicou e isto ficou famoso (e também a levou para um processo), “Cada palavra que ela [Lillian Hellman] escreve é uma mentira, incluindo os ‘e’ e os ‘o’." 43 Ora, eu não estou dizendo que Hitchens está mentindo, porém estou dizendo que virtualmente não há uma só sentença em seu livro que seja verdadeira. É algo absolutamente assombroso. El ficou rico com seu livro, o que me dá esperanças: pela minha reputação entre alguns ex- e anti-Mórmons, eu sou um mentiroso compulsivo, então talvez meu próprio futuro ainda seja brilhante.

    Eu já havia dito anteriormente que eu acho que a crítica secular ao Mormonismo e às crenças religiosas e hoje muito mais séria do que a crítica evangélica que os Santos dos Últimos Dias vem experimentando a tanto tempo. Quando o livro de Hitchens apareceu pela primeira vez, eu imaginava que fosse representar um desafio formidável. Hitchens é um camarada bem destacado. Ele escreve bem, tem escrito proficuamente, tem viajado o mundo inteiro e tem uma formidável presença na televisão. É verdadeiramente desapontante (ou em outro sentido realmente estimulante) perceber quão pobre é sua causa, pelo menos conforme está hoje em suas mãos, contra tanto Mormonismo e a crença religiosa. 

 


Notas de Rodapé

1. Sam Harris, The End of Faith: Religion, Terror, and the Future of Reason (New York: Norton, 2005). Para respostas a ideologia de Harris, veja Michael D. Jibson, "Imagine," FARMS Review 18/1 (2006): 233–64; and Louis Midgley, "Knowing Brother Joseph Again," FARMS Review 18/1 (2006): lxii–lxv, o qual discute a curiosa atração de Harris, aparentemente devido ao seu ateísmo, por um misticismo vazio. Harris também pulbicou Letter to a Christian Nation (New York: Knopf, 2006); alguma atenção foi concedida a alguns porções desta carta em  FARMS Review 18/2 (2006): 250–51.

2. Richard Dawkins, The God Delusion (New York: Houghton Mifflin, 2006). Por um cuidadoso exame deste livro, veja David Grandy, "Ideologia Disfarçada de Ciência," na FARMS Review.

3. Daniel C. Dennett, Breaking the Spell: Religion as a National Phenomenon (New York: Viking, 2006).

4. Christopher Hitchens, god is Not Great: How Religion Poisons Everything (New York and Boston: Twelve, 2007). Por conveniência, todas referências subsequentes a este livro neste presente artigo, "Deus e Mr. Hitchens," estão citadas somente pelo número da página. Este artigo, baseado em declarações deixadas no simpósio anual da Fundação para Informações Apologéticas e Pesquisa (FAIR) em 3 de Agosto de 2007 em Sandy, Utah, deriva de um livro que William J. Hamblin, do Departamento de História da Universidade Brigham Young, e eu estamos trabalhando, por enquanto intitulado  Deus e mr. hitchens: Retórica Vazia, História Distorcida, e o Novo ateísmo." Eu permiti que este presente artigo pudesse reter alguma coisa de seu caráter oral original. Sou graro a minha esposa, Deborah, e ao meu filho Stephen pela ajuda deles em corer atrás das fontes para minha resposta a Christopher Hitchens.

5. Christopher Hitchens, "Faith-Based Fraud," Slate, 16 May 2007, http://www.slate.com/id/2166337 (accessed 17 January 2008).

6. Christopher Hitchens, The Missionary Position: Mother Teresa in Theory and Practice (New York: Verso, 1995).

7. Quoted in Erik Durschmied, Blood of Revolution: From the Reign of Terror to the Rise of Khomeini (New York: Arcade, 2002), 170.

8. Daniel C. Peterson, Muhammad: Prophet of God (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 2007).

9. United Bible Societies, "Scripture Language Report 2006," http://www.biblesociety.org/index2.htm (accessed 21 January 2008).

10. Yohanan Aharoni and Michael Avi-Yonah, The Macmillan Bible Atlas, 3rd ed. (New York: Macmillan, 1993), 17–18, 56, 94, 99, 100, 103, 111, 120, 140.

11. Richard Bauckham, Jesus and the Eyewitnesses: The Gospels as Eyewitness Testimony (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 2006).

12. http://thinkexist.com/quotation/beware_the_man_of_one_book/12058.html (acessado em 21 January 2008).

13. David G. Dalin, The Myth of Hitler's Pope: How Pope Pius XII Rescued Jews from the Nazis (Washington, DC: Regnery, 2005). Eu não posso possivelmente fazer justiça à força do caso de Dalin aqui, embora eu deva lembrar que Sir Martin Gilbert, o biógrafo oficial de  Winston Churchill e autor de dez livros sobre o Holocausto, ele mesmo um Judeu, endossou e apoiou as conclusões de Dalin. Veja Martin Gilbert, "Hitler's Pope?" The American Spectator 39/6 (July/August 2006): 68–73.

14. Cited in Dalin, The Myth of Hitler's Pope, 100.

15. James Akin, "How Pius XII Protected Jews," http://www.catholic.com/thisrock/
1997/9702fea1.asp (accessed 15 February 2008).

16. Akin, "How Pius XII Protected Jews."

17. Dan Kurzman, A Special Mission: Hitler's Secret Plot to Seize the Vatican and Kidnap Pope Pius XII (Cambridge, MA: Da Capo Press, 2007).

18. Pierre Duhem's ten-volume work on the history of science, Le système du monde: histoire des doctrines cosmologiques de Platon à Copernic (Paris, 1913–59), credits the Roman Catholic Church for fostering Western science during the Middle Ages.

19. See, for example, Stanley L. Jaki, Miracles and Physics (Front Royal, VA: Christendom Press, 1989); and Scientist and Catholic: An Essay on Pierre Duhem (Front Royal, VA: Christendom Press, 1991).

20. Um exemplo desta idéia é a carta de Galileu a Christina Lotharinga, Archduquesa da Toscânia: "Pois as santas Escrituras e a natureza derivam igualmente da deidade, a primeira como ditada pelo Espírito Santo e a última como a mais obediente executante das ordens de Deus." Oxford Dictionary of Quotations, 6th ed., ed. Elizabeth Knowles (New York: Oxford University Press, 2004), s.v. "Galileo Galilei." See "Science, Religion and Galileo" (http://gc.users.nelsonbay.com/observatory_files/Page1559.htm [accessed 28 January 2008]), que, entre outras coisas, nota que as igrejas Cristãs da era de Galileu promoviam ciência e discutia a história intellectual da idéia dos “dois livros” e sua relação com Galileu.

21. John Milton, Paradise Lost, bk. 1, lines 1–6, 22–26.

22. Stéphane Courtois et al., The Black Book of Communism: Crimes, Terror, Repression (Cambridge, MA: Harvard University Press, 1994), 4.

23. Jung Chang and Jon Halliday, Mao: The Unknown Story (London: Jonathan Cape, 2005).

24. Hitchens, god is not Great, 244.

25. Svetlana Alliluyeva, Twenty Letters to a Friend, trans. Priscilla Johnson McMillan (New York: Harper and Row, 1967), 5–11, quotation on p. 10.

26. Quoted in Richard Overy, The Dictators: Hitler's Germany and Stalin's Russia (New York: W. W. Norton, 2004), 270.

27. Overy, The Dictators, 271.

28. Overy, The Dictators, 271–72, 274, 275.

29. Overy, The Dictators, 273–74.

30. Aleksandr I. Solzhenitsyn, The Gulag Archipelago, 1918–1956: An Experiment in Literary Investigation, trans. Thomas P. Whitney, 3 vols. (New York: Harper & Row, 1973–76), 3:67.

31. Solzhenitsyn, The Gulag Archipelago, 2:464.

32. Solzhenitsyn, The Gulag Archipelago, 2:19.

33. Solzhenitsyn, The Gulag Archipelago, 1:37–38. Até mesmo Cristãos simpáticos ao Comunismo foram sujeitos a prisão (ver 1:51.) Para mais sobre o tratamento de crentes, e especialmente de mulheres crentes, nos campos, ver Solzhenitsyn, The Gulag Archipelago, 2:309–10, 419–20.

34. Solzhenitsyn, The Gulag Archipelago, 1:38; 2:67.

35. Overy, The Dictators, 274–75.

36. Solzhenitsyn, The Gulag Archipelago, 1:58, 59.

37. Ver Solzhenitsyn, The Gulag Archipelago, 2:65–66. Para mais exemplos de deliberadas fomes Soviéticas, ver Robert Conquest, The Harvest of Sorrow: Soviet Collectivization and the Terror-Famine (New York: Oxford University Press, 1986); and Nicolas Werth, Cannibal Island: Death in a Siberian Gulag (Princeton: Princeton University Press, 2007).

38. Solzhenitsyn, The Gulag Archipelago, 3:514–15.

39. As given in A. Jeyaratnam Wilson, The Break-up of Sri Lanka: The Sinhalese-Tamil Conflict (London: Hurst, 1988), 185–86.

40. Robert A. Pape, Dying to Win: The Strategic Logic of Suicide Terrorism (New York: Random House, 2005), 4.

41. David Martin, Does Christianity Cause War? (New York: Oxford, 1997).

42. Martin, Does Christianity Cause War? 19–20, 220.

43. Frances Kiernan, Seeing Mary Plain: A Life of Mary McCarthy (New York: W. W Norton, 2000), 15–16.

4. Neuroteologia. Acaso toda Espiritualidade está em sua cabeça?

 Por Daniel C. Peterson & William J. Hamblin

 

    Um campo recentemente emergente do estudo religioso é conhecido como Neuroteologia - “o estudo da neurobiologia da religião e da espiritualidade.”

Neuroteologia é um movimento novo. O primeiro livro principal sobre o assunto foi publicado em 1998. Como tal, seus resultados devem ser vistos apenas como completamente provisórios. Mas são todavia intrigantes. Os psicólogos e os neurologistas estão tentando “localizar quais as regiões (do cérebro) que se ligam, e quais se desligam” durante experiências religiosas. Ou, para descrever mais exatamente a opinião de alguns dos pesquisadores, o que e como são percebidas as experiências religiosas.

     Em suas experiências, os neurologistas escanearam alguns cérebros, entre outros, de um homem engajado em práticas meditativas tibetanas e de freiras católicas praticando sua oração mística. Descobriram que durante estas experiências o córtice pré-frontal do cérebro era altamente ativo, quando o parietal lóbulo superior - que governa a orientação de tempo e espaço - estava relativamente inativo, dando aos participantes um sentido místico de estarem fora do tempo e espaço. Sua conclusão: As experiências religiosas podem ser correlacionadas com tipos particulares de atividade do cérebro. (Interessante, nos exames dos povos que reivindicaram ter momentos incomuns de introspecção espiritual ou do despertar, descobriu-se que tais experiências “aumentam com a instrução, renda e idade,” aparentemente desmentindo às alegações de que a instrução mina de algum modo a crença religiosa.)

 
     Em alguns casos, a neuroteologia é uma tentativa de determinar o que muitos secularistas têm discutido por décadas - que as experiências religiosas não têm nenhuma base ontológica fora da química do cérebro humano. As experiências religiosas são reais somente no sentido quando os seres humanos as experimentam realmente. E, precisamente, como determinadas regiões do cérebro são altamente ativas durante sonhos ou alucinação, certas regiões específicas do cérebro são igualmente ativas durante experiências religiosas.

 

      Alguns neuroteólogos reivindicam que as visões religiosas são causadas por anomalias no cérebro tais como a epilepsia do lóbulo-temporal, alegando que Paulo, entre outros, poderia ter sofrido desta doença. (Como tal diagnóstico foi feito em um homem inoperante por dois mil anos não seria geralmente preciso ou explicado, parece suspeitosamente circular em seu raciocínio: Paulo teve visões. Os povos com epilepsia do temporal-lóbulo têm visões. Conseqüentemente Paulo deve ter tido a epilepsia do lóbulo-temporal.)

 
       De outro lado, o neuroteólogo Andrew Newburg discorda das alegações dos secularistas: “Não é mais seguro dizer que arroubos e sensações espirituais são causados pela atividade cerebral do que é dizer que as mudanças neurológicas através das quais nós experimentamos o prazer de comer uma maçã nos causou a falsa impressão da maçã realmente existir (lembram do filme Matrix?). Não há meios de determinar se as mudanças neurológicas associadas com experiências espirituais significam que o cérebro está causando aquelas experiências, ou se ele está, ao invés disto, percebendo uma realidade espiritual.” Assim, embora alguns pudessem tentar usar os resultados da neuroteologia para finalizar definitivamente o debate sobre a fonte final das experiências religiosas, na realidade isto provavelmente está apenas começando.

 
    Um outro problema com neuroteologia é que isso reduz experiências místicas igualando-as às experiências religiosas em geral. Na realidade, as experiências místicas são apenas um tipo de experiência religiosa. Ou, como Kenneth L. Woodward colocou: “O principal erro destes neuroteólogos é identificar a religião somente como experiências específicas e sentimentos [místicos] .” A religião inclui experiências de culpa, de arrependimento, de obediência, de serviço, de canto, e de estudo, assim como a quieta meditação. Os dons do espírito, conforme enumerados por Paulo, podem incluir, mas também certamente transcender, a meditação mística estudada pelos neuroteólogos.

 
        Para finalizar, uma tanto que atrevida especulação: se os neurologistas pudessem ter colocado eletrodos no cérebro de Joseph Smith quando teve sua primeira visão, o que teriam eles descoberto? Das descrições de Joseph de suas experiências ele não se encaixaria no padrão que estes neurologistas acham ter encontrado para “experiências religiosas.” Joseph não alegou ter tido uma sensação de  transcendência do tempo e espaço, mas declarou ter visto dois seres reais. Teria o cérebro de Joseph demonstrado os mesmos padrões científicos dos testes realizados com budistas meditando ou com as freiras orando, ou seriam suas funções cerebrais substancialmente diferentes? E o quê, nós indagamos, eles descobririam sobre as funções do cérebro de alguns de nós durante nossas reuniões semanais de domingo?

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