Antes de falecer em Outubro de 2003, Marc Schindler preparou esta revisão crítica do artigo de J.P. Holding do Tectonic Ministries, uma organização evangélica fundamentalista nos USA. Em tributo a sua memória o mínimo que posso fazer é traduzir seu extenso artigo e disponibilizá-lo na Internet para que sua obra possa beneficiar um número ainda maior de pessoas que ainda estão deste lado do véu.(Marcelo M. Silva)

    Não deixem de Ler também:

    Catherine Thomas: Visões de Cristo no Mundo Espiritual e a Redenção dos Mortos

    John Tvedtnes: Salvação dos Mortos (traduzido e enviado pelo irmão Evandro Faustino)

Batismo pelos Mortos[1]

 Por Marc A. Schindler

 Introdução:

            Primeiramente dispensaremos rapidamente o sardônico título da versão on-line do artigo onde J.P. Holding critica a prática dos antigos Cristãos e dos Santos dos Últimos Dias, “E Não Esqueçam o Sabão: Um Exame do ‘Batismo pelos Mortos.’” Isto é bastante comum em seus escritos, e não deveria estar no caminho de um sério exame dos seus criticismos, os quais pelo menos têm algo mais de novo, novidades estas que usualmente sentimos falta na produção de fábrica da literatura antimórmon.[2]

            A atitude assumida, não obstante, é bem menos crítica. Holding é um dos mais respeitáveis críticos do Evangelho Restaurado, e acredito que esteja tentando seguir os padrões estabelecidos pelo famoso desafio lançado por Owen e Mosser em seu chamado para acordarem os Protestantes Evangélicos a não subestimarem os apologistas SUD [3]. Desta forma eu concordaria com a maioria dos outros revisores cujos ensaios acompanham este aqui, de que Holdings realmente toma noções e argumentos seriamente, ele realmente parece tentar se manter atualizado com a apologia SUD, e a aborda com seriedade. Ele também sabiamente evita o erro de tentar ser um perito em todas as coisas.[4]

            Minha abordagem seguirá mais ou menos a própria abordagem de Holding em seu artigo, com a exceção de alguns pontos adicionais que gostaria de fazer em relação aos batismos vicários.

 Por que o batismo vicário é um problema considerável para os Biblicistas?

            Em seguida, trataremos por que a mera menção do batismo vicário em I Coríntios 15:29 é problemática para Cristãos Biblicistas [5]. Um Biblicista é um tipo de Protestante, usualmente fundamentalista ou evangélico em natureza, e freqüentemente tomador literal das passagens Bíblicas, o qual acredita em uma forma ou outra na extensão da inerrância Bíblica.[6]. A inerrância Bíblica é basicamente a crença de que a Escritura (e neste caso, especificamente a Bíblia, é claro) não é apenas o registro das revelações de Deus à humanidade, mas realmente é (existencialmente ou pela sua própria natureza – e “und für sich” como os teólogos Alemães colocariam) a própria revelação de Deus. Isto pode soar como uma mera partição do cabelo em nosso penteado, mas é uma abordagem fundamentalmente diferente da Escritura do que Santos dos Últimos Dias e muitos outros Cristãos tomam. Isto implica, entre outras coisas, de que não apenas a Bíblia é suficiente para definir o Cristianismo, mas que o Cristianismo está também contido em sua totalidade na Bíblia. 

            Para Cristãos não-Biblicistas tais como Católicos, correntes tradicionais Protestantes e igrejas Orientais, isto não é de maneira alguma problemático – isto aparentemente é apenas alguma coisa que os Corintianos faziam a qual Paulo usa no capítulo 15 como ainda um outro argumento para a ressurreição. Todavia para Cristãos Biblicistas isto representa um problema real. Porque eles acreditam que a Bíblia – em particular o Novo Testamento – é tanto uma fonte necessária como suficiente para sua doutrina, a referência de uma passagem para algo que não é mais mencionado em parte alguma da Bíblia é uma dificuldade para eles,  e muitas explicações foram  colocadas (tudo menos a óbvia e plena leitura: de que o batismo vicário fazia parte do Cristianismo, ponto). De fato, consultei um respeitado e erudito comentário Biblicista por Thiselton. A entrada era típica: após admitir que o “versículo 29 é uma cruz notoriamente difícil: a mais ‘ardentemente disputada’ na epístola (Conselmen); ‘não está claro precisamente que prática era essa’ (Dale Martin); ‘qualquer idéia deveria ser compreendida como tentativa especulativa’ (Fee),” et. Al., ele apresenta então não menos do que dezesseis possíveis explicações a fim de evitar o significado pleno e simples (tanto nas linguagens modernas e no Koiné grego.[7])   

            Uma rápida pesquisa em fontes mais tradicionais mostra que o ritual era aceitável como alguma coisa única tanto para Corinto em particular ou para a Igreja primitiva em geral, mas certamente era Cristão:

1.  Companheiro Oxford da Bíblia. “Em 1 coríntios 15, Paulo está usando todo argumento possível para convencer seus leitores de que uma ressurreição dos mortos aconteceria. Ao fazer isso ele pergunta por que as pessoas se batizariam a favor dos mortos se não haveria ressurreição (15.29). Esta breve alusão indica que dentro das antigas igrejas era possível receber batismo a fim de incluir no corpo de Cristo um amigo ou parente que já estivesse morto. Paulo não especificamente condena a prática aqui, mas ela não se tornou uma parte aceitável do ritual Cristão” [8]

2. A Bíblia Anchor toma várias citações: “15:29 Doutra maneira”. Sobre este uso de “epei”, cf. BDF, §§360 (2) e 456(3). Batizado em favor dos mortos. Raeder (“Vikariastaufe in I Cor 15:29?” ZNW 46 [1955], 258-260) argumenta que estes são pessoas que estavam entrando na irmandade da igreja pelo batismo a fim de compartilhar a ressurreição com a família e associados que houveram morrido como Cristãos. (Cf. também J. K. Howard em EvQ 37 (1965), 137-141, que argumenta pela mesma linha e aprova Raeder.) É bastante questionável, entretanto, se “hyper” sustentará esta interpretação. Uma prática que parece ter crescido a partir desta referência é atribuída aos Marcionitas, Montanistas e Cerintianos no segundo e terceiro séculos. Crisóstomo comenta que os Marcionitas: ‘Quando qualquer um que foi instruído partia desta vida, eles escondiam uma pessoa viva embaixo do leito do falecido e abordavam o cadáver indagando se ele desejava receber o batismo. Então como esse não respondia, aquele que estava escondido embaixo dizia em favor do morto que desejava ser batizado. Então o batizam este em lugar daquele que havia partido (Catenaei 310; citado por Weiss, 363). (para um exemplo moderno, cf. A prática Mórmon.) Sobre o uso de “hiper” com o sentido de “anti”, cf. Zerwick, Biblical Greek, §§ 91, 94.”[9]”.

            Para uma visão idiossincrática – de um Evangélico com estilo todo particular, aqui está um comentário do controvertido David W. Bercot, excertos tirados da enciclopédia dos Patriarcas da Igreja – neste caso específico Tertuliano (sobre quem, veremos mais no restante do artigo).

3. Bercot. BATISMO PELOS MORTOS

            “Doutra maneira, o que farão aqueles que se batizam pelos mortos se absolutamente os mortos não ressuscitam? Por que se batizam então pelos mortos? I Cor. 15:29”.

            “Ele pergunta, ‘O que farão aqueles que se batizam pelos mortos se absolutamente os mortos não ressuscitam?’…Não suponha aqui que o apóstolo indique que algum novo deus é o autor e advogado desta prática. Em vez disso, era desta forma tal que ele poderia ainda mais firmemente  insistir sobre a ressurreição do corpo, na medida em que aqueles que eram batizados pelos mortos resguardavam a prática a partir de sua crença em tal ressurreição. Temos o apóstolo em outra passagem definindo ‘apenas um batismo.’ Portanto, ser ‘batizado pelos mortos’ significa, de fato, ser batizado pelo corpo. Pois, como já demonstramos, é o corpo que fica morto. O que, então, se farão aqueles  que são batizados pelo corpo, se o corpo não se levantará novamente? Tertuliano (c. 207, W), 3.449, 450.

            “A medida que ‘alguns são batizados pelos mortos,’ veremos se há uma boa razão para isso. Agora é certo que eles adotaram esta [prática] com a pressuposição de que lhe fizeram supor que o batismo vicário seria benéfico para a carne de outrem em antecipação à ressurreição. Pois a menos que esta seja uma ressurreição corporal, não haveria nenhuma petição segura por este processo de batismo corporal. Tertuliano (c. 210, W), 3.581,582.”[10]

            Isto não era para ser uma pesquisa extensa, apenas uma rápida visão sobre comentários de conservadores não-SUD sobre esta questão, embora seja interessante ver até onde os evangélicos irão a fim de refutar o sentido mais óbvio (as citações de Bercot a partir dos Patriarcas da Igreja estão fora de contexto e são seletivas). Daremos uma olhada em alguns comentários mais tarde.

Quando um Biblicista não pode encontrar na Bíblia, ele improvisa.

            Conforme mencionado acima, há algumas inconsistências básicas no Biblicismo. A maioria dos Biblicistas acredita no trinitarismo, por exemplo, ainda que a palavra “trindade” não seja mencionada em nenhum lugar na Bíblia. Eles poderiam responder que a Bíblia “descreve” isto, mas uma descrição é uma sombra, uma referência em direção a alguma coisa, mas se a Bíblia é existencialmente tudo que é necessário para definir Cristianismo, então nenhuma referência externa deveria ser requerida, como elas de fato o são, para serem retroprojetadas de volta no texto a fim de entregar um significado mais atualizado e freqüentemente anacronístico. Um Cristão não-Biblicista/não-SUD (como um Católico, ou um Protestante tradicional, por exemplo) não teria problema algum com isto. Embora eles também não necessariamente concordariam com a visão SUD, eles simplesmente apontariam que o Cristianismo continuou a se desenvolver por vários séculos após os livros da Bíblia terem sido escritos. Mas um Biblicista deve confinar-se ao que realmente está na Bíblia, ou assim pensar, embora de fato ele possa confiar em comentários pós-Bíblicos dos Pais da Igreja, credos, e é claro, na influência dos Reformadores da Renascença e em comentaristas mais modernos (fim do século XIX e início do século XX).

            Mas para biblicistas, esta referência de passagem sobre batismos vicários como a única indicação desta prática na Bíblia, com nenhuma explicação adicional (está claro que Paulo assume que os Santos de Corinto já soubessem sobre o que estivesse falando), significa que possuem um problema nas mãos. Conforme demonstrado brevemente pelas pequenas referências na introdução, várias tentativas têm sido feitas para interpretar este 1 Cor. 15:29. A abordagem de Holding é mais ou menos como se quisesse dizer, “esqueça o literalismo por um momento, apenas usemos o bom senso”. Em outras palavras, esta questão não vai ser resolvida dentro do sistema de crença Biblicista, então ele tenta outros meios para convencer o leitor de que qualquer que seja o que a escritura queira dizer, com certeza não é o que Santos dos Últimos Dias pensam que seja. Que isto roga por uma definição sobre o que esta passagem realmente quer dizer ele simplesmente ignora, confiando de que ninguém perceberá o imperador do Biblicismo nu, tremendo de frio em sua teologia.

            O jeito com que ele argúi sobre isto acaba fazendo voltar o argumento sobre sua cabeça: ele escreve “Apologistas mórmons usarão como assertiva que batismo pelos mortos está autorizado por passagens em suas próprias escrituras…” (como se isto justificasse a “parte” Bíblica) e chama batismo vicário conforme presentemente praticado, “uma superestrutura  interpretativa [SUD] [que entra em colapso].”

            Conforme já temos apontado, entretanto, o Evangelho Restaurado não é em sua natureza Biblicista, nem mesmo quando isto vem do Livro de Mórmon ou de Doutrina e Convênios. D&C 128:16, a qual Holdings acha seja de onde derivamos nossa autoridade para a crença, não é em absoluto isso, é um registro da revelação que Deus nos concedeu através do profeta Joseph Smith – nos não “biblicizamos” o Livro de Mórmon nem D&C. Muito menos baseamos nossa crença em I Cor. 15:29 – não há nenhuma “superestrutura interpretativa” uma vez que não acreditamos que todas doutrinas do Cristianismo primitivo foram necessariamente preservadas, ou mesmo que tenhamos todo o Evangelho agora [11], pelo menos em termos de revelação. Para enfatizar este ponto, a escritura que Holding reconhece como sendo a “justificação” para nossa prática, D&C 128:16, é meramente uma citação de I Cor. 15:29 no corpo do registro da revelação concernente às ordenanças do templo. É esta revelação que é nossa justificação, não o registro dela em D&C 128:16 ou I Cor. 15:29. Assim também, existem um grande número de referências no Novo Testamento a outros ensinamentos não determinados (cf. o fim de João, referências aos ensinamentos dos apóstolos durante 40 dias entre a ressurreição e a ascensão – nada daquilo foi escrito – a referência de Judas, e o fato de que até a formação do cânon do Novo Testamento, outros livros eram considerados autoritativos, tais como o Pastor de Hermas entre outros.)

            Desta forma, sendo que a abordagem Biblicista não está aberta para ele, ele se volta para outras táticas.

            Apenas como se o “inimigo de meu inimigo é meu amigo”, desta forma também, Holding parece argumentar que caso pudesse ele demonstrar que os argumentos feitos por apologistas SUD estão errados, então deveria estar também nossa doutrina. Mesmo que fosse ele bem sucedido nisto (e como veremos, eu não acredito que tenha sido), isto não seria suficiente para provar que nossa doutrina estivesse errada. Em última análise, há apenas uma única maneira de provar que nosso argumento esteja errado e isto seria nos persuadir de que a revelação dada através de Joseph Smith estivesse errada. Dado que Holding não adere a nossas premissas de fé, isto é improvável.

            Objetivo No. 1 é Richard Hopkins, embora para ser sincero, ele pareça usar a explicação de Hopkins sobre batismos vicários como meramente sua introdução a nossa doutrina, uma vez que ele simplesmente diz que isto explica porque nós somos “campeões em pesquisas genealógicas.” Há um outro tópico que ele critica de passagem, que é a necessidade de batismo, mas isto é um tópico para uma outra revisão, uma vez que isto não parece ser o centro de seu argumento em lugar nenhum de sua dissertação.

            Ele realmente diz, entretanto que há duas questões em destaque: “O que Paulo quis dizer com ‘batismo pelos mortos’?” e “Era o batismo pelos mortos uma prática aprovada da igreja, ou uma divergência a partir da prática oficial aprovada?” Estas são questões relevantes – se de alguma maneira puder ser demonstrado que o que Paulo estava se referindo não era em sentido algum o mesmo que hoje praticamos, isto enfraqueceria os alicerces da doutrina aos olhos de pessoas que simplesmente aceitam isto como fé. E a segunda questão é ainda mais importante, e uma óbvia para um Biblicista levantar: se a Bíblia é a palavra de Deus em cada sentença, então por que cargas d’água está essa referência passageira fazendo aí? Talvez Paulo esteja apenas também tolerando-a, ou talvez seja um idiossincrasia local dos Corintianos, ou talvez seja mesmo um comportamento idólatra. A Bíblia nada diz, então um Biblicista tem de pisar fora de suas próprias premissas de fé até mesmo para indagar sobre estas questões. Ele acrescenta duas petições para cada uma de suas questões; 1. “A diversidade de opinião entre eruditos Cristãos (não SUD) para [I Cor. 15:29]… é vista por apologistas SUD como uma justificativa para sua própria interpretação”. Em outras palavras, existem tantas interpretações lá fora, o que estaria errado se tivéssemos a nossa própria também? 2. “Apologistas SUD argúem que Paulo apresenta batismo pelos mortos de uma maneira tal que deve ter sido um ritual que a Igreja estava acostumada a realizar”. Até onde os Santos-dos-Últimos-Dias estão cientes, ambos são argumentos do espantalho – especialmente o primeiro ponto – para tentar por no papel a doutrina SUD de tal forma que ele a possa derrubar. Algumas vezes quando você debate um oponente, é muito difícil tratar a questão como um oponente a declara, então você “arma um espantalho” que é muito mais fácil para você atacar, assim como falar. Mais fácil porque você pode insinuar suas próprias premissas dentro da questão. Isto freqüentemente funciona quando você está “falando a sua própria platéia” mas está cheio de ciladas silógicas e falaciosas. 

            Desta forma vamos dar uma olhada em cada uma destas questões conforme Holding as traz à tona:

É o batismo vicário condenado?

Holding então indaga sobre uma questão sensível: apenas porque Paulo usou batismo vicário como um argumento para a ressurreição, significa isto que ele o aprove? Mas, atrelado como ele está às premissas do Biblicismo, Holding não pode realmente responder esta questão, a não ser para dizer que uma vez que isto é mencionado de passagem, isto não pode ser tomado como um texto-prova sobre o qual possa se basear uma doutrina. E ele está absolutamente certo. Mas desde que não somos Biblicistas, não estamos limitados pelas mesmas fronteiras que ele está, para nós I Cor. 15:29 não é a razão pela qual praticamos batismos vicários; nós o praticamos porque fomos ordenados para tal; I Cor. 15:29 apenas acontece de ser uma referência suporte, não uma base para isto.

            Ele então cita o apologista SUD Barry Bickmore, “Mas por que Paulo usaria alguma prática herética em seus argumentos a favor da ressurreição? Não poderia ele encontrar algum alicerce mais firme para esta tão importante doutrina Cristã”.[12] Holding contra-ataca que isto não era uma prática muito difundida e, portanto não poderia ter sido um ritual verdadeiro da igreja, e que nós alegamos que revelações têm confirmado que a perda desta prática foi perdida como parte da apostasia, e enigmaticamente acrescenta que “O paradigma [SUD] assume que batismo pelos mortos não era largamente difundido”.

            A primeira alegação é verdadeira, nós realmente alegamos que isto foi perdido com a apostasia. Mas é consistente com nossas premissas de fé (de que não limitamos Deus às páginas de um livro) de tal forma de que não é um argumento válido para observadores neutros, apenas para Holding e co-religionários que rejeitam nossas premissas de fé e princípio. Pior ainda, Holding ignora o argumento de Bickmore: por que Paulo usaria um ritual não-Cristão como uma evidência para uma crença central do Cristianismo? Isto simplesmente não faz sentido quando lemos o texto em seu sentido pleno. Então a questão permanece sem respostas: Por que Paulo usaria um ritual não-Cristão como justificativa para a ressurreição? Não há nenhum outro exemplo no Novo Testamento de Paulo usando este tipo de tática. Holding na verdade lista umas poucas escrituras que ele acha que seguem esta tática:

Nota do tradutor:

 Paulo em suas argumentações no Novo Testamento usa sempre de uma dicotomia lógica:

(a) Se acreditam ou fazem p (verdadeiro), então porque acreditam ou fazem  ~q (falso)?

                Ou então a inversa desta dicotomia, onde ler-se-ia:

(b) Se acreditam ou fazem ~p (falso), então porque acreditam ou fazem q (verdadeiro)?

                O caso de I Cor. 15:29 segue o segundo padrão (b)

Tendo isto em mente, analisemos junto com Marc Schindler os exemplos de Holding.

Fim da Nota

            I Cor. 15:12: Agora se é pregado de Cristo que ele se levantou dos mortos, como dizeis alguns de vós de que não há ressurreição dos mortos? (exemplo (a) da nota acima)

Mas isto não é de maneira alguma o mesmo argumento. Aqui Paulo está dizendo que existe uma ressurreição, pois Cristo ensinou sobre isso; ele está mostrando uma clara contradição entre aquilo que tem sido ensinado e aquilo que alguns Corintianos acreditam. I Cor. 15:29 não segue em absoluto esta linha de argumentação; se segue qualquer coisa é exatamente na direção oposta – ele está dizendo que uma vez que batismo pelos mortos é praticado, não haveria muita lógica nisto se não houvesse ressurreição.

            Gal 2:14 Mas quando vi que caminhavam não retamente segundo a verdade do evangelho, disse a Pedro diante de todos eles, Se tu, sendo um Judeu, vives segundo a maneira dos Gentios, e não como fazem os Judeus, por que compeles tu os Gentios a viverem como vivem os Judeus? (Novamente exemplo (a) da nota acima)

            Mais uma vez, este não é em absoluto o mesmo argumento procurado. Paulo está dizendo que se Pedro vive como um Gentio, então ele tem de permitir este mesmo privilégio a outros Judeus e aos próprios Gentios. Ser um Judeu ou Gentio era simplesmente uma diferença de etnias, não de valores espirituais.

            Gál 5:11 E quanto a mim, irmãos, se ainda pregasse eu a circuncisão, acaso sofreria ainda de perseguição? (exemplo (b) acima) Então está cessada a ofensa da cruz.

            Eu francamente estou totalmente perdido em ver como Holding ver isto como relevante ao argumento em questão, Infelizmente ele não explica todos os seus textos usados como prova.

            Col. 2:20-22 Portanto se vós estais mortos com Cristo dos rudimentos do mundo, por que, embora vivendo no mundo, sois vós sujeitos às ordenanças (Não toqueis; não experimenteis nem manuseais; pois tudo está a perigo como o usar) segundo os mandamentos e doutrinas de homens? (Exemplo (a) da nota acima. A primeira frase é verdadeira, forma então uma incoerência lógica com a segunda frase que é supostamente falsa por Paulo)

Novamente, isto não tem absolutamente nada a haver com batismo vicários. Eu suspeito (mas não posso saber, pois Holding não explica sua escolha das escrituras) de que ele estivesse tentando dizer que as ordenanças não fossem necessárias. Se assim é, ele escolheu um estranho capítulo para sustentar sua causa, uma vez que este também é o capítulo que contém uma referência a circuncisão Cristã como sendo ‘Sepultados com ele no batismo, de onde também levantai com ele através da fé da operação de Deus, quem tem se levantado dos mortos.”

Conforme acontece, a alegação de que isto não era uma doutrina Cristã, ou que fosse idiossincrático a Corinto não pode ser provada. Tudo o que Holding pode dizer em defesa do uso das escrituras acima é de que Paulo pode usar doutrinas falsas para provar verdadeiras doutrinas, o que é realmente fraco; logicamente possível, mas totalmente improvável por Paulo (ver como funcionava a lógica de Paulo na Nota acima), o qual nunca via uma falsa doutrina contra a qual não a denunciasse e pregasse.

A Bíblia Anchor deixa isto mais claro ao traduzir a frase em questão como sendo, “… o que estão a fazer aqueles que são batizados… por que então estão sendo batizados…?” Isto deixa claro que a referência é genérica a respeito de pessoas, conforme o comentário da Bíblia Anchor indica, “Uma inspeção mais cuidadosa da linguagem de referência faz com que todas as tentativas de suavizar ou eliminar seu significado literal tornem-se totalmente infrutíferas.’[13] Holding corretamente cita o apologista SUD John Tvedtness [14] ao salientar o mesmo ponto: não há nenhum “eles” aí para o qual Paulo possa apontar em distinção dos Corintianos do resto da Igreja. Tecnicamente, a forma do verbo é um particípio passado – conforme a Bíblia Anchor deixa claro. Mas, estranhamente, Holding não tem nenhuma resposta para isto exceto uma irrelevante observação: “A linguagem de Paulo e o padrão de argumentação demonstrado que ele associa ao batismo pelos mortos com o ensinamento falso da ‘não ressurreição’.” Na verdade ele faz exatamente o oposto ao dizer efetivamente, “Se acreditam ou fazem ~p (falso), então porque acreditam ou fazem q (verdadeiro)?”, onde p é a ressurreição, ~p é a ‘não ressurreição’ e q é o batismo pelos mortos. A ‘associação’ que Holding faz é uma de oposição, indicando o que Paulo acredita seja uma ação válida, de outra maneira por que usaria ele isto como argumento para uma doutrina verdadeira?”.

Em qualquer caso, o destino do significado da frase está selado pelo fato que, conforme Tvedtness indica, “aqueles sendo batizados pelos mortos” é a correta, palavra-por-palavra da tradução de “hoi baptizomenoi”, uma vez que “baptozomenoi” é o particípio passivo [15] e não indica a pessoa. Desta forma está claro que não temos nenhum “eles” em lugar nenhum do versículo; Paulo simplesmente está se referindo a uma prática geral sem restringi-la a Corinto ou a qualquer outro lugar mais para essa questão.

Resumindo, o pleno significado permanece problemático para Biblicistas. Sem revelação contínua este versículo permaneceria um enigma.

Provando uma não existente desaprovação

Holding conseguiu sacar exatamente a conclusão lógica oposta da comparação de Paulo com o claro significado que ele intencionava. Conforme introduzindo acima, Paulo usa uma ferramenta de retórica chamada argumentum ad absurdum; isto significa se “q” é inconsistente com “~p” então uma das duas deve ser uma premissa falsa. Entretanto, uma vez que “p” é a ressurreição, e ele usa “q” – batismo vicário – para demonstrar “p”, isto significa que ele não pode acreditar que “p” e “q” sejam contraditórios. Holding consegue sacar a conclusão exatamente oposta, e continua, portanto, com uma irrelevante quantidade de argumentos em sua linha de pensamento. Aqui está um sumário de suas conclusões:

Se batismo vicário é importante para a ressurreição, então também o é o batismo pelos vivos. A razão é que ele acha que isto seja um argumento válido, conforme ele aparentemente acredita – como também muitos Protestantes conservadores acreditam que o batismo não seja uma ordenança necessária. Isto é realmente uma outra questão, mas novamente, isto não pode ser endereçado à crença de um povo que realmente acredite que isto seja requisitado para os vivos também (cf. João 3:5, “Jesus respondeu, em verdade, em verdade vos digo, exceto que um homem nasça da água e do Espírito, ele não pode entrar no reino de Deus”).

            Se os Corintianos batizavam-se pelos mortos, por que não continuaram eles com isto? Conforme nossa análise gramatical demonstrou, esta é uma questão irrelevante, pois um particípio passivo é atemporal – isto, não tem tempo verbal passado, presente ou futuro. A questão que indaga é sem sentido, ou pelo menos, impossível de ser resolvida a partir apenas de uma análise lingüística. Mas em qualquer caso, existe uma variedade de exemplos em que Paulo critica as igrejas Cristãs por um comportamento que ele discorde (Para apenas um dos muitos exemplos, vamos dar uma olhada em Efésios 5:1-7, Paulo critica os Efésios no imperativo presente: “Sede vós, portanto, seguidores de Deus, como filhos queridos; e caminhai em amor, como Cristo também vos amou, e entregou-se a si mesmo por nós como uma oferta e sacrifício a Deus para um doce e saboroso aroma [incidentalmente, este é exatamente a forma de argumento que Paulo usa em I Cor. 15:29, mas ninguém jamais alegaria que o fato de Cristo ter se oferecido como um sacrifício fosse idiossincrático ou um exemplo negativo]. Mas fornicação, e toda impureza, ou cobiça, não deixei isto ser nomeado entre vós, quando vos tornais santos; nem imundícies, nem vãs conversas, nem gracejos indecentes, o que não for conveniente: mas antes dai graças. Pois deveis saber, que nenhum adúltero, nem impuro, nem alguém com cobiça, que seja um idólatra, tem qualquer herança no reino de Cristo e de Deus.” linguagem bem dura e demonstra que Paulo não perde nenhuma oportunidade em condenar um comportamento não Cristão. Compare esta conscienciosa condenação com a que Holding e outros apologistas não-SUD tentam fazer de I Cor. 15:29 e é facilmente visto que seus argumentos sobre as técnicas de retórica de Paulo estão totalmente longe do caráter de Paulo. O simples fato tem de ser que Paulo, quem nunca perde uma chance para expor Cristãos por feitos errados, simplesmente não ache nenhum problema com o batismo vicário”.

            Holding então diz que “Paulo não está usando batismo pelos mortos como uma prova evidencial para a ressurreição, conforme [o argumento SUD] requer; ele está usando isto para expor uma inconsistência entre o que os Corintianos estão fazendo (batismo pelos mortos) e sua alegação de que não há ressurreição (v. 12). Ele está perguntando aos Corintianos como podem alegar que não acreditam em ressurreição quando estão eles fazendo alguma coisa que simboliza a ressurreição”. [16]

Holding critica as citações SUD de DeMaris baseando-se no fato de que DeMaris não concorda com a posição SUD. Isto é verdade, ela não concorda, mas ninguém alegou que concordasse – apologistas SUD estão usando seus resultados de pesquisa para salientar um ponto. O que DeMaris realmente declara é, “Enquanto sugeri que Paulo possa ter ficado descontente com batismos pelos mortos, não temos nenhuma evidência clara de que rejeitou a prática. Pelo contrário: Se ele a percebeu sem condená-la, sugere que pelo menos ele tolerasse a prática entre os Cristãos de Corinto.” [17] Em outras palavras, enquanto DeMaris não encontra provas de que a prática fosse universal, ele realmente percebe que Paulo não a condena. Conforme estamos sempre enfatizando aqui, se estivesse ele usando uma doutrina idiossincrática ou incorreta para defender seu ponto de vista, teria sido extremamente não usual a Paulo, quem era rápido para condenar toda maneira de práticas e crenças em suas cartas. Mais adiante DeMaris escreveu, “Vocês estão bastante certos em perceber que minha posição sobre esta questão não signifique que esteja eu me alinhando para uma fonte batismal SUD – esteja isto bem claro. O que acho é que minha posição significa que: sabemos tão pouco sobre esta prática e seu significado que o uso dos SUD de I Cor. 15:29 como uma garantia Bíblica para o batismo pelos mortos não pode ser precluso nem fortemente justificado. Eu gosto também do trabalho de John Tvedtnes (Apologista SUD, professor da Brigham Young University), com quem tenho me correspondido extensivamente, o qual procura documentar a antiga grande preocupação com os mortos e com o mundo dos mortos no antigo mundo Mediterrâneo. Isto está bastante em linha com o ponto de vista que estava tentando defender no meu artigo de 1995 no Journal of Biblical Literature…”[18]

Em um argumento literário altamente complexo, Holding alega que a colocação da referência a batismo vicário argúi para que seja uma prática irregular. Em geral, isto funciona como pregando para a congregação, uma vez que não fazemos a “prova do texto” a respeito da doutrina sobre esta referência admitidamente obscura, uma análise literária fica sem sentido para aqueles que não compartilham das mesmas premissas de fé de Holding. Ele começa de trás para frente, como fazem a maioria dos argumentos ad hominen, ao reafirmar sua declaração sobre a natureza do argumento de Paulo, então pensa ainda que ao mostrar uma inconsistência ao comparar a ressurreição com o batismo vicário que ele está de alguma maneira demonstrando que batismo vicário esteja errado; onde, por outro lado, a fim de demonstrar uma verdadeira inconsistência de comportamento entre os Corintianos, Paulo teria de usar uma prática válida, de outra forma o argumento estaria sem base.

No começo desta análise crítica indiquei que há uma inconsistência interna no Biblicismo; nomeadamente  onde seus partidários acreditam que a escritura é existencialmente e completamente a palavra de Deus, eles ainda precisam se referir a aparatos externos de naturezas variadas, quer seja aos credos, ao criticismo histórico ou a qualquer coisa que possa fazer com que todas as outras coisas se encaixem. Se a Bíblia fosse “suficiente” no sentido em que os Inerrantistas ensinam, então todo este material adicional não deveria ser necessário. Isto nos leva até este ponto, pois um dos argumentos de Holding é uma referência a retórica “Greco-Romana”. Então agora estamos fora do reino da Bíblia e adentrando um reino não-Bíblico, pagão da cultura Greco-Romana. Nenhum comentário adicional é necessário para demonstrar que qualquer que seja a conclusão que Holding venha a levantar por esta tática é em sua natureza ultra vires (fora de suas próprias regras), mas mesmo assumindo isto como uma técnica válida, temos apenas a palavra de alguém que Holding cita que I Cor. 15 seja ‘um exemplo perfeito de argumentação retórica,’[19] de um tipo chamado retórica deliberativa, a qual era escrita ‘para aconselhar e dissuadir os membros da audiência concernente a um particular curso de ação.’[20]

De qualquer forma, Holding devota um bom espaço para delinear esta “Exordium-narratio-refutatio-probatio-peroratio” forma de argumento, e eu lhe dou crédito onde o crédito lhe for devido – Aprendi alguma coisa nova sobre a cultura não-Cristã em que Paulo vivia (ignoraríamos aqui se, para os Inerrantistas de Chicago e Lausane, Deus, também usaria um estilo literário Greco-Romano quando ele “ditou” a Bíblia, tendo em mente uma audiência moderna que nada saberia sobre estes antigos aparatos literários antigos). Mas tudo isso é irrelevante de qualquer forma, pois o ponto do argumento onde ele acha que estamos com problemas é o mesmo fulcro de cabeça para baixo sobre os quais jazem seus outros argumentos: a má compreensão do argumentum ad absurdum que Paulo emprega. Mais uma vez, se você está tentando provar a validade da ressurreição demonstrando que isto é inconsistente com o batismo vicário, então batismo vicário tem de ser verdadeiro para que este contraste funcione. Para um exemplo grosseiro, se você estivesse tentando provar que o casamento é honorável, você não usaria o sexo pré-marital como um exemplo negativo de inconsistência; você usaria isto como um exemplo positivo de inconsistência, ou como um exemplo negativo de consistência. Ainda melhor, você usaria a castidade pré-marital como um exemplo contrastante (se vocês guardam a castidade para se resguardarem para o casamento, então como pode o casamento não ser válido?) (Talvez existam apenas muitas negativas no argumento de Paulo para que Holding possa persegui-los). Em qualquer caso, a retórica alegada para Paulo não é completamente aceita por todos os eruditos.[21]

                De qualquer forma, Watson parece ser o único erudito que acredita que Paulo usou este complexo sistema de retórica  o qual é único para Paulo e/ou Corinto. A respeito da sua universalidade no tempo do mundo Greco-Romano, ver Kennedy, [22] Kinneavy se utiliza de um exemplo específico (a palavra pistis, que significa “fé” em um contexto religioso, mas “persuasão” num contexto singular;[23] Black discorda peremptoriamente;[24] Lim diz que isto é uma questão bem complexa não facilmente solucionada pelo argumento de Watson;[25] Lutfin demonstra que o pano de fundo da retórica na Corinto do primeiro século é incongruente com os ensinamentos retóricos de Paulo;[26]

                Um ponto final. Watson não diz exatamente o que Holding está pensando. De uma análise crítica por J. D. H. Amador:

                “Um dos mais ‘óbvios’ exemplos de direcionar para a unicidade pode ser encontrado em tentativas de, através do apelo a arranjos retóricos, para “provar” a coerência de uma epístola cuja unidade tenha sido posta em questão por antigos meios metodológicos tais como criticismo de fonte (e forma). O trabalho de Duane Watson é um bom exemplo do que quero dizer, onde ele combina visões tanto das tradicionais estruturas epistolográficas como também arranjos de retórica a fim de argüir para uma unidade literária e coerência argumentativa de Filipenses. A dificuldade com esta abordagem é a tão sabida inabilidade dos críticos em concordar sobre as características dos arranjos quando confrontados com alguns tipos de documentos híbridos que temos nas epístolas Paulinas, as quais não se conformam com nenhuma tradição explícita de composição no mundo antigo.[27]

                Em outras palavras, o estudo crítico-retórico de Watson não é usado para determinar doutrina, mas simplesmente para demonstrar a unidade da carta cuja autoria havia sido posta em questão por outros métodos.

                Em adição, alguns respeitados comentários Protestantes discorrem sobre as várias possibilidades de interpretações desta escritura, apenas para se afastar do seu pleno significado – desconhecido, quando confiamos somente no registro Bíblico. Por exemplo, nos famosos comentários de Matthew Henry, ele escreve:

III. Ele argumenta pela ressurreição, a partir do caso daqueles que eram batizados pelos mortos (v. 29): O que se farão aqueles que são batizados pelos mortos, se os mortos absolutamente não se levantarão? Por que são eles batizados pelos mortos? O que deverão fazer se os mortos não se levantam? O que têm eles feito? Coisa vã seria tivessem existido seus batismos! Mas eles sustentam ou renunciam a isto? Por que são eles batizados pelos mortos se os mortos não se levantam? hyper ton nekron. Mas o que é este batismo pelos mortos? Isto precisa ser conhecido para que o argumento do apóstolo possa ser compreendido; quer seja isto apenas um argumentum ad hominen, ou ad rem; isto é, quer isto conclua para uma coisa em disputa universalmente, ou apenas contra pessoas particulares que eram batizadas pelos mortos. Mas quem interpretará esta passagem extremamente obscura, a qual, embora consista de não mais do que três palavras, além dos artigos, existem mais de três vezes os três sentidos colocados sobre ela pelos intérpretes?

Não existe um consenso a que o autor queria dizer com batismo, se é para ser tomado num sentido figurativo ou num sentido literal, se é para ser compreendido como o batismo Cristão propriamente dito ou a alguma outra ablução. E também pouco consenso existe em quem sejam os mortos, e em que sentido a preposição [hyper] deve ser tomada. Alguns compreendem os mortos de nosso próprio Salvador; vide Whiby in loc. Por que pessoas são batizadas em nome de um Salvador morto, um Salvador que permanece entre os mortos se os mortos não ressuscitam? Mas isto é, acredito eu, um exemplo extremamente singular para hoi nekroi, o qual significaria não mais do que uma pessoa morta; este é um significado em que tais palavras não aparecem em mais nenhum lugar. E o hoi baptizomenoi (os batizados) parecem plenamente significar algumas pessoas em particular, não Cristãos em geral, o que ainda deve ser o significado se [hoi nekroi]  (os mortos) seja compreendido como nosso Salvador. Alguns compreendem as passagens como se referindo aos mártires: Por que sofrem martírio por suas religiões? Isto é indefinidamente o que os antigos (Mateus 20:22, Lucas 12:50) algumas vezes chamavam o batismo de sangue, e pelo nosso próprio Salvador de batismo... .Mas em que sentido pode aqueles que morreram mártires por sua religião chamados de serem batizados (isto é, morrer mártires) pelos mortos? Alguns entendem isto como um costume que era observado, conforme alguns dos antigos nos contam, entre muitos que professavam o nome Cristão nas primeiras eras, de batizar alguns em nome e lugar de catecúmenos que morreram sem batismo. Mas se isto fosse parte de tal superstição, se o costume tivesse prevalecido na Igreja logo cedo, os apóstolos não teriam mencionado isto sem denotar uma má vontade contra. Alguns entendem de batismo pelos mortos, que era um costume, conforme nos dizem eles, que se realizava antigamente; e isto para testificar sua esperança na ressurreição. Este sentido é pertinente ao argumento do apóstolo, mas parece que nenhuma prática semelhante estivesse em uso na época dos apóstolos. Outros compreendem isto como aqueles que haviam sido batizados por causa, ou em ocasião dos mártires, isto é, a constância com a qual morreram por sua religião. Alguns eram sem dúvida convertidos ao Cristianismo ao observarem isto: e teriam sido uma coisa vã para as pessoas terem se tornado Cristãs por este motivo, se o mártires, ao perder suas vidas pela religião, tornaram-se posteriormente extintos e não mais viviam. Mas a Igreja em Corinto não tinha, com toda probabilidade, sofrido muitas perseguições por esta época, nem parece ter existido muitos exemplos de martírio entre eles, nem haviam muitos convertidos sido feitos pela constância e firmeza com que os mártires morriam. Não deixando de observar que [hoi nekroi] parece ser uma expressão genérica demais para significar apenas os mortos martirizados.  É tão fácil uma explicação da frase quanto a que tenho encontrado, e tão pertinente ao argumento, supor que [hoi nekroi] signifique alguns entre os Corintianos, que haviam sido tomados pela mão de deus. Lemos que muitos se encontravam doentes entre eles, e muitos dormiam (cap. 11:30), por causa de seus maus comportamentos na ceia do Senhor. Estas execuções podem ser terríveis para alguns na Cristandade; como o miraculoso terremoto foi para o carcereiro. (Atos 16:29, 30, etc.) As pessoas batizadas em tal ocasião podem ser propriamente chamadas para serem batizadas pelos mortos ou em seu favor. E o [hoi baptizomenoi] (os batizados) e o [hoi nekroi] (os mortos) respondem um ao outro; e sobre esta suposição os Corintianos não podem confundir o que o apóstolo quis dizer. “Agora,” diz ele, “o que se farão, e por que foram eles batizados, se os mortos não ressuscitam? Temos uma persuasão genérica de que este homens haviam feito certo, e agido sabiamente, e como deviam proceder nesta ocasião; mas então por que, se os mortos não ressuscitam, ao ver que talvez pudessem estar apressando suas mortes, ao provocarem um Deus ciumento, e não teriam nenhuma esperança além disto?” Mas quer seja este o significado, ou qualquer outro que possa ser, sem dúvida o argumento do apóstolo era bom e inteligível ao Corintianos.[28]

Teria sido isto tão inteligível aos Biblicistas dos dias modernos?

                De qualquer forma, de acordo com Matthew Henry, existia um processo real acontecendo, e Paulo usa isto para argüir por e em favor da ressurreição – isto não foi torcido como argumento negativo conforme Holding o faz parecer. Holding usa I Coríntios 8:10 para demonstrar que Paulo algumas vezes usava práticas pagãs no curso de um argumento, sem necessariamente as condenar. Ele diz que I Cor 10:21 deixa claro que o comer da carne dos templos pagãos, referida em I Cor 8:10, é errado. Entretanto, I Cor 8:10 realmente indica que o processo é errado: “Pois se qualquer homem ver a ti, que tem conhecimento, sentado para comer a carne dos ídolos no templo, não deveria a consciência daquele que é fraco ser induzida a comer aquelas coisas que são oferecidas aos ídolos;” I Cor 8:10 é mais do que capaz e sozinho de se justificar como uma advertência contra esta prática. É bastante claro que ele esteja apelando para aqueles que possuem o conhecimento do Evangelho não colocarem maus exemplos para aqueles que são fracos, o que é bastante típico da reação de Paulo. Sua “não-reação” a  I Cor 15:29 não é típica, então de qualquer forma, Biblicistas ainda têm um problema. 

                Entre o tempo em que a versão on-line do artigo estivesse disponível e o tempo que Holding publicou seu livro contendo o artigo, ele sabidamente omitiu o seguinte:

                Desde o versículo 1 e ao longo de todo capítulo Paulo se endereça “aos irmãos” no Senhor e fala em termos de vocês, nós e de nós, com uma única exceção [na verdade existem mais: ver também os versículos 23-25; 52 e 5-57 para exemplos de terceira pessoa – M.S.]. Apenas no versículo 29 estão ‘eles’ mencionados; “O que se farão aqueles que se batizam pelos mortos se absolutamente os mortos não ressuscitam?” A partir disto seria razoável concluir que Paulo fala no versículo 29 sobre um grupo fora da comunidade Cristã.[29]

                Talvez, conforme minhas inserções indicam, tivesse ele encontrado outras referências a terceiras pessoas do plural que Paulo faz. Tudo bem: ele percebeu seu erro, mas ele poderia ter procurado melhor na epístola por referências da terceira pessoa do plural. No livro ele ainda retém o seguinte erro:

                A resposta final é a mais comum da literatura Cristã que endereça tal assunto. Nota-se que Paulo usa pronomes de tal forma (você, nós e de nós) como para indicar um terceiro partido no versículo 29 (‘então o que se farão aqueles que são batizados pelos mortos se absolutamente os mortos não ressuscitam? Por que são eles então batizados pelos mortos?’) Disto se conclui que Paulo refere-se a um grupo herético ou pagão do qual ele e a igreja está se distanciando.[30]

De minha experiência pessoal, sei que dificilmente tudo isto pode ser arranjado consistentemente, desta forma estou assumindo que isto é uma coisa que Holding está se esquecendo de mudar a fim de fazer seu argumento consistente. Mas estão, ele faz a surpreendente declaração de que um apologista SUD havia indicado de que não há nenhum pronome na frase em questão, de que isto é um particípio passivo, o qual não indica pessoa (ou tempo verbal), e ele concorda que Tvedtness está certo, mas prontamente diz que isto não importa, que o argumento apresentado pelos “Cristãos apologistas está essencialmente correto pois veremos que o padrão de argumentação de Paulo demonstra que ele associa batismo pelos mortos com o ensinamento falso da “não ressurreição”!

                Incidentalmente, nem todas as traduções trazem as ambigüidades que a Versão do Rei Tiago faz: a NLT traduz este versículo como, “Se os mortos não ressuscitam, então de que serventia tem estas pessoas que estão sendo batizadas pelos mortos? Por que fazem isso a menos que os mortos um dia novamente ressuscitarão?” Isto preserva corretamente o particípio. A RSV é um pouco ambígua, mas ainda administra para evitar a armadilha do pronome da terceira pessoa. “Doutra forma, o que querem estas pessoas dizer ao serem batizadas em favor dos mortos? Se os mortos absolutamente não ressuscitam, por que há pessoas batizadas em seu favor?” Na versão Darby, de todas as pessoas, divide o particípio, mas ainda o retém: “O que os batizados pelos mortos farão se [aqueles que estão] mortos absolutamente não ressuscitam? Por que são eles também batizados pelos mortos?” [31] E é claro a Bíblia Anchor é a mais clara de todas: “Doutra maneira, o que estão fazendo aquelas pessoas as quais estão sendo batizadas em favor  dos mortos? Se os mortos absolutamente não irão ressuscitar, por que então existem pessoas sendo batizadas em seu favor?[32]

                Uma coisa que poucas pessoas percebem, incidentalmente, é que Paulo segue no versículo 29 de tal maneira que associa a si mesmo com a prática – alguma coisa que ele nunca faria se a prática estivesse errada ou fosse idiossincrática. Conforme dois comentaristas protestantes explicam:

                Na seqüência do ver. 29 com as palavras do ver. 30 (ti kai hêmeiz kinduneuomen pasan human; ou “porque permanecemos nós em perigo a toda hora?”) Paulo associa a si próprio com a ação “daqueles batizados pelos mortos,” indicando que eles estão engajados na mesma causa.[33] (ênfase no original.)

                A objeção de que o apóstolo não pudesse querer dizer qualquer coisa como um batismo para o benefício de outros está exegeticamente fora de lugar... .Se Paulo isto desaprovasse ele provavelmente escreveria mais sobre isso do que esta única referência contém. Em qualquer caso o apóstolo poderia dificilmente derivar um argumento em favor da ressurreição do corpo a partir de uma prática sobre a qual ele não aprovasse. [34]

Por que faziam eles isso?

Confiantemente seguro de que agora ele esteja em chão firme, Holding procede a especular, utilizando todo aquele aparato extra-bíblico que Biblicistas precisam usar a fim de taparem os buracos lógicos de seu balão teológico. Aqui estão as suas especulações do porquê e como aquela escritura pudesse ter feito sua solitária entrada na Bíblia. Todavia ele cai novamente num argumento extremamente torcido, agora que está alijado do seu “argumento pronome” (material omitido na sua versão on-line mas não no livro onde é colocado em um formato direto).

           O padrão da questão em I Coríntios 15:29 indica que Paulo espera que aqueles que tomam a condição ‘se’ como certa, quer seja ela realmente verdadeira ou não (neste exemplo, “se os mortos não ressuscitam,” uma asserção que é falsa, mas considerada pelos oponentes de Paulo como verdadeira), a responder a indagação do “porquê”, com a implicação de que eles não podem responder por causa de que seu comportamento é inconsistente com sua premissa. O link de que o argumento popular do “eles” encontra entre o batismo pelos mortos e os falsos ensinamentos está portanto estabelecido, mesmo embora os Gregos não façam tal distinção nos pronomes, pois a questão de Paulo é para um partido de quem ele mesmo já havia se desassociado: os mestres falsos da “não ressurreição”. Note que isto corresponde com nossa premissa de que se I Coríntios 15:29 estivesse se referindo a uma prática normal da Igreja, a objeção de Paulo seria estabelecida em termos de uma continuação da prática, junto com o batismo pelos vivos. Doutra maneira a resposta óbvia para Paulo “por que…”, seria, “Porque a igreja assim o faz.”  (Na verdade, se batismo fosse requerido para salvação como os SUD dizem, a resposta seria, “Porque nós ainda queremos ser salvos!”) Mas se batismo pelos mortos não fosse uma prática aprovada pela igreja, então o “porquê” de Paulo faz sentido como uma maneira de perguntar a seu oponente a defender sua nova prática, não usual ou desautorizada à luz de sua inconsistente posição na ressurreição[35].

             Ele já se esqueceu de que não há nenhum “eles” neste argumento, mas uma referência universal a todos aqueles que fazem batismos vicários. Qualquer argumento baseado na suposição de quem fosse aquelas pessoas é irrelevante. E quando lemos as epístolas de Paulo, nós nunca encontramos uma situação onde Paulo apenas deixe uma falsa doutrina ou prática passar desapercebida, muito menos usá-la como parte de um argumento em favor de uma doutrina verdadeira. Então, simplesmente não há nenhum precedente para este tipo de argumento a partir do silêncio que Holding tenta fazer, nem qualquer argumento a partir de uma negativa “isto é ruim, o que prova então que a doutrina é verdadeira.”

            E ainda mais uma vez, (com as omissões simplesmente omitidas desta vez; na versão on-line ele se refere a  pessoas específicas, e respeitarei seu desejo de não as identificar, por quaisquer que sejam as razões que Holding tenha para deletar seus nomes; deleções são mostradas por elipses nos colchetes e acrescenta material também em colchetes).

        Tvedtnes está correto em dizer que a palavra "eles" não existe no Grego. Não obstante, o argumento apresentado por […] [apologistas Cristãos] está essencialmente correto, pois como nós […] [veremos], o padrão de argumentação de Paulo […] demonstra que ele associa batismo pelos mortos com o falso ensinamento da "não ressurreição"[…] [36]

             Ainda lutando para encontrar alguma ligação, Holding nos lembra de que o único convertido mencionado no Novo Testamento que foi convertido mas não batizado foi o ladrão na cruz. O ladrão é mencionado precisamente  para aquela razão: o batismo vicário não era realizado por catecúmenos que morriam antes de ser batizados, o que faz o caso do ladrão digno de nota. Ordenanças vicárias foram e são feitas em favor daqueles que nos precederam, não catecúmenos (“investigadores” que subitamente morreram antes que pudessem fazer seu caminho para a pia batismal). Isto já era pré-assumido, e isto é porque Paulo não o mencionaria de uma maneira mais explícita, mas a história do ladrão foi extraordinária, qual é o porquê dela aparecer no Novo Testamento. O que nos leva …

             Após ter admitido de que não há nenhum pronome associado com o particípio passivo, Holding escorrega de volta a seus velhos hábitos: “A ligação que o argumento popular do ‘eles’ encontrado entre o batismo pelos mortos e os falsos ensinamentos é portanto estabelecida, mesmo embora os Gregos não façam nenhuma distinção nos pronomes, pois a questão de Paulo é para um grupo de quem ele já havia se desassociado: os falsos mestres da “não ressurreição”. O problema com isto é que há um pronome da terceira pessoal plural associado com os falsos mestres da “não ressurreição”, então ele está fazendo uma comparação.

A visão “majoritária” de que os Corintianos estavam se batizando em favor de pessoas que haviam falecido sem a oportunidade de serem batizados em seu favor.

 Ele simplesmente nega qualquer idéia nessa direção:

             Isto não é o Primeiro Coríntios que estamos tratando aqui, na verdade seria o Segundo Coríntios – se eu fosse um Biblicista, com certeza eu gostaria de saber onde estava na epístola esta possibilidade, pois isto não é mencionado em nenhum outro lugar da Bíblia.[Nota do tradutor: Holding pode estar se referindo a I Coríntios 5:9 "Já por carta vos escrevi que não vos comunicásseis com os que se prostituem" referindo-se a uma epístola anterior perdida; Fim da Nota] Novamente isto é a lógica de “pregar à congregação” – só faz sentido para aqueles que aceitam a premissas de fé de Holding. Logicamente ela é circular, ela assume que o Biblicismo, que é aqui o ponto central da questão, como um aparente aspecto exógeno ou como uma exceção óbvia e visível. Ele fala de casos de batismo de vivos, o que é adequadamente bem colocado e muito bem, mas não vai ao ponto. Também ignora (de uma maneira um pouco aborrecedora, creio eu, depois de tudo o que acredito que Holding conheça  de nossas doutrinas) que atrelada a esta doutrina está a doutrina do pós-mundo, dividida em Paraíso e Prisão Espiritual, onde os espíritos daqueles que não tiveram uma oportunidade para aceitar o Evangelho têm essa oportunidade; para nós o Dia de Julgamento ocorre no final do Milênio, não na hora da morte. E também ignora um imenso abismo: o fato de que não temos nenhuma referência de Paulo a uma epístola anterior, não temos absolutamente nada antes [Nota: Apesar da nota acima lembrar que Paulo realmente cita uma epístola anterior relativo a expulsão membros que praticaram impurezas sexuais, Marc Schindler parece estar se referindo a nada de Paulo que anteriormente falasse sobre ressurreição ou batismo pelos mortos. Fim da Nota], e se me dissessem apenas, não se preocupem, todos os livros que conseguiram entrar no cânon o fizeram por uma boa razão, então eu gostaria de saber por que as segundas e terceiras epístolas de Paulo foram boas o suficiente, mas a primeira não?

Argumento a partir do silêncio.

            Isto já foi tratado de uma maneira abrangente; os SUDs não acreditam que somente porque alguma coisa não esteja na Bíblia ela não seja verdadeira. Nosso universo do Evangelho é um superconjunto da Bíblia, para assim dizer. Entretanto, é interessante ponderar a questão concernente a por que não está na Bíblia. Assumiu-se que a próxima vez que ouvimos falar da doutrina é uns poucos séculos depois quando certos grupos (Marcionitas, Montanistas e outros, de acordo com os primeiros relatos de João Crisóstomo e Tertuliano) aparentemente praticaram pelo menos uma forma de batismo vicário. O problema é que não temos nenhuma origem para os rituais a que esses Patriarcas da Igreja se referem. Isto é, temos suas descrições e conhecemos quando estes Patriarcas da Igreja viveram, mas não temos nenhuma idéia de quanto tempo antes estes referidos rituais começaram. Há uma pista, entretanto, concernente ao porquê algumas coisas pudessem ter sido deixadas de fora da Bíblia. Isto também é o argumento do porquê muitas doutrinas SUD não são referidas (pelo menos diretamente) no Livro de Mórmon. No século XX, mais documentos antigos vieram à luz do que em todos os dois milênios anteriores juntos, os mais famosos são os Pergaminhos do Mar Morto e a biblioteca de Nag Hammadi, além de também as tábuas de Ras Shamra, as cartas de Tel Lakhish, as cartas de Tel el-Amarna, e muitas outras. É auto-evidente para os Biblicistas que os livros que entraram dentro do Cânon do Novo Testamento conseguiram fazer isso porque Deus assim o quis, mas isso é um argumento circular, um argumento que acaba sendo uma cilada. Está bem documentado que os antigos Patriarcas da Igreja consideravam obras não Neo-Testamentárias tais como o Pastor de Hermas e outras como autorizadas, ainda que não conseguissem entrar no cânon. Mas os conteúdos do cânon estavam ainda sendo discutidos até um bom tempo depois das Reformas (cf. a famosa referência de Martinho Lutero a Tiago como uma “epístola de palha”). Estes novos achados tornam os argumentos que apelam para o silêncio particularmente perigosos.

 “Rituais de passagem”

Utilizando as liberais metodologias das altas críticas do criticismo histórico, o Biblicista abertamente tenta usar evidências antropológicas e arqueológicas (i.e. extra-Bíblicas) da cultura Corintiana para demonstrar que os Corintianos pudessem ter estado unicamente super preocupados com os mortos e sobre a importância dos rituais de passagem, e passaram a observar o batismo daquela maneira. OK, mas onde está isto na Bíblia? E não contradiz isso diretamente a especulação anterior de Holding que “…Cristãos Helenísticos seriam improváveis de inventar um ritual de batismo vicário.”? Ou estamos apenas nos agarrando a qualquer pedaço de palha que esteja à mão? Na verdade, é ainda pior do que isto: ele cita DeMaris sobre a “proeminência da imagem da serpente associada com a morte”[37] em Corinto. E somos levados a tomar isso como tendo uma influência maior sobre os Cristãos Corintianos do que o simbolismo messiânico explícito da história de Moisés levantando a serpente na vara, a qual está realmente na Bíblia? Uma outra ironia é que critica ele vários apologistas SUD que ora citaram de, ou criticaram DeMaris – em particular John Welch – ao apontar que os cultos da “Rainha dos Mortos” era comum nas antigas culturas. A ironia é que ao alegar sobre este tipo de culto, Holding demonstra que ele não conhece nem a sua própria Bíblia. O “Lúcifer” da Versão do Rei Tiago é uma alusão literária por Isaías, e ocorre apenas uma única vez no Velho Testamento: precisamente em Isaías 14:12 (e mesmo nesta passagem, apenas nas traduções que tomam o termo emprestado a partir da Vulgata.) Totalmente alheio de quem quer que possa ou não possa esta figura ter sido – todavia devemos lembrar que Biblicistas estão restritos pelo que está na Bíblia, diferentemente de Santos dos Últimos Dias – o nome como um dispositivo literário é um empréstimo Acadiano a partir da cultura Assírio-Babilônica. Tais empréstimos eram bastante comuns  no antigo Judaísmo (por exemplo, a forma dos querubins na arca do convênio e as paredes do tabernáculo), mas Lúcifer é um empréstimo Latinizado, seu original foi um empréstimo da figura do Oriente Médio conhecida como “Rainha da Alva” (ou “Estrela da Manhã”,  conforme a Nova Bíblia Americana a coloca) conforme está escrito no Texto Masorético, como “Helel ben Shahar”, ou “Estrela da Aurora do Dia” na Bíblia Anchor. O hebreu correspondente às duas deidades que são referenciadas nos cultos Cananitas das tábuas de Ras Shamra[38] 

Concluindo então, simplesmente não é possível riscarmos do mapa empréstimos literários e culturais do Oriente Médio pelo que era, antes de tudo, uma religião que teve ali suas origens (certamente o principal registro que temos, o Velho Testamento, lá se originou). Alguém pode aceitar empréstimos culturais ou não, disseminando especulações ao léu não é uma abordagem sistemática do criticismo. Desta forma, enquanto DeMaris possa não chegar à mesma conclusão SUD a respeito da racionalidade dos batismos vicários, ele com certeza indica de que há evidência para a sua provável existência nos tempos antigos, e indica também que isto não era absolutamente fora da sintonia com o contexto histórico geográfico daquela época e lugar. De qualquer forma, conforme demonstraremos abaixo na seção de paralelos, uma preocupação com os mortos era bem reconhecida universalmente no Mundo Mediterrâneo da época. Mas isto não necessariamente significa que batismo vicário fosse universal naqueles dias em qualquer ocasião – simplesmente não sabemos, e para Holding alegar que DeMaris “prova” que isto não era universal é irrelevante, uma vez que nunca fizemos tal alegação. 

“Os mortos apostólicos 

 Esta é meramente uma idéia moderna altamente especulativa a qual diz que Paulo estivesse realmente fazendo uma referência metafórica aos apóstolos, alicerçado no fato de que Paulo e outros apóstolos sabiam que estavam vivendo com tempo emprestado, devido a perseguição aos Cristãos pelos Romanos. Felizmente Holding efetivamente destrói este argumento de Joel White ao apontar que a conexão é de “semântica, não de léxico”, pois a palavra utilizada para “mortos” em 15:29 é “nekron”, um termo direto e claro que simplesmente significa “mortos” em todos os sentidos do termo, mas White tenta ligar a exemplos da palavra Grega “apothneskó” que é um verbo, não um substantivo. Esta significa “morrer”, “fenecer”, etc., e é utilizada em I Cor. 15:31 quando Paulo diz “Morro diariamente”.

             Para dar voltas em torno do fato de que estas não são simplesmente as mesmas palavras, White aparentemente argúi que alguém tem de usar “apothneskó” por causa do verbo cognato, o verbo em que está baseado o substantivo “nekron”, poderia apenas significar “dispor-me para morrer,” “matar a si mesmo.” Estranhamente então que a palavra seja usada em muitos lugares onde seu significado é claramente metafórico (e.g. Romanos 6:11 “em verdade mortos para o pecado”, Efésios 2:1 “mortos em trapaças e pecados”, e numerosos outros lugares). A objeção de White é que você não pode construir uma forma reflexiva a partir do verbo “nekroó”, que realmente significa “por para morrer”, “matar” de uma maneira que faça sentido no versículo 31. Ele está em geral correto mas não parece compreender que o Grego possa facilmente usar um particípio passivo: “nekromai” significaria “Sou morto” (como em “fui assassinado”). A explicação de White está longe ser a mais parcimoniosa e é descartada pela Navalha de Occan. Holding tenta resgatar White ao apontar exemplos onde “apotheneskó” é usada, mas isto é um “Código Bíblico” ou “apenas um” tipo de explanação. Ninguém pode usar este tipo de argumento a menos que não haja nenhuma outra alternativa, e há: o particípio passivo. Finalmente, Holding tenta explicar um outro argumento para a associação metafórica concernente a palavra Grega “oloxs” [sic, Eu acho que ele quis dizer “holós”]. Esta palavra é usada três vezes em I Coríntios 5:1; 6:6 e 15:29. Nos primeiros dois exemplos o significado é difícil de conceber em uma única palavra em Inglês, mas denota alguma coisa semelhante a “de todas as coisas.” Em 5:1, é como se Paulo estivesse escrevendo, “Tem sido relatado que, de todas as coisas há fornicação entre vós,  e tais fornicações como estas nem mesma é conhecida entre os Gentios…” (a atual KJV começa “Relata-se comumente que,…”). Em 6:7 tem um sentido semelhante: (KJV) “Agora, portanto, há ainda uma falta entre vós, pois vós ides a legislar uns aos outros”. Podemos compreender que em dialeto moderno como “Há um problema entre vós: de todas as coisas, vocês estão processando legalmente uns aos outros”.

            Mas é em 15:29 onde as coisas ficam interessantes. Em grego a cláusula dependente da primeira sentença onde se lê, “… ei holós nekroi ouk egeirontai”, que é traduzido na KJV, “… se absolutamente os mortos não ressuscitam?” “Holós” é traduzido como “absolutamente não” mas alguém poderia simplesmente dizer – novamente em idioma moderno – “se, entre todas as coisas, os mortos nem mesmo ressuscitam?” White aparentemente argúi que “se verdadeiramente mortos não são ressuscitados…”. Mais uma vez, a Navalha de Occan vem à tona – a tradução da KJV é a mais parcimoniosa, a única que faz mais sentido no contexto, e somos novamente levados a concluir, como o comentário da Bíblia Anchor diz, não há como fugir do pleno significado deste versículo ao tentar enrolar em voltinhas de palavras como num “pretzel”. Se o argumento de White está corretamente refletido por Holding, ele está simplesmente errado: Paulo não usa “holós” como um meio de contraste, mas como uma expressão de descrença retórica (Devo dizer, aqui ele faz me lembrar de minha mãe, com minhas desculpas a Dave Barry, “Como você pode pegar os amendoins com todas esta comida bem na frente de seu nariz?”).

Dualismo.

Holding diz que “o modo de pensar dualisticamente da época desencorajava práticas como batismo vicário pelos mortos... é provável que alguns conversos Gentios ficaram confusos e supuseram que batismo fosse necessário para salvação”. [39] [ênfase no original]. Eles não estavam confusos; haviam sido propriamente assim ensinados. Conforme tratado alhures, batismo é necessário e as escrituras assim o dizem sem quaisquer termos duvidosos.

Holding responde a um apologista SUD quem objeta a opção de White pelas escrituras escritas pela mão de Deus. O apologista, Edward Watson, objetou em curso de trocas de correspondências pessoais com Holding, sob o fundamento de que I Coríntios tem de ser tomado pedaço a pedaço, e não como um produto literário inteiro (no que concerne a mensagem, não a forma). “… ele tem que fornecer ‘alguns bocados’ para que o ‘leitor comum’ possa digerir sua mensagem”. Em outras palavras, você não pode ter Paulo compondo I Coríntios com complexos paralelismos onde uma palavra apenas faz sentido quando você fatia “n” pedaços do texto e o recompila mais ou menos como faz o Código Bíblico. Holding chama tal criticismo “anacronístico”. Eu o chamo de senso comum. É sabido a partir de referências explícitas que o próprio Paulo produziu em suas cartas aquilo que ele para elas ditou.

Ele cita o Velho Testamento de memória – sabemos disso por causa dele cometer pequenos errinhos de tempos em tempos; exatamente os mesmos tipos de erros que alguém cometeria caso tivesse uma grande quantidade de material memorizado, mas que não é como um computador em termos de puxar da memória. É como a maioria de nós tende a se lembrar de algumas coisas memorizadas. “In Flanders Field”, o poema do Dia da Lembrança dos Mortos em Guerras (Memorial Day) que eu, assim como a maiorias das crianças em idade escolar da Comunidade Britânica memorizam quando jovens, há uma tendência para recitá-lo como “In Flanders fields the poppies grow…” mas na verdade ele lê “In Flanders fields the poppies blow…” As palavras rimam, então este é um sinal típico de erro feito a partir da memorização. Meu ponto aqui é que Paulo não se sentava e compunha qualquer de suas cartas de uma forma complexa. Ele não poderia, pois ele as ditava para um secretário, “trecho a trecho” e esperava-se delas que refletissem este tipo de formato, logo a proposta de White não se encaixa com estes fatos conhecidos sobre quaisquer das epístolas Paulinas. Holding realmente reconhece isto de uma maneira discreta quando ele admite que no mundo de Paulo talvez 10% dos habitantes fossem letrados, de tal forma que habilidades de memorização eram altamente desenvolvidas. Isto é verdade, mas memorização é uma habilidade de recitação cíclica”, não uma criação literária complexa e bem-desenvolvida, e enquanto Paulo cita das escrituras de memória, ele ditava suas epístolas, e os resultados refletem isto, não a extremamente forçada especulação de White.

Simbolismo do batismo e da sepultura.

Um dos argumentos que Holding faz que realmente faz sentido é a sua conexão da imagem do batismo e da sepultura. Na tão bem conhecida história de Nicodemos, Jesus diz, “Jesus respondeu e lhe disse, Na verdade, na verdade e digo; Exceto que um homem nasça de novo, ele não pode ver o reino de Deus. Nicodemos lhe disse, Como pode um homem nascer quando está velho? Porventura pode ele entrar uma segunda vez no ventre de sua mãe e nascer? Jesus respondeu, na verdade, na verdade te digo, Exceto que um homem nasça da água e do Espírito, ele não pode entrar no reino de Deus.” (João 3:2-50) Conforme previamente mencionado, posso entender a relutância de Holding em discorrer mais profundamente sobre esta passagem, declarando como ela defende a necessidade de batismo (e ele não precisa ataques adicionais a partir de “fogo amigo” uma vez que alega que batismo é uma “obra” e portanto não necessário). Mas Holding diz:

Primeiramente, se a prática de batismo pelos mortos é inconsistente com a negação da ressurreição, então também o seria a prática do batismo de vivos. Beasley-Murray nota que “Este batismo, realizado tão objetivamente como um sacrifício aos mortos, deve presumivelmente ter o mesmo significado de um batismo pelos vivos…” [Beas BNT, 190] Paulo compreendia que o batismo servia como um símbolo externo da ressurreição de Cristo (Romanos 6:3-4); conforme Mounce declara: “Sepultamento certifica a realidade da morte. Batismo é o ritual que retrata este sepultamento…” É um “símbolo do completo evento redentivo” cuja realidade é paralela à morte de Cristo e que encontra sua plenitude na fé do crente. [Moun. R, 149] Se batismo pelos mortos fosse uma prática normal da Igreja como o batismo pelos vivos, então Paulo teria feito um ponto baseado em batismo de um modo geral ao invés de restringir seu uso para os mortos.[40]

O único problema é que acreditamos que a prática de batismo pelos mortos seja inconsistente com a negação da ressurreição, mas por acaso também é a prática de batismo pelos vivos inconsistente com a negação da ressurreição? Também está escrito pela mão de Paulo: “Não sabeis vós que todos que foram batizados em Jesus Cristo foram batizados em sua morte? Portanto, somos batizados com ele por batismo para morte: pois assim como Cristo se levantou dos mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida. Pois como fomos plantados juntos na semelhança de sua morte, também seremos na semelhança de sua ressurreição." (Rom 6:3-5). Então qualquer criticismo ao batismo pelos mortos baseado na alegoria da descida para a tumba (água) é também aplicável ao se batizar alguém pelo mesmo processo de ser ‘sepultado’ na água”.[Nota do tradutor: Não me parece aqui que Schindler tratou adequadamente a  questão levantada por Holding que é: Por que Paulo não usou o batismo dos vivos para contrapor a não crença na ressurreição; afinal batizar-se quer seja vivos ou mortos não era um símbolo da ressurreição? Para mim a resposta é óbvia, Paulo poderia usar tanto o batismo de vivos ou de mortos para simbolizar a crença na ressurreição (Rom 6:3-5), todavia deve ter preferido usar o ritual do batismo pelos mortos nesta afirmação retórica pois este era um ritual que continuamente estavam praticando, eles mesmos servindo de procuradores batismais, enquanto aquele outro (o batismo de vivos) já devia fazer algum tempo que o realizaram (Paulo se dirigia a membros da Igreja já batizados) e provavelmente já haviam esquecido do seu completo simbolismo. Fim da Nota]

Finalmente iremos citar Conybeare e Howson sobre este versículo:

O único significado que o Grego parece aqui admitir é uma referência a prática de submeter ao batismo em favor de alguma pessoa que tenha morrido sem batismo. Ainda esta explanação está vinculada a muitas e enormes dificuldades, (1) Quão estranho que São Paulo poderia se referir a tal superstição sem criticá-la! Talvez, entretanto, ele poderia tê-la censurado em uma epístola anterior [alas, nós provavelmente nunca saberemos!] e apenas agora se referencie a isto como um argumentum ad hominess. Tem sido alegado, na verdade, que a presente menção disto implica uma censura; mas isto está longe de ser evidente.(2) Se tal prática realmente existiu na Igreja Apostólica, como podemos dar conta de ter sido descontinuada no período que se seguiu, quando uma eficácia mágica era mais designada ao ato material do batismo? Ainda, a prática foi adotada por algumas seitas obscuras dos Gnósticos, quem parecem ter fundado seus costumes nesta mesma passagem.

             As explicações que foram adotadas para evitar a dificuldade, tais como ‘sobre a sepultura dos mortos’ ou ‘em nome do morto (significando Cristo), etc., são todas inadmissíveis, como sendo contrárias à analogia da linguagem. Em resumo, portanto, a passagem deve ser considerada admitir nenhuma explicação satisfatória. Ela alude a algumas práticas dos Corintianos, que não foram registradas em nenhum outro lugar, e da qual qualquer outro vestígio desapareceu.[41]

Antigos paralelos

Esta seção é interessante. Mas novamente incorre em uma premissa falsa; de que somos Biblicistas, e desta forma qualquer referência contemporânea extra-bíblica que encontrássemos teria um significado de prova para nós. Pode ter um significado negativo (isto é, evidência contra alguma coisa), conforme Holding indica acima, mas não nos é permitido de usá-la como evidência para um significado positivo. De qualquer forma, nós não nos baseamos o batismo vicário em quaisquer destas evidências, seja ela pró ou contra e quando Holding traz estes argumentos à tona ele está sendo ou ignorante do racional que usamos ou nova e simplesmente pregando para sua própria congregação.

             Assumindo a premissa anterior, a razão pela qual paralelos contemporâneos não-canônicos são interessantes para nós não é porque eles provam alguma coisa, mas porque servem como defesa contra um ataque a uma doutrina como sendo supostamente Cristã. Ou seja, para demonstrar que fulano de tal ensinou tal coisa não é a razão pela qual nisto acreditamos, mas demonstra que é plausível; que fazia parte do antigo Cristianismo. Faz parte de nossas premissas de fé de que nem todo o Evangelho está escrito nas Escrituras (de fato qualquer escritura, não apenas a Bíblia), mas vem através de profetas vivos; Escrituras são registros de revelações do passado, enquanto toda escritura seja “… dada pela inspiração de Deus, e é proveitosa para doutrinar, repreender, corrigir e para instrução em justiça”, (II Tim. 3:16), nós tanto nos primeiros como nos últimos dias da Igreja Cristã “… temos uma mais perfeita palavra de profecia… sabendo isto primeiramente, de que nenhuma profecia da escritura é de qualquer interpretação particular. Pois a profecia não veio nos tempos antigos pelo desejo do homem: mas santos homens de Deus falaram como se eles estivessem sido movidos pelo Espírito Santo.” Biblicistas viram isto do avesso e põem as escrituras como a fonte de revelação ao invés de por a revelação como a fonte da escritura.

             Uma coisa que Holding ainda menciona, entretanto, é digno que se repita. Ao responder a vários apologistas, ele indica que se vamos “provar um texto” a partir de uma fonte dada, deveríamos considerar outras coisas que também vêm a partir da mesma fonte. A medida que não estamos a formular doutrinas a partir de interpretações particulares das escrituras, mas estamos apenas tentando demonstrar plausibilidade, este criticismo não é realmente fatal para um argumento tão freqüente. Mas, deve servir como um lembrete ao apologista como para isto atentar, e deixar claro do porquê está ele citando a partir de uma fonte não-canônica, e para fazer isto dentro do próprio contexto.

             Meu exemplo favorito de textos incautos de provas vem da Biblioteca de Nag Hammadi, especialmente o proto-Gnóstico Evangelho de Felipe, que aparentemente parece fazer referências para um “crisma” (unção templária), ser casado no templo e a uma referência a uma “câmara nupcial espelhada.” [42] Baseamos nossas doutrinas do casamento celestial e outras ordenanças templárias no Evangelho de Felipe? Improvável. É de interesse de que menos de uma metade de século atrás evidências foram colhidas a partir de uma tradição que pode ser traçada a Alexandria, Egito, onde o Apóstolo Marcos viveu, e pode ter escrito uma versão diferente da versão canonizada? Se Marcos escreveu uma versão mais compreensiva de seu livro que mais tarde se tornou o Evangelho de Marcos, ou de alguma outra maneira os antigos Gnósticos obtiveram uma parte das antigas ordenanças templárias cristãs, então isto não seria de interesse para nós? Por que não seria? O que seria então? Especialmente dada a evidência de que o batismo vicário Copta é praticado até mesmo hoje em dia, e eles alegam de que isto venha desde o tempos de Marcos.[44] Mas isto não é nossa prova. A “maior palavra de profecia” é sobre o que está baseada a nossa doutrina. Holding também, em alguns casos, mantém apologistas SUD dentro de rigorosos padrões, contudo ele permite interpretações ainda mais imaginativas tais como a de Joel White. Ele encontra prazer no complexo “fatiamento e composição” de I Coríntios por White, mas rejeita sem maior consideração qualquer pista de paralelismo que John Welch possa encontrar entre I Coríntios 15:29 e I Tessalonicenses 4:13-16, por exemplo. (Veja o tratamento a I Tessalonicenses abaixo para maiores explicações).

             Por exemplo, a maioria dos Biblicistas justifica um cânon fechado baseado entre outras coisas em II Timóteo 3:16 (ver acima), mas ainda assim Holding rejeita o Pastor de Hermas como uma referência ao batismo vicário baseado que quando Cristo foi pregar aos mortos (conforme registrado em I Pedro 3:18-20; I Pedro 4:6), foi apenas para aqueles que “viveram antes de Cristo.” [ênfase no original]. Mas seguindo esta lógica, II Tim 3:16 apenas se refere ao Velho Testamento, e precisaríamos rejeitar então todo o Novo Testamento! (ou pelo menos qualquer coisa escrita antes de II Timóteo, todavia “desde os primeiros dias de sua existência os Cristãos da Igreja possuíam um cânon dos escritos sagrados – as Escrituras Judaicas, escritas originalmente em Hebreu e largamente usadas na tradução Grega conhecida como Septuaginta. As fronteiras precisas do cânon judaico não podem ainda ter sido finalmente fixadas, mas há já suficiente definição para estes livros serem referenciados como um coletivo de ‘Escritura’ (hé graphé) ou ‘as Escrituras” (hai graphai), e citações destas foram introduzidas pela fórmula ‘está escrito’ (gegraptai).”[45]

             Voltaremos agora ao Pastor de Hermas, mas há uma outra questão que temos que tratar, e isto ainda como uma outra pressuposição ainda não comentada: morte como uma barreira entre a vida e a salvação.

             Uma das razões deste versículo em I Coríntios quebrar a cabeça de muitos é que esses muitos assumem que o julgamento ocorra na época da morte: designando o indivíduo tanto para o céu ou para o inferno. Este não é o lugar para discutir as visões SUD sobre céu e inferno, exceto pelo fato que acreditamos que no mundo pós-morte onde as almas esperarão em dois “sub-reinos”, Paraíso e Prisão Espiritual, até o Julgamento e a Primeira Ressurreição. Esta não é uma visão comumente compartilhada hoje. É isto uma novidade SUD ou há indicações de que isto existia no antigo Cristianismo? Pois se existem, então faz muito mais sentido para que o batismo vicário tome lugar. Isto não prova a prática, mas a “concede tempo e espaço” para que ordenanças vicárias aconteçam aqui, e para a beneficência dessas ordenanças serem aceitas ou rejeitadas segundo a vontade daqueles que faleceram.

             Ironicamente é a tendência de Holding em ver uma ameaça do paganismo aos santos de Tessalônica que nos leva a nossa primeira pista: de que havia mais de uma divisão, a qual Holding mesmo ache, mas com resultados radicalmente diferentes daqueles que tinham ele e seus colegas assumidamente de mesmo pensamento. Em um novo livro que é um marco sobre o tópico de antigos ritos vicários Cristãos, Trumbower cita Solomon Reinah como tendo escrito, “Pagãos rogavam pelos mortos, Cristãos rogavam pelos mortos”, e aponta que isto é citado com aprovação por Jacques LeGoff em seu igualmente revolucionário livro, O Nascimento do Purgatório. .[46] De fato, LeGoff ver as orações pelos mortos como uma inovação Cristã (em outras palavras, isto não é apenas um texto-prova de Macabeus).

             Trumbower menciona ritos funerários em geral no mundo Egípcio, Judaico e Greco-Romano (dando plausibilidade à cerimônia de investidura SUD; parece que não se pode voltar ao Antigo Oriente Médio sem cair sobre um rito de cerimônia de passagem para o mundo pós mortal [47]. Nibley já nos falara sobre isso há anos[48], mas agora temos uma terceira testemunha imparcial, sem interesse algum coomprometido nos ensinando sobre a mesma coisa.

             A pesquisa de Trumbower é extremamente extensiva, baseando-se na arqueologia de cemitérios, epigrafia, e análise literária extensiva de antigas fontes. Desde uma sepultura egípcia, coincidentemente, é aproximadamente contemporânea aos papiros de Joseph Smith (i.e., 2o. Século AD), onde se lê “alla katakhththonioi Léthés hoi naiete chóron, daimoneshileioi Epikharei dekhete” (“Mas vós, divindades do mundo inferior, que habitais na planície de Lethe, dai boas-vindas a Epícares e sede amáveis para com ele) [49] “Trumbower dá exemplo após exemplo de encenações do infra-mundo Gregas, Romanas, Judaicas (N.B. Sirácida 7:33; 30:18 e Tobias 4:17, referindo a ofertas de comida colocadas nas sepulturas) e Egípcias em favor dos mortos – uma visão bem distinta da clássica visão do mundo das sombras; tanto assim que teremos que revisar nossa idéia concernente ao que era normativo para aquela época. Talvez Platão fosse aquele quem foi “inovador”, e os teólogos Platonistas da Idade Média, os tão chamados apologistas, quem primeiramente tentaram formular uma teologia sistemática para o Cristianismo (para assim dizer, de Irineu até Agostinho, o maior dos inovadores que a Igreja veria até Tomás de Aquino), fossem os heterodoxos. Os vencedores escrevem a história, mas os vencedores nem sempre estão certos.

             Trumbower refere-se à pesquisa de Rheinhold Merkelba sobre recentes registros em papiros de “tribunais” onde um morto era julgado por uma corte de vivos,  e é decidido um enterro (ou não) segundo os seus feitos.[50]

             Agora que estabelecemos que, contrário às alegações dos críticos de que batismo vicário seja um “ponto fora da curva” (como os estatísticos chamariam) com respeito ao seu meio histórico, mas antes, está inteiramente consistente com o que os eruditos estão somente agora aprendendo sobre este contexto histórico e social, tomaremos os textos-prova na seqüência que Holding o faz. Então vamos começar com II Macabeus 12:43-45.

2 Macabeus 12:43-45.

Holding critica o uso de Tvedtness desta passagem como indicativa de uma oração de benefício vicário para pessoas falecidas. Este é o famoso texto-prova freqüentemente usado pelos Católicos em conjunção com sua crença do Purgatório, um mundo pós-morten entre a morte e ressurreição (neste sentido muito parecido com a crença SUD), onde as ações dos vivos podem ter beneficência para os mortos. De fato, esta citação a partir dos Apócrifos é remarcavelmente similar a I Cor 15:29 no sentido de que os vivos parecem estar sob a impressão de que alguma coisa que estão fazendo (oração e uma oferta de pecado no caso de Macabeus, batismo no caso dos Cristãos Corintianos) terá um efeito real no destino daqueles que já faleceram.

            O criticismo de Holding sobre Tvedtness é que caso isto seja um exemplo de uma “filosofia de ações vicárias pelos mortos… então também o seria a cerimônia do bode expiatório (Lev. 16)… Dentro do paradigma Bíblico [esta palavra é uma pista: Aqui sendo Biblicismo], pecado requer pagamento, e apenas a expiação apaga o pecado. A questão é que se o batismo no tempo do Novo Testamento era uma prática expiatória, e isto é uma questão que não pode ser respondida apenas citando este evento não correlato com raízes no aparato sacrifical do Velho Testamento…” Holding, portanto não acha o paralelo convincente. Talvez isto porque ele convenientemente negligencie em informar ao leitor de que “dentro do paradigma Bíblico” o propósito do batismo seja precisamente lavar os pecados, permitindo que toda a humanidade se beneficie da Graça de Deus. Dentro de sua própria criação e tradição evangélicas, isto pode ser uma sábia dispersão para os propósitos da congregação para quem está ele pregando, conforme percebo há uma grande disputa sobre esta questão dentro do mundo Protestante conservador. Mas penso que o sentido pleno das escrituras sobre batismo torna claro que é para a remissão dos pecados, e isto é um mandamento: Mateus 3:15; 28:19; Marcos 1:4; 16:16; João 3:5; Atos 2:38; 10:48; 22:16; Romanos 6:4; Gálatas 3:27, Tito 3:5; I Pedro 3:21. Queira me desculpar se isto é uma inconveniência para a multidão do “sola escritura” ou do “sola gratia”, mas isto é o que a Bíblia realmente diz, conforme a oposição entre os Calvinistas e os Aniquilacionistas [51] que se têm atados entre si, “barnacle-sábio”, para formar o Biblicismo.

            A Bíblia Anchor não deixa dúvidas quanto ao inerente elo da dupla natureza desta ordenança como requisitando tanto uma ordenança de água e espírito; ambas sendo requeridas: (re: João 3:5) “da água e do Espírito. Os dois substantivos são “anarthrous”e são governados por uma preposição.”[52] Isto deixa nenhuma dúvida quaisquer que sejam a necessidade de ambos. Então não importa o que possa ter sido uma prática do Velho Testamento do período inter-Testamentário, a filosofia de alguém se arrepender pelos pecados é perfeitamente consistente, e não há nenhuma exceção anotada. Nem mesmo para os mortos.

            Trumbower mais uma vez acha evidência positiva para “Resgate dos mortos dentro de um contexto de salvação”. Ele se refere a mesma seção de II Macabeus que está sob discussão, todavia nos faz lembrar que:

            A partir destas [citações] aprende-se nada sobre a visão do histórico Judas em 164 AC. Antes, ganha-se acesso tanto para a visão de Jasão de Cirene (atual Líbia), um judeu que escreve uma história de cinco volumes do conflito de Macabeus (2 Macabeus 2:23), ou para o autor que epitomizou seu trabalho. Os cinco volumes de Jasão, hoje perdidos, foram condensados em um volume (hoje conhecidos como II Macabeus) por um anônimo epitomizador em algum período de tempo perto do fim do segundo ou início do primeiro século AC (II Macabeus 2:23-32). Jasão, o epitomizador anônimo, ou ambos, achavam que a coleta de Judas para o sacrifício fosse para a salvação póstuma de pecadores individuais.

            Por que a mudança na perspectiva? Está aparente que o autor de II Macabeus 12: 43-45 adere à ideologia da diferenciação dos mortos bastante e claramente expressa dentro do Judaísmo no Livro de Daniel, capítulo 12 (165 AC). Ele acredita que Deus providenciará galardões para os justos e punição para os iníquos após a morte segundo o modelo da ressurreição. Em Daniel, a forma da nova existência para os justos será astral, ‘Aqueles que são sábios brilharão como o brilho do céu, e esses são os que guiarão muitos para a justiça, como as estrelas para sempre e sempre’ (II Macabeus 7:11; cf. 14: 46). Tanto em Daniel como em II Macabeus, a esperança da ressurreição é colocada em um contexto de intensa perseguição dos fiéis Judeus [incidentalmente, exatamente como o pano de fundo aos Tessalonicenses – M.S.]; se Deus é justo, ele não pode deixar os justos perecerem desta forma. Ele deve ter um plano para endireitar as coisas corretamente através da restauração da vida ao justo e postumamente punir o iníquo.

            É este contexto que faz II Macabeus 12: 43-45 tão interessante. Afinal, os soldados mortos haviam pecado por confiarem em ídolos, então alguém deveria pressupor que eles devessem estar classificados entre os iníquos. O narrador até mesmo diz que eles morreram em batalha precisamente por causa de seus pecados; deve-se perguntar se quaisquer dos sobreviventes estavam usando os ídolos também. Nenhuma menção é feita para uma busca entre os vivos para testar esta hipótese! É remarcável, então, que Jasão e/ou o epitomizador desejassem estender simpatia àqueles mortos que não mais poderiam se arrepender de seus erros… Se os soldados tivessem sobrevivido eles poderiam ser capazes de arrepender-se dos pecados e oferecer um sacrifício expiatório em seu favor. O autor de II Macabeus 12: 43-45 não aceitaria a morte como uma fronteira artificial que impediria a gloriosa ressurreição destes soldados pecadores.[53] [ênfase acrescentada]

            Isto não é, afinal, uma extensão da prática Mosaica, mas um novo, um interlúdio salvífico concedido aos mortos, e nos dá provavelmente um “terminus ante quem” para o desenvolvimento dos esforços vicários salvíficos de toda espécie, mas especificamente à expiação pós-morten. O “terminus post quem” será discorrido abaixo na seção sobre apostasia. Mas falando sobre isso, onde quer que a prática tenha fenecido no que os SUD chamam de “A Grande Apostasia,” isto permaneceu como parte da filosofia do Judaísmo Talmúdico. Ainda no fim do nono século AD encontramos na Midrash Tanhuma Ha’azinu I.f.339b, que se alguém ora em favor dos mortos no Yom Kippur, “Deus as [as almas] traz para fora do Sheol e elas são disparadas como flechas a partir de uma arco. Imediatamente um homem torna-se manso e inocente como uma criança. Deus o purifica como na hora de seu nascimento, aspergindo água pura sobre ele a partir de um balde [interessante referência batismal para um Cristão – M.S.]…ele prova da árvore da vida continuamente e seu corpo reclina-se à mesa de todo santo e ele vive para a eternidade.”[54]

            Trumbower então desenvolve este tema dentro do mundo Cristão. Algumas citações e referências:

            Trumbower cita, como evidência que morte não determina a extensão da atividade de salvação para alguém. Romanos 11:32, I Coríntios 15:29 [é claro!], I Pedro 4:6, Pastor de Hermas, Apocalipse de Pedro e os Oráculos Sibelinos.[55]

             Tanto Tecla e Perpétua se engajam em um processo de criar uma nova família entre os mortos…pode-se ver este processo em funcionamento na [vejam só isto…] prática Mórmon do século dezenove.[56]

             A primeira aponta para um ‘terminus post quem’ quando teólogos Platônicos da Idade Média mudaram doutrinas e práticas críticas e introduziram outra inovação:

             A questão de quem estivesse salvo à época da descida [de Cristo] não estava em consenso nos primeiros quatro séculos do Cristianismo, embora Agostinho e Gregório o Grande fossem altamente influentes na confecção da doutrina normativa no Ocidente, as ações de uma pessoa nesta vida apenas eram determinantes. Para estes, arrependimento ou o recebimento da graça de Deus no pós-vida era, é agora, e sempre será impossível.[57]

             Então a porta desta grande doutrina é bruscamente fechada com o dinamismo Agostiniano até ter sido restaurada mais uma vez no século XIX.

             Pohlsander, em sua revisão crítica de Trumbower para o BYU Studies cita as últimas palavras do livro de Trumbower:

Para os Shakers, Mórmons e Universalistas do século XIX, reinterpretar [Faz-nos lembrar da alegação de Blomm sobre Joseph Smith ter descascado a tinta seca acumulada, como se estivessem por eras, para revelar a madeira original por debaixo dos acumulados credos, teologias e confusão dos primeiros dois séculos AD. Veja a discussão sobre apostasia abaixo para mais – M.S.] o Cristianismo tradicional também significa jogar fora tradicionais restrições Cristãs para a salvação dos mortos. Aqueles Cristãos, como Agostinho, que rejeitavam salvação póstuma encontravam-se na paradoxal posição de afirmar a existência contínua da personalidade após a morte, mas rejeitavam a idéia de que a personalidade dos não batizados e pecadores sérios pudessem mudar ou crescer tal qual acontecia ao longo de sua vida mortal. Embora tenho muita simpatia por aqueles que em todas as eras desejassem resgatar os mortos, não é o objetivo deste volume tomar algum partido ou mapear uma direção para a teologia Cristã. Aqueles que entrarem em tal empreitada, entretanto, deveriam ser informados da antiga história sobre a questão em todas as suas facetas, e se este livro derramou alguma luz naquela história, então ele atingiu seu objetivo.[58]

            Após revisar o contexto geral Greco-Romano-Judaico-Egípcio da época, Trumbower olha especificamente para precedentes Cristãos. Ele começa com, como podíamos esperar, com uma referência aos requisitos salvíficos Cristãos – incluindo nossos mortos – conforme registrado no Novo Testamento e antigas, mas confiáveis fontes extra-Bíblicas.

             Numerosas concepções de resgate póstumo encontram seu caminho dentro de antigas especulações Cristãs: uma implícita salvação universal (Romanos 11.32), batismo vicário “em favor dos mortos” (I Cor 15.29), fala de proclamar o evangelho entre os mortos (I Pedro 4.6), os apóstolos falecidos batizando os mortos justos (Pastor de Hermas, Similitudes 9.1.6.2-7), e até mesmo Deus concedendo aos justos o privilégio de salvar alguns dos condenados no julgamento final (Apocalipse de Pedro 14.1-4; Oráculos Sibelinos 2.330-38). Não deveríamos estar surpresos com a aparição destas tradições, uma vez que o Cristianismo era um nova expressão de religião embebida em uma cultura onde as fronteiras entre os vivos e os mortos eram freqüentemente bastante permeáveis “(33-4….)”.

             [Paulo] declara [que cada pessoa seria julgada pelos seus atos no corpo] muito claramente em Romanos 3.23-25: “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus; sendo justificados gratuitamente pela sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, ao qual Deus propôs como propiciação, pela fé, no seu sangue, para demonstração da sua justiça por ter ele na sua paciência, deixado de lado os delitos outrora cometidos;”. Alguns dos oponentes de Paulo [incluindo extremistas errantistas do mundo moderno – M.S.] compreendem tudo isso como implicando que a ética deveria ser irrelevante para Paulo e que em sua visão os Cristãos escapariam do julgamento de Deus simplesmente pela virtude de seu status como Cristãos [isto é hoje conhecido como ‘sola gratia – uma vez salvo, sempre salvo’ – M.S.]. Ele relata sobre seus oponentes como caricaturando sua posição, "Vamos cometer o mal de tal modo que o bem possa vir" (Romanos 3.8). Paulo está bem ciente de que seu discurso sobre a graça gratuita de Deus poderia levar à conclusão, "devemos continuar em pecado,  afim de que a graça possa efetivar-se" (Romanos 6.1) Muito de Romanos 1-8 é uma tentativa de Paulo para responder estes ataques. Ele põe ênfase na fé posterior, na transformação pós-batismal do crente.[59]

Mais de Trumbower:

            “No segundo texto, I Coríntios 15.29, Paulo está tentando convencer os recipientes de sua epístola de que verdadeiramente existirá uma ‘ressurreição dos mortos’ na forma de um corpo espiritual (sóma pneumatikon, I Cor 15:44) e que os crentes receberão o mesmo tipo de corpo ressurreto que Cristo recebeu quando foi levantado por Deus... Paulo não objeta aqui a esta prática [do batismo vicário], o que quer seja ela, e ele a usa para convencer os Corintianos de que se eles são batizados em favor dos mortos, eles devem também acreditar na ressurreição conforme Paulo a compreende”.[60]

Visões de Trumbower sobre qual especificamente a visão SUD como norma prática:

Eu concordo com Rissi e Hans Conzelmann (e para essa questão, com o profeta Mórmon Joseph Smith), que a gramática e lógica da passagem aponta para uma prática de batismos vicários de uma pessoa viva para o benefício de uma pessoa morta (Rissi: 89-92; Cozelmann, I Coríntios: 275-77; quanto a Joseph Smith, veja a introdução deste volume [ele se refere a um vizinho SUD chamado Dawn Hill]). [61]

             Suponha entretanto que alguns são realmente batizados, veremos se isto faz sentido. Certamente, nessa suposição, tendo começado tal prática realmente indica quão longe eles acham que o batismo trará benefícios à carne, mesmo quando é outra pessoa quem é batizada e batiza vicariamente. Eles têm a esperança da ressurreição em vista, e que uma ressurreição corporal, ou isto não seria atada com um batismo corporal – conforme ele diz, que benefício traz isto para aqueles que são batizados mesmo, se os corpos que são batizados não ressuscitarão novamente – pois a alma é santificada não pelo lavamento corporal, mas pela resposta espiritual.[62]

             Uma das mais intrigantes “provas extras” que Trumbower ilustra é a condenação de pelo menos o rito Marcionita pelo Concílio de Cártago em 397 AD [63]. Obviamente se tal conselho tão mais tarde viu uma razão para condenar alguma coisa, essa “coisa” deveria estar suficientemente espalhada para apresentar um problema à hierarquia da igreja. Dado que isto se dá na virada do 4o século AD, isto é relativamente tarde, e, portanto, os SUD alegariam, bem dentro do período da Grande Apostasia. Nós esperaríamos condenação a partir da hierarquia e ortodoxia oficial.

             Com toda justiça, deveria indicar que Trumbower acredita que apenas catecúmenos eram batizados desta forma, não não-membros como modernos SUD o fazem, mas o ponto é que no passado se alegou que nenhuma evidência havia jamais sido encontrada sobre o que quer que tenha sido esta prática dos Corintianos. Agora temos essa evidência, e estamos bastante contentes em esperar para que o tempo possa revelar ainda mais. (Para iniciantes, Trumbower encontra uma grande variedade de diversidade em como a prática era realmente engajada; alguns acreditavam que era Cristo quem realizava os “batismos espirituais” correspondentes às ordenanças vicárias físicas, outros de que era um grupo de 40 apóstolos e élderes).

             Santos dos Últimos Dias realmente tomariam “um conforto extra” a partir do fato de que a pessoa que mais fez para mudar a Igreja, junto com talvez Constantino e o Grande e Tomás de Aquino (até que os Protestantes vieram e fizeram um estrago ainda maior) – nomeadamente Agostinho, Bispo de Hipo – também condenou a prática. Agostinho, é claro, pregava que o destino de criancinhas não batizadas era a eterna condenação [64], uma questão que retornaremos na Seção sobre Apostasia.

             Em uma referência final especialmente à prática SUD, ele alude à nossa crença no dispensacionalismo:

             Santos dos Últimos Dias e Shakers do século dezenove reviveram certos tipos de salvação póstuma, sem necessariamente estarem cientes da antiga história, a não ser por uma única passagem Paulina a respeito de batismo pelos mortos, I Cor 15:29. Isto demonstra que o impulso religioso para resgatar os mortos possa levantar-se sempre que haja um entusiasmo por nova atividade de Deus no mundo. Se os vivos podem compartilhar sobre as novas bênçãos concedidas por deus, por que deveriam ser os mortos exclusos?[65]

             Retornaremos, incidentalmente, a esta idéia do que Trumbower chama “entusiasmo para a nova atividade de Deus no mundo”, e que nós formalmente nos referimos como dispensacionalismo na seção sobre Apostasia conforme determinamos os paralelos entre a crença SUD no mundo pós-mortal e a doutrina Católica do Purgatório, uma vez que para o batismo vicário tome efeito, deve-se obter duas pré-condições: 1) Batismo é uma ordenança salvífica necessária (a qual acreditamos termos demonstrado); e 2) há um tempo após a morte e antes do julgamento/ressurreição para que o falecido decida se aceita ou rejeita a beneficência de tal ordenança vicária feita em seu favor.

I Tessalonicenses 4:13-16.

Esta é uma referência ao fato de que aqueles que “dormiram em Jesus” serão trazidos na primeira ressurreição. Holding reduz o paralelo de Welch com I Cor 15:29 para uma dispensa “Mas essa passagem não menciona batismo.” Holding se permite estabelecer uma sofisticada estrutura literária Greco-Romana, e espera que nós aceitemos padrões baseados em tal estrutura como significantes mas não permite que Welch aponte para uma simples suposição de que Paulo fosse consistente em seus ensinamentos, e não estamos fora de linha em procurar por paralelos entre os escritos Paulíneos. Aqui temos dois padrões! Simplesmente não é verdadeiro que Welch “saca desta passagem para a prática de batismos vicários”, porque isso não é o que Welch está tentando fazer.

             Como Holding está, em efeito, argumentando a partir de um vácuo, tudo isto que toma é uma referência singular para estabelecer a plausibilidade contra um argumento a partir da falta de evidência. Ele deveria sair enquanto estivesse na frente; seu criticismo do apologista SUD Richard Anderson para o efeito de que os Tessalonicenses não deveriam ter tido razão alguma para duvidar da ressurreição, baseado no fato que o cenário cultural Greco-Romano a partir dos quais os conversos eram extraídos era a idéia Grega da metempsicose, ou uma terra Platônica das sombras, é totalmente além do ponto em questão. A epístola era para Cristãos da Tessalônica, não para os pagãos Tessalonicenses. Holding escreve “(v.14)” quando ele faz seu argumento, todavia é difícil ver como isto é uma apologia contra o paganismo; afinal, a igreja Tessalônica parece estar relativamente forte neste ponto, e o capítulo 4 é um sermão escatológico, seguido pelo capítulo 5, o qual aborda apocalipticismo em suas ameaças fortemente escatológicas, as quais continuam na segunda epístola. Este não é nenhum ramo fraco atingido por práticas pagãs ou dúvidas, mas um que está bem estabelecido (v. 5-7; eles são encorajados a ser um exemplo para metade de toda Grécia).

            Holding escreve mais adiante, concernente a referência de Anderson para Hebreus 6:2,

             Anderson percebe que este versículo refere-se a uma “doutrina de batismos”, no plural, e assume que se refere a “dois tipos distintos de batismo nos dias de Paulo”, o batismo de conversos vivos e batismo por procuração de mortos. [And. UP, 228] Mas o plural é facilmente visto como uma referência ao batismo de conversos vivos, e ao batismo de João, ou a ritual e batismos de prosélitos realizados pelos Judeus. Antigos Cristãos teriam que explicar como estes rituais similares encaixavam-se dentro de seus paradigmas doutrinários.[66]

            Felizmente, antigos Cristãos de fato fizeram exatamente isto. Anderson escreve,

             Conforme começa a seguinte passagem, o mensageiro de Hermas está explicando que os mortos pré-cristãos – “que haviam adormecido – também são batizados; isto é seguido pela explanação de que os portadores do sacerdócio do Novo Testamento haviam sido batizados mais uma vez para tornarem isto possível: “Desta forma estes também que antes adormeceram receberam o selo do Filho de Deus e ‘entraram no reino de Deus’….Este selo, então, foi também a eles pregado, e eles fizeram uso disto ‘para entrar no reino de Deus.’ Por que Senhor, “disse eu”, subiram também as 40 pedras do abismo [veja seção abaixo sobre selos e para mais sobre este simbolismo – M.S.], embora tivessem eles recebidos já o selo?” “Por causa, disse ele, “estes apóstolos e mestres os quais pregaram o Filho de Deus, tendo adormecidos no poder e fé do Filho de Deus, pregaram também àqueles que adormeceram antes deles, desceram mortos mas saem vivos. Através deles, portanto, eles foram feitos vivos, e receberam o conhecimento do Filho de Deus… Pois eles adormeceram na justiça e em grande pureza, somente apenas não haviam recebido este selo. Tendes também então as explicações destas coisas.”[67]

            A sugestão de Holding de que “batismos” refere-se ao batismo de João é um salto nas nuvens; em tempo algum é feita qualquer distinção entre o batismo pelos vivos e o de João, exceto a menção de que o batismo de João não incluía a concomitante ordenança da imposição das mãos para o Dom do Espírito Santo (cf. Atos 1:5; estes não eram batismos separados, mas duas ordenanças companheiras). Então ao invés de confiar em especulações, temos, graças a Hermas, um elo específico para dois batismos sendo realizados, um para os vivos, e um vicariamente em favor dos mortos, unidos, juntos, conforme veremos abaixo.

Pastor de Hermas.

            J.A. MacCulloch, escreve que o antigo comentário em Hebreus 11:40 (“eles sem nós não podem ser aperfeiçoados,” referindo-se a todos os Israelitas que antes haviam existido) significa que estas eram pessoas do Velho Testamento que estavam no Hades esperando por Cristãos para ajudá-los, e que Cristo “abriria as portas do mundo inferior para as almas fiéis que lá estavam.”[68] Uma vez que a porta foi aberta, ela está aberta, e não há necessidade de Cristo continuar reabrindo-a novamente. Assim como a expiação é infinita tanto temporalmente para o passado como para o futuro, assim também neste aspecto, ou subconjunto, como fosse do sacrifício expiatório: a habilidade de garantir que todos tenham uma oportunidade de terem seus batismos realizados, de uma maneira ou de outra, mais cedo ou mais tarde – é tudo a mesma coisa para o Senhor.

             O próximo passo é I Pedro 3:18-20; I Pedro 4:6, em que vemos refletida nossa crença de que entre a crucificação de Cristo e a ressurreição, Ele pregou às almas que não haviam tido uma chance de ouvir o Evangelho. Isto, combinado com os Santos ainda viventes realizando ordenanças em seu favor permitiria que eles, se assim escolhessem a obedecerem ao mandamento deixado por Cristo de que o batismo é necessário (João 3:5 inter alia como acima).

             Justino Mártir, um antigo Patriarca da antiga Igreja declarava que uma obra apócrifa que era parte original de Jeremias havia sido removida, mas poderia ser encontrada em algumas cópias do texto [69]. Parte disto dizia

             O Senhor Deus se lembrou de Seu povo falecido de Israel que jaz nas sepulturas; e Ele desceu para lhes pregar Sua própria salvação.[70]

             Incidentalmente, esta (parte removida da escritura para uso geral) não é “outré” uma alegação isolada como possa isso soar. De acordo com Akenson, o antigo período Helenístico do Judaísmo, até a destruição do Segundo Templo, foi um período de intenso esforço criativo, mas tudo aquilo parou em 70 AD (ou engrenou para um campo neutro, todavia de qualquer maneira a revolta de Bar Kobha uma metade de século mais tarde estacionou todas as coisas relacionadas com o culto do templo). No Concílio de Jamia, que aconteceu quase no meio do caminho entre estes dois eventos catastróficos (90-95 AD), os Judeus Fariseus começaram uma transformação que perdurou séculos, saindo do “Judaísmo” para o “Judaísmo Rabínico”. Uma das coisas que esta transformação fez desde muito cedo foi extrair qualquer material apocalíptico, uma vez que eles, em um certo sentido tiveram que viver em um mundo “pós-apocalíptico”. Então as “Adições a Daniel, Éster e Jeremias, que hoje fazem parte dos Apócrifos, na verdade deveriam ser realmente chamadas de Subtrações de Daniel, Éster e Jeremias”; e Enoque estava provavelmente perdido para sempre, não obstante as três versões que temos hoje (que foram provavelmente escritas vários séculos depois da versão do Segundo Templo). Nós finalmente recuperamos os Gênesis Apócrifo, o Livro dos Jubileus, e outras pérolas desta era.[71] É claro, todos nós sabemos que se tivéssemos dado chance a Martinho Lutero, teríamos um Novo Testamento com quatro livros a menos: Tiago, Judas, Hebreus e Apocalipse.

             Irineu, um outro antigo Patriarca da Igreja escreveu alguma coisa semelhante para Justino Mártir:

            “O Senhor desceu às partes sob a terra, anunciando também para eles as boas novas de sua vinda, existindo remissão dos pecados para tais que nele acreditarem”.[72]

            As duas referências anteriores não podem permanecer sozinhas, entretanto, conforme mencionado acima, precisa de uma ligação (tais como MacCulloch assumiu). Em um livro em que alguns dos antigos Patriarcas Cristãos achavam ser autoritativo (nós não podemos ainda falar de “canônico” pois o cânon então não existia), nomeadamente o Pastor de Hermas, encontramos (para explicação da fonte itálica, veja abaixo) estes apóstolos e mestres que pregaram o nome do Filho de Deus, tendo eles adormecidos no poder e fé do Filho de Deus, pregaram também àqueles que haviam adormecido antes deles, e eles próprios deram para esses o selo da pregação. Portanto desceram com eles na água e emergiram mais uma vez, mas o último desceu vivo e levantou-se vivo, enquanto o primeiro, que havia antes adormecido, desceu morto e subiu vivo. Através deles, portanto, tornaram-se vivos, e receberam o conhecimento do Filho de Deus.[73]

             Aqui está uma clara conexão entre Cristo pregando no “Hades” e a prática do batismo vicário em uma fonte muito antiga (estimativas colocam seus escritos por volta de 140 AD) e de uma fonte autoritativa (Códex Sinaiticus (*), incluía isto como parte do Novo Testamento). *, junto com o Códex Alexandrino e Vaticanus formam os “três grandes” – os mais antigos textos completos do Novo Testamento.

            Holding apenas cita parte disto – a parte que havíamos mostrado em itálicos acima. Ele então diz que isto apenas demonstra no máximo que batismos podem apenas ter sido realizados por aqueles que viveram antes de Cristo, uma objeção que já tratamos. Enquanto a porção que ele não cita não afeta esta cronologia, é a parte mais clara da referência para batismos vicários reais.

             Falando da perigosa tática de apenas citar parte de uma fonte, Holding diz o que eu posso apenas chamar uma inverdade quando ele alega a respeito do fato que a leitura de Bickmore do Pastor de Hermas não é consistente com a própria má interpretação de Holding, que a “única documentação de apoio de Bickmore consiste de uma visão por um líder de estaca que confirma sua interpretação!” O que Holding deixa de fora é que a explicação de Bickmore que esta visão não tem nada a haver com a autoridade doutrinária do batismo vicário como tal, mas é simplesmente uma informação ilustrativa de que freqüentemente confirmação espiritual é concedida àqueles que participam em ordenanças vicárias de que realmente pelo menos algumas das pessoas, cujo trabalho foi por elas realizado, o aceitaram no Mundo Espiritual (um conceito que aparentemente Holding ignora ou então não acredita, se for este último caso, tudo bem também, todavia isto pode ser traduzido como uma idéia pré-concebida). Bickmore estava discorrendo de que a ordenança terrena é apenas parte do processo, um processo que deve acompanhar eventos e decisões no Mundo Espiritual, o “pós-mundo” SUD (mas antes da ressurreição). E de fato, Bickmore realmente documenta que esta “parceria” era parte do antigo contexto histórico do qual o primitivo Cristianismo brotou, citando J.R. Porter referindo-se a “bem-conhecida idéia [Judaica] da correspondência e da simultaneidade dos rituais terrestres e celestes…”[75] Mesmo se alguém discorde de Porter, ou para esta discussão com a leitura que Bickmore faz de Porter, simplesmente não é verdadeiro que a alegação de Bickmore é apoiada meramente por uma visão dada por um presidente de estaca. De qualquer forma, conforme Bickmore indica, o conhecimento de alguém aqui no mundo mortal receba revelação de que sua obra vicária foi aceita não é uma doutrina oficial SUD, sendo por sua própria natureza apenas ilustrativa.

Os Heréticos

            Holding refere-se a dois grupos de ‘heréticos’ (sempre tendo em mente, é claro, que são os vencedores quem escrevem a história, mas isto não os tornam mais corretos). Ele critica tanto Tvedtness[76] e Bickmore[77] por alegadamente usarem a prática dos Marcionitas do segundo século como exemplares de batismos vicários, e “é mais plausível sugerir que os Marcionitas inventaram seu ritual baseados na falsa compreensão de I Coríntios 15:29,” mas ele está longe de base sua base segura, ao demonstrar suas premissas Biblicistas novamente quando assume que a razão de apologistas SUD como Bickmore e Tvedtnes usarem os Marcionitas como um exemplo é de que alguma forma isto demonstra que Joseph Smith usou a mesma linha de raciocíneo dos Marcionitas.

            Bickmore e Tvedtness, ambos estão tentando mostrar plausibilidade, não para provar texto de antigos heréticos. Bickmore meramente menciona isto ainda como uma outra referência antiga; mesmo se os Marcionitas fossem hereges, eles claramente conheciam alguma coisa da prática Corintiana, e é anacronístico, dada a tabela cronológica do segundo século, para Holding alegar de que isto poderia ter acontecido devido a uma má compreensão da “escritura” a qual ainda não existia como uma obra canônica. Nós simplesmente não sabemos como os Marcionitas conheciam a prática Corintiana, se isso é de fato o porquê deles praticarem tal ritual.

            A referência a Tvedtnes neste contexto é ainda mais enganosa. Tvedtnes apenas menciona os Marcionitas uma vez, e isto o faz indiretamente, ao citar um repetitivo anti-Mórmon chamado Luke Wilson, e em um nota de rodapé que diz:

            Em um volume da FARMS que está para ser lançado sobre templos da antiguidade (uma seqüência de Templos do Mundo Antigo), discorro sobre o assunto em extensão – com vários exemplos textuais – em um artigo intitulado, “Batismo pelos Mortos no Antigo Cristianismo.” O artigo eliminará quaisquer dúvidas sobre a disseminada crença em batismo pelos mortos entre os antigos cristãos. Wilson realmente nota esta prática pelos “heréticos Marcionitas no segundo século e a Sociedade Efrata, um grupo oculto Cristão na Pensilvânia nos anos de 1700s” (II.3).[78]

             Ironicamente, o argumento de Holding deveria ser para seu companheiro crítico, não para Tvedtnes. Mas desde que Tvedtnes com certeza refere-se a um artigo que até aquela data ainda não havia sido publicado, ma que todavia está agora disponível, vamos dar uma olhada nele. Tvedtnes corretamente indica que os Marcionitas seriam verdadeiramente considerados um secto apóstata até mesmo por SUD modernos, mas arrazoa:

           “Alguns dispensariam esta evidência baseado no fato de que os Marcionitas fossem heréticos. Santos dos Últimos Dias, acreditando que a Apostasia já estivesse a caminho pela época dos Marcionitas e de que nenhum grupo Cristão possuía então toda a verdade, vêem a prática como um remanescente de um antigo ritual que data desde tempos apostólicos.”

           Os Marcionitas deram uma interpretação literal às palavras de Paulo, “Todavia o que se farão os que se batizam pelos mortos, se absolutamente os mortos não ressuscitam? Por que são eles então batizados pelos mortos?” (I Coríntios 15:29). Tertuliano, embora reconhecendo em um lugar que os Corintianos praticavam o batismo por procuração (ver ‘Sobre a Ressurreição da Carne 48), declara em outro lugar que Paulo esta se referindo a batismo do corpo, o qual está sujeito à morte (ver ‘Contra Marcião 5.100 [e abaixo nesta Revisão Crítica – M.S.]). São Crisóstomo semelhantemente rejeita a interpretação de Paulo feita por Marcião e concluiu que a referência real do apóstolo fosse a profissão de fé no batismo, parte da qual consistia de, “Eu creio na ressurreição dos mortos” (Homilia 40 sobre I Coríntios 15). Estas palavras, recitadas antes do batismo, indicaram para Crisóstomo que o batismo era realizado sob a esperança da ressurreição.

            É verdadeiro que em outras passagens (ver Romanos 6:3-5; Colossenses 2:12) Paulo fale de batismo como uma morte simbólica, um sepultamento e ressurreição de Cristo, e daqueles que desejarem segui-lo para uma nova vida. Não obstante, apesar das tentativas por alguns dos Patriarcas da antiga Igreja em querer dar um significado simbólico à passagem de I Coríntios 15:29, a morfologia e sintaxe deste versículo claramente implica em batismo por procuração.[79] [ênfase acrescentada]

            Isto é muito diferente das palavras que Holding põe na boca de Tvedtnes.

            O outro grupo mencionado, os Cerintianos, são ainda um caso diferente na questão. Assumindo que o relato de Epifâneo esteja correto, o racional deles está pelo menos contido como uma espécie de subconjunto teleológico do racional SUD. Isto é, mesmo que Holding esteja correto, que sua prática estivesse restringida a crentes não batizados (e.g. catecúmenos, ou “investigadores”, como podemos hoje dizer), isto está perfeitamente dentro da normativa prática SUD de hoje. Ao pular os Cerintianos assim tão livremente, ele realmente nos concedeu um ponto. Que fazemos alguma coisa mais que os Cerintianos faziam é uma coisa, mas ambos praticamos o batismo vicário pela “razão certa” (ao contrário dos Marcionitas), é realmente uma clara evidência de que possuímos um registro de alguém na antigüidade, mas no período pós-apostólico ainda fazendo a coisa parcialmente correta. (Daí meu termo “subconjunto teleológico” – o racional Cerintiano está completamente contido dentro de nosso racional; a prática deles não “prova” a nossa, embora o reverso possa ser verdadeiro, falando estritamente do ponto de vista lógico, mas de qualquer forma o ponto mais uma vez é demonstrar plausibilidade). Não muito é conhecido sobre os Cerintianos; eles receberam este nome devido ao seu fundador, Cerinto, um judeu egípcio converso ao Cristianismo que viveu pelo fim do primeiro século AD, fazendo de seu rito provavelmente a mais antiga evidência extra-Bíblica sobre batismo vicário que conhecemos. Eis aqui o relato de Epifâneo:

            "Da Ásia e Gália chegou até nós um relato [tradição] de uma certa prática, dizendo que quando qualquer um dentre eles morria sem batismo, eles batizavam outros em seu lugar e em seu nome, de tal forma, ao levantarem-se na ressurreição, eles não terão que pagar a penalidade de terem falhado em receber o batismo, mas antes se tornam sujeitos à autoridade do Criador do Mundo. Por esta razão, essa tradição que até nós chegou conta ser a mesma coisa a qual o próprio Apóstolo se refere quando diz, ‘Se os mortos absolutamente não ressuscitam, por que se batizam então pelos mortos?’[80]"

            O movimento antecede os Marcionitas por cerca de quase meio século, o que também se encaixa bem dentro de uma presumida apostasia; uma vez que tal apostasia “generalizada” debandaria, presumidamente, para cada vez mais longe e criaria cada vez mais cismas a partir do Cristianismo Apostólico original. Também Marcião era um Romano, de tal forma que temos agora pelo menos três “alfinetes” em nosso mapa da Antiga Cristandade em pontos geográficos bem divergentes. O coração da Grécia (Corinto), a capital do Império (Roma), e a “segunda cidade” e capital intelectual do Império (Alexandria).

             Finalmente Holding fabrica a mesma premissa Biblicista de que os Cerintianos tinham o exemplo de I Cor 15:29 diante deles para “interpretarem mal”. Nós não sabemos se isto é verdadeiro. Uma vez que isto (o fim do 1o século) aconteceu muito tempo antes que o cânon estivesse estabelecido, nós não sabemos o que os Cerintianos – especialmente dado a sua longa distância até Jerusalém – tinham à mão. Não se pode simplesmente assumir que possuíam qualquer tipo de texto padrão.

             Ele também faz a enganosa declaração de que “os mais antigos dados Coptas vieram do quarto século, e é, portanto de relevância marginal concernente ao que estava acontecendo no Novo Testamento. Todavia Tvedtnes reconhece que fatores sociais possam ter conduzido a aceitação de tal ritual no Egito enquanto outras igrejas o rejeitaram”. Ele então segue em adicionar uma sentença na qual implica que Tvedtnes chegou a uma conclusão específica; i.e., a de que os Coptas usaram a mesma linha de raciocíneo que DeMaris supôs que os Cristãos Corintianos seguiram, mas essa conclusão não está em lugar algum no trabalho de Tvedtnes.

            Aqui está o que Tvedtnes escreveu:

             Dúzias de antigos textos Cristãos falam do batismo pelos mortos  e a prática havia se tornado tão distorcida por volta do quarto século que alguns estavam batizando os cadáveres dos mortos ao invés de usarem procuradores, o que acabou resultando na proibição de tais práticas no Sínodo de Hipo e no terceiro Concílio de Cártago. Mas o batismo vicário pelos mortos continuou até mesmo após aquele tempo entre os Cristãos do Egito e Etiópia e entre os Mandeus do Iraque e Irã. Todos estes ainda continuam com a prática, embora em uma escala mais restrita.{10} Wilson pode estar correto em dizer que a “a prática do batismo pelos mortos de fato nunca se tornou amplamente difundida”, mas ele claramente ignora o fato de que ela foi praticada na antiga Cristandade fora da área de Corinto.{11}

{10}. Entre estes grupos, batismo é realizado apenas para parentes falecidos; não se realiza nenhuma tentativa correspondente para fazer pesquisa genealógica. Tal como era também a antiga prática SUD (por exemplo, em Nauvoo), até que a revelação veio para Wilford Woodruff e a Sociedade Genealógica de Utah foi estabelecida, veja Thomas G. Alexander, Things in Heaven and Earth: The Life and Times of Wilford Woodruff, a Mormon Prophet (Salt Lake City: Signature Books, 1991), 322—23. Um sacerdote Ortodoxo Sírio me informou que sua igreja também continua com a prática, mas ele não me providenciou ainda com qualquer documento que apoiasse sua declaração.

{11}. Em um volume que está preste a ser lançado pela FARMS sobre antigos templos (uma seqüência para Templos do Mundo Antigo), discorro sobre o assunto extensivamente - com numerosos exemplos textuais - em um artigo intitulado, "Batismo pelos Mortos no Antigo Cristianismo”. O Artigo acabará com quaisquer dúvidas sobre a difundida crença em batismo pelos mortos entre os primeiros Cristãos. Wilson realmente nota esta prática entre a “herética seita dos Marcionitas no segundo século e pela Sociedade Efrata, um grupo oculto Cristão nos idos de 1700 na Pensilvânia”.

            Em outras palavras, em nenhum lugar da seção sobre os Coptas Tvedtnes refere-se a DeMaris – essa ligação está apenas na mente de Holding, o que estaria tudo bem, mas deveria ele dizer a seus leitores de onde veio esta ligação (de sua própria mente). Note que Tvedtnes indica que pelo 4o século a prática havia se tornado distorcida, o que é exatamente o que esperaríamos se estivesse acontecendo uma apostasia gradual. Existem referências a DeMaris, que a trataremos no devido tempo, mas esta não é uma delas.

             Todavia existe ainda um outro problema com as palavras de Holding, ao chamar a decisão dos Coptas de “sociológica” ele totalmente passa por cima da razão exata deles continuarem com o batismo vicário, e a razão do porquê foi isto mesmo mencionado; afinal, já havia sido mencionado o anátema do (terceiro) Concílio de Cártago (397 AD) contra a prática. Não é apenas possível, mas altamente provável que igrejas mais remotas possam tanto ter escolhido ignorá-lo ou até mesmo nunca terem ouvido falar dele.

             Tvedtnes, em seu novo trabalho sobre as antigas práticas templárias, também menciona o Sínodo de Hipo, realizado em 393, que declarava, “a Eucaristia não deve ser dada a corpos mortos….nem batismo conferido sobre eles” (incidentalmente, as mesmas palavras iriam ser usadas em Cártago cinco anos mais tarde)[81]

            Um outro grupo dissidente ao qual Holding não menciona é o secto dos Mandeus, um ramo sincrético do Cristianismo e religiões orientais, que também praticaram batismos vicários. [82]

             Existe, adicionalmente, um número de pseudoepígrafes, outras referências ante-Nicéianas e obras místicas Judaicas e Coptas posteriores que se referem às almas dos mortos sendo lavadas ou batizadas após suas mortes, e a partir daí sendo trazidas até a um mais elevado (usualmente um terceiro) reino dos céus.[83] Uma miscelânea destas fontes, em adição àquelas que são abordadas neste artigo, as quais discutem tanto a pregação das almas em um reino no meio do caminho entre a morte e o Julgamento Final, e/ou os efeitos que as pessoas vivas podem ter no destino destas almas, Tvedtness lista: Arnobius, Clemente de Alexandria, Odes de Salomão, Epístola dos Apóstolos, Atos de Pilatos, Zózimo, O Apócrifo de João (parte da biblioteca de Nag Hammadi), Apócrifos Bíblicos Irlandeses, A Penitência de Adão, Apócrifos Coptas no Dialeto do Alto Egito, A Vida de Adão e Eva (Apocalipse), Apocalipse de Paulo, I Enoque, Sepher ha-Razim: O livro dos Mistérios, The Zoha. [84]

           Uma vez que Holdings aparenta subestimar a importância das fontes Coptas (Egípcias e Etiópicas) que Tvedtness menciona em seu trabalho anterior que se encontra on-line, aqui estão as referências adicionais que Tvedtness faz em seu mais novo artigo; nos dá a razão do porque não devíamos nos surpreender de que o batismo vicário é praticado na igreja Copta, possivelmente até o dia de hoje:

1.        A visão geral Egípcia dos mortos era de que eles continuavam a viver numa forma espiritual, esperançosos da ressurreição do corpo. Grande cuidado era portanto tomado para preservar o corpo através do embalsamento e do encarceramento do corpo em túmulos rochosos.

2.        Havia uma grande ênfase no antigo Egito sobre a adequada performance dos rituais, tanto para o mundo dos vivos como para o mundo dos mortos. Mesmo quando o falecido não tivesse vivido uma vida digna de louvor, era típico designar para ele justiça e negar qualquer malefícios de seu passado. A menos que seu coração ou outras facetas de seu ser o traíssem diante dos deuses que se assentavam no julgamento do seu espírito, rituais mágicos e talismãs eram empregados para assegurarem sua passagem de forma segura para dentro dos mundos de glória.

3.        Iniciação, incluindo a purificação pela água, era já estendida tanto na vida terrena como nos rituais mortuários que precediam o enterro. Isto era prontamente identificado com o batismo Cristão tanto para vivos como mortos.

4.        A grande honra e respeito demonstrados em relação ao ancestral de alguém no antigo Egito era refletida no edifício e manutenção dos templos mortuários, onde comida e bebida eram trazidas para o espírito do falecido e onde rituais necessários para a passagem segura através dos perigos do mundo vindouro eram realizadas. Com tal atitude em relação ao progenitor de alguém, não é de se admirar que os Egípcios Cristianizados estivessem contentes em continuar com uma prática de ordenanças vicárias para aqueles que já haviam dantes partido.[85]

           A respeito dos rituais Etíopes, Tvedtness relata:

            Cristianismo se espalhou do Egito para Etiópia, onde a igreja Abissínia foi fundada. Houve muita influência Egípcia na Etiópia, incluindo a influência de práticas Egípcias pré-cristãs, especialmente aquelas associadas com rituais realizados em favor dos falecidos. É, portanto, nenhuma surpresa vermos o batismo pelos mortos ser mencionado em documentos Etíopes.[86]

Testemunhas Miscelâneas

Em adição ao material escriturístico e patrístico que Holding considera em sua crítica, existem outras antigas referências, assim como também comentários modernos por não-SUDs sobre batismo vicários, e esta seção listará alguns deles.

            Balthasar sobre a religião vicária como um ritual comum: A maioria dos jovens SUD lembram-se de suas viagens ao templo com alegria – sempre e uma vez mais o valor dos rituais em si, conforme eles o vêem, é a camaradagem que é construída entre eles a medida que realizam tais rituais. É o mesmo com adultos que vão para o “dia da ala no templo,” e atividades similares. Parece que isto não era tão diferente nos tempos antigos:

            A prática Corintiana de ser batizado em favor dos mortos demonstra quão forte a consciência de que alguém pudesse agir em favor de um outro estava presente na vida da comunidade Cristã (I Cor 15.29). Isto pressupõe a idéia de que nem mesmo o batismo é um evento particular que afeta o assunto claramente delimitado, mas é uma graça na qual pode-se extrair outras; esta é uma aplicação excepcional da antiga comunidade em “ter todas as coisas em comum”, de tal forma que seus membros se consideravam de ‘um só coração e alma’, sem que nenhum deles ‘considerasse o que lhe pertencia como alguma coisa particular.’ (Atos 4:32).[87]

Fontes Armênias (5o século) corrige os Marcionitas e Mandeus.

            E além do mais o que está ao ouvido de Marcião e Mani ele grita alto, afirmando, ‘se os mortos não ressuscitam novamente, o que realizarão aqueles que são batizados em favor dos mortos?’ (I Cor. 15.29). ‘Vós dizeis que os corpos não se levantarão novamente porque eles são do Hylé.’ [88] Se os corpos, sendo mortais, não se levantam, concernente às almas, entidades vivas, por que farão elas um convênio em favor daqueles corpos mortos? Ou também, por que batizariam eles os corpos mortos junto com aquelas almas imortais, se, conforme vós dizeis, aqueles corpos mortais não se levantarão novamente? Neste sentido também deve ser esta palavra compreendida, e não como aquilo que Marcião fantasia: de que seja necessário colocar um parente vivo para que seja batizado por uma criança morta de tal forma que ela possa ser contada para ele - o que de fato os Marcionitas também praticam.[89]

            O que está sendo aqui criticado é a idéia de que um cadáver tenha de ser batizado, ou ter o ritual realizado em sua presença; Eznik de Kolb está indicando que uma vez que o corpo é hylé, ou material, mas a alma não é, o ritual não requer a presença física do cadáver para ser realizado.

            Um Meta-Sumário de Comentários Modernos: 

            Atenha-se ao significado pleno’ gosto desta fonte porque ela basicamente ensina as pessoas a não se contorcerem em rodeios teológicos; 'apenas porque “nós” (não-SUD) não compreendemos o que os Corintianos estavam fazendo não é razão para não tomar a escritura pelo seu sentido pleno'.

            Pois de outra forma o que farão eles…?’ é uma inesperada abertura, com o seu tempo verbal futuro e o verbo ‘fazer’. Talvez isto signifique, ‘qual é o valor…?’ Este problema, entretanto, é pálido e insignificante junto e ao lado do significado que devemos designar para os que estavam sendo batizados pelos mortos. A maneira mais natural de compreender estas palavras é ver uma referência ao batismo vicário. Alguns dos crentes Corintianos podem ter sido batizados em favor de amigos que haviam morrido antes do batismo (podemos dificilmente acreditar que eles teriam feito isso para pessoas que não tivessem acreditado, ou que Paulo tivesse mencionado a prática tão calmamente se este fosse o caso. Parry diz, ‘O sentido pleno e necessário das palavras implica a existência da prática de batismos vicários em Corinto, presumivelmente em favor de crentes que haviam morrido antes de serem batizados.’ [90] Ele olha então para todas as outras interpretações como ‘evasivas…totalmente devidas ao não desejo em admitir uma prática de tal tipo, e ainda mais para uma referência dela por São Paulo sem uma condenação.

            Que Paulo fosse bem capaz de arrazoar a partir de uma prática com a qual ele desaprovasse é demonstrado pela maneira que ele se refere ao sentar-se à refeição em um templo idólatra sem dizer qualquer coisa como isto sendo errado (8.10), embora em uma passagem posterior ele conectasse os banquetes idólatras com demônios (10.21 ff.). Se for talvez significante que, enquanto Paulo não se detivesse para condenar a prática da qual ele aqui fala, ele se desassocia dela (‘o que se farão aqueles que…?’ [Parece que Morris não está ciente de que não há nenhuma pessoa indicada, uma vez que o termo é um particípio – M.S.] contraste com ‘por que pomos nós mesmos em perigo…?, versículo 30). Ele simplesmente menciona a prática como acontecendo, e pergunta que significado isto poderia ter se os mortos não ressuscitam. Atestam-se batismos vicários no segundo século entre heréticos (Crisóstomo diz que os Marcionitas o praticaram). Se alguma coisa como isto era conhecida em Corinto isto poderia fortemente apoiar o argumento de Paulo pela ressurreição. Mas a prática não é conhecida desde o primeiro século, nem pelos ortodoxos. Coisas estranhas aconteceram em Corinto, mas isto é estranho até mesmo para Corinto. Então a sugestão tem sido colocada de que alguns crentes haviam falecidos, e alguns dos vivos, ainda que não fossem membros da igreja, estavam se batizando a fim de serem integrados aos falecidos no devido tempo. Outros pensam no simbolismo do batismo (Rom 6.1 ff), embora não seja fácil de ver a relevância disto com a ressurreição do corpo. Outros mais uma vez vêem como uma referência aos mártires (‘batizados no sangue’), ou para uma prática ‘com uma visão voltada para a (ressurreição) dos mortos.’ Muitas outras sugestões têm sido feitas. Conforme Conzelmann diz, ‘a engenhosidade dos exegetas arruinaram a base’.[91] Há pouca consistência ao considerarmos mesmo as mais plausíveis sugestões. A linguagem aponta para o batismo vicário. Se isto rejeitarmos somos deixados a conjecturas.[92] [ênfase acrescentada]

Hans Conzelmann sobre o significado pleno:

            Esta é uma das mais ardentemente disputadas passagens na epístola. O tom e o estilo (com a série de questões retóricas) mudam abruptamente. As palavras utilizadas estão em favor de uma exposição ‘normal’ em termos de ‘batismos vicários: ’ em Corinto pessoas vivas estavam se batizando vicariamente em favor de pessoas falecidas, Paulo não critica o costume, mas faz uso dele para o seu argumento… A referência de Paulo para este costume nos providencia com um dos mais importantes argumentos contra a premissa que ele compreendeu mal a posição Corintiana. Ele se mostra aqui sendo obviamente bem informado… Alguns dos Patriarcas da Igreja estavam familiarizados com o batismo vicário e o olhavam como uma prática herética; desta forma Crisóstomo o conhecia como um costume dos Marcionitas. As palavras utilizadas exigem uma interpretação em termos de batismos vicários.[93] [ênfase acrescentada]

Santo Ambrósio (4o Século AD):

            Temerosos de que uma pessoa falecida que nunca houvesse sido batizada pudesse ser mal ressuscitada ou absolutamente não ressuscitada, uma pessoa viva seria batizada no nome da falecida.  Desta forma ele acrescenta ‘por que se batizam então por eles:' De acordo com isto ele não aprova o que está sendo feito, mas mostra uma firme fé na ressurreição [que está implícita]. [94]

Platão demonstra isso, ao contrário de Holding, de que a idéia da beneficência em favor dos mortos em geral não era peculiar a Corinto (ou até mesmo a Cristãos):

             E produziram um cesto de livros de Musaeus e Orfeu, a progênie da Lua e das Musas, conforme afirmam, e estes livros eles usam em seus rituais, e não faziam somente homens simples, mas declara que realmente havia remissões dos pecados e purificações dos atos de injustiça, por intermédio dos sacrifícios e esporte agradável para os vivos, e havia também rituais especiais para o defunto [estão igualmente a serviço dos vivos e mortos], o que chamavam funções, que nos livravam dos males naquele outro mundo, sem estas coisas terríveis aguardam aqueles que negligenciarem os sacrifícios. [95]

DeMaris 1995.

            Enquanto DeMaris não necessariamente chega às mesmas conclusões dos Santos dos Últimos Dias, ele tem e usa suas próprias especulações de forma original, ele ainda assim faz alegações que podem ser consideradas de valor para ambos os lados do debate, particularmente concernente ao fato de que a prática Corintiana não era quase certamente uma novidade no contexto do Mediterrâneo:

            Até a presente data nenhuma explanação satisfatória da prática descrita em I Cor 15.29 apareceu, embora não seja por falta de tentativa… Há, de fato, muito pouco no texto para discorrer sobre. Comentaristas perceberam quão pouco o contexto do versículo nos prepara para ele e nos conta sobre o mesmo, O tom e estilo de 15.29 muda abruptamente desde a seção precedente do capítulo 15 [desta forma muito da teoria de Holding de uma bem trabalhada estrutura de retórica, quase jurídica – M.S.], e embora os vv. 30-35 continuem as questões iniciadas no v.29, elas introduzem um assunto inteiramente diferente.

            O versículo por si só é extremamente direto, mas porque Paulo baseou seus argumentos sobre um costume neste ponto, muito continua sem diálogo entre o escritor e sua audiência... .Os destinatários da epístola de Paulo deveriam conhecer o cerne destas questões, destarte presumivelmente a comunidade Cristã Corintiana conhecia sobre batismo pelos mortos. Mais provavelmente, à luz da raridade da prática no antigo Cristianismo, os Cristãos Corintianos batizavam-se pelos mortos... .A maioria dos eruditos compreendeu o Grego como descrevendo um batismo vicário realizado pelos vivos para o benefício dos fisicamente mortos... .Rissi ‘conclui que o significado deva ser de batismo vicário. Por que batismo em favor dos mortos começou a surgir? O que significa isto para os Cristãos Corintianos?’…

            Argumenta que nova idéia vem se olhássemos para os beneficiários do ritual – os mortos – e o tratamento dos mortos no mundo Greco-Romano. Ainda mais, dado quão distintiva a prática era, a clarificação dela virá mais provavelmente a partir de um contexto específico do qual ela se desenvolveu: o clima religioso da Corinto do primeiro século AD… Tanto as antigas sociedades Greco-Romanas devotavam recursos consideráveis aos mortos, em parte por temê-los, mas primariamente porque se pensava que os vivos eram obrigados a ajudar os falecidos a tornarem-se integrados no reino dos mortos... Muitas destas práticas parecem refletir uma crença de que os mortos poderiam se beneficiar de ações realizadas em seu favor, particularmente na sepultura... Existiam clubes a fim de assegurar que seus membros fossem adequadamente pranteados e enterrados, e estes eram muito populares na sociedade Imperial Romana….Este estudo sugere que os Corintianos do primeiro século estavam preocupados com o mundo dos mortos… . Cristianismo Corintiano, a fim de sobreviver e florescer tinha que abordar esta mesma orientação. À medida que o Cristianismo crescia em solo Corintiano ele tornou-se cada vez mais uma comunidade Gentílica, e muitos que adentravam à Igreja traziam consigo uma preocupação com o mundo dos mortos. Enquanto pareça lógico que o batismo, um ritual de entrada ou fronteira de cruzamento, possa ter sido usado vastamente para auxiliar os falecidos a medida que faziam a transição da vida para morte, apenas os Cristãos Corintianos agiam segundo esta lógica. O que fomentou esta prática em Corinto foi uma preocupação local com o mundo dos espíritos, de tal forma que Cristãos do primeiro século de Corinto foram impulsionados para inovar.

             Colocado de forma simples, os Cristãos Corintianos não teriam instituído batismo em favor dos mortos se a religião Corintiana da era dos Romanos não estivesse preocupada como o reino dos mortos… Preocupação com os mortos certamente veio ter expressão em outros círculos Cristãos. Por exemplo, Paulo sentiu-se compelido a assegurar aos Cristãos de Tessalônica sobre o lugar da comunidade de membros falecidos nos eventos da Parousia (I Tess. 4:13-18) . Preocupação pelos ancestrais e a importância do batismo deve ter incentivado a interpretação da visão de Hermas, em que mestres e apóstolos falecidos pregam e batizam entre aqueles que haviam morrido antes do advento de Cristo [cf. D&C 138 dada em tempos modernos a Joseph F. Smith – M.S.]... Ainda, outros Cristãos antigos não estenderam a prática do batismo para seus mortos. Por que não? Por que, segundo o meu argumento, o ambiente religioso local de outras paragens não elevaram uma preocupação geral pelos mortos e pelo mundo dos espíritos... Parece improvável que a configuração e detalhes da situação de Corinto pudesse ter ocorrido em algum lugar mais, mesmo embora temos pouca evidência para dizer que isto não ocorreu...Mesmo em Corinto temos apenas uma referência de Paulo a isto.

             Quanto tempo esta prática Corintiana sobreviveu é incerto, mas a paucidade das referências a isto por escritores Cristãos sugerem um fenômeno não muito difundido nem de longa duração… confirmação do que a maioria dos eruditos do NT compreende que o grego de I Cor 15.29 descreve: batismo pelos mortos significava o batismo realizado por pessoas vivas para o benefício dos mortos… Outras interpretações além destas, ainda que possam ser textualmente possíveis, merecem criticismo porque são elas inconscientes da orientação religiosa da Corinto do primeiro século… Alguns propuseram alterar a aceitada pontuação. Outros intérpretes tomam [hyper] como um sentido final – ‘por causa de’, ou ‘pela causa de’.

             Ambas as interpretações livram a prática de suas ações vicárias e concentram-se no benefício dos mortos, ou seja o foco é para eles ao invés dos vivos. Ao fazer isto, estas alternativas distanciam a prática de seu contexto, uma cultura em que o auxílio dos mortos era tão importante e que assumia que o mundo dos vivos poderiam afetar o mundo dos mortos…Obrigação primária com os mortos na sociedade Greco-Romana tipicamente caía sobre os membros da família, desta forma é provável que aqueles que haviam sido batizados fossem parentes dos mortos….Batismo era mais provavelmente realizado pelos mais recentemente falecidos do que pelos que há muito tempo haviam partido…Tais relatos [conforme Charon no Rio Styx, e referências pseudo epigráficas] expressam bastante vividamente a crença de que os recém batizados enfrentavam uma difícil transição deste mundo para o vindouro, tão difícil que os falecidos precisavam de assistência para alcançarem o outro lado…Batismo vicário era um dentre vários rituais funerários que os Cristãos de Corinto usavam para ajudar o membro falecido da comunidade ao longo da difícil transição entre a vida e a morte….A linguagem batismal de Paulo às comunidades Paulinas invariavelmente concebe partida ou separação de um status prévio e incorporação e integração dentro de uma nova condição: sepultados na morte/levantados em novidade de vida (Rom 6:4; Col 2:12), despindo-se do corpo de carne ou rasgando-se do antigo eu/ revestindo-se com o novo eu (Col. 2:11; 3:9-10; cf. II Cor 5:17), incircuncisos de sua carne/circuncisão de Cristo (Col 2.11,13), antigo status – Judeu ou Grego, escravo ou livre, homem ou mulher/ novo status – unidade em Cristo (I Cor 12:12-13); e assim por diante… Os Corintianos teriam considerado isto idealmente ajustado para assistir o membro falecido da comunidade a deixar o mundo dos vivos e adentrar o mundo dos mortos.

             A partir do ponto de vista da comunidade Cristã, batismo pelos mortos era uma expressão de confiança de que a morte não representava nenhuma ameaça ao Cristão, vivo ou falecido… . Esta compreensão e aplicação do batismo podem ter perturbado Paulo, mas não pelas razões tipicamente oferecidas pelos intérpretes da prática. Por causa de sua menção disto possa implicar tolerância ou aprovação, muitos tentaram distanciar Paulo do batismo pelos mortos ou remover características concebidas como ofensivas a isto. Alguns alegam que Paulo estava argüindo ad hominen ou ex concessu em I Cor 15.29, de tal forma que nem aprovasse ou desaprovasse a prática a que estava se referindo. Ainda que tivesse sido improvável a Paulo se abster de criticar uma prática que ele pelo menos não tolerasse, especialmente quando ele prontamente corrigia más aplicações ou maus entendimentos sobre batismo em outras partes (I Cor 1.10; 10.1-13)… Se batismo pelos mortos perturbava Paulo, teria de ser por outras razões. Aqui está uma possibilidade: sua implícita tolerância ou aprovação disto pode ser devido às mulheres das igrejas Corintianas… Rituais funerários na sociedade Greco-Romana eram abundantemente concentrado nas mãos das mulheres então a tolerância de Paulo do batismo pelos mortos teria acrescentado ao prestígio e influência das mulheres Corintianas… Eruditos concordam que Paulo confiasse em e respondesse a tradição batismal em Romanos 6.1-11, mas discordam sobre a quantidade e caráter da tradição que incluísse ou modificasse… A maioria dos eruditos acha que Paulo escreveu Romanos em Corinto… O que aumenta a probabilidade que a fonte aí para a imagem de sepultamento em Romanos 6, ao invés de batismo vicário, seja um ritual funerário dos Cristãos de Corinto. Inspirado por eles para conectar batismo com sepultamento, Paulo parece explorar em Rom 6.1-11 o que ele implicou em I Cor 15.19 [96] [ênfase acrescentada].

DeMaris 1999. DeMaris levanta um ponto de apoio que os Santos dos Últimos Dias podem usar para explicar a evidente paucidade dos detalhes da liturgia e do ritual no Livro de Mórmon (não somente no Novo Testamento).

            Os trabalhos teológicos e literários do período do Segundo Testamento colocam o ritual como algo periférico, não como o centro de suas obras… eruditos do Segundo Testamento, como todos intérpretes da antiguidade, são obstruídos pela escassez de fontes e quão pouco estas revelavam sobre a performance dos rituais…No caso de batismo em favor dos mortos o que é mais distinto sobre isto é o objeto ou beneficiários do batismo, os mortos, embora não saibamos como os falecidos eram envolvidos no ritual. Atenção a rituais funerários ou de enterro é então de certa forma uma maneira de nos providenciar um contexto ritualístico para esta versão de batismo… Podemos focalizar nossa contextualização de batismo em favor dos mortos ao olhar por tipos de funerais que exibam uma procuração de aspecto substitucionário, pois a maioria dos eruditos toma o Grego de I Cor 15.29 como uma referência a batismos vicários realizados por vivos para o benefício dos fisicamente mortos… O registro de Dio Cassius sobre o funeral do imperador Severo encenado para um antigo imperador, Pertinax (75.4.2-3) realizado sobre uma efígie de Pertinaz, com todos os rituais devidos, porque a cerimônia havia sido realizada impropriamente por Juliano, que não gostava de Pertinax.

             A cerimônia foi também discutida por um outro historiador, Julius Capitolinus, quem a chama de um ‘segundo, funeral imaginário [funus imaginarium: 15.1]… as regras de um clube de enterro de Lanauvium, uma pequena cidade na Itália, datando de cerca de 136 AC… escravos falecidos não eram permitidos pelos seus senhores a realizarem cerimônias de enterro, então os membros realizavam ‘uma cerimônia funeral simbólica [funus imaginarium].’ Os membros do Clube achavam que um ritual vicário poderia efetivamente desobrigar as tarefas do clube para com membros falecidos sob certas circunstâncias… Sêneca relata sobre um oficial civil de 90 anos de idade que tem um funeral para si mesmo enquanto ainda está vivo [Ensaio sobre a Brevidade da Vida]…Tácito, History 2.85-7, relata sobre um ‘funeral fictício’…’ Pelo menos, a adaptabilidade de funerais para situações não-funerárias abre a porta para descobrirmos batismos diferentes daqueles que se podíamos esperar na entrada da comunidade Cristã. Além do mais, dois extraordinários tipos de funeral são dignos de atenção por quão possam corresponder ao batismo pelos mortos: 1. Um rito alternativo ou substituto vicário pelos mortos; 2. Funerais pelos vivos...Aqui, então, temos uma linguagem usada para descrever o batismo pelos mortos que é paralela aos funerais pelos vivos... batismo pelos mortos não aparece misteriosamente, pois em termos de quem a realiza, ambos os rituais invertem a prática ordinária....Batismo pelos mortos cai dentro da amplitude de variação ritualística no mundo Greco-Romano... . Batismo pelos mortos continua a servir como um rito de iniciação, mas fora do cenário típico. Nesta nova circunstância, onde os mortos ao invés dos vivos beneficiam-se desse ritual, o iniciado movia-se não de um grupo externo para o interior de um grupo de cristãos, mas exatamente o oposto, do interior para fora. Como um ritual de iniciação, o batismo em favor dos mortos teria provavelmente apontado para o movimento do membro falecido da comunidade para o mundo dos mortos... No caso de Corinto, se a prática do batismo pelos mortos indica quão importante a ação ritualística era para os mortos, outros rituais do movimento de Cristãos em Jerusalém confirmam a influência e atração pelo funerário...Não é surpresa encontrar elementos funerários no discurso batismal (Rom 6:3-4)...Uma vez que Paulo mais provavelmente compôs sua epístola aos romanos em Corinto, muito tempo após lá morar, é possível que a tradição batismal funerária em Romanos 6 veio dos Corintianos.[97]

Gordon D. Fee: Biblicistas estão em Perplexidade:

            Ninguém sabe de fato o que está acontecendo. O melhor que se pode fazer em termos particulares é apontar o que parecem ser as mais viáveis opções, todavia no final admitir sua própria ignorância.[98]

Dale B. Martin: Tentativas de explicações longe do significado pleno e direto somam-se a apelos especiais:

            A menção de Paulo de que os Corintianos praticavam o ‘batismo pelos mortos’ e embora não esteja precisamente claro o que era esta prática, como sua eficácia tinha efeito, ou mesmo quem exatamente em Corinto acreditava nisto, a prática em si parece sugerir que os Corintianos acreditavam em algum tipo de vida após a morte para os seus entes queridos falecidos. Um pedaço da evidência, embora pequena, era que mesmo os Corintianos que rejeitavam a ressurreição do corpo entretinham uma crença de algum tipo de existência após a morte...Os Corintianos parecem ter sido um pouco mais informados. Alguns deles, pelo menos, são batizados ‘pelos mortos,’ implicando que eles acreditavam em alguma espécie de vida pós morten para seus entes queridos – mesmo talvez, aqueles que não eram batizados durante suas vidas... Se não há ressurreição do corpo, então não há nada a esperar adiante apenas os problemas desta vida, e a própria prática dos Corintianos de batismo pelos mortos é fútil...Paulo tão firmemente assume que a identidade está construída sobre participação que ele pode referir sem objeção à pratica do batismo pelos mortos. Conforme concedi acima, não sabemos quem precisamente estava batizando pelos mortos ou suas intenções em isto fazer. Alguns eruditos, ao indicarem que o próprio Paulo não advoga a prática, tenta distanciar Paulo de seus próprios leitores. Mas suas tentativas de explicar de outra forma esta bizarra crença – que ações realizadas com os corpos dos vivos pudessem afetar os corpos dos mortos – são apenas apelos especiais. Paulo menciona a prática como prova de um vida pós morten para o falecido, e seu argumento depende de certas premissas: que o batismo de um corpo humano incorpora-o ao corpo de Cristo, desta forma demonstrando a conexão entre o corpo Cristão e o Corpo de Cristo, por conseguinte demonstrando a conexão entre o corpo de um indivíduo e os corpos de seus entes queridos. A sensibilidade da lógica que subscreve o batismo pelos mortos é totalmente consistente com a premissa de Paulo de que a identidade é estabelecida pela participação em uma entidade maior.[99]

J. B. McLaughlin sobre a conexão entre a pregação de Jesus aos mortos e os vivos sendo batizados pelos mortos.

            Os apóstolos escreveram algumas coisas que para nós são misteriosas, embora parecesse eles esperarem que seus leitores os entenderiam. São Pedro disse que Cristo pregou àqueles espíritos que estavam em prisão, que haviam esperado pela paciência de Deus nos dias de Noé. E por isto foi o evangelho pregado aos mortos, para que pudessem se julgados verdadeiramente de acordo com os homens na carne, mas que pudessem viver segundo Deus em espírito. [100] …E São Paulo disse que alguns eram batizados pelos mortos [I Cor 15:29]. Embora não percebamos o significado total, muito disto é claro – existiam almas dos mortos esperando para serem trazidas ao céu, e que os Cristãos na terra estavam tentando ajudá-las. Nosso Senhor fala do mesmo mistério: ‘Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora, e agora é, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão...todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz e sairão’ [João 5:25, 28] [101]

Reaume sobre o cenário histórico da prática do batismo vicário:

            Primeiro Coríntios 15.29 tem quebrado a cabeça de muitos estudantes da Bíblia ao longo da história da igreja... . Mais de duzentas soluções interpretativas foram propostas, mas apenas umas poucas permanecem como possibilidades legítimas… Esta prática é também conhecida como batismo vicário, isto é, batismo substitucionário pelos mortos... . Batismo Vicário foi praticado pelos Marcionitas, os seguidores de Cerinto e é presentemente praticado pela Igreja Mórmon [sic]… Parece duvidoso que Paulo tivesse escrito sobre tal prática tão contrária a sua teologia sem a condenar.[102]

F. F. Bruce sobre o significado lingüístico pleno destas palavras, apesar dos esforços dos Biblicistas em divagarem sobre elas:

            O significado prima facie destas palavras aponta para a prática de batismo por procuração. [103]

Goodspeed sobre o significado literal do termo. Dr. Edgar J. Goodspeed, o famoso autor da “Tradução Americana” do Novo Testamento foi entrevistado em 1945 por Paul R. Cheesman, e as notas dessa entrevista são citadas no Apêndice  C de Anderson: 

            Entrevista entre Dr. Edgar J. Goodspeed e Paul R. Cheesman, ocorrida no escritório do Dr. Goodspeed no campus da Universidade da Califórnia em Los Angeles durante o verão de 1945.

Cheesman: Está a escritura traduzida em I Coríntios 15:29 traduzida corretamente conforme encontrada na Tradução do Rei Tiago?

Goodspeed: Basicamente sim.

Cheesman: Você acredita que batismo pelos mortos foi praticado na época de Paulo?

Goodspeed: Definitivamente sim.

Cheesman: A igreja que você pertence pratica isto hoje?

Goodspeed: Não.

Cheesman: Você acha que ela deveria ser praticada hoje?

Goodspeed: Esta é a razão porque não a praticamos hoje. Não o sabemos suficientemente sobre isto. Se o soubéssemos, nós o praticaríamos.

Cheesman: Posso citá-lo como resultado desta entrevista?

Goodspeed: Sim.[104]

            Conforme foi mostrado, Santos dos Últimos Dias não consideram I Cor 15:29 isoladamente, mas o conectam com a pregação aos mortos referenciada em I Pedro 3:19-21 e I Pedro 4:6. Na primeira escritura o tipo de batismo universal é estabelecido (por referência ao dilúvio universal por água), e em I Pedro 4:6 o fato é também estabelecido que isto é também conectado à salvação universal. Muitos eruditos Bíblicos têm tantas dificuldades com estes versículos como têm com I Cor 15;29 pois eles se encontram tão fora de lugar (em suas teologias), mas de fato eles se adequam perfeitamente bem dentro dos escritos apocalípticos sobre a era do Segundo Templo (I Enoque tem uma referência similar, por exemplo no capítulo 22 [105], onde o Sheol é descrito como sendo dividido em 3 partes, onde os espíritos dos mortos esperam a ressurreição final e julgamento). De fato, a própria existência de tais escritos no cânon demonstra que não se pode ser considerar um cânon completo baseado em consistências internas precisamente por causa de tais “hapaxes doutrinários”.[106]

Reicke sobre o tema da salvação universal pregada em I Pedro 4:6:

            Além do mais, versículo 5, estes injuriadores estão prestes a entregarem um relato àquele que está pronto para julgar tanto vivos como mortos. Se o juiz é Deus ou Cristo não está declarado. Por “vivos e mortos” indubitavelmente significa todas as pessoas que já viveram, ou que ainda estarão vivendo quando o julgamento chegar. Que o julgamento é iminente, versículo 6, é também evidente pelo fato que o evangelho já foi pregado aos mortos. Exatamente como isto se sucedeu não está declarado. É possível imaginar a descida de Cristo às regiões inferiores após seu enterro como o período para esta pregação do evangelho, mas informação explícita não é dada. Uma certa relação com I Pedro 3:19 e para a pregação de Cristo aos espíritos em prisão também pode ser assumida, embora os espíritos em prisão não sejam igualados com todos os mortos. Por outro lado estas pessoas estão todas realmente mortas, conforme é evidente a partir da expressão análoga no versículo 5. Sobre eles é acrescentado no versículo 6 de que receberam a mensagem sobre Cristo a fim de serem julgados na carne e vivificados no espírito. Ninguém escapará do julgamento, o qual acontece “segundo os homens”, isto é, pertencem à própria natureza humana que é pecaminosa. Mesmo para os mortos haverá um julgamento na carne através da ressurreição do corpo. E o resultado para cada indivíduo dependerá de seu relacionamento com Cristo. Através disto todos deverão ouvir a mensagem de salvação através de Cristo, os mortos assim como os vivos. O julgamento, entretanto, não é a última coisa, mas um pré-requisito necessário à vida eterna, que significa concordância com natureza de Deus e abrange uma eterna companhia com sua vida. Assim como é recebida através do espírito de Deus, isto significa vida em espírito. Através desta passagem as preocupações do autor são a universalidade do julgamento final... .[107]

Brown sobre a natureza salvífica universal da pregação aos mortos. De Raymond E. Brown, considerado o mais proeminente erudito do Novo Testamento da Segunda metade do século 20: [notas de rodapé incorporadas ao corpo do texto em fontes itálicas menores]

        I Pedro 3:19; 4:6 e a Descida de Cristo ao Inferno.

            Dois textos em I Pedro são importantes para esta questão:

            3:18-20: (Cristo mortificado na carne e vivificado no Espírito) “no qual também foi, e pregou aos espíritos em prisão; os quais noutro tempo foram rebeldes, quando a longanimidade de Deus esperava, nos dias de Noé”, [Isto freqüentemente é pensado como sendo parte de um hino batismal ou confissão comparável ao hino em I Tim 3:16: “Manifestado na carne, justificado em espírito, visto pelos anjos”. A última cláusula aqui é interessante dada a segunda interpretação de I Pedro 3:18-20 explicada acima]

            4:6: "Pois é por isto que foi pregado o evangelho até aos mortos, para que, na verdade, fossem julgados segundo os homens na carne [literalmente, 'de acordo com os homens'], mas vivessem segundo Deus em espírito. ['de acordo com Deus']”.

            Um número de vagos textos do Novo Testamento indicam que Cristo, presumidamente após sua morte, desceu às partes inferiores da terra (Romanos 10:7; Efésios 4:9), para que tomasse de debaixo os santos falecidos (Mateus 27:52, Efésios 4:8), e que ele triunfou sobre os poderes angélicos malignos (Filipenses 2:10; Colossenses 2;15). Entre os apócrifos do 2o século temos na Ascensão de Isaías (9:16; 10:14; 11:23) Cristo repreendendo o anjo da morte antes de se levantar dos mortos e ascender aos céus, após o que, os anjos e Satanás o adoraram. Nas Odes de Salomão 17:9; 42:15 temos Cristo abrindo as portas que estavam fechadas e aqueles que estavam mortos correndo em sua direção. Melito de Sardis (Na Oasch 102) tem uma frase de Cristo dizendo: “Eu sou aquele que venceu o inferno, amarrei aquele que é poderoso, e concedi liberdade para que as pessoas pudessem ascender aos céus”. Mais tarde o Evangelho de Nicodemos tem toda uma narrativa da descida de Cristo ao inferno a fim de livrar os santos do Velho Testamento – a fonte de origem das lendas da "Angústia do Inferno". Do 4o ao 6o século um artigo aparecia nos Credos Apostólicos: “Ele desceu ao Hades”. A cláusula é uma curiosidade no sentido que a antiga igreja nunca decidiu o propósito exato daquela jornada. Na verdade, algumas igrejas modernas apagaram a cláusula como sendo insignificante para a fé contemporânea. Esta é uma reação exagerada, pois certamente é uma forma de expressar figurativamente que a morte de Cristo afetou aqueles que haviam partido antes. Mas de que forma? Referem-se os dois textos de I Pedro à mesma pregação? E qual é a relação entre os textos de I Pedro e a cláusula do Credo? Estas são questões que agora buscamos respostas. Que durante o tridum mortis (três dias [ou parte deles], do crepúsculo de Sexta até a manhã de domingo, durante o período que seu corpo esteve no túmulo [Apesar da parábola em Mateus 12:40, as narrativas do Evangelho não falam que o corpo de Jesus esteve na sepultura três dias, mas apenas que foi colocado na tumba na Sexta-Feira antes do pôr-do-sol e não estava mais lá domingo pela manhã. A Partir do ponto de vista de Deus não haveria nenhuma imensão de tempo desde a sua morte até a ressurreição. Conseqüentemente a este respeito sobre o que estava acontecendo com Jesus entre a morte e ressurreição é um pseudoproblema: de acordo com a fé Cristã ele estava com Deus (nota: contradizendo João 20:17), pois como acreditam boa parte dos Cristãos aqueles que morrem no amor de Deus estão com Deus entre sua morte e ressurreição.), a descida de Cristo ao lugar dos mortos está aberta a duas interpretações principais interligadas com a interpretação dos textos em I Pedro.      

Brown aponta que a duas tradicionais interpretações sobre estas passagens – salvífica e a condenatória – todavia aquela de um requerimento universal para a salvação é a mais antiga das duas:

(1) Para propósitos salvíficos. Esta é a mais antiga interpretação, datando pelo menos do começo do Segundo século. No Evangelho de Pedro 10:41, quando Cristo é trazido de sua tumba por dois imensos anjos seguidos pela cruz, uma voz dos céus pergunta, “Proclamastes àqueles que estão falecidos?” A cruz faz obediência em responder, “Sim”. O contexto sugere que a pregação seria benéfica, tal como claramente afirmado por Justino, Diálogo 72, escrito cerca 160. Clemente de Alexandria (cerca 200) oferece a primeira e atestada interpretação de I Pedro 3:19 nessa linha, uma visão atrativa a Orígenes que sustentava que o inferno não fosse eterno. Uma modificação de abordagem a fim de evitar essa implicativa sobre o Hades sustenta que Cristo foi para o limbo a fim de anunciar aos santos falecidos que os céus não estavam abertos para eles e/ou oferecer aos pecadores uma segunda chance se aceitassem a proclamação. [Uma posterior modificação, proposta hesitantemente por Agostinho, toma lugar da interpretação de Orígines no Ocidente: A proclamação salvífica de Cristo aos desobedientes contemporâneos de Noé não aconteceu após suas mortes mas durante suas vidas no período do Velho Testamento. Isto reflete uma idéia, declarada em outros lugares no Novo Testamento, que Cristo esteve ativo durante o período do Velho Testamento, como um tipo de pré-existência mortal (BINTC 133-34)][108]

            Apenas coincidentemente, a ultima nota de rodapé refere-se a bem comum e sustentada crença SUD de que Cristo era o Jeová do Velho Testamento (todavia mais uma vez, devo lembrar ao leitor biblicista, isto não tem a intenção de ser um texto-prova; por isso minha condicional “apenas coincidentemente…”)

            O Selo como um fio Literário

            Nós passamos por muitas citações de referências pseudoepigráficas, apócrifas, Bíblicas e Patrísticas a fim de demonstrar a ubiqüidade de tanto um reino bipartido entre a morte e o julgamento/ressurreição de um lado, e o extraordinário cuidado que os vivos demonstravam pelos seus mortos – precisamente o oposto que Holding alega fosse o ambiente contemporâneo daquela época. Temos ainda um interessante argumento literário adicional a acrescentar nesta série, o qual é o símbolo metonímico do “SFRAGIS”, ou selo (como em um anel de selo), uma metonímia [109] para o selo colocado na testa dos justos (cf. Apocalipse 7:2-4; em Apocalipse 9 uma praga de locustas é ordenada para destruir apenas aqueles que não tivessem este selo). Simbologia apocalíptica é sempre assediada por suposições, mas acontece que as referências a selos todas têm alguma coisa em comum.[110]

            Seguindo a própria sugestão de Holding de olhar nas fontes extra-Bíblicas (no seu caso, na retórica Greco-Romana), há uma interessante “trajetória”de citações das obras pseudoepigráficas que estão todas conectadas pela idéia do selo sagrado sendo concedido ao iniciado. A bem antiga pseudoepígrafe Cristã, As Odes de Salomão (fim do primeiro – começo do segundo século AD, um livro que circulava entre a comunidade de João em Éfeso, segundo Charlesworth), diz, na 24a Ode:

      “O Sheol ao me ver se estremeceu, e a Morte expeliu a mim e a muitos comigo” (24:11; uma referência da pregação às almas no mundo vindouro); “E aqueles que morreram correram em  minha direção; e clamaram dizendo, ‘Filho de Deus, tem piedade de nós e trata conosco de acordo com tua bondade e resgata-nos das cadeias das trevas e abre para nós a porta pela qual podemos-nos ir ao teu encontro, pois percebemos que nossa morte não nos aproxima de ti. Que possamos também ser salvos contigo, porquanto tu és nosso Salvador.’ Então ouvi a voz deles, e coloquei a fé deles em meu coração. E coloquei meu nome sobre suas cabeças, pois são eles agora livres e são meus.” (24:15-20; ênfase acrescentada) [111]

            Encontramos a mesma ligação entre a pregação aos mortos e o recebimento de um selo no Apócrifo de João, uma obra Gnóstica do começo do 2o século:  

      “E adentrei o reino das trevas e lá permaneci até que entrei no meio da prisão. E os alicerces do caos estremeceram. E escondi-me deles por causa de suas iniqüidades, e eles não me reconheceram... Ainda por uma terceira vez eu... para que pudesse entrar no meio das trevas e nos interiores do Hades. E enchi minha face com a luz das complexões de seu aeon. E entrei no meio de sua prisão, que é a prisão do corpo. E disse, ‘Aquele que me ouve, que possa se levantar do seu sono profundo.’ E ele ouviu e derramou lágrimas. Lágrimas amargas ele enxugou dos seu olhos e disse, ‘Quem é que chama pelo meu nome, e de onde vem esta esperança para mim enquanto estou nas cadeias da prisão?’ E eu disse, ‘Eu sou a Pronóia da pura luz; sou o pensamento do Espírito Virginal, quem o levantou até o lugar honrado. Levanta e lembra que és tu quem ouviu, e segue tua raiz que sou eu, o misericordioso, e guarda-te contra os anjos da pobreza e dos demônios do caos e de todos aqueles que te enganaram, e cuidado com o sono profundo e a clausura dos interiores do Hades. “E o levantei e o selei na luz da água com cinco selos, a fim de que a morte não tivesse poder sobre ele daquele dia em diante”. (ênfase acrescentada) [112]

            E do autoritativo Pastor de Hermas, uma obra do meio do 2o século aceita por um grande números dos Patriarcas da Igreja:

         “e ele pôs um selo sobre eles. E todos aqueles que entraram na torre tinham as mesmas vestimentas, brancas como a neve. E aqueles que haviam desistido de suas barras [rods] verdes quando (os)as receberam, ele os enviou além, dando-lhes uma túnica [branca] e selos. Eu então lhe disse; ‘Senhor, informa a mim o que significa esta árvore. Pois estou perplexo e nada parece ter sido dela cortado; por isto estou perplexo.’ ‘Ouve,’ disse ele; esta grande árvore cuja sombra cobre planícies e montanhas e toda a terra é a lei de Deus que foi dada a todo o mundo; e esta lei é o Filho de Deus pregado até os confins da terra. Todavia o povo que está debaixo da sombra são aqueles que ouviram a pregação,’ e acreditaram Nele; mas o grande e glorioso anjo é Miguel, que tem o poder sobre este povo e é seu capitão. Por isto é ele quem coloca a lei dentro do coração dos crentes; portanto ele próprio inspeciona aqueles a quem ele concedeu, a fim de ver se eles a observaram. Mas tu vês as barras de todas as pessoas, pois as barras são a lei”. [113]

            Richard Anderson notou também esta conexão, particularmente com o batismo, comentando:

            Hermas…é uma fonte de doutrinas e práticas comuns da Igreja Cristã. E ele solda a pregação aos mortos com o batismo pelos mortos. Estas doutrinas aparecem na alegoria da construção da torre, a qual o anjo define como sendo a Igreja. As três camadas mais baixas de pedras representam o alicerce das gerações dos homens justos do Antigo Testamento, com o último e maior número de quarenta representando os “profetas e mestres da pregação do Filho de Deus.” Estes possuíam o selo, claramente definido como batismo pela (1) requisição “que se venha através da água para que possa ser feito vivo”; (2) citação de João 3:5, referindo a água como o caminho para se “entrar no reino de Deus”; e (3) o resumo, o selo, então, é a água.” (ênfase acrescentada). [114]

            Para Santos dos Últimos-Dias modernos, as referências à barra da lei (convênios), o selo, e a túnica branca e a torre, são todas muito familiares – e como fonte unicamente humana, Joseph Smith simplesmente não teve acesso a nada disto. Finalmente, do tão proeminente Clemente de Alexandria (início do 3o século AD):

        "Vem tu também! Oh, homem avançado em idade, deixai Tebas, e lançai de ti tanto a adivinhação e o frenesi Bacanal, permita-te ser guiado à verdade. Dou-te o cajado [da cruz] sobre o qual inclinarás. Haste, Tirésias; crede, e verás. Cristo, por quem os olhos dos cegos recuperam a visão, derramará sobre ti uma luz mais brilhante que o sol; a noite de ti fugirá, o fogo temerá a ti e a morte irá embora; tu, velho homem, que não viste Tebas, verás os céus. Oh verdadeiros e sagrados mistérios! Oh luz imaculada! Meu caminho é alumiado por tochas, e pesquisei os céus e Deus; tornei-me santo enquanto fui iniciado. O Senhor é o hierofante, e sela enquanto ilumina aquele que é iniciado, e apresenta ao Pai aquele que crê, a fim de ser resguardado para todo o sempre. Tais são os devaneios dos meus mistérios. Se for teu desejo, sê tu também iniciado; e tu juntar-te-á ao coral de anjos ao redor do incriado e indestrutível e verdadeiramente único Deus, oh Verbo de Deus, cantai o hino conosco Este Jesus, quem é eterno, aquele que é o Sumo Sacerdote do Deus Único, e de Seu Pai, que ora pelos homens e exorta a todos eles.(ênfase acrescentada)" [115]

            Novamente, vemos a conexão entre a iniciação em ritos sagrados (e acreditamos que o batismo vicário seja um deles) e Deus selando seus ungidos, referências feitas em Apocalipse, mas expandidas sobre as obras pseudo epigráficas as quais eram usadas pelos antigos Patriarcas Cristãos – ainda de novo um conceito que era totalmente estranho ao contexto histórico-social de Joseph Smith. Entretanto, não são apenas os Santos dos Últimos Dias que vêem esta conexão. O bem conhecido erudito Católico Jean Danielou [116] tece uma interessante quadro a partir deste ponto. Em seguida veremos uma seleção de citações de seu livro, A Bíblia e a Liturgia:

            O Sphragis… ‘As cerimônias de Batismo incluíam um ritual que até agora não discutimos, por causa de sua particular importância merece um estudo especial: este é o ritual do sphragis, isto quer dizer, a imposição do sinal da cruz na testa do candidato a batismo.’ [117] Este ritual é uma tradição muito antiga; São Basílio a cita com a oração ad orietem, como estando entre as tradições não escritas que vieram desde a época dos Apóstolos: ‘que nos ensinou a marcar com o sinal da Cruz aqueles que puseram sua esperança no nome do Senhor.’ [118]  A posição deste ritual tem variado: Algumas vezes o encontramos unidos com  o processo no começo do catecumenato, como é o caso na obra de pseudo-Dionísio (i.e. Dionísio, o Areopagita (396 A – 400 D). Teodoro de Mopsuéstia o coloca entre a renúncia de Satanás e o Batismo (XII. 17-8). Mais comumente, parece que foi concedido após o Batismo, e isto é o que encontramos em Cirilo de Jerusalém e Ambrósio. Para eles, isto está associado com a unção do crisma, e está em conexão com este ritual que é mencionado. Além do mais, pode ter sido repetido ao longo do curso de processo da iniciação, como é no presente Ritual para o Batismo de Adultos. A importância do ritual aparece do fato que ela freqüentemente serve para denotar Batismo como um todo, isto freqüentemente chamado como o sphragis. [119] Encontramos isto em várias listas de nomes para Batismos dadas pelos Patriarcas: por exemplo, Cirilo de Jerusalém diz, ‘quão grande é o Batismo; ele é a redenção dos prisioneiros, a remissão dos pecados, a morte do culpado, o renascimento da alma, o garment de luz, o selo santo e inerradicável (sphragis), o veículo para nos carregar até os céus, os prazeres do Paraíso, a petição pelo Reino, a graça da adoção’.[120]

            Gregório de Nazianzus nos dá uma lista similar: ‘Batismo é a participação no Logos, a destruição do pecado, o veículo para no levar até Deus, a chave do reino dos céus, a túnica da incorruptibilidade, o banho do renascimento, o selo sphragis’. [121] A palavra sphragis foi a palavra para o selo usado na impressão de uma marca de cera. Estes selos freqüentemente tinham pedras preciosas colocadas na moldura (“BEZEL”?) ou num lugar que as carregasse. Então, Clemente de Alexandria recomenda que os Cristãos deveriam ter como selos (sphragides) uma pomba ou um peixe ou um navio com as velas hasteadas, mas não figuras mitológicas ou espadas. [122] Estes selos eram usados especialmente para selar documentos oficiais e testamentos. Desta forma, São Paulo usa o símbolo quando diz aos Corintianos que eles ‘são o selo de seu apostolado no Senhor’ (I Cor 9:2), isto quer dizer, que eles são o autêntico sinal de seu apostolado. [123] Todavia, mais particularmente – e aqui chegamos ao simbolismo batismal – a palavra sphragis foi usada para a marca com que um proprietário registrava suas possessões. Utilizada neste sentido, a palavra sphragis tinha muitas aplicações as quais são aqui de particular interesse para nós; a sphragis era a marca com que os pastores marcavam os animais de seus rebanhos a fim de distinguí-los; ainda também, isto era o costume no exército Romano, marcar recrutas como um sinal de seus alistamentos; esta marca era chamada o sinaculum e consistia de uma tatuagem feita na mão ou no antebraço a qual representava uma abreviação do nome do general.[124] Estes vários significados vieram a ser usados pelos Pais da Igreja para conceder diferentes ênfases ao sphragis do batismo. O sinal da Cruz com o quê o candidato para Batismo era marcado em sua testa demonstra que dali em diante ele pertencia a Cristo. E isto poderia significar que ele pertencia tanto ao rebanho ou exército de Cristo.    

            Cirilo de Jerusalém diz aos candidatos: ‘Achegai-vos e recebei o selo sacramental (sphragis místico) de tal forma que você possa ser reconhecido pelo Mestre. Sede vós enumerados entre o rebanho santo e reconhecido de Cristo, de tal forma que possais vós ser colocados à Sua mão direita.’[125] Gregório de Nyssa escreve: ‘Apressai-vos, oh cordeiros, em direção ao sinal da Cruz e ao sphragis o qual salvar-vos-á de vossas misérias.’ [126] Da mesma maneira, Teodoro de Mopsuéstia diz: ‘este sinal com que sois agora marcados, é o sinal de que a partir de agora sois marcados como uma ovelha de Cristo. Pois uma ovelha, tão logo é comprada, recebe a marca pela qual seu proprietário possa ser conhecido; e também ela pasta nas mesmas paragens e está no mesmo rebanho que as outras ovelhas que portam a mesma marca, demonstrando que pertencem ao mesmo mestre. [127] Notemos que este é o aspecto que o Pseudo-Dionísio em Antioquia também enfatiza: ‘pelo sinal... o catecúmeno é recebido dentro da comunhão daqueles que têm por mérito a deificação e quem constituem a assembléia dos santos.’[128]

            Mas o sphragis não só apenas é um sinal de possessão, é também uma proteção. Gregório de Nazianzus une as duas idéias. O sphragis é uma ‘garantia de preservação e um sinal de possessão’ [129] Ele desenvolve esta idéia de forma mais extensiva: ‘Se vos fortificardes com a sphragis, marcando vossas almas e vosso corpo com a unção de óleo [crisma] e com o Espírito, o que pode acontecer a vós? Isto é, mesmo nesta vida, a mais alta segurança que podeis ter. As ovelhas que foram marcadas (ephragismeron) não são simplesmente apanhadas por um truque, mas a ovelha que não porta marca alguma é presa fácil para os ladrões. E após esta vida, podeis morrer em paz, sem temor de sedes privados por Deus do auxílio que Ele vos possa dar à vossa salvação.’[130] A sphragis, a marca que permite o Mestre reconhecer os seus, é também uma súplica de salvação.

            Dídimos o Cego usa a mesma linguagem: ‘Em muitas coisas, mas acima de tudo no que concerne o Santo Batismo, a escritura parece mencionar, por causa de Sua identidade da essência da ação com o Pai e o Filho, apenas o Santo Espírito e Sua marca salvífica com a qual fomos selados, sendo restaurados ao nosso primeiro semblante. Pois a ovelha que não é marcada (asphragiston) é uma presa fácil para os lobos, não tendo o auxílio do sphragis e não sendo reconhecida como as outras demais pelo Bom Pastor, uma vez que não conhece o Pastor Universal.’[131] O sphragis imprime na alma a imagem, a semelhança de Deus, conforme o que o homem foi criado desde o começo.[132]

            E Gregório de Nice em seu ‘De baptismo’, no qual ele urge os procrastinadores a se batizarem, dizendo ‘A alma que não foi iluminada e adorada com a graça do renascimento – Eu não sei se os anjos a recebem após a separação do corpo. E na verdade, como poderiam isto assim o fazer uma vez que não possuem marca (asphragiston) e não carregam com ela o sinal de quem é seu proprietário? Na verdade é carregada pelo ar, vagando errante e sem descanso, sem que ninguém a procure, uma vez que não tem dono. Ela procura repouso e não o encontra, chorando em vão, e inultimente arrependida.’[133] {Nota do Tradutor: cf. com Alma 34:35} O sphragis não é apenas uma marca daqueles que pertencem ao rebanho de Cristo, é também um sinal de nosso alistamento em Seu exército. Aqui passamos para um diferente tema. Cristo não é somente o Pastor. Ele é também o Rei que chama os homens a se unirem em Suas forças. Ao dar-lhes nomes, no começo das cerimônias de Batismo, os candidatos responderam este chamado e se alistaram. Cirilo de Jerusalém escreve, 'a inscrição de seu nome tomou lugar, e o chamado para entrar em campanha.' [134] [Aqui especificamente o ritual das ordenanças vicárias está amarrado juntamente com o erguimento do Reino, um pré-requisito para a entrada no Reino Celestial – M.S.].

            Teodoro de Mopsuéstia conecta este simbolismo com aquele do rebanho, ‘este sinal, com o qual estais agora marcados, é o sinal de que agora estais marcados como ovelhas de Cristo, como soldados do Reino dos céus... O soldado escolhido para o serviço, achando-se digno, por causa de seu físico e saúde, primeiramente recebe em sua mão uma marca mostrando a qual rei ele daquele momento em diante serve; da mesma forma vós agora, fostes escolhidos para o reino dos céus, e podereis ser reconhecidos, quando qualquer um vos examinar, como um soldado do reino dos céus.’ [135] [Isto, também tem um significado especial para os Santos dos Últimos Dias, os quais têm um meio por onde podem ser reconhecidos por Cristo como alguém que já passou pela crisma, ou o que agora chamamos os ‘lavamentos e unções’ no templo – M.S.] 

            Cirilo de Jerusalém define o significado deste engajamento: ‘tal como aqueles que estão prestes a saírem em campanha examinam a idade e saúde de seus recrutas, assim faz o Senhor, a medida que Ele alista suas almas, examina os seus desejos. Se qualquer um retém alguma hipocrisia oculta, Ele o rejeita como inadequado para o combate espiritual; se Ele o encontra digno, imediatamente Ele o confia para Sua graça. Ele não dá coisas sagradas aos cães, mas tão logo vê Ele uma consciência justa, ele imprime seu maravilhoso e salvífico sphragis o qual é temido pelos demônios e reconhecido pelos anjos, tanto que aqueles fogem e esses últimos o acompanham como um amigo. Aqueles então que recebem este sphragis salvífico devem ter uma vontade que se coadune com isto.’[136] O caráter militar do sphragis é ainda mais aparente em uma outra catequese (de Cirilo de Jerusalém): ‘cada um de nós vem para se apresentar diante de Deus na presença de inumeráveis exércitos de anjos. O Santo Espírito marca vossas almas. Vós ides a fim de alistar-se (stratologeisthai) no exército do grande rei.’[137] De igual maneira lemos em São João Crisóstomo: ‘como o sphragis é impresso nos soldados, assim também é o Santo Espírito impresso sobre aqueles que crêem.’[138] Encontramos este simbolismo novamente em outra passagem de Cirilo de Jerusalém, mas aplicada desta vez não ao caráter sacramental, mas ao sinal da Cruz colocado na testa: ‘após minha batalha sobre a cruz, dei a cada um de meus soldados o direito de usar em suas testas a sphragis real.’[139]

            Devemos notar de passagem que esta idéia do Batismo como um alistamento no serviço de Cristo, sancionado pela sphragis que é o selo da aceitação de cristo, é um tema familiar à Antigüidade Cristã. Foi tratado por Harnack em Militia Christi, por Doelger em Sacramentum Militae (Ant und Ch, II.4). O alistamento inclui a imposição do sphragis, posto o nome nos registros, e um juramento; então era fácil comentar sobre as cerimônias de Batismo com a ajuda destas imagens. Sabemos particularmente que nos autores Latinos, e especialmente Tertuliano, a palavra sacramentum é usada em direta conexão com o juramento militar, trazendo ao Batismo o aspecto de um alistamento militar no serviço de Cristo. Além do mais este vocabulário militar vem desde São Paulo, quem fala da armadura do Cristão e de suas batalhas. A comparação do novo Cristão a um jovem recruta é especialmente comum; desta forma São Gregório de Nazianzus escreve: ‘aquele que apenas recentemente recebeu o banho da regeneração é como um jovem soldado que acaba de ter lugar entre os atletas, todavia ainda não provou seu valor como um soldado.’[140]

Batismo era para ser considerado a partir de um contexto externo

            Notamos no decurso das páginas precedentes que um dos pontos mais freqüentemente trazidos pelos Patriarcas da Igreja concernente ao sphragis é que isto faz com que o Cristão seja temido pelos demônios. Somos mais uma vez trazidos de volta a este aspecto central do Batismo e da vida Cristã em geral entre os primeiros Cristãos. A imposição da Cruz no Batismo é uma fase da luta contra os demônios que, conforme temos visto, Batismo era considerado pertencer a partir de todo um contexto externo... Através do batismo (o demônio) fora conquistado, marcado com o sinal da Cruz, o recém batizado não mais pertencia a ele, de agora em diante o Cristão precisava apenas fazer este sinal a fim de repelir os ataques do demônio e expulsá-lo.[141]

             Isto noz traz a um novo aspecto do simbolismo do sphragia. Mencionamos que para o discurso comum a palavra foi usada para a marca deixada tanto com os soldados como com as ovelhas, mas ainda não mencionamos um terceiro uso, aquela marca dos salvos... . Santo Ambrósio escreve: ‘salvos são marcados com o sinal de seu mestre [142]; chamamos esta marca sphragis ou estigma, e sua impressão estigmatização... . Prudêncio relata que, para a consagração de um devoto no culto de Dionísio, agulhas vermelhas pelo fogo eram usadas para fazer o sphragis [143] Heródoto fala de um sacerdote de Herácles quem, tendo se consagrado a seu deus, sustentava os estigmas, as marcas sagradas, de tal forma que ninguém era permitido por nele as mãos [144]. Isto traz um pouco de luz sobre a passagem de Gálatas 6:17 ‘Daqui em diante ninguém me moleste; porque eu trago no meu corpo as marcas de Jesus.’ O costume de tatuar o corpo estava em uso entre os Cristãos: ‘muitos se tatuavam na mão e no braço com o nome de Jesus ou com a cruz [145].

             Mas a fim de interpretar este aspecto do sphragis, não precisamos procurar por analogias no mundo Grego. Pois a imposição de uma marca por Deus tornando o indivíduo inviolável é encontrada na Bíblia. O primeiro exemplo é aquele de Caim, a quem Deus o marcou com um sinal de tal forma que ninguém pudesse matá-lo (Gen 4.15). Este sinal é um de proteção; é a declaração de proteção divina do homem pecador. Em Ezequiel, lemos que os membros da futura Israel carregam o sinal de Deus em suas testas (9.4). Aqui, então, temos a tipologia primária do sphragis. E é digno de nota que este sinal é um “T” para o Novo Testamento também, no Apocalipse, mostra os santos marcados com o sinal do Cordeiro (Apoc. 7.4) e este sinal é provavelmente aquele da Cruz, isto é, um “T” [está se referindo especificamente à letra grega maiúscula ‘Tau’, freqüentemente chamada de “Cruz Grega” – M.S.]. Seja isto como for, vemos o significado que foi dado ao sphragis batismal ao longo destas linhas: isto marcava o caráter da inviolabilidade do Cristão. E isto está diretamente conectado ao próprio sinal da Cruz. Pois foi pela Sua Cruz que Cristo espoliou as principalidades e os poderes. Daí por diante eles foram conquistados. E pelo Batismo o cristão compartilha esta vitória de Cristo. Desta maneira as forças do mal não têm poder sobre ele.

             Isto é porque ele precisa apenas marcar-se com o sinal da Cruz a fim de lembrar estas forças de sua derrota e colocá-las para fugir. Isto é verdadeiro sobre tudo do rito batismal em si, conforme Cirilo de Jerusalém explica: ‘a invocação da graça, marcando sua alma com este selo (sphragis) permite que vós não sejais engolidos pelo demônio.’ [146] Cirilo de Jerusalém escreve: ‘o sacerdote te marcou na testa com o sphragis para que tu possas receber a impressão dos selos, para que tu possas ser consagrado a Deus. [147] E mais adiante [Cirilo ainda escreve]: ‘o Senhor não dá coisas santas aos cães, todavia quando Ele vê uma consciência justa, Ele imprime nela Seu santo e maravilhoso sphragis para que os demônios temam.’ [148] Mas falando do sphragis, Cirilo não quer dizer somente a imposição do sinal da Cruz no Batismo, mas também do costume Cristão de marcarem-se com a Cruz em suas testas em todas as circunstâncias da vida: ‘não nos envergonhemos da Cruz de Cristo, mas mesmo se alguém mais concilie isto, carregai a marca publicamente em vossas testas [sphragizou] de tal forma que os demônios, ao verem o sinal real, tremerão e por-se-ão a fugir para bem longe. Fazei este sinal [semeion] quando comeres e quando beberes, quando vos sentares, quando fores para o leito, quando levantares, quando falares – em uma palavra, em todas as ocasiões.[149] Mais adiante, {Cirilo} retoma a idéia: ‘Não nos envergonhemos de confessar o Crucificado. Façamos o sinal da Cruz [sphragis tou stauro] com segurança em nossas testas com nossos dedos, e desta maneira em todas as circunstâncias: quando comermos e quando bebermos...entrarmos...sairmos, antes de dormir.... Aqui está uma grande proteção que é de graça para o pobre e fácil para o fraco; uma vez que a graça vem de Deus. É um sinal para os fiéis e um terror para os demônios. Na cruz, Ele triunfou sobre eles; e desta forma, quando eles o vêem, eles se lembram do Crucificado; eles temem Aquele Quem esmagou as cabeças dos demônios’[150].

             Antônio dá a eles mais atenção do que ele deu aos demônios, vem para porta e faz-lhe a promessa para irem embora: ‘marcai-vos’ [sphragizate heautousi], disse ele, ‘e ide em segurança.’ E então iam embora, fortificados com o sinal [semeion] da Cruz.[151]

             Os vários significados do sphragis que estamos estudando até agora têm sido majoritariamente conectados com o uso da palavra no mundo Grego. Mas um último teste de São Cirilo nos coloca em um uma outra linha de descoberta, apontando para um novo simbolismo e inquestionavelmente nos colocando no caminho do verdadeiro significado deste ritual. ‘Após a fé nós, como Abraão, recebemos os sphragis espirituais, sendo circuncidados no Batismo pelo Espírito Santo.’ [152]

             São Paulo freqüentemente alude aos sphragis. Por exemplo, na Epístola aos Efésios 1.13, Romanos 4.11... O uso da palavra sphragis para descrever circuncisão é freqüentemente encontrado em outras situações. Nós não a encontramos na Septuaginta; São Paulo é o primeiro a empregá-la [Romanos 4.11]. Mas após seu exemplo, os Patriarcas a usam freqüentemente. Para citar apenas um exemplo, Eusébio de Cesárea escreve ‘Abraão, quando era um homem avançado em idade, foi o primeiro a submeter-se a circuncisão de seu corpo, como um tipo de selo [sphragis], passando este sinal àqueles que deveriam dele ter nascido como uma marca de sua filiação a sua raça’ [153] Mas a circuncisão era apenas uma figura; o verdadeiro sphragis é aquele do Novo Convênio. Isto é sugerido por São Paulo em [Gálatas 6.14-17]... .Talvez há nestes estigmatas uma alusão às marcas dos sacerdotes pagãos. Mas o texto inteiro nos leva a uma diferente conclusão: quando São Paulo considera  ser o sinal de sua dignidade, o que o torna uma pessoa consagrada, não mais é a circuncisão, é a Cruz de Cristo. E ele carrega em seu corpo as marcas de sua Cruz. Ele recebeu estas marcas pela primeira vez quando se tornou uma nova criatura, quer dizer, no Batismo.

             "Este mesmo contexto batismal parece estar por trás de um texto do Pseudo-Barnabé: ‘vós podereis dizer, talvez que (o povo Judeu) foi circuncidado a fim de estabelecer um selo [sphragis] no Convênio. Mas os sacerdotes dos ídolos são também circuncidados. Pertencem eles ao Convênio? Aprendei que Abraão, quem foi o primeiro a ser circunciso, isto o fez em espírito, tendo seus olhos em Jesus"[154]

            Ao longo de todos estes textos, vemos o paralelismo sacado entre a circuncisão e o sphragis. Isto é explicitamente formulado por Asterius de Amasea: ‘porque circuncisão acontece no oitavo dia? Porque durante os primeiros sete, a criança estava envolta em panos, mas no oitavo, liberta dessas faixas, ela recebe circuncisão, o sinal do selo [sphragis] da fé de Abraão. E isto também tipificava o fato que, quando carregamos os sete dias de vida, isto quer dizer: as cadeias do pecado, devemos, no fim do tempo, quebrar estas cadeias e, sermos circuncisos pela morte e ressurreição, como se no oitavo dia abraçássemos a vida de anjos. E foi para ensinar os Cristãos que, mesmo antes deles os enrolassem em roupas, eles deveriam marcar seus filhos com o selo [sphragis] pelo Batismo nas circuncisões de Cristo, conforme diz Paulo [Col 2.11-13’. [155] Gregório de Nazianzus escreve ‘circuncisão era concedida no oitavo dia, era um tipo de símbolo do sphragis.’ [156] Justino escreve, ‘o preceito da circuncisão, ordenando que crianças sejam circuncidadas no oitavo dia, é o tipo da verdadeira circuncisão a qual circuncida vós do erro e do pecado por Aquele quem se levantou dos mortos no primeiro dia da semana, nosso Senhor Jesus Cristo. Pois o primeiro dia da semana é também o oitavo’[157]... .Mais luz é também lançada sobre outro aspecto do sphragis e do Espírito Santo (Efésios 1.13) embora o caráter sacramental da sphragis não seja ainda deixado claro. Esta relação é também encontrada nos Patriarcas, e desta vez dentro de um contexto que é explicitamente um contexto de adoração. Desta forma Cirilo de Jerusalém lembra ao batizado ‘como o espírito [sphragis] da comunhão com o Espírito Santo foi a ele concedido. [158]

             Que o sphragis tenha tantas implicações é certamente devido ao fato de que muitas tradições se convergiram neste ritual. E se agora nós tomamos uma vez mais as características pelas quais os Patriarcas definiram o sphragis batismal, vemos que há uma muito importante que ainda não foi discutida: isto é, sua indelebilidade. Encontramos nos escritos de Cirilo de Jerusalém a expressão, ‘o sphragis santo e indelével.’ [159] E em outro lugar ele escreve: ‘Possa Deus dar a você o selo não facial do Espírito Santo para a vida eterna... [161]. Isto é freqüentemente interpretado, de acordo com o imaginário Grego, como um indelével selo impresso na alma. Mas a imagem é uma muito material. Em realidade, a natureza não facial do caráter batismal vem do fato de que está fundada na irrevocável promessa de Deus. O sphragis do batismo, então, significa um contrato de Deus com a pessoa batizada por onde Deus lhe concede irrevogavelmente um direito às bênçãos da graça. O batizado pode abandonar de per si de tomar as vantagens deste direito, mas ele não pode proporcionar que o direito em si seja revogado...  

            Podemos ver que toda a teologia do caráter sacramental está atada aqui em embrião, como Santo Agostinho fê-la mais precisa contra os Donatistas ao condenar a repetição do Batismo... . Este argumento foi proposto por São Paulo, mesmo antes de Santo Agostinho: 'Embora o Espírito Santo não se misture com aqueles que são indignos, não obstante, de uma certa forma, ele parece permanecer presente com aqueles que uma vez foram marcados com o selo [sphragis], esperando suas salvações pela conversão. É apenas à morte que Ele será totalmente tomado da alma que profanou a graça' [162]. Agora podemos perceber a riqueza da doutrina do sphragis, como de imediato um rito especial, e um aspecto do Batismo. Está bastante claro que é o batismo em si que é o selo do convênio. Conforme São Cirilo diz em uma breve fórmula: ‘Se o homem não recebe o sphragis pelo Batismo, ele não entrará no reino dos céus’ (cf. D&C 132 para uma referência moderna do “novo e eterno convênio” – MS).[163] Mas a diversidade de rituais significa trazer de uma maneira visível as riquezas realmente efetuadas pelo próprio Batismo: os garments brancos, a restauração da incorruptibilidade, a imersão, a destruição do homem de pecado; a sphragis, o novo convênio [164] (ver também D&C 132 mais uma vez).

            Para resumir tudo isto em um aforismo bem curto: “A contemplação da inquebrantável continuidade da vida ‘de eternidade em eternidade’ é o próprio propósito e função do templo”. [165]

Paralelos com o Purgatório

            Esta é uma seção que Holding não leva em conta, mas o purgatório, embora um desenvolvimento relativamente posterior como um reino de penitência pré-julgamento no pós-morten dentro da igreja Católica, é um que tem alguns fortes paralelos com o conceito SUD de um mundo espiritual dividido em duas seções: Paraíso e o Mundo Espiritual. Ela sustenta a doutrina das ordenanças vicárias pois um mundo espiritual ao estilo SUD dá aos vivos tempo para trabalharem em favor dos mortos porque os mortos não são condenados (ou enviados ao céu) imediatamente após a morte, mas após o Julgamento Final – contrário a maioria dos sistemas de crença dos Protestantes. Portanto é uma doutrina companheira importante, como era, àquela das ordenanças vicárias. A natureza bi-partida disto, e o fato que isto jaz entre a morte e a ressurreição e o Julgamento Final é o que nos interessa, não necessariamente os detalhes penitenciais [gaudy] que pode se ler num Purgatório, como na parte da Divina Comédia de Dante.

            Podemos ver os primórdios desta doutrina (tanto a correta SUD como a herética Católica – N.T. segundo a perspectiva SUD, é claro, católicos provavelmente inverteriam os adjetivos), nos escritos dos Patriarcas da Igreja ante-Niceianos. Segundo LeGoff, “Orígenes em última análise ver apokatastassis como um processo de purificação gradual através da penitência.”[166]

             Entretanto, nesta visão do outro mundo um número de ingredientes do verdadeiro Purgatório estão faltando.

             Em adição a citação acima por Trumbower de LeGoff (ver acima), Trumbower sumariza a crença no pós-Nicéia, mas da antiga igreja medieval, numa crença em um Purgatório bi-partido.

             Enquanto Católicos ocasionalmente usarão 2 Macabeus 12:43-45 como um texto-prova para o Purgatório, eles não se baseiam sua doutrina nesta escritura Apócrifa (eles não são Biblicistas, desta forma não é surpresa que eles simplesmente vejam um eco do Purgatório aqui, da mesma maneira que vemos um eco do batismo vicário em I Cor 15;29). Mas a primeira menção na história que podemos encontrar (atualizado segundo LeGoff em 1981), é num Patriarca da Igreja da metade do terceiro século, Cipriano, quem escreveu em sua Carta a Antonino que eles distinguia entre dois tipos de Cristãos: “é uma coisa esperar pelo perdão e uma outra chegar em glória; é uma coisa ser enviado à prisão [ao cárcere] para ser solto apenas quando o último ceitil for pago e uma outra receber imediatamente o galardão da fé e virtude; uma coisa é ser purificado e aliviado de seus pecados através de uma longa penitência no fogo e outra coisa ter todas as suas faltas lavadas pelo martírio; e é uma coisa ser contido pelo Senhor no Dia do Julgamento e outra coisa é ser coroado por ele imediatamente.”[167]

             Mas as raízes de um reino bi-partido que existem entre a morte e o Dia do julgamento (e/ ou a ressurreição) vai ainda mais longe. Por causa de suas inclinações milenaristas (de forma alguma incomum à época), Orígines é vago sobre quanto tempo este reino duraria – isto é, ele pensa que o tempo será curto tal como a segunda vinda de Cristo é iminente – mas ele ainda se refere a isto como um reino separado e bi-partido: “Ele assegura seus leitores que os justos vão para o Paraíso no momento em que morrem, mas este Paraíso, ele afirma, é diferente dos Céus, em que a alma chega apenas após o Último Julgamento e uma prova de fogo, uma prova que pode ser curta ou durar por um longo período de tempo”. [168]

             LeGoff vê a mesma evidência de que os Patriarcas da Igreja viam o mesmo tipo de ciclo apostasia-restauração que os Santos dos Últimos Dias vêem, embora ele não necessariamente usasse nossa linguagem. Ele realmente escreve, entretanto, que a “... interpretação de Cipriano é típica de uma idéia evolucionária do Purgatório, de acordo com a qual a doutrina Cristã fez um progresso lento, mas constante em direção a uma crença que acreditamos esteve presente no dogma Cristão, em embrião, desde o princípio”.[169]

            Mais uma vez, a imparciabilidade força-me a apontar que LeGoff não concorda com isto, assumindo que os Patriarcas da Igreja retro-lançaram sua crença até os tempos Bíblicos, desta forma tem cuidado ao usar um argumento deste tipo. Mas isto é quase nada para nossos críticos também, pelo menos para aqueles que são Biblicistas, uma vez que o criticismo histórico de LeGoff demoliria também a historicidade da Bíblia na forma atual. De qualquer maneira, LeGoff também cita de Patriarcas da Igreja da época do Concílio de Nicéia em diante e de outras fontes tais como Lactâncio (a mais antiga testemunha, além de Orígenes), e então movendo para a época pós-Niceiana e ao começo da Idade Média Hilary de Poitiers, Ambrósio, Jerônimo, Ambrosiaster (um pseudônimo para uma pessoa cuja identidade é desconhecida mas que viveu na segunda metade do 4o século).[170] Hilário acreditava que “os justos esperam o Último Julgamento no seio de Abraão, enquanto pecadores são atormentados pelo fogo.” Ambrósio cria, “que as almas dos mortos esperavam pelo julgamento em diferentes ‘habitações’, como está no Quarto Livro de Esdras,” embora ambas as crenças destes homens fossem de alguma forma mal concebidas; Ambrósio achava que todos que fossem salvos pelo Sacrifício Expiatório, as orações dos vivos poderiam ajudar a aliviar o sofrimento dos mortos, que os sufrágios poderiam ser úteis em mitigar as penalidades a serem cumpridas no outro mundo. [171] A crença de Jerônimo, aquele grande tradutor Latino, cria em “Assim como acreditamos que os tormentos do Demônio, de todos aqueles que negaram a Deus, dos profanos que disseram em seus corações, ‘não existe Deus,’ serão eternos, assim também cremos realmente que o julgamento dos pecadores Cristãos, cujas obras serão testadas e purgadas no fogo será moderado e misturado com clemência”. Embora sua alocação temporal não seja clara, a bi-partição da natureza do mundo pós-morten o é. [172].

             LeGoff põe a culpa para a evolução destas antiga idéias de um reino bipartido onde esperamos o Julgamento e Ressurreição aos pés de – sem surpresas para os Santos dos Últimos Dias – Agostinho. Ironicamente, Agostinho não estava particularmente interessado na doutrina do Purgatório, mas escreveu algumas coisas sobre isso, e “solidificou” a crença em um reino bipartido no Purgatório mais ou menos como presentemente compreendida. Na opinião deste autor, colocada em outro lugar desta revisão, Agostinho é mais responsável pela apostasia do antigo Cristianismo pela adição e subtração de doutrinas sob a influência do Médio Platonismo, do que qualquer pessoa mais entre Constantino e Tomás de Aquino. Então é com Agostinho que Santos dos Últimos Dias tomam nossa partida da doutrina primitiva à medida que ele a desenvolvia (distorcendo-a). Pela época da Divina Comédia de Dante até mesmo a “geografia” do Purgatório estava estabelecida (conforme colocada em excruciante detalhe no Purgatório, o segundo volume destas séries.[173] Mas o fato de que o Purgatório tinha uma “geografia”, embora não uma geografia física, nem terrena, é enfatizado em obras como a do Venerável Beda “Visão de Drythelm,” a qual indicava um “Purgatório penitencial no nordeste” e um “Purgatório de espera no sudeste.” [174] Segundo uma antiga visão do 7o século pelo espanhol Abbot Valera que relata “A Visão de Bonellus,” em que Bonellus percebe que o sistema do purgatório é dualístico: “um lugar, não nomeado, é muito agradável, o outro é um abismo (abyssus) chamado inferno”. [175]  

Batismo pelos Mortos e o Problema da Apostasia

A última flecha de Holding em sua crítica é a suposta dificuldade que os Santos dos Últimos Dias enfrentam para provar que o batismo vicário foi perdido na “apostasia geral”.

             Não deve ser surpresa para qualquer historiador que o grande silêncio que se estabeleceu sobre o mundo Mediterrâneo no segundo século, dado os grandes levantes que ocorreram durante o que foi um período crítico da história Cristã, é uma das razões que este tipo de argumento a partir do silêncio tomado por Holdings é tão perigoso. Apenas para os iniciantes, Paulo refere-se em “Primeiro” Coríntios a uma epístola anterior. Então o que hoje chamamos I Coríntios deveria ser II Coríntios e o que chamamos II Coríntios deveria ser realmente III Coríntios. Não temos pista alguma do que realmente o I Coríntios continha. 

             Mas este é apenas um exemplo sobre o grosso véu que parece ter se abatido sobre a Igreja naquele período crítico de sua história. Mesmo a idéia de um cânon teria sido estranha para eles. Conforme Metzger diria na introdução do seu livro sobre a história do cânon:

             O reconhecimento do status canônico de vários livros do Novo Testamento foi o resultado de um processo longo e gradual, no curso do qual certos escritos, considerados como autoritativos, foram separados de um corpo muito maior da antiga literatura Cristã. Embora isto seja um dos mais importantes desenvolvimentos no pensamento e prática da antiga Igreja, a história está virtualmente silente quanto ao como, onde e por quem tudo isto começou. Nada é mais assombroso nos anais da Igreja Cristã do que a ausência de relatos detalhados de um processo tão significativo...[176]

             É uma premissa moderna assumida pelos Biblicistas que a Bíblia foi alguma coisa que surgiu do nada, ou simplesmente apareceu, criada em perfeição e tem sempre sido o que é hoje – além do mais por que usariam eles do texto-prova da admoestação de Timóteo sobre as escrituras: “Toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça;” [II Tim 3:16] como um argumento contra a revelação contínua, o Livro de Mórmon e tudo o mais, ainda quando o Novo Testamento não estava completo até o fim do 4o século pelo menos? As escrituras que Timóteo estava se referindo à época poderiam ser apenas o Velho Testamento, é claro. E foi um “herético” - Marcião – quem primeiro propôs a idéia de um cânon pós Velho Testamento dos escritos de Jesus e dos apóstolos. Antes do complemento do cânon conforme o conhecemos, o termo pode apenas ter um sentido geograficamente relativo; isto é, cada igreja foi deixada pelos seus próprios meios a decidirem quais os escritos e quais tradições elas iriam adotar. Por que o livro sobre o qual muitas igrejas estavam inquietas – Apocalipse – foi conservado no cânon, enquanto livros sustentados como autoritativos e em grande estima por algumas igrejas e alguns Antigos Patriarcas, como a Didaché e o Pastor de Hermas foram deixados do lado de fora? Biblicistas dependem de um registro cuja compilação e história nem eles possuem certeza, ou dos quais são totalmente ignorantes – faz-me lembrar de uma citação infame de um governador do Texas que “se o Inglês foi bom o suficiente para Jesus, também é suficientemente bom para as crianças em idade escolar do Texas.”[177] 

             Há uma razão por que Biblicistas são ignorantes deste processo? Harold Bloom, um dos mais proeminentes intelectuais americanos modernos, parece nisto acreditar.  Falando especificamente sobre a facção Fundamentalista dos Batistas Sulistas, ele escreve algumas duras palavras, todavia palavras que aqueles que argúem contra o conceito SUD de uma apostasia precisam escutar:

             ….A história Americana providencia o útil exemplo do difamado partido político do século dezenove chamado os Sabem-Nada (Know-Nothings), o qual é um nome mais do que apropriado para os dominantes reacionários entre os Batistas do Sul. É especialmente aplicável porque eles não sabem absolutamente nada, incluindo a Bíblia, a qual carregam debaixo do braço, mas aparentemente nunca a leram....

             O cenário por trás do gole dos Sabem-Nada na Convenção Batista do Sul de 1979 retrocede a um tempo bem mais distante... por volta de 1870, uma força pré-milenialista começou, com o senso crescente de um novo dispensacionalismo, o qual atacou nossa era, denunciou os supostos progressos e reafirmaram o ultra-supernaturalismo. Os dipensacionalistas, os quais se tornaram autênticos Fundamentalistas, primeiramente circularam o termo “inerrância” no que concerne a Bíblia. Os Sabem-Nada de Nashville e Dallas assumiram o termo, mas originalmente isto tinha um significado factual, na verdade, até empírico. Deus havia criado tanto o cosmo como as Escrituras, de tal forma que cada um manifestaria uma liberdade de qualquer erro em design. A Bíblia, como o universo, cederia tudo a uma busca Baconiana dos fatos.... A tragédia da Convenção Batista do Sul é o resultado de uma conspiração puramente política e social que ainda se mascaram como um movimento religioso. Seu antiintelectualismo irredutível nos faz lembrar do Fascismo Espanhol de Franco; os Sabem-Nada Batistas são os herdeiros da cruzada de Franco contra a mente, e não os que foram legados do Gresham Machen. Mas o fascismo nunca se domesticou como um termo Americano, então continuarei a empregar o termo Sabem-Nada como o epíteto mais acurado até aqui. 

             O pietismo ou quase misticismo da experiência de fé dos Batistas Sulistas não providencia uma defesa mundial contra uma cruzada dos Sabem-Nada. Nenhuma versão de religião que fundamenta tudo sobre uma amizade pessoal com Jesus vai educar seus seguidores contra conspiradores.... A Bíblia é o mais difícil de todos os difíceis livros. O declínio geral na habilidade de ler quase qualquer coisa na era da televisão tornou a Bíblia quase impossível de ser lida a todos exceto para uma elite. Considere então o alívio que os Batistas Sabem-Nada trouxeram consigo quando tomaram conta da Convenção de 1979 e daí por diante. Você não precisa mais ter o fardo de ler a bíblia por você mesmo. Criswell faria isto por você, e lhe asseguraria que seu significado primário seria sua inerrância. Isto não requereria nenhuma interpretação, mas apenas assentimento, um assentimento sem gramática, compreensão ou mesmo coerência. Ellen Rosenberg, que é “grimly”e respeitosamente bastante engraçada sobre esta questão, cita um burocrata da igreja dos Batistas Sulistas como dizendo: “Nós nos mantemos unidos em Espírito, não com palavras.” (Ainda que Fundamentalistas tenham a capacidade de menosprezar nossa idéia SUD de um testemunho espiritual como um “arder do coração”! De volta a Bloom)

             Este é o ponto crucial da questão, se você ouvir um áudio-teipe pelo venerável Criswell em que ele se propõe a interpretar um texto bíblico, você ouve, não um exegeta, mas alguém que não ainda percebeu que a Bíblia é escrita em palavras. A desconfiança dos Batistas do Sul na linguagem ... torna-se um ressentimento positivo, quase um ódio pela linguagem da parte dos Sabem-Nada. O obscuro, talvez permanente, temor e desgosto pela linguagem em tantos da classe trabalhadora dos Batistas do Sul fazem deles as inevitáveis vítimas dos Texanos Criswelitas. A sua Bíblia inerrante, a eles lhe são assegurados, não foi apenas escrita por Deus ou por profetas inspirados, mas também criada por Deus. [Em outras palavras, Inerrantismo em sua forma de Chicago mais extrema – M.S.] Criacionismo, agora eu estou convencido, está apenas secundariamente direcionado contra o fantasma de Charles Darwin. Está ao invés direcionado contra todos aqueles que possam negar que a Bíblia é um objeto sólido e vasto, como um penhasco ou uma Primeira Igreja Batista em um cidade do Texas. Neo-Fundamentalistas desejam uma inerrância densamente substancial, uma verdade além da linguagem, além da ambigüidade, além de qualquer possibilidade de refutação. Seus ancestrais foram “drenched” na Bíblia, duas vezes batizados com toda imersão em suas páginas. Muito poucos deles poderiam passar pelos mais elementares tipos de testes Bíblicos, pois o real significado de “inerrante”agora quer dizer “não lido.” ...[178]

             A prova de uma apostasia geral é que a mesma Bíblia que os Biblicistas alegam que seja essencialmente a palavra de Deus se tornou caiada e dura como um sepulcro ao longo das eras em suas mãos. Católicos não podem ser a verdadeira igreja porque eles muito tempo atrás abandonaram a correta moralidade pela autoridade apostólica, e aqueles que se voltam para a Bíblia como um ícone em lugar da autoridade apostólica são como os Inerrantistas que Bloom rasga em pedaços na citação acima. Mas ele ainda não está tratando com os Inerrantistas:

             …A desesperada urgência (e viciosidade) dos Fundamentalistas Batistas do Sul ultrapassa todos os outros exemplos Americanos daquela errância, e o fazem de forma assombrosamente semelhante ao Fundamentalismo Xiita Iraniano ou ao piores excessos do Neturei Karta em Israel. De uma maneira mais grave, a força e unicidade da tradição dos Moderados Batistas do Sul, como codificado por Muçulmanos, involuntariamente ajudou a produzir o furioso antiintelectualismo de Criswell, Pressler, e de outros líderes representativos da agora dominante facção Fundamentalista da Convenção Batista do Sul. A mística desconfiança nos Moderados, com seus freqüentes repúdio da teologia, é reduzida pelos Fundamentalistas a uma total desvalorização de todas as linguagens e de todo pensamento. Mesmo quando Fundamentalistas insistem sobre a inerrância da Bíblia, eles abandonam toda a real leitura da Bíblia, uma vez que de fato sua linguagem é remota demais e difícil para eles começarem a compreender. O que é deixado é a Bíblia como um objeto físico, zíper e couro, um ícone final ou talismã mágico. Ler Criswell ou qualquer outro clérigo Fundamentalista sobre a Bíblia é quase uma impossibilidade literal, pelo menos para mim, pois eles não estão escrevendo sobre o texto, escrevem sobre qualquer outra coisa menos do texto em si. Escrevem sobre suas próprias e dogmáticas convicções sociais, políticas, culturais, morais e até mesmo econômicas, e textos bíblicos são simplesmente citados, com abandono frenético, não importando se eles de forma nenhuma ilustram ou sequer se aproximem das áreas onde estão centradas as convicções. Elas são citadas também como se fossem auto-interpretadas e fossem perfeitamente transparentes em seus significados.

             Pode ser impiedoso culpar os Batistas Moderados por qualquer aspecto deste absurdo, mas nenhum Batista do Sul parece está mais em casa com este tipo de linguagem. Teologia depende de analogias, argumentos, metáforas, todas as quais enfatizam a diferença entre palavras e a realidade que elas representam. Batistas Fundamentalistas nunca e jamais parecem perceber que a Bíblia é em primeiro lugar linguagem. Porém Batistas Moderados, sendo sinceros e pragmáticos entusiastas de seu relacionamento imediato com Jesus, tendem a desaprovar que a imediata experiência que tiveram com Jesus possa mesmo ser representada em linguagem. Temos então o paradoxo que os Fundamentalistas ressentem ou ignoram a linguagem, enquanto os Moderados são na melhor das hipóteses ambivalentes em relação a isto, e provavelmente temem isto, uma vez que não desejam que ela possa mediar Jesus para eles.

             Cristãos Fundamentalistas essencialmente é um fenômeno Norte Americano; exceto aos Estados Unidos e Canadá, tem possuído uma vida indígena apenas no Ulster. Suas outras manifestações ao redor do mundo tendem a ser exportadas dos Estados Unidos. Ainda que não consiga considerar isto como qualquer outra coisa que não seja uma paródia do que eu tenho chamado de Religião Americana. Seu conteúdo espiritual, para o crítico religioso, é difícil de localizar. Isto não foi sempre assim; havia alguns intelectuais sérios Fundamentalistas envolvidos no final do século XIX e começo do século XX. Hoje não há nenhum, e ainda assim Fundamentalistas ameaçam em se tornarem quase um sinônimo para Evangelicismo na América contemporânea. Parcialmente isto é causado pela super cobertura na mídia (tele-evangelismo), e pelo choque experimentado pelo público da classe média/alta americana toda vez que se acham mais uma vez aliados à classe média/baixa Fundamentalista para que apóiem Reagan, Bush e seu partido. A agenda moral dos fundamentalistas é mais “drab”, e como Bush, geralmente se reduz a agitar a bandeira americana e cartazes antiaborto para nós como se estes constituíssem uma entidade única....[179]

             Isto é o que surge ao tentar torcer o simples significado da escritura, enquanto ironicamente chamar os Santos dos Últimos Dias não Cristãos porque não “aceitamos” a Bíblia. Nós a aceitamos muito bem, usualmente bem mais do que os Biblicistas, cuja teologia está baseada no antiintelectualismo e perdeu todo espírito, segundo Bloom (que é um observador de fora, um auto-proclamado judeu secular – não tem nenhum machado à mão para derrubar).

             Como Holding (que pode ou não ser um Batista Sulista de per si, eu tenho de indicar, como em outros lugares, eu estou falando ‘do antigo Holding’ para um largo pedaço desta revisão) implementou esta elisão sobre o significado pleno de I Cor 15:29?  Antes de tudo, ele tenta estabelecer uma inconsistência entre o esotérico, ou natureza secreta dos rituais como o batismo vicário (freqüentemente chamada ‘cultus’ pelos eruditos – o que não tem nada a ver com a difamatória palavra “cult”, usada em Inglês para designar seitas subversivas ou manipuladoras de mente), com o fato de que mesmo uma menção casual deles aos Corintianos seria significativa. Nós não registramos os detalhes de nossas ordenanças templárias hoje também, mas seria muito difícil dizer que elas não sejam familiares a maioria dos membros. Certamente o é para membros ativos. Jovens desde a idade de 12 anos em diante vão ao templo para realizar batismos vicários e adultos não são considerados inteiramente ativos se eles não possuem uma “recomendação para o templo”, um tipo de licença de entrada para o templo. O ponto é que o que parece para um  observador de fora ser uma referência casual seria de significado muito maior aos Corintianos do que a observadores externos. O significado para um observador externo pode ser totalmente diferente quando dizemos que vamos para a “ALA” no domingo de Carnaval, e ser mal compreendido pelos nossos conhecidos não-membros como que estaremos desfilando em alguma escola de Samba naquele Domingo.

            Por exemplo, Hugh Nibley, o bem conhecido “homem da Renascença” SUD, escreveu um livro em que ele criativamente ler o Livro Egípcio das Respirações como uma forma egípcia, uma forma “apóstata” da versão original do que nós agora chamamos Investidura [180]. “Como ele consegue fazer isto?” Um observador externo pode perguntar (isto é tratar de assuntos que para nós é sagrado, ou que os eruditos chamariam “cultus esotéricos”,  não só de forma pública mas também através de uma obra impressa SUD). A resposta é que para aqueles familiarizados com a investidura SUD, poderão ler o livro do Dr. Nibley e ver os paralelos que eles estão espiritualmente inclinados a ver. O Livro nunca teve o intuito de provar que de alguma forma a investidura SUD é de origem antiga, foi escrito com o intuito de estabelecer um argumento de plausibilidade para tal crença. Há uma grande diferença nisto, mas confundir tal diferença é um erro que críticos Biblicistas estão especialmente inclinados a cometer quando abordam obras SUD. “Quão larga é a divisão” na verdade! Nós estamos olhando pelo telescópio de direções totalmente opostas. O ponto é que quando um líder SUD diz “sagrado, não secreto”, isto não é uma simples espécie de lema; o secreto é sagrado apenas quando é uma realização espiritual conservada dentro do coração de alguém. Qualquer Santo dos Últimos Dias moderno sabe que existem cópias transcritas do Endowment disponíveis na Internet. Nada que seja um segredo guardado à sete chaves. Talvez o lema dos líderes SUD devesse ser tomado mais literalmente, e não apenas como uma espécie de eufemismo.  

            Incidentalmente, isto é também uma resposta ao criticismo (que é justo apontar, Holding não usa este ponto; todavia falo a audiências maiores em algumas partes desta revisão) de que o Livro de Mórmon, se é supostamente o principal fruto da Restauração, por que não menciona a adoração do templo (de fato, exceto por referências a batismo em vários lugares, e uma seção em Morôni, perto do fim do livro, ele não menciona nenhuma outra liturgia). O que os críticos fazem, na verdade, é cometer um “Verbiblisierung” do Livro de Mórmon, isto é, eles aplicam seus próprios instintos Biblicistas para desconstruir o texto do Livro de Mórmon (se a Bíblia é a nossa única fonte de verdade, para nós Biblicistas, por que o Livro de Mórmon também não é o mesmo para os Mórmons?), todavia ao fazerem isto confundem a árvore com a floresta. É o livro de Mórmon como uma revelação moderna que é o fruto da Restauração, não necessariamente seu conteúdo. De fato, se o Livro de mórmon fosse para ser tratado pelo que clama para si mesmo, ele deveria ser lido mais ou menos como um Novo testamento, com apenas referências esparsas e indiretas ao cultus e liturgia, dependendo da revelação contínua para uma releitura das escrituras numa base corrente de tal forma a aplicá-la em questões contemporâneas. Vemos esta mesma abordagem nos Talmudes, especialmente o Bavli, ou Talmude Babilônico, o qual podemos ler como um cruzamento entre uma “Doutrina e Convênios Judaica” e um livro de precedentes da Lei que existe independentemente da história e do tempo. Mateus, por exemplo, famosamente “releu” Isaías 7:14 [181] para descrever o nascimento de Jesus a partir de uma virgem, desta forma clamando implicitamente uma divindade, uma vez que “deuses” naqueles dias eram sempre manifestos na forma humana via um nascimento virginal (cf. a história egípcia de Ísis).

             Este é um ponto não esquecido para os Santos dos Últimos Dias, para quem isto é nada mais nada menos um exemplo do que um profeta esteja suposto a fazer: Usar escrituras existentes e reinterpretá-las, usando sua autoridade profética, a fim de aplicá-las a uma circunstância contemporânea. Para os Biblicistas, especialmente os Inerrantistas, a livre interpretação de Mateus do texto de Isaías deve induzi-los a “SQUIRMINNG”, a menos que passem por cima disto dizendo que isto seja simplesmente um outro exemplo da vinda de Cristo para cumprir a Lei. É verdade, todavia a diferença crítica é que enquanto Biblicistas possam ver a necessidade disto no final da época do Segundo Templo, eles não podem ver a necessidade para isto nos dias de hoje, e preferem antes olhar para um texto antigo através de seus próprios credos e interpretações, as quais eles inconsistentemente insistem que são “verdadeiramente bíblicos.” Do ponto de vista de consistência lógica e fatos históricos, é a abordagem SUD que é a consistente. É irônico quando um Biblicista não toma um texto como I Cor 15:29 tão literalmente como um Santo dos Últimos Dias. 

             Apesar das rigorosas, sistemáticas e sem misericórdia tentativas pelos Romanos que politicamente co-optaram com o Cristianismo (o que chamaríamos de Cristianismo dos credos, apóstata) para varrer do mapa qualquer traço de “heresia”, e mesmo em um mundo onde o vencedor é quem escreve a história, alguma coisa sempre procura dar um jeito de sobreviver. Pode levar séculos, mas criticar um argumento de apostasia a partir do silêncio carrega consigo o mesmo perigo que esta abordagem  tem apresentado no resto do criticismo do Sr. Holding: o júri ainda não chegou. História não se acabou. Nunca diga nunca. Para verificarmos o erro deste tipo de argumento basta voltar na história a certos luminares tais como o chefe do escritório de patentes do US que supostamente parou sua carreira perto do fim do século XIX porque era “óbvio” que não havia nada mais novo para ser inventado.  

             Que houve uma grande mudança nos 3 ou 4 séculos após as mortes dos apóstolos é uma certeza. Há uma grande diferença entre o que entrou de um lado no moedor de carne das “caóticas trevas do segundo século” [182] e o que saiu do outro lado. Nunca houve a intenção dos autores originais do Novo Testamento para fechar o cânon:

             Os escritores destas Epístolas apostólicas, embora confiantes de que falassem com autoridade, revelam nenhuma consciência de que suas palavras viria a ser observadas como um padrão permanente de doutrina e vida na Igreja Cristã. Eles escrevem para um propósito imediato, e tanto quanto desejam falar, também têm eles o desejo de estar presente com aqueles com quem se correspondem...[183] 

             Que muitos bem educados e espertos pais da Igreja “refinaram” e “desenvolveram” o Cristianismo é de consenso por qualquer estudante sério do Cristianismo, especialmente um que leu as obras de Agostinho, apenas para mencionar um gênio particular de readequação de uma fé semítica primitiva e a reinterpretação desta usando as mais sofisticadas ferramentas do neo-Platonismo e outras idéias intelectualmente populares. O Evangelho foi sempre para o simples, o puro de coração, não para os professores de teologia, e foram os professores de teologia que mudaram o antigo Cristianismo profundamente. Se isto não é uma “apo” da “stasia” original eu não sei o que seria. A razão pela qual acredito os Biblicistas acham esta linha de raciocínio desconfortável é porque ela expõe as inconsistências em suas próprias teologias pós-Bíblicas. Quando era jovem, meus primos do interior falavam-me em colocar um freio de cavalo em um porco. Aprendi que o porco era ainda um porco. Apenas tinha acrescentado indignidade ao olhar para alguma coisa que pensasse ser um cavalo, e desta forma menosprezei “DEMEANED” ambas as partes.

             Bloom prontamente vê em Joseph Smith, caso seja ele um “verdadeiro” profeta de Deus ou não, como arrancando fora o acabamento deixado pelos Patriarcas da Igreja (em particular o grupo conhecido como os Apologistas, mais Agostinho), místicos medievais Romanos, e seus sucessores conforme se envolvia numa constante e adicional remoção do espírito do Biblicismo que surgia de Deus e mais se aproximava da original religião de Ur:           

             Não importa quão retrospectiva e rebelde a Primeira Visão é, toda nova religião necessariamente é revisionária no que tange a suas próprias origens sacras. O que me impressiona aqui e em toda parte em Smith é a certeza de seus instintos, seu produto, seu pensamento original sabendo precisamente o que é necessário para se criar uma nova religião. Como São Paulo (cuja teologia é quase alijada pelos Mórmons - N. Tradutor: Segundo a opinião de Bloom, é claro, eu discordaria de Bloom neste ponto), Smith implicitamente compreende não apenas seus próprios objetivos, mas os pragmatismos em se fazer uma religião, ou o que funcionaria em questões do espírito. Pois isso permanece como o cerne de suas realizações: os Mórmons têm existido por mais de 160 anos; eles mudam, mas eles não morrem. Há agora tantos Mórmons nos USA e no mundo quanto Judeus, e conforme antes salientei, os Mórmons, como os Judeus antes deles, são uma religião que se tornou um povo. Isso, eu cheguei a conclusão, sempre foi o objetivo pragmático de Joseph Smith, pois ele teve a genialidade de perceber que apenas tornando-se  um povo poderiam os Mórmon sobreviverem. A Carta de Wentworth é um documento religioso que celebra a organização de um povo na base de uma idéia espiritual. As percepções de Smith poderiam ter vindo apenas a partir de uma remarcável leitura da Bíblia, e lá eu alocaria o segredo do seu gênio religioso. Ele foi qualquer coisa menos um grande escritor, todavia foi um grande leitor, ou talvez um criativo pseudoleitor da Bíblia. Mormonismo é uma maravilhosa e forte pseudoprisão [184] {N.T.: Veja a nota abaixo para o sentido que Bloom dá quando usa a palavra pseudo}, ou uma criativa pseudoleitura da antiga história do Judeus. Tão forte foi esta nova leitura que quebrou com todas as ortodoxias – Protestante, Católica e Judaica – e descobriu seu caminho de volta a elementos que Smith corretamente intuiu houveram sidos censurados e excluídos das histórias da arcaica religião Judaica. O senso radical de Smith de patriarcas teomórficos e deuses antropomórficos é um retorno autêntico a “J”, ou ao Iavista, o primeiro autor da Bíblia. Esta desconfiança pragmática do reeditado texto da Bíblia manifesta-se em algumas das declarações de credo de Joseph Smith no final da Carta de Wentworth: 

“…Cremos ser a Bíblia a palavra de Deus o quanto seja correta sua tradução; cremos também ser o Livro de Mórmon a palavra de Deus."

"Cremos em tudo o Deus tem revelado, tudo aquilo que ele agora revela, e cremos que ele revelará ainda muitas grandes e importantes coisas pertinentes ao reino de Deus....”[185]

            Nem mesmo é realmente necessário provar qualquer coisa que apareça; é suficiente mostrar que uma crença, uma fé, pode de fato ser um poderoso argumento para plausibilidade – isto é tudo o que é necessário para se defender contra um argumento do silêncio. A medida que os argumentos seguem, tudo que eles carregam é um alfinete para furar um balão. “Quando um empurrãozinho vira um empurrãozão”, a famosa definição de fé em Hebreus 11:1 sobre fé sendo a substância de coisas não vistas, sobressai-se sobre todas as coisas, uma lição que o Biblicistas parecem ignorar em suas aventuras de escalar o Monte Ararat, seus projetos para escavarem embaixo do Monte Sagrado, para fatiar porções do Sudário de Turim, e outros projetos para “animarem a fé do rebanho”. Isto é o que acontece com se confia no “sepulcro caiado” de antigos pergaminhos para a fonte de suas doutrinas, ao invés de beberem das águas vivas da revelação contínua. 

             Novamente, Bloom não está contente em deixar as coisas como estão. Ele procura uma explicação do porquê um jovem caipira da fronteira do interior de Nova York poderia seguir seu próprio caminho no meio dos melhores teólogos que o mundo neo-helenístico e a Era do Iluminismo poderia produzir.

             [concernente ao seu carisma religioso] a diferença de Smith não é uma questão de sucesso em si; nós estamos cercados ainda por Testemunhas de Jeová, Adventistas do Sétimo Dia e adeptos da Ciência Cristã, assim como Muçulmanos Negros, entusiastas da Nova Era e curiosidades peculiares como Teosofistas, Cientologistas e Moonistas. Estuda-se estas crenças e procura-se compreender seus apelos e para quem apelam. Mas nenhum deles tem a vitalidade imaginativa da revelação de Joseph Smith, um julgamento que alguém faz com a autoridade de toda uma vida devotada em compreender as visões dos grandes poetas e dos especuladores originais.

             Pesquisadores ainda não estabeleceram, para minha satisfação, precisamente quão muito o Profeta Joseph conhecia sobre a tradição esotérica Judaica ou Cabala, ou sobre as heresias Gnósticas Cristãs. Pode-se querer saber também exatamente o que Brigham Young absorveu destas fontes, desde que algumas especulações de Young sobre Deus e Adão, e na subida da alma após a morte, são extremamente semelhantes a antigas sugestões. O que está claro é que Smith e seus apóstolos reafirmaram o que Moshe Idel, nosso maior erudito vivo da cabala, persuadiu-me que fosse a mais arcaica e original Religião Judaica, um Judaísmo que precede mesmo o Iavista, o autor das mais antigas histórias em que nós agora chamamos os Cinco Livros de Moisés. Fazer tal asserção é expressar nenhum julgamento, de uma maneira ou de outra, sobre a autenticidade do Livro de Mórmon ou da Pérola de Grande Valor. Mas minha observação certamente encontrou enorme autenticidade na recaptura imaginativa de Smith de elementos cruciais da arcaica religião judaica, elementos que se haviam evadido do Judaísmo normativo e da posterior Igreja Cristã. O Deus de Joseph Smith é um ousado reavivamento do Deus de alguns dos Cabalistas e Gnósticos [note que Bloom tem uma definição idiossincrática de Gnósticos; isto não se refere exclusivamente aos antigos Gnósticos Cristãos – M.S.], ditos proféticos que, como o próprio Smith, afirmavam que eles haviam retornado a verdadeira religião de Iavé ou Jeová. Se Smith estiver enganado, da mesma forma estariam eles também, mas eu mal posso saber o que significaria dizer que os Cabalistas ou Joseph Smith estivessem enganados. O Deus do Judaísmo normativo e das principais igrejas Cristãs, na Época atual, está muito mais longe do Deus das mais antigas porções Iavistas da Bíblia que aparece no surpreendente Deus de Joseph Smith.        

             Teologia não toma nenhum papel na Bíblia Hebraica, todavia foi inventada por Filo e outros Judeus Alexandrinos a fim de explicar e corrigir o suposto antropomorfismo do Deus descrito na antiga visão Iavista. Antropomorfismo, ou a idéia de que Deus poderia ser humano-todo-também-humano, de qualquer maneira é uma noção simples, como Joseph Smith implicitamente compreendeu. Nós somos homens e mulheres e não árvores, presumidamente o Deus das árvores é dendromórfico. O que teólogos depreciam como um Iavé antropomórfico é o correlativo necessário da visão Bíblica Hebraica de homens e mulheres teomórficos. Abraão, Jacó, José, Tamar, David. O gênio formativo religioso de Joseph Smith, profundamente americano, restaurou unicamente o senso Bíblico do teomorfismo,...

            É um ponto crucial do Mormonismo que Joseph Smith nulificou a distinção entre Velho Testamento e Novo Testamento, e jogou praticamente fora tudo da tradição histórica da igreja entre os textos bíblicos e ele mesmo. Para aplicar um termo estritamente retórico e literário à formação da carreira religiosa do profeta, podemos dizer que Smith realizou uma transumpção, a antiguidade e os últimos dias trocam de lugar, enquanto tudo que se encontra neste ínterim é esvaziado. Se Smith havia lido uma versão do livro apocalíptico de Enoque é incerto, porém eu dificilmente penso que fontes escritas fossem necessárias para muitas das imagens de Smith. Enoque escolhe Joseph Smith porque as tradições esotéricas sempre exaltaram Enoque como o arquétipo do homem-que-se-torna-anjo e eventualmente se torna Deus.[186]

Eu digo isto com intuito de mais uma vez lembrar Sr. Holding que ele falhou em ir até o cerne da questão que ele presume criticar; ou então ele a compreende muito bem e está apenas interessado em manter seu padrão como um respeitado crítico entre aqueles com quem ele compartilha suas premissas de fé. Em qualquer um dos casos, esta revisão inteira poderia ter sido trocada por uma simples palavra: “irrelevante.” Que eu, e vários colegas, nos preocupamos em tomar o criticismo do Sr. Holding pelo seu valor de face reflete a esperança de que ele está genuinamente interessado em diálogo. Nós sempre estaremos aqui esperando. Mas, um pré-requisito para um debate significativo é a percepção de que, ironicamente, tomamos a Bíblia em seu valor de face mais do que os teologismos que se incrustaram à Bíblia dos Inerrantistas, fechando-a de tal forma a tornarem-na ilegível.

            Finalmente, com relação a apostasia, existem pistas que nos levam até coisas que são para nós sagradas, mas que nos parecem um pouco distorcidas; tiradas de fontes que Joseph Smith não poderia ter referência. Eu já citei do Evangelho de Felipe acima, todavia é isto simplesmente coincidência? Não há nenhuma maneira de provar que Felipe obteve seu material de fontes apostólicas, mas é sabido que Marcos passou uma boa parte de seu tempo em Alexandria (de fato, Coptas acreditam que ele fundou sua Igreja), e o Evangelho de Felipe é uma antiga obra Gnóstica. Um controverso documento chamado “Secreto Marcos” especula sobre este tipo de conexão, e adverte que há inimigos da Igreja que tomariam da doutrina e a distorceria:

            Para aqueles, portanto, conforme disse acima, nunca se deve desistir; nem, quando eles mostrarem suas falsificações, deve-se conceder o secreto Evangelho que foi escrito por Marcos, mas se deve isto negar em juramento. Pois, ‘Nem todas as verdadeiras coisas são para serem ditas a todos os homens’. Por esta razão a Sabedoria de Deus, através de Salomão, aconselha, ‘Responde ao tolo a partir de sua tolice’, ensinando que a luz da verdade deve ser escondida daqueles que são mentalmente cegos. Mais uma vez a escritura diz, ‘Daquele que nada tem dele ainda será tirado’, e ‘Deixai o tolo caminhar em trevas’. Mas nós somos ‘filhos da Luz’ tendo sido iluminados pela aurora do espírito do Senhor que de cima vem, e ‘Onde o Espírito do Senhor estiver’, ele dirá, ‘há liberdade’, pois ‘Todas as coisas são puras para os puros’. [187]

             Isto indica que existe um monte de preocupação quanto aos inimigos da igreja de roubarem e fazerem mal uso da doutrina. Isto aponta tanto para temores de uma apostasia quanto para a relutância de deixar todas as coisas registradas. Em qualquer caso, a metomínea literária do “selo”, referida no Novo Testamento, mas apenas expandida  nas pseudoepígrafes, nos dá um poderoso ímpeto para assumir que a medida que doutrinas da Igreja original passaram a ser adotadas e usadas pelos Gnósticos e outros grupos dissidentes, o “corpo principal” da Igreja gradualmente perdeu (ou mesmo rejeitou) estas doutrinas de forma tal a não estarem associadas com o Gnosticismo.

Outros paralelos e referências miscelâneas

Hopkins. Richard R. Hopkins alega que a própria conversão de seu pai ao Evangelho Restaurado foi devido ao batismo vicário. Aqui está sua simples explicação diretamente sobre o ponto da doutrina e a história sobre seu pai:

Destarte, batismo pelos vivos em favor dos mortos está diretamente relacionada a ressurreição daqueles espíritos para quem o batismo por procuração são realizados. Se não houvesse ressurreição, não haveria nenhuma razão para realizar tais batismos. Por que qualquer pessoa viva iria realizar batismos em favor dos mortos se os espíritos não poderiam receber um galardão maior na ressurreição (ver I Cor. 15:40-42) como um resultado dessa ordenança? A própria existência de batismo pelos mortos no Evangelho de Jesus Cristo é uma prova que há uma ressurreição!  

             Paulo alude a aqueles realizando batismo pelos mortos como “eles” naquele versículo, indicando que os Corintianos poderiam não estar realizando batismos pelos mortos (pelo menos nem todos eles). Ainda assim, estavam eles suficiente familiarizados com a ordenança para que Paulo a usasse em seu argumento. A teologia Mórmon ensina que apenas crentes maduros e obedientes possam realizar esta ordenança. Durante a época da epístola de Paulo, muitos crentes Corintianos estavam em um estado de grande iniqüidade (1 Cor. 3:1-5). Então, a referência a “eles” nesta passagem sugere que poucos, se alguns, dos Corintianos tinham já tido o privilégio de realizarem batismos pelos mortos.

             Talvez nenhuma outra passagem da Bíblia tem causado tantas controvérsias entre os Evangélicos como I Coríntios 15:29. Ela foi o catalisador, de fato, para a conversão do próprio pai do autor, um ex-estudante de ministério, quem a princípio achava que este versículo fosse único às “Bíblias Mórmons.” Existem tantas diferentes interpretações Evangélicas desta passagem como existem comentários. Eles podem apenas concordar em um ponto – que a interpretação Mórmon é falsa, apesar do fato é que a única exegese da passagem que respeita sua linguagem plena e é consistente com todas as outras passagens bíblicas que ensinam salvação para os mortos.

Como um exemplo da exposição Evangélica desta passagem, C.I. Scofield deixa o seguinte comentário:

             Paulo não está aqui falando de batizar crentes vivos em lugar de tanto crentes como descrentes que morreram. Não há nenhuma designação de eficácia salvífica para o batismo. O argumento é: De que vale alguém confiar em Cristo e ser batizado no lugar deixado vago pelos crentes falecidos, se não há nenhuma ressurreição para os crentes? Por que colocar a vida em perigo e falsificar os benefícios desta vida, se não há vida após a morte?

              Scofield parece reconhecer o pleno significado da passagem, mas a rejeita. Ele precisa então lê-la e introduzir nela um significado alternativo. Infelizmente sua explicação é muito mais do que uma paráfrase da passagem, é uma completa revisão, um excelente exemplo de eisegesis. Além do mais, ele restringe-se de dar uma simples referência de autoridade bíblica para suas conclusões. Isto é estritamente sua opinião, e ela perde o caráter essencial do argumento de Paulo junto com ela. Paulo não estava tentando provar “vida após a morte,” como Scofield coloca a questão, mas que os mortos iriam ser ressuscitados...

              A explicação de Scofield já não é mais a mais popular exegese (na verdade eisegese) desta passagem entre os Evangélicos. A mais comum teoria é que a ordenança do batismo pelos mortos fosse uma prática falsa, provavelmente nem mesmo uma prática entre os Corintianos (por causa da referência a “eles” nesse versículo). Pensa-se que Paulo apontou para esta “falsa”prática (notadamente sem se identificar-se com ela) para argüir, em essência, de que aqueles engajados em batismo pelos mortos aparentemente acreditavam na ressurreição mais do que os Corintianos acreditavam.

             Não apenas esta interpretação distorce a linguagem da passagem, ela também presta um grande desserviço a Paulo. Se batismo pelos mortos era uma prática falsa pagã ao invés de uma parte essencial do plano de salvação de Deus, qual a conexão possível que poderia ter com a verdadeira doutrina da ressurreição, sobre a qual Paulo estava tentando convencer os Corintianos no capítulo 15? A menos que batismo pelos mortos fosse uma verdadeira ordenança do evangelho efetivamente conectada à ressurreição, conforme indicado pelo argumento de Paulo, ele jamais iria trazer a questão à tona, a não ser que fosse para condenar a prática.

              Notavelmente, entretanto, Paulo nunca identifica o batismo pelos mortos nem como pagão ou falso. Em outros discursos e cartas onde Paulo referiu-se a crenças e fontes pagãs, ele claramente as identificou como tais (ver, e. g., Atos 17:22-23; Tito 1:12). Aqui, nem mesmo há uma simples palavra de desaprovação contra o batismo pelos mortos, ao invés disso é a própria prática em si que é sustentada como evidência da mensagem. Usaria um mestre da verdade uma falsa prática pagã para provar uma verdadeira doutrina desta maneira? A própria noção está além da razão e sem paralelo em qualquer parte dos escritos inspirados.  

              Uma outra reclamação Evangélica sobre esta passagem é que o batismo pelos mortos é mencionado apenas uma vez na Bíblia – neste único versículo. Alguns vêem isto como uma violação dos requisitos de Deus que todas as coisas devam ser estabelecidas pela boca de duas ou três testemunhas ( II Cor. 13:1). Aquela instrução entretanto está direcionada ao estabelecimento de um testemunho humano, não de Deus (Mateus 18:16. I Tim 5:19; Hebreus 10:28). Em seus negócios com os Homens, Deus freqüentemente providencia muitas testemunhas, mas o testemunho de Deus necessita apenas de uma única testemunha – a sua própria! Na verdade, um grande número de doutrinas são ensinadas apenas em um único lugar na Bíblia, a mais notável sendo o cerne do Evangelho (as boas novas da Ressurreição de Cristo), a qual está especificamente identificada em apenas uma passagem – I Cor. 15:1-5. [188]

Trumbower sobre Clemente de Alexandria:

            [Clemente] realmente visualiza a possibilidade de algumas pessoas terem uma mudança de coração em direção a Deus no reino dos mortos, e desta forma ele com certeza acredita até certo ponto em salvação póstuma conforme definida neste estudo. Este tipo de pensamento tornar-se-ia característico do Cristianismo Alexandrino por algum tempo, aberto a especulação sobre a conversão das almas após a morte.[189]

Trumbower sobre Orígenes, o sucessor de Clemente no episcopado de Alexandria:

            Orígenes de Alexandria acrescentou um número de especulações concernente a descida de Cristo, incluindo a alegação de que João Batista precedeu a Cristo no mundo inferior a fim de realizar um anúncio preparatório, da mesma forma que havia feito aqui na terra [190].

             Orígenes tinha de defender a doutrina Cristã da descida de Cristo contra um ataque pagão, uma vez que Celso havia escrito por volta de 180 AD “Vós não quereis dizer de [Cristo], eu presumo, que tendo falhado em convencer os homens na terra ele viajou até o Hades a fim de lá convencê-los.” [191] Isto demonstra que perto do fim do segundo século o motivo da descida era bem conhecido até mesmo entre os pagãos, e Celso parece ter conhecido uma versão expandida dela – de que Jesus providenciou uma verdadeira oferta de salvação aos mortos exatamente como ele havia feito entre os vivos. Após declarar que Cristo na verdade convenceu muitos durante sua vida, Orígenes segue adiante para dar seu próprio entendimento da descida: “Quando [Cristo] tornou-se uma alma despida pelo corpo ele conversou com outras almas despidas de corpos, convertendo [epistrephon] também aqueles dentre eles que estivessem desejosos para o aceitar, ou aqueles quem, por razões que somente ele mesmo sabe, viu que já estavam prontos para assim o fazer”. [192] Como Clemente, Orígenes imagina a jornada de Cristo no Hades como sendo bastante similar a sua jornada na Terra. Pecadores eram capazes de se arrependerem mesmo após estarem mortos.

             Assim como Clemente, Orígenes faz uso de I Pedro 3:18-21 para indicar que Deus deu aos pecadores (os iníquos dos dias de Noé) uma chance para se arrependerem quando Cristo desceu ao Hades.[193] Devemos ser cuidadosos em perceber de que não há nenhuma pista nestas passagens de Orígenes de qualquer salvação universal ou do esvaziamento do Hades quando Cristo desceu. Ao invés disso, alguns dos mortos, usando seus livres-arbítrios, escolheram aceitar Cristo naquela ocasião, alguns outros não.

             Com isto em mente é importante para nossos propósitos manter a distinção que Orígenes tira entre “Hades” (=“Sheol”; encontrada no Novo Testamento). Hades, de acordo com Orígenes, era o lugar onde todos os mortos iam antes da descida de Cristo, incluindo Abraão, Samuel, e João Batista. [194] Até a descida de Cristo, estes justos não poderiam deixar o Hades devido ao pecado de Adão e Eva. [195] A atividade de Cristo no Hades permite que alguns dos mortos sejam transferidos para o Paraíso, apenas uma aceitação de Cristo pelos vivos podem lhes permitir um direto acesso ao Paraíso após suas mortes.[196] Algumas vezes Orígenes pode usar o conceito de Hades de uma maneira simbólica como uma metáfora para a morte mas usualmente ele compreende a descida de Cristo para o Hades bastante literalmente. [197] Gehena, de forma distinta do Hades, é um lugar de tormentas ferozes para os iníquos; Cristo não desceu até lá em sua descida. Não se confundir os fogos do gehena com o fogo purificador do próprio Deus no pensamento de Orígenes. Orígenes descreve os fogos do Gehena como “externos” e “inextinguíveis”.[198] Alguns textos de Orígenes indicam, entretanto, que as dores do Gehena possam ter um fim, pelo menos para alguns seres humanos,[199] e Orígenes é bem conhecido por algumas vezes definir {aionlos}=“eterno” como “um tempo muito longo.” [200] O ponto chave aqui é que Orígenes especula sobre a esperança para a corrente conversão, salvação e perfeição dos mortos de várias maneiras, algumas relacionadas ao motivo do descenso e outras não.      

Trumbower sobre Ambrósio. Ambrósio foi bispo de Milão entre 374-397 e mentor de Agostinho.

            Ambrósio…também estava aberto para uma interpretação expansiva de que seria salvo na descida de Cristo ao Hades. Em seu tratado ‘De Fide’, onde ele exalta o divino poder de Cristo a fim de combater a teologia Ariana, Ambrósio indica que Cristo perdoou (remitted??) pecados no mundo inferior. “A substância de Cristo esteve presente no mundo inferior – pois verdadeiramente ele exerceu seu poder no mundo inferior para livrar as almas dos mortos na alma que animou seu próprio corpo, para afrouxar os laços da morte, para perdoar (remit?) pecados.”[201]  

R. E. Kaske sobre a tradição medieval.

            Em seu artigo Kaske faz referência a dois outros artigos:

            No Livro de Exeter, o poema agora conhecido como a Descida ao Inferno começa com um relato das mulheres encontrando o sepulcro vazio na manhã de Páscoa (1-16); descreve a ressurreição de Cristo e descida ao inferno (17-55), incluindo um breve discurso antecipatório por João Batista (26-35); e então relata um discurso maior por João Batista (56 ff.), aparentemente estendendo sem interrupções até as linhas finais do poema (118-137)[202]

            Kaske lê esta difícil passagem (118-137), exceção feita a metade da linha final, como uma única e longa sentença.[203]

            Conforme Thoma D. Hill havia sugerido em um brilhante estudo concernente a estrutura geral do poema, a referência climática ao batismo de Cristo (131-137) aparentemente reflete algum tipo de conexão tipológica entre o batismo e a Angústia do Inferno [204] [c. John Dublin [205]]...Mais especificamente, a requisição [nas linhas 133-134] parece dramatizar uma antiga tradição na qual a Angústia do Inferno deve ser completada com o batismo de todos os ex-cativos” com referência ao Evangelho de Nicodemos 11;27; Epístola dos Apóstolos 27, em Schneemelcher, Apócrifos do Novo Testamento 1.209; Pastor de Hermas, Sim 9.16.5-7[206]. 

            Ver também Joca Monarchorum 29, ed. Walther Suchier, Das Mittellateinische Gesprach Adrian und Epictitus Nebst Verwandten Texten (Tübingen 1955): 126 (PLSA 4. 932), onde é dito que Cristo batizou Adão na Proclamação ao Inferno. A idéia parece derivar primariamente a partir de I Pedro 3:19-21; sobre o assunto de uma forma geral ver Dublin: 249-51; and J. A. MacCulloch, a Angústia do Inferno (Edinburgh 1930): 246-8[207]

            Após discutir várias opções sobre a tradução destas linhas (118-37). Kaske escreve:

            Em minha opinião a solução mais atraente que até agora surgiu é essa de Thomas D. Hill, quem oferece a hesitante e bastante incidental sugestão de que as linhas 76-137 – estão falando sobre o próprio poeta: [Hill escreve] “Eu sugeriria em uma tentativa que o poeta está falando como um Cristão para a comunidade dos fiéis, das linhas 76 ff. Ele, junto com todos os Cristãos batizados, haviam compartilhado o batismo com Cristo no Jordão em termos da associação tipológica do sacramento do batismo e o batismo de Cristo por João no rio Jordão. Mais uma vez, o fato de que fala sobre si mesmo como alguém atado com grossas cordas sob os portões do Inferno pode ser uma relação ou uma associação tipológica dos Cristãos que estão agora esperando pela chegada de Cristo liturgicamente pela ocasião do Advento e escatologicamente na Segunda Vinda, com os fiéis que estavam esperando na Angústia do Inferno” [382, note 2] [208]  

            Kaske então se referencia às imagens que incluem a “personificação da água no Jordão...” [209] “Mais suporte para a personificação do Jordão pode ser encontrada na iconografia do batismo de Cristo, o qual desde o quinto século em diante freqüentemente incluía a figura clássica posterior do Deus do Jordão.[210] ... Os  mais famosos exemplos do motivo batismal são os mosaicos do quinto século no domo do batistério ortodoxo em Ravena, onde o Deus, [com os pulsos já dentro d'água, parece estar assistindo aos batismos; e o mosaico no domo do batistério Ariano em Ravena, por volta do ano 500, que mostra o Jordão erguendo sua mão esquerda em aclamação como se estivesse ele reconhecendo a poderosa deidade. É entretanto comum nos Marfins Carolíngios e Otonianos – por exemplo [no prato um deste artigo].[211] Kaske conclui: “Minha preferível e hesitante proposta, então, é que as linhas 133-137 possam talvez ser lidas como, ‘...possa tu aspergir com água, Senhor das hostes, com um coração alegre, todos os habitantes do Hades, da mesma forma que vós [tu e a água], pelo batismo de João no Jordão, graciosamente inspirou todo este mundo’”[212].

 Conclusão

            Em conclusão, ironicamente a única coisa que eu completamente concordo com Holding é sua conclusão, talvez até mais literalmente do que ele realmente intencionava: “A interpretação [SUD] de I Coríntios 15:29 está cheia de dificuldades [para o Biblicista – M.S.]. Se o apologista SUD desejasse afirmar que o ritual de batismo pelos mortos é o sujeito de uma nova revelação, eles podem assim dizer – mas eles não podem apelar para I Coríntios 15:29 como base para tal. O versículo não confirma a prática SUD de batismo vicário.” É verdade que não confirma. É a revelação moderna quem o faz; para nós o que é quase certamente uma menção totalmente acidental disto na passagem de Paulo é uma interessante acontecimento, uma curiosidade, mas para o Biblicista é um nó Górdio.

            Como um favor para qualquer leitor que até aqui chegou, acrescentei alguns itens escritos por Tertuliano, um apologista da Igreja do fim do segundo e começo do terceiro século, o qual era muito bem educado. Ele estava mais interessado em demonstrar que o corpo que ganharemos na ressurreição seria um corpo físico, todavia incorruptível, e usa I Cor. 15:29 como um texto prova para isto. Desta forma o hiato entre I Coríntios e Tertuliano, que escreve como se isto fosse uma prática bem-estabelecida, é na verdade muito estreito, em termos de tempo.

Apêndice I: As referência de Tertuliano a batismos vicários dentro de um contexto.

            Nota: Quintus Septimius Florens Tertulianous, ou Tertuliano, nasceu em Cártago no que hoje é a Tunísia, Norte da África, em 160 AD. Era um advogado romano, ele converteu-se ao Cristianismo quando já de meia idade. A maioria de suas obras foram escritas em um curto período de tempo entre 197 a cerca de 205 AD; não muito tempo depois ele se uniu ao grupo sectário do Montanistas, o qual é considerado herético hoje pela Cristandade dogmática que emergiu dos credos dos Concílios do Início da Idade Média. Ele estava portanto, um pouco mais de um século além dos eventos em Corinto conforme é conhecida a extensão de seus registros (ele escreveu em Latim e Grego, mas quase nada de seus escritos em grego sobreviveram ao tempo. Aqui está seu ensinamento histórico sobre batismo vicário, a partir da Homilia III, Capítulo XLVIII, “Várias Passagens no Grande Capítulo da Ressurreição dos Mortos Explicados em Defesa de Nossa Doutrina.” É interessante que ele se uniu a um grupo sectário que aparentemente realizava um tipo de batismo vicário, embora este material fosse escrito algum tempo antes dele tomar esta decisão. Pode-se apenas perguntar o que o direcionou a tomar aquela decisão.

            Agora, conforme os méritos precisam ser concedidos ao corpo, faz-se mister em seguida que a ordem deva também ser adequada de acordo com os corpos, para que esteja relacionada aos seus méritos. Mas uma vez que “alguns são batizados pelos mortos,” veremos se existe uma boa razão para isto. Agora é certo que eles adotaram esta (prática) com uma pressuposição tal que os fizeram supor que os batismo vicário (em questão) seria benéfico para a carne de um outro em antecipação à ressurreição; pois a menos que existisse uma ressurreição corpórea, não haveria nenhuma petição {pledge} assegurada por este processo de um batismo corporal. “Por que são eles então batizados pelos mortos,” ele pergunta, a menos que os corpos levantam-se de novo pelos quais são então batizados? Pois não é a alma que é santificada pelo banho batismal: sua santificação vêm a partir da “resposta.” (N.T. possivelmente aceitação ou não por parte da alma de seu batismo vicário) [213] [isto é, a ressurreição e o requerimento de batismo para os corpos físicos juntos exigem o batismo vicário]

 Apêndice II: As referências de Tertuliano a batismos vicários dentro de um contexto.

              “Doutrina da Ressurreição do Corpo, Continuou. Como são os Mortos Levantados? E com Que Corpo Virão Eles? Estas Questões Respondidas em Tal Senso como para Manter a Verdade do Corpo Ressurreto, Contra Marcião. Cristo como o Segundo Adão Conectou com o Criador o Primeiro Homem. Vamos Portar a Imagem do Celestial. O Triunfo Sobre a Morte de Acordo com os Profetas. Oseías e São Paulo Comparados.”

            Vamos agora voltar a ressurreição, para a defesa de que contra os heréticos de todos os tipos nós de fato concedemos atenção suficiente em outros de nossos trabalhos. Mas não seremos pedantes (em algumas defesas da doutrina) mesmo aqui, em consideração de tais pessoas como sendo ignorantes deste pequeno tratado. “O que”, pergunta ele, “se farão aqueles que são batizados pelos mortos, se os mortos não ressuscitam?” Agora, não importa que prática era essa, (o que quer que possa ter sido.)  As lustrações [214] de Fevereiro o responderão talvez (tão bem como), través da oração pelos mortos. Não suponham aqui que o apóstolo indica algum novo deus como o autor ou advogado disto (batismo pelos mortos. Seu único objetivo ao aludir-se a isto era) que ele pudesse ainda mais firmemente insistir sobre a ressurreição do corpo, a medida que aqueles que eram meramente batizados pelos mortos extraíram a prática a partir de sua crença em tal ressurreição. Temos o apóstolo em outra passagem definindo “apenas um batismo.” Ser “batizado pelos mortos” portanto significa, de fato, ser batizado pelo corpo; pois, conforme temos mostrado, é o corpo que se torna morto. O que, então, deverão fazer aqueles que são batizados pelos mortos, se o corpo não se levantará de novo? Afirmamos, então, com sólida segurança (quando dizemos) que a próxima questão que o apóstolos discorreu igualmente se relaciona com o corpo. Mas “alguns dirão, ‘Como se levantarão os mortos? Com que corpo virão eles?’ ” [215] [Tertuliano segue adiante para discorrer até certa extensão sobre o fato do corpo ressurreto não ser corruptível, carne mortal, mas não incorruptível, carne glorificada. Tertuliano, também, parece ter visto a prática Corintiana como um argumento válido no estabelecimento da validade do batismo vicário mas vai um passo mais adiante ao fazê-lo como uma condição necessária para a ressurreição de todos os homens]  

Apêndice III: O Comentário de Tertuliano sobre I Cor. 15:29 especificamente

            [1 Cor. 15: 29-58.] Agora vamos voltar a questão da ressurreição. Eu já até dei a isto, em oposição a todos tipos de heréticos, atenção suficiente em um volume de minha autoria: embora aqui mais uma vez eu não o negligencie, para o benefício de pessoas não cientes daquele pequeno trabalho. O que, ele pergunta, se farão aqueles que se batizam pelos mortos, se os mortos não ressuscitam? Aquela prática deve falar por si só....fazem aquilo pela fé na ressurreição. Vemo-lo em outro contexto estabelecendo um limite, de um batismo. {Aí vai outra das especulações de Holding – M.S.}. Conseqüentemente, ser batizado pelos mortos é ser batizado pelos corpos: pois lhes mostrei que o que estava morto era o corpo. O que se farão aqueles que são batizados pelos corpos, se o corpos não se levantarão mais uma vez? E então com razão aqui estabelecemos nossa posição, para deixar o apóstolo introduzir seu segundo ponto de discussão, isto também com referência ao corpo. Mas alguns homens dirão, como e quando os mortos se levantarão? E com que corpo virão? Pois após a defesa da ressurreição que estava sob ataque de negação, seu próximo passo foi discorrer sobre aqueles atributos do corpo, os quais não estavam abertos à visão. [216]

--------------------------------------------------------------------------------  

Notas de Rodapé

[1] Fonte: http://www.tektonics.org/JPH_ADFS.html; A versão atualizada impressa está em James Patrick Holding, The Mormon Defenders: How Latter-day Saint Apologists Misinterpret the Bible (Self-published, 2001): 63-79.

[2] Para outro exemplo deste tipo de linguagem jocosa e lúdica, veja, por exemplo, seu artigo “Steel-Belted Tyre: On the Tyre Prophecy of Ezekiel,” onde se refere ao Rei Nabucodonosor como “Nebbie” ( http://www.tektonics.org/tekton_05_05_03.htm ). Em um outro lugar (uma resposta a uma revisão SUD de seu livro, ele diz, “Oh, malditos sanguinários, sim, estou agonizando obre um título que representaria minha agenda, não estou? Tática dos Cépticos #8,832: Adivinhe os motivos de seu oponente e o faça cair em descrédito baseado em coisas como títulos ou declarações de missão!... Então, o que poderei dizer? Talvez McGregor estivesse bravo pois o mandei correndo ao dicionário muitas vezes, ou talvez ele perdeu seus laxantes no dia em que escreveu a revisão. De qualquer forma esta revisão foi um grito distante do tipo de trabalho responsável que esperava vir da FARMS” [ http://www.tektonics.org/funnyfarm.html ] (Incidentalmente, o “McGregor” que ele está se referindo é Russell McGregor, a quem Holding incorretamente assume faça parte do corpo da FARMS. Qualquer pessoa pode submeter um artigo para um dos periódicos da FARMS’; não precisa ser um membro da entidade. De qualquer forma, meu ponto é que sua ironia lúdica é típica, e deve ser simplesmente ignorada como “barulho de fundo”; ele traz uma atitude semelhante em muitas de suas obras apologéticas. Ele já prometeu a apologistas SUD para diminuir com isto. Enquanto eu fortemente discordo com a maioria de seu criticismo (o que era de se esperar), espero que ele ache meus argumentos igualmente respeitosos de forma a podermos começar um diálogo significativo, ao invés de apenas tentar se alinhar com anti-Mórmons profissionais (como Ed Decker, Luke Wilson do Instituto de Pesquisa Religiosa, e outros de sua laia – não há um senso comum com estes críticos).

[3] Carl A. Mosser e Paul L. Owen, “Trabalhos Acadêmicos Mórmons, Apologética e Negligência Evangélica: Perdendo a Batalha sem Ficar Sabendo?” Trinity Journal n.s. 19/2 (Fall 1998): 179-205.

[4]  Em uma tépida, revisão on-line sem muita imaginação e pobremente pesquisado  livro “One Nation Under Gods” de Richard Abane, o qual absolutamente contribui com nada de novo ao criticismo SUD, Holding diz que ele está apenas revendo o livro como um favor para um conhecido SUD, e afirma que ele não é um ‘expert’ em história SUD. A sátira está na forma mais do que no conteúdo da revisão, acredito: que consista de todas as 10 linhas que pudessem ser escritas por Pôncio Pilatos. Ver  http://www.tektonics.org/abanesrvw.html.

[5] Schindler, Marc A., “Biblicismo vs. revelação contínua: dois modelos conflitantes de compreender as escrituras,” em http://www.members.shaw.ca/kschindler/biblicism.htm que é, como às vezes acontece, baseado em uma introdução geral que foi escrita para uma série de debates que havia sido propostos entre vários SUD e J. P. Holding no ZLMB (ver 1.). Como também acontece, o debate nunca aconteceu – em um determinado momento, novamente no ZLMB, Sr. Holding indicou que havia perdido seu interesse no debate.

[6] Embora não necessariamente compreensiva, um “spectrum”de exemplos pode ser delineado, com os Inerrantistas mais extremos sendo aqueles que seguem a “Declaração de Chicago,” Inerrantistas um pouco menos rígidos aceitariam o “Manifesto de Manila”, Inerrantistas mais moderados seriam aqueles que seguissem o “Convênio de Lausane” e os Inerrantistas mais liberais, para quem o rótulo de “Inerrantistas” nem mesmo seria adequado, veremos na “Confissão de Westminster” e na “Confissão de Augsburg.” É minha opinião pessoal que os Santos dos Últimos Dias cairiam em um espectro variando entre o Convênio de Lausane (sem as adições do Manifesto de Manila) e as Confissões de Augsburg e de Westminster no que concerne a nosso tratamento com as escrituras, com algumas óbvias exceções (tal como a premissa de um cânon fechado). Uma vez que estamos falando mais sobre os estritos Inerrantistas, eu apenas escreverei um pouco sobre a Declaração de Chicago, o Manifesto de Manila e o Convênio de Lausane.

Declaração de Chicago: Esta declaração foi o lançamento do Congresso Internacional de Inerrância Bíblia (ICBI), um esforço conjunto interdenominacional por centenas de líderes e eruditos evangélicos para defenderem a inerrância bíblica contra a tendência em direção a concepções liberais e neo-ortodoxas da Escritura conforme compreendiam isso. Esta conferência reuniu-se em Chicago em um hotel perto do aeroporto O’Hare no outono de 1978, e foi assinada por 300 bem conhecidos eruditos evangélicos, incluindo James Montgomery Boice, Norman L. Geisler, John Gerstner, Carl F. H. Henry, Kenneth Kantzer, Harold Lindsell, John Warwick Montgomery, Roger Nicole, J.I. Packer, Robert Preus, Earl Radmacher, Francis Schaeffer, R.C. Sproul, e John Wenham. A ICBI dispersou-se em 1988, seu trabalho [demed} para ser completado. O congresso ultimamente produziu três declarações importantes: esta sobre inerr6ancia bíblica em 1978, uma sobre hermenêutica bíblica em 1982 e outra sobre aplicação bíblica em 1986. Uma cópia publicada da declaração pode ser encontrada em Carl F. H. Henry in God, Revelation and Authority, vol. 4 (Waco, Tx.: Word Books, 1979), on pp. 211-219. O Espírito típico desta declaração pode ser visto nos 3os e 4os artigos do seu sumário preliminar:

3. O Santo Espírito, o autor divino da Escritura, tanto autentica para nós seu testemunho interior e abre nossas mentes para a compreensão e significado. [este é o tão chamado modelo do “profeta como um boneco escriba” que ignora qualquer artefato cultural na Bíblia]

4. Sendo completa e verbalmente concedida por Deus, a Escritura é sem erro ou falta em todo seus ensinamentos, não menos no que afirma sobre os atos de Deus na criação, sobre os eventos da história mundial, e sobre sua própria origem literária sob a égide de Deus, do que em seu testemunho sobre a graça salvífica de Deus na vida dos indivíduos.[ isto coloca Santos dos Últimos Dias, junto com muitos outros Cristãos que aceitam, de forma geral, as descobertas da ciência, com um sério problema em termos de aceitação desta declaração]. Ver também: http://www.gty.org/~phil/creeds/chicago.htm

Convênio de Lausane. Este convênio, assinado em 1974 por representantes evangélicos protestantes de 150 países, é mais famoso por ser associado com Billy Graham. A conferência foi chamada o Comitê de Lausane para Evangelização Internacional (LCIE). Ele não possuem realmente uma declaração sobre Inerrância Bíblica por assim dizer, mas o Artigo 2 é alguma coisa que os Santos dos Últimos Dias aceitariam prontamente, mais uma vez, exceto pelo fechamento do cânon. A maior parte do Convênio de Lausane incita os membros das igrejas a evangelizar (obra missionária), alguma coisa que os SUD aceitariam prazerosamente.

2. Afirmamos a inspiração divina, veracidade e autoridade tanto das Escrituras do Velho como do Novo Testamento em sua inteireza como a única palavra de Deus escrita, sem erro em tudo o que afirma, e como a única regra infalível de fé e prática. Também afirmamos o poder da palavra de Deus para realizar seu propósito de salvação. A mensagem da Bíblia é endereçada a todos os homens e mulheres. Pois a revelação de Deus em Cristo e na Escritura é imutável. Através dela o Santo Espírito ainda fala hoje. Ele ilumina a mente do povo de Deus em todas as culturas a reconhecer sua verdade atualizada através de seus próprios olhos e então revela a toda a Igreja ainda mais da multicolorida sabedoria de Deus. [ênfase acrescentada] Ver também http://www.gospelcom.net/lcwe/statements/covenant.html

Manifesto de Manila. Em 1989, o segundo Congresso Internacional de Evangelização Mundial (SICWE) reuniu-se em Manila e enquanto afirmasse o Convênio de Lausane, também acrescentou preceitos familiares ao Protestantismo conservador, tais como o pecado original, o direito de Protestantes evangélicos a declararem não aderentes como não sujeitos ao sacrifício expiatório universal de Cristo [uma ironia adequada para tratamento em um outro artigo – M.S.], que a expiação de Cristo ocorreu na cruz, não no Gethsêmani, e assim por diante. Ver também:http://www.gospelcom.net/lcwe/statements/manila.html

[7] Thiselton, Anthony C., A Primeira epístola aos Coríntios: um comentário sobre o Texto Grego (Grand Rapids MI & Cambridge: William B. Eerdmans Publishing Co. & Paternoster Press, 2000): 1242-1248. Grego Koinê, incidentalmente significa Grego “comum” e é uma forma de Grego falada como um língua franca em volta do Mediterrâneo na época. Assim como o Inglês moderno é uma língua universal hoje, e tomou emprestado muitas palavras de outras línguas, também o fez o Grego Koinê. No Novo Testamento pode-se achar especialmente muitos empréstimos do Hebraico e do Aramaico.

[8] Schowalter, Daniel N. “Baptism,” in Metzger, Bruce M.; Coogan, Michael D.; eds. The Oxford Companion to the Bible (Oxford: Oxford University Press, 1993): 78

[9] Orr, William F.; Walther, James Arthur. I Corinthians: Anchor Bible vol. 32 (Garden City NY, Doubleday & Company: 1976): 335

[10] Bercot, David ed. A Dictionary of Early Christian Beliefs (Peabody MA, Hendrickson Publishers: 1998): 63.

[11] Veja, e.g. o 9o Artigo de Fé: “Cremos em tudo o que Deus revelou, em tudo o que Ele revela agora e cremos que Ele ainda revelará muitas coisas grandiosas e importantes relativas ao Reino de Deus.” Para nós a revelação é que é a coisa importante, e Escritura é um registro da revelação.

[12] Bickmore, Barry R. Restoring the Ancient Church: Joseph Smith and Early Christianity (Ben Lomond CA: FAIR, 1999): 219

[13] Orr, William F.; Walter, James Arthur. Anchor Bible vol. 32: I Corinthians (Garden City NY: Doubleday, 1976): 337

[14] Tvedtnes, John. “They Shall Hear the Voice,” http://www.farmsresearch.com/member/review/10_2/tvednes.htm

[15] Tvedtnes, ibid.

[16] Holding, op. cit. 66

[17] Correspondência pessoal por e-mail, 19 Março 2003.

[18] Ibid.

[19] Mack, Burton L. Rhetoric and the New Testament (Minneapolis: Augsburg Fortress [sic], 1990): 56. É importante enxergar que Holding não é de nenhuma maneira particular sobre o tipo de fontes que ele usa para defender seu ponto. Há de fato uma organização em Mineápolis chamada Augsburg Fortress, mas a gráfica de publicações deles é chamada de Fortress Press, e são de uma tendência liberal. Um exemplo do tipo de livros que publicam é Modelos de Deus: Teologia para um Era Ecológica e Nuclear, por Sallie McFague, que é um Distinto Teólogo em Residência na Faculdade de Teologia de Vancouver. McFague, que obteve seu bacharel em Teologia do muito liberal (não Biblicista) Seminário da Universidade Yale, leciona num seminário que é “oficialmente apoiado pelas igrejas Anglicanas, Unidas e Presbiterianas do Canadá e Presbiterianos e Metodistas Unidas”  ( http://www.vst.edu/about/index.php ) - em outras palavras, denominações Protestantes da corrente não-Biblicista (mesmo liberais). Nenhuma Karen Armstrong, talvez,mas ainda assim uma curiosa fonte para alguém como J.P. Holding. Como uma nota pessoal, acrescentaria que possuo um maravilhoso conjunto de volumes publicados pela Fortress Press os quais cobrem um espectro do tão chamado “alto criticismo” (criticismo textual, criticismo redacional, etc.) os quais os biblicistas usualmente repudiam. Colocada de outra maneira, Fortress está para o Protestantismo Liberal assim como a Deseret está para a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Coisas como essas formam as camadas da inconsistência do universo lógico do Biblicista. 

[20] Watson, Duane F. “Paul’s Rhetorical Strategy in 1 Corinthians 15,” in Porter, Stanley E.; Olbricht, Thomas H.; eds.  Rhetoric and the New Testament: Essays from the 1992 Heidelberg Conference (Sheffield: Sheffield Academic Press, 1993): 231-49.

[21] As seguintes trocas em Grego-B mostram que qualquer influência a partir do mundo Greco-Romano de Paulo não teriam vindo do Grego clássico ou pagão, mas a partir do Judaísmo Helenizado (particularmente de Filo): “Primeiramente, parece precário ascrever o pensamento Platonístico a Paulo onde seus escritos mostram muito pouca influência deste tipo. Tem-se um sucesso melhor para o escritor de Hebreus se seguíssemos nesta linha, todavia, mesmo neste caso, seria difícil alguém demonstrar que o Platonismo prover mais do que uma janela cultural para o arcabouço da mensagem do Evangelho. Isto quer dizer, a mensagem do Evangelho, com suas raízes  hebraicas, é apresentada de uma forma que é culturalmente aceitável para a audiência helenizada do autor. “Em segundo lugar, podemos realmente assumir que os crentes do 1o Século (e especialmente os apóstolos) tomaram sua cosmologia a partir da filosofia e ciência Pagã corrente em sua época? Uma premissa como esta sobre os Cristãos de hoje iria perder o foco, pelo menos em termos daqueles que aceitam os aspectos miraculosos e supernaturais da tradição Cristã. Apesar do fato de evolucionismo ser praticamente um dogma na ciência contemporânea, muitos Cristãos (incluindo seus “truly”) vêem isto como um sistema intrinsecamente falho que não providencia modelos de origens válidos nem explicações satisfatórias sobre o atual estado da ecologia. Será que teríamos que assumir que os Apóstolos estivessem alinhados logo atrás da então corrente visão científico-filosófica?

David L. Moore Southeastern Spanish District Miami, Florida of the Assemblies of God dvdmoore@dcfreenet.seflin.lib.fl.us

Departamento de Educação http://www.ibiblio.org/bgreek/test-archives/html4/1996-02/12408.html

“Uma outra razão é que talvez não seja uma questão de como o texto Hebraico era compreendido mas antes de como a Septuaginta de Gênesis 1 era compreendida. Mesmo quaisquer antecedentes da doutrina do Logos são mais prováveis de serem encontradas naqueles mesmos textos de Sabedoria muito dos quais (se não todos) vindos de Alexandria e do Judaísmo Helenístico.”Carl W. Conrad, Department of Classics, Washington University, One Brookings Drive, St. Louis, MO, USA 63130, (314) 935-4018, cwconrad@artsci.wustl.edu OR cwc@oui.com WWW: http://www.artsci.wustl.edu/~cwconrad/

Em outras palavras, qualquer influência Grega sobre Paulo não teria vindo de influência Greco-Romana, mas a partir de fontes Egípcio-Gregas, tais como Filo.

[22] George A. Kennedy. A New History of Classical Rhetoric (Princeton: Princeton University Press, 1994); and Kennedy, New Testament Interpretation through Rhetorical Criticism (Chapel Hill: University of North Carolina Press, 1984)

[23] James L. Kinneavy, Greek Rhetorical Origins of Christian Faith (New York: Oxford University Press, 1987)

[24] David Alan Black, “The Discourse Structure of Philippians: A Study in Textlinguistics.” Novum Testamentum 37 (1995): 16-49. Black discorda com as conclusões de que a epístola de Paulo aos Filipenses seguisse inteiramente as estratégias convencionais de retórica grega (conforme proposto por Duane Watson), embora ele conclua que isto seja principalmente deliberativo em função (isto de acordo com uma bibliografia anotada por Melanie Chapin, utilisada no curso de graduação de H. Lewis Ulman’s sobre o estudo de retórica do período clássico (Ohio State University).

[25] Timothy H. Lim, “Not in the Persuasive Words of Wisdom, but in the Demonstration of the Spirit and Power,” Novum Testamentum 29 (1987): 137-149. Novamente, conforme indicado na bibliografia anotada de Chapin, Lim tenta interpretar a aparente discrepância entre I Cor 2:4, onde Paulo adverte os Corintianos contra a retórica, e as características retóricas nas epístolas de Paulo. Ele conclui que Paulo deseje usar retórica desde que isto permaneça subordinado à mensagem do Evangelho e ao poder do Espírito Santo. O argumento de Holding é que retórica dita o conteúdo é precisamente o oposto da conclusão de Lim.

[26] Duane Lutfin, St. Paul’s Theology of Proclamation: 1 Corinthians 1-4 and Greco-Roman Rhetoric. (Cambridge: Cambridge University Press, 1994). Lutfin dar um relato histórico da retórica desde os sofistas até Quintiliano a fim de demonstrar o cenário retórico na Corinto do primeiro século, todavia enfatiza a incongruência entre o papel de pregador de Paulo e aqueles dos retóricos. Novamente Holding põe a carroça na frente dos bois.

[27] J. D. H. Amador, The Rhetorical Interpretation of Scripture: the Drive Toward Monological (Monotheistic) Rhetoric (Sheffield: Sheffield Academic Press, 2000).

[28]  Matthew Henry Commentary on I Corinthians 15: III (ver também http://www.blueletterbible.org/tmp_dir/c/1047190256-1380.html)

[29] Holding, op. cit. 65.

[30] Ibid. 65

[31] http://www.blueletterbible.org/tmp_dir/versions/1047190893-2559.html#29

[32] Orr and Walter, op. cit. 334

[33]  G. G. Findlay, "St. Paul's First Epistle to the Corinthians," in The Expositor's Greek Testament (London: Hodder & Stoughton, 1897-1919): 2:930

[34] Frederik W. Grosheide, "Commentary on the First Epistle to the Corinthians," no The New International Commentary on the New Testament (Grand Rapids: Eerdmans, 1955): 372. Meus agradecimentos ao D. Charles Pyle por trazer-me estas duas referenciadas para minha atenção.

[35] Holding, op. cit. 69.

[36] Ibid. 65

[37] DeMaris, Richard E. “Corinthian Religion and Baptism for the Dead (1 Corinthians 15:29): Insights from Archaeology and Anthropology,” Journal of Biblical Literature 114/4 (1995).

[38] Blenkinsopp, Joseph. Anchor Bible vol. 19: Isaiah 1-39 (Garden City NY: Doubleday, 2000): 288

[39] Holding, op. cit. 69

[40] Holding, op.cit. 65-66.

[41] Conybeare and Howson, The Life and Epistles of St. Paul: 412-413.

[42] Isenberg, Wesley W., trans. “The Gospel of Philip” in Robinson, James. M. dir. The Nag Hammadi Library in English (San Francisco: Harper & Row, 1977): 139-145.

[43] Isto, é claro, uma referência à controvérsia do “Evangelho Secreto de Marcos”: http://www-user.uni-bremen.de/~wie/Secret/secmark_home.html

[44] Holding cita Tvedtnes nisto (op. cit.) mas aponta que os registros Cópticos apenas retrocedem ao 4o  século. Isto em grande parte porque achamos a biblioteca de Nag Hammadi. Quantos documentos desconhecidos existem ainda lá fora esperando por nosso esforço suficientemente aguçado a fim de descobri-los? Isto é, mais uma vez , o perigo de argüir a partir do silêncio, como  Holding o faz. E apenas como um aparte, Biblicistas freqüentemente tem a tendência de confundir a parte pelo todo, e assumem que eles são os únicos verdadeiros cristãos. Quando questionados sobre isso, eles tentarão implicar que o seu “naco de lenha” é maior do realmente ele é. Quando o apanhamos desatentos, como aqui, vemos quão exclusivistas eles realmente o são – Coptas não são realmente “Cristãos”, não mais do que Santos dos Últimos Dias também pareceriam ser.

[45] Bruce M. Metzger, The Canon of the New Testament: Its Origin, Development, and Significance (Oxford: Clarendon Press, 1987): 2

[46] Citado em Jeffrey A. Trumbower. Rescue for the Dead: The Posthumous Salvation of Non-Christians in Early Christianity (Oxford: Oxford University Press, 2001): 10. Incidentalmente, devo indicar que onde quer que Trumbower trate a posição SUD com respeito, ele não necessariamente concorda com ela num sentido religioso; isto é, ele a vê isto como consistente com o contexto histórico social – um importante chamado para despertar os críticos – mas estaria mais inclinado a atribuir isto ao gênio religioso de Joseph Smith do que a uma restauração genuína sendo o evento realmente histórico. Essa diferença, é claro, é uma diferença de Glaubensache (Profissão de Fé); estamos meramente tentando contrariar os argumentos dos críticos de que o batismo vicário fosse inconsistente com o panorama histórico social. Trumbower discorda com esta alegação dos críticos.Também gostaria de agradecer a Ted Jones por trazer este livro a minha atenção, também assim como a revisão crítica em BYU Studies (ver abaixo). Meus agradecimentos a Ted Jones por trazer as obras de Trumbower para minha atenção.

[47] Ibid. 11

[48] Este não é um lugar para uma compreensiva bibliografia, mas para os iniciantes, Hugh Nibley, The Message of the Joseph Smith Papyri: an Egyptian Endowment (Salt Lake City: Deseret, 1975); Donald W. Parry, Stephen D. Ricks; eds. The Temple in Time and Eternity (Provo UT: FARMS, 1999); Hugh Nibley, Temple and Cosmos: vol. 12 The Collected Works of Hugh Nibley (Salt Lake City & Provo UT: Deseret & FARMS, 1992); Donald W. Parry, ed. Temples of the Ancient World: Ritual and Symbolism. (Salt Lake City & Provo UT: Deseret & FARMS, 1994).

[49] Op. cit. 15. Trumbower acrescenta que “O autor desta inscrição está em efeito ‘orando’ para as deidades chtônicas [do inframundo] para o bem estar de pessoas falecidas.”

[50] Ele especificamente cita Diodorus da Sicília; ibid. 23

[51] Isto não é apenas uma questão de chamar por nomes: o auto-estilizado “Nenhum Nada” era um movimento antiintelectual na Igreja Batista que tentaram direcionar os Batistas para uma visão Inerrantista extremamente restrita, e incidentalmente opuseram-se a entrada de Afro-Americanos em suas Igrejas; isto acabou por causar um cisma da igreja Batista Sulista, que herdou esta tradição antiintelectual e racista.

[52] Raymond E. Brown, Anchor Bible vol. 29: The Gospel According to John (i-xii) (Garden City NY: Doubleday, 1966): 131

[53] Op. cit. 27-28.

[54] Citado em Trumbower, op.cit. 31

[55] Minha paráfrase a partir de uma revisão crítica do Livro de Hans A. Pohlsander (Professor Emérito de Estudos Clássicos e de Religião, Universidade de Albany, Universidade do Estado de New York), “Review: Jeffrey A. Trumbower, Rescue for the Dead: the Posthumous Salvation of Non-Christians in Early Christianity” em BYU Studies (41:2, 2002): 188

[56] Trumbower, op. cit. 86.

[57] Ibid. 108

[58] Pohlsander: op. cit. 191.

[59] Trumbower, op. cit. 33-34

[60] Ibid. 35

[61] Ibid, 35.

[62] Ibid, 37.

[63] C. Munier, Concilia Africae A. 345-A. 525 (Turnhout: Brepols, 1974) : 33-34; citado em Trumbower 38.

[64] Sermon 294.3-4; citado em Trumbower: 140.

[65] Op cit. 155.

[66] Holding, op. cit. 75

[67] O Pastor de Hermas, similitude 9.16.3-7 (Loeb Classical Library, Kirsopp Lake trans.); citado em Richard Lloyd Anderson, Understanding Paul (Salt Lake City: Deseret Book Co., 1983): 403-415-

[68] J. A. MacCulloch, The Angústia of Inferno (Edinburgh, Scotland: T. & T. Clark, 1930): 48-49

[69] Não para ser confundido com as adições apócrifas a Jeremias; estas adições junto com as adições do livro de Ester e Daniel faziam parte da Septuaginta e estariam disponíveis livremente para Justino Mártir e seus contemporâneos. Sabemos disso a partir de uma citação direta das adições a Daniel (especificamente a Oração de Azarias e o Hino dos Três Mancebos) em sua Apologia I.46 e a partir de “Susana” e “Bel e o Dragão” por Irineu em sua Contra Haereses IV 26, and IV 5,2, 26,3, respectivamente. Outros Cristãos que citaram a partir desta parte dos Apócrifos incluem Clemente de Alexandria (Eclogae propheticae), Hipólito de Roma; Tertuliano (de Oratione 15); e Cipriano de Cártago (de Lapsis 31). Que isto não era parte do cânon Judaico após Jâmia é claro pelo fato de Josefo não citar qualquer destas histórias, embora elas mostrem os judeus em uma luz marcial – e sua paráfrase do que pode ter sido a partir das adições de Éster (Ant. X 10.5) demonstra que ele a princípio não estava avesso a citar a partir das obras apócrifas. Ver  Carey A. Moore: Daniel, Esther and Jeremiah: the Additions (Garden City NY: Doubleday, 1977):28, 50.

[70] Justino Mártir, “Diálogo com Trifo” The Ante-Nicene Fathers, 10 vols. (Grand Rapids, Mich.: Wm. B. Eerdmans Publishing Co., 1951), 1:235; ver também http://www.ccel.org/fathers2/ANF-01/anf01-48.htm#P4399_909902, Chapter LXXII, onde “sepultura” é usado ao invés do “Infra-mundo”. Isto é consistente com a doutrina SUD de um mundo pós mortal que se divide em duas partes e onde os espíritos aguardam a ressurreição.

[71] Ver Capítulo 10, “Don’t Stare at the Neighbours,” em Donald Harman Akenson, Surpassing Wonder: the Invention of the Bible and the Talmuds (Montreal and Kingston: McGill – Queen’s University Press, 1998): 274 – 294 para uma descrição da mudança do Judaismo para o Judaísmo Rabínico; ver 144-150 para uma discussão do porque a literatura apocalíptica oi excluída do cânon até o extremo de que até os anos de 1950 fosse considerada uma fraude Cristã, apesar de serem escritos da era pré-Cristã do segundo Templo. O exemplo usado especificamente é o Livro dos Jubileus. É interessante notar que ao tentarem se distanciarem da versão LXX, a qual Judeus contemporâneos achavam que haviam sido co-optada pelos Cristãos, eles também removeram três histórias de “libertação” nas adições apócrifas de Daniel, Ester e Jeremias.

[72] Irineu, Contra Heresias 4.27.1, citado em J. B. Lightfoot, The Apostolic Fathers (Grand Rapids, Mich.: Baker Book House, 1962): 277-78. Ver também http://www.ccel.org/fathers2/ANF-01/anf01-62.htm#P7979_2198226  IV.XXVII.2

[73] O Pastor de Hermas, similitude 9.16.2-4 (Loeb Classical Library, Kirsopp Lake trans.); cited in Richard Lloyd Anderson, op.cit: 405, 407-8. Ver também  http://www.ccel.org/fathers2/ANF-02/anf02-32.htm#P944_243628  Similitude IX:XVI. Sou grato a Robert Millet por estas duas últimas citações assim como aquela de Justino Mártir acima; ver Robert L. Millet, “I Have a Question,” Ensign, Aug. 1987:19

[74] Barry Robert Bickmore, Restoring the Ancient Church: Joseph Smith and Early Christianity (Ben Lomond CA: FAIR, 1999): 221, citado por Holding.

[75] J. R. Porter, “Oil in the Old Testament,” em Martin Dudley e Geoffrey Rowell, eds., The Oil of Gladness: Anointing in the Christian Tradition (London: SPCK, 1993): 40; citado em Bickmore, ibid. 221.

[76] John Tvedtnes, “The Dead Shall Hear the Voice,” http://farms.byu.edu/display.php?a=review/10_2_1998_13.inc&x=2 [requer uma filiação a FARMS para ver].

[77] Bickmore, op. cit. 222.

[78] Tvedtnes, op. cit.

[79] John A. Tvedtnes, “Baptism for the Dead in Early Christianity,” em Donald W. Parry and Stephen D. Ricks, eds. Temples through the Ages 2: The Temple in Time and Eternity (Provo UT: FARMS, 1999): 56-7.

[80] Epiphanius, Against Heresies 1.28.6.

[81] J.-P. Migne, ed., Dictionnaire universel et complet des conciles. Première encyclopédie théologique, vol. 13 (Paris : Ateliers Catholiques, 1847) : 1 :477, and Charles J. Hefele, A History of the Councils of the Church (Edinburgh: Clark, 1896): 2:397-402.

[82] E. S. Drower, The Mandaeans of Iraq and Iran: Their Cults, Customs, Magic Legends, and Folklore (1937); reprint, Leiden: Brill, 1962): 44, 46, 90, 129-30, 132, 198:214-22; Diwan Abatur or Progress through the Purgatories (Vatican: Biblioteca Apostolica Vaticana, 1950): 22; The Canonical Prayerbook of the Mandaeans (Leiden: Brill, 1959): 10; A Pair of Naşoraean Commentaries (Two Priestly Documents) (Leiden: Brill, 1963): 39; The Thousand and Twelve Questions (Berlin: Akademie-Verlag, 1960): 13, 143, 150, 223-26, 262-64, 272; e The Secret Adam: A Study of Naşoraean Gnosis (Oxford: Clarendon, 1960): 51, 73-75, 79, 94. Citado em Tvedtnes, op. cit. 74.

[83] Ver, e.g., Odes de Salomão 6:8-18; Epístola dos Apóstolos 27, citado a partir de Montague R. James, The Apocryphal New Testament (1924; reprint, Oxford: Clarendon, 1960: 494; Testament of our Lord and Savior Jesus Christ: 38-39. Traduzido por John A. Tvedtnes a partir de Louis Guerrier e Sylvain Grébaut, trans., Le Testament en Galilée de Notre-Seigneur Jésus-Christ (Paris: Firmin-Didot, 1912), Patrologia Orientalis, 9 :209-10. Em um outro texto Etíope, Cristo descende ao Sheol e resgata de lá seus escolhidos, enviando-os ao jardim (Paraíso) sob a liderança de Dimas, um dos ladrões crucificados com. Eles são parados nos portões pelos serafins e querubins, que não os permitem passagem até que Dimas lhes mostra o sinal que Cristo havia lhe dado, escrito no próprio sangue de Cristo.; Ver E. A. Wallis Budge, O Livro dos Mistérios dos Céus e da Terra e Outras Obras de Bakhayla Mîkâ’êl (Zôsîmâs) (Oxford: Oxford University Press, 1935(): 135-37; citado em Tvedtnes, op. cit.75.;

[84] Citado em Tvedtnes, op. cit. 60-78.

[85] Tvedtnes, op. cit. 68-69.

[86] Ibid. 71; referindo-se de passagem a E. A. Wallis Budge, The Bandlet of Righteousness: An Ethiopian Book of the Dead (London: Luzac, 1929): 12

[87] Hans Urs von Balthasar, The Glory of the Lord: A Theological Aesthetics, Volume VII: Theology of the New Covenant. Chapter 2: ‘The Brother for whom Christ died’ (D-Einsiedeln: Ignatius Presse, 1984): 465-6

[88] “Termo grego para madeira ou floresta; uma vez que, na filosofia de Aristóteles, o termo é usado para matéria considerada de uma forma mais generalizada. Entre as quatro causas, “ílea” é a causa material que subscreve quaisquer tipo de mudança substancial” –Dicionário de Nomes e Termos Filosóficos, http://www.philosophypages.com/dy/index.htm

[89] Monica J. Blanchard, and Robin Darling Young, A Treatise on God Written in Armenian by Eznik of Kolb (floruit c. 430-450) (B-Louvain: Peeters, 1998): 212

[90] R. St. John Parry, The First Epistle of Paul the Apostle to the Corinthians (Cambridge:  Cambridge University Press, 1926); citado em Leon Morris, I Corinthians Tyndale New Testament Commentaries (Grand Rapids MI: Eerdmans, 2000; first published 1958):214-5. Sou  grato a Ted Jones por trazer estas testemunhas miscelâneas a minha atenção.

[91] Hans Conzelmann, I Corinthians (Philadelphia: Fortress Press, 1975), citado em Morris op. cit.

[92] op. cit. 214-5.

[93] Conzelmann, op. cit: 275-6.

[94] Ambrose, Commentaria in Epistolam I ad Corinthios (PL 17:280)

[95] Plato, The Republic 364e-365a, citado em Conzelmann, op. cit. 275.

[96] DeMaris, op. cit. 661-82.

[97] Richard E. DeMaris, “Funerals and Baptisms, Ordinary and Otherwise: Ritual Criticism and Corinthian Rites,” Biblical Theology Bulletin 29 (1999)23-29.

[98] Gordon D. Fee, 1st Epistle to the Corinthians, New International Commentary of the New Testament (Grand Rapids MI: Eerdmans, 1987): 764, citado em Joel R. White, “’Baptized on Account of the Dead:’ The Meaning of I Corinthians 15.29 in its Context,” Journal of Biblical Literature 116 (1997): 487n4.

[99] Dale B. Martin, The Corinthian Body (New Haven CT: Yale University Press, 1995): 106, 120-1, 124-5, 130-132.

[100] J. B. McLaughlin, “Purgatory, or the Church Suffering,” in The Teaching of the Catholic Church: A Summary of Catholic Doctrine, arranjado e editado por Canon George D. Smith, volume II (New York: MacMillan, 1949; 1st ed. 1927):1141.

[101] Ibid. 11667.

[102] John D. Reaume, “Another look at I Corinthians 15.29: ‘Baptized for the Dead,’” Bibliotheca Sacra 152 (995): 457-75.

[103] F. F. Bruce, The New Century Bible Commentary: I and 2 Corinthians (Grand Rapids MI: Eerdmans Publishing Co., 1979): 148, citado em Richard Lloyd Anderson, op. cit. 403.

[104] Entrevista reconstruída escrita por Paul R. Cheesman em 1964 e concedida a Richard L. Anderson em 16 de Junho de 1964. Citado em Anderson, op. cit. 415.

[105] James H. Charlesworth, ed. The Old Testament Pseudepigrapha. Volume 1: Apocalyptic Literature and Testaments (Garden City NY: Doubleday, 1983): 24-25.

[106] De “hapax legomenon,” normalmente um termo lingüístico, a partir do Grego, significando uma única e simples ocorrência de uma palavra ou frase no Novo Testamento.

[107] Bo Reicke, The Epistles of James, Peter, and Jude. Anchor Bible vol. 37 (Garden City NY: Doubleday, 1964): 119.

[108] Raymond E. Brown, An Introduction to the New Testament (New York NY: Doubleday, 1997): 714-15

[109] “Metonímia” é uma forma de simbolismo onde uma parte representa o todo, como em “precisamos de braços para terminar o trabalho” ou “temos caras novas em nosso grupo.”

[110] Sou  grato a Blake Ostler por trazer isto a minha atenção, e a Rolf Færch por providenciar citações on-line nos casos onde não tinha citações impressas.

[111] James H. Charlesworth, ed. The Old Testament Pseudepigrapha, 2 vols. (Garden City NY: Doubleday, 1985): 771

[112] http://apoc.faithweb.com/write/apocjn.html

[113] Pastor de Hermas 77:5-7; 78:1-13 http://apoc.faithweb.com/cfath/hermas1.htm

[114] Pastor de Hermas, similitude 9.16.2-4 (Loeb Classical Library, Kirsopp Lake trans.); citado em Richard Lloyd Anderson, op.cit. 403-415.

[115] Exortação aos Pagãos: XII

[116] Jean Danielou, S.J., The Bible and the Liturgy (Notre Dame IN: University of Notre Dame Press, 1966); ver também http://www.salvationhistory.com/Student/guides/bibleLiturgy.cfm

[117] Ver F. J. Doelger, Sphragis (Paderborn: 1911); J. Coppens, “L’imposition des mains et les rites connexes (Louvaing : 1923); citado em Danielou, op. cit. 54.

[118] Basil, De Spiritu Sancto: 27; citado em Danielou, op. cit. 54.

[119] ‘Talvez tão antigo quanto São Paulo: II Cor 1.22; Efésios 1.13 – e em qualquer caso nos antigos Patriarcas: Clemente de Roma, Epístola 7.6; Hermas, Similitude 9.6.3; 9.16.4; Tertuliano De pudic 9.9’: 55n2

[120] Cirilo of Jerusalém: XXXII: 360A; citado em Danielou: op. cit. 55.

[121] Gregório of Nazianzus: XXXVI 361C; citado em Danielou op. cit. 55

[122] Clemente de Alexandria: Pedagogus 3.11; citado em Danielou op. cit. 55

[123] Doelger, op. cit. 15; citado em Danielou op. cit. 55.

[124] Doelger, op. cit. 32-33; citado em Danielou, op. cit. 55-56

[125] Cirilo de Jerusalém: XXXIII 372B; citado em Danielou, op. cit. 56

[126] Gregório de Nice: PG XLVI 471B; citado em Danielou, op. cit. 56n5

[127] Teodoro de Mopsuéstia: XIII. 17; citado em Danielou, op. cit. 56

[128] Pseudo-Dionísio 400D, citado em Danielou, op. cit. 56.

[129] Gregório de Nazienzus XXXVI.364A, citado em Danielou op. cit. 56

[130] Gregório de Nazienzus XXXVI.377A, citado em Danielou op. cit. 57

[131] Dídimo: XXIX 717B; citado em Danielou op. cit. 57

[132] Doelger, op. cit. 111-119; citado em Danielou op. cit. 57

[133] Gregório de Nice, De baptismo XLVI 424C, citado em Danielou op. cit. 57

[134] Cirilo de Jerusalém: XXXIII.333A; citado em Danielou op. cit. 58

[135] Teodoro de Mopsuéstia: XIII. 17; citado em Danielou, op. cit. 58

[136] Cirilo de Jerusalém: XXXIII 373A; citado em Danielou, op. cit. 58

[137] Cirilo de Jerusalém: XXXIII 428A; citado em Danielou, op. cit. 58-9.

[138] São João Crisóstomo: LXI.418, citado em Danielou, op. cit. 59

[139] Cirilo de Jerusalém: XXXIII.736A; citado em Danielou op. cit. 59

[140] Gregório de Nazienzus XLVI.429C, citado em Danielou op. cit. 59

[141] Gregório de Nazienzus Hom. Bapt.XXXVI.372A, citado em Danielou op. cit. 59-60.

[142] Ambrose XVI 437, citado em Danielou op. cit. 60.

[143] Prudentius PL X 1077, citado em Danielou op. cit. 60.

[144] Heródoto PL II 113, citado em Danielou op. cit. 60.

[145] Heródoto PG LXXXVII 240, citado em Danielou op. cit. 60n11

[146] Cirilo de Jerusalém: XXXIII 441C; citado em Danielou, op. cit. 60-1.

[147] Cirilo de Jerusalém: XXXIII 1102B; citado em Danielou, op. cit. 61.

[148] Cirilo de Jerusalém: XXXIII 373A; citado em Danielou, op. cit. 61

[149] Cirilo de Jerusalém: XXXIII 472B; citado em Danielou, op. cit. 61

[150] Cirilo de Jerusalém: XXXIII 816B; citado em Danielou, op. cit. 61-2.

[151] Atanásio, The Life of St. Antony 13; citado em Danielou, op. cit. 62.

[152] São Cirilo XXXIII 513C; citado em Danielou, op. cit. 63.

[153] Eusébio, Dem Ev 1.6; citado em Danielou, op. cit. 64.

[154] Pseudo-Barnabé IX 6-8; citado em Danielou, op. cit. 65.

[155] Astério de Amasa, Hom Ps 6; PG XL.445A;  citado em Danielou, op. cit. 65-6.

[156] Gregório de Nazienzus PG XL.445A, citado em Danielou op. cit. 66n23.

[157] Justino, Dialogue 41.4, citado em Danielou, op. cit. 66.

[158] São Cirilo XXXIII 1056B; citado em Danielou, op. cit. 66.

[159] São Cirilo XXXIII 1056B; citado em Danielou, op. cit. 66.

[160] Cirilo de Jerusalém: XXXIII 359A; citado em Danielou, op. cit. 66.

[161] Cirilo de Jerusalém: XXXIII 365A; citado em Danielou, op. cit. 67

[162] Santo Agostinho CCII 141D; citado em Danielou, op. cit. 68.

[163] São Cirilo XXXIII 432A; citado em Danielou, op. cit. 68.

[164]  Danielou, op. cit.69. Note especialmente que enquanto batismo está sendo usado como um exemplo, ele é na verdade um arquétipo para outras ordenanças – note as referências aos ‘garments’ brancos…; o ‘sphragis’, o novo convênio’.

[165] Hugh Nibley Of All Things, 2nd ed. (Salt Lake City: Deseret Book, 1993): 39; meus agradecimentos a Kathryn Daniel por esta citação.

[166] Cr. K. Rahner, “La doctrine d’Origène sur la penitence,´Recherches de Science religieuse 37 (1950); Citado em Jacques LeGoff, The Birth of Purgatory (Chicago and London: University of Chicago Press & Scolar Press, 1984): 57

[167] Orígenes, “Aliud pro peccatis longo dolore cruciatum emundari et purgari diu ignore, aliud peccata omnia passione purgasse, aliud denique pendere in die judicii ad sententiam Domini, aliud statim a Domino coronorari.” Citado em LeGoff, op. cit. 57-8

[168]  Orígenes, De principiis 2.11 n. 6; In Ezechielem, homily 13 n. 2; In Numeros, homily 26; citado por LeGoff,  op. cit. 56.

[169]  LeGoff, op. cit. 58.

[170]  Ibid. 59.

[171]  Ibid. 59-60.

[172] “Et sicut diaboli et omnium negatorum atque impiorum qui dixerunt in corde sui : Non est Deus, credimus aeterna tormenta; sic peccatorum et tamen christianum, quorum operaa in igne probanda sunt atque purganda, moderatam arbitramur et mixtam elementiae sententiam iudicis » (In Isaiam 46.24, PL, 24.704b). Citado em LeGoff ibid, 61.

[173]  Dante Alighieri, A Divina Comédia, vol. 2: Purgatório (New York: Grossman, 1969)

[174] Michel Aubrun, “Caractères et portée religieuse et sociale des Visiones en Occident du Vie au XIe siècle,”Cahiers de civilisation médiévale (A[pril-June 1980) : 109-30.

[175] Citado em LeGoff, op. cit. 371.

[176]Bruce M. Metzger, The Canon of the New Testament: Its Origin, Development, and Significance (Oxford: Clarendon Press, 1987): 1

[177] Isto é usualmente creditado a Sra mãe do Governador, “Mama” Ferguson, dito durante debate quanto a questão de se providenciar um currículo bilíngüe Inglês e Espanhol; algumas versões  creditam isto ao seu marido, um antigo governador, chamado, logicamente de “Papa” Ferguson. No começo de 2002 o autor soube de uma pesquisa onde George Washington e Jesus foram considerados os “dois mais importantes Americanos.”

[178] Harold Bloom, The American Religion (New York: Simon & Schuster, 1992):228-230

[179]  Ibid. 222-223.

[180] Nibley, Hugh. The Message of the Joseph Smith Papyri: an Egyptian Endowment (Salt Lake City: Deseret Book, 1975)

[181] Este  é um ponto importante, todavia o relegarei a uma nota de rodapé para não interromper o fluxo de meu argumento. Judeus apontam que Mateus leu errado o Hebraico “almah,”o que meramente significa “donzela” (para quem a virgindade possa bem ser assumida no campo cultural, todavia não significa uma virgem intacta no sentido clínico), indicando que se isso fosse o que Isaías tinha em mente, ele teria usado a palavra “bethulah.” Apologistas cristãos replicam que a própria tradução judaica do Velho Testamento para o grego usou a palavra “parthenos” que definitivamente tinha a conotação de virgem intacta. Como acontece às vezes, a palavra grega é ambígua, uma vez que pode se referir a uma jovem em geral ou a uma virgem intacta.  Isto, incidentalmente, [e um exemplo do porquê os Judeus vieram a achar que Cristãos haviam “cooperado” na Septuaginta (LXX), e eles rejeitaram isto em Jâmia cerca de 90-95 AD em favor de um novo esforço que eventualmente levou até o texto Masorético (MT). Mas embora Mateus chegou até nós em Grego nas suas mais antigas formas, a maioria dos eruditos acredita que o material da natividade derivou-se de fontes ainda anteriores a Marcos (eruditos acreditam que Mateus foi escrito após Marcos e é parcialmente derivado de Marcos), um material específico de Mateus. Brown refere-se a isso como “uma anunciação do nascimento do Messias segundo o padrão de anunciações de nascimento no AT; de maior importância, uma história de nascimento envolvendo José e o menino Jesus, conforme o padrão do patriarca José e as lendas em torno do nascimento de Moisés; e uma história da estrela dos reis magos, segundo o padrão do mago Balaão (uma pessoa com poderes ocultos especiais; um mágico, um adivinho ou preconizador – segundo o estereótipo bíblico usualmente uma figura negativa, e.g., o mago Simeão em Atos 8:9 e o mago Bar-Jesus ou Elimas em 13:6, 8) que veio do oriente e viu a estrela de Davi que iria se levantar a partir de Jacó...” e conclui que “Mateus possuía fonte popular, talvez oral, consistindo de tradições folclóricas acerca de Jesus (a qual poderia ter tido um núcleo histórico não mais recuperável).” [ênfase no original] Raymond E. Brown, An Introduction to the New Testament:205-6.

Em outras palavras, o material da natividade de Mateus poderia ter sido extraído de fontes Aramaicas ou Hebraicas. Schowwalter corta através deste nó Górdio ao simplesmente alegar que mesmo que Mateus usasse uma “bíblia Grega” (pela qual ele quisesse dizer alguma coisa na tradição da LXX e em Grego, mas não necessariamente a LXX conforme hoje a conhecemos, chamemos isto de uma “tradição da LXX”),

“A Palavra Grega partenos usada para traduzir ‘almá’ pode tanto significar uma jovem como uma virgem. Mateus … naturalmente reinterpretou Isaías 7:14 como uma profecia se referindo ao nascimento virginal de Jesus. Para o evangelista, o significado original de Isaías [tendo a haver com política contemporânea, não uma profecia messiânica, no sentido pleno do significado, e certamente aquele que os Judeus achavam que os Cristãos haviam se apossado – M.S.] foi superestimado pela identificação de Jesus como Emanuel (do Grego Emmanouél).” Daniel N. Schowalter, “Virgin Birth” in Bruce M. Metzger and Michael D. Coogan, eds. The Oxford Companion to the Bible (New York & Oxford: Oxford University Press, 1993): 789-90. Albright e Mann consolidam tudo isto:

“23. a virgem. A citação de Isaías vii 14 é dada no Grego da LXX, com a substituição do eles clamarão para tu clamarás. O grego é (unicamente) parthenos, ‘virgem,’ para o Hebraico ‘almah, ‘garota.’ É possível em algumas perspectivas de que Isaías estivesse usando de termos mitológicos correntes de seu próprio tempo para demonstrar uma expectativa de um nascimento de um libertador. Os tradutores da LXX parecem ter entendido assim esta passagem, e apenas mais tarde outras traduções gregas do hebreu aparecem com a palavra que se esperaria, neans, ‘jovem donzela’ ao invés de parthenos.” C. S. Mann and William F. Albright, The Anchor Bible vol. 26: Matthew (Garden City NY: Doubleday, 1971): 10.

O cerne da questão em tudo isso é que Mateus sabidamente “re-leu” ou re-interpretou a passagem de Isaías, que mesmo que no sentido não tivesse nada que ver com Jesus de per si, como uma deliberada referência messiânica. A apologética em volta disso confirma que os  Judeus achavam que ele havia deliberadamente e maliciosamente co-optado “suas” escrituras. Que isto é um exemplo do que chamaríamos de revelação contínua é óbvio para um Santo dos Últimos Dias e será desenvolvido no texto principal na seção sobre Apostasia.

[182] F. D. E. Schleiermacher, Einleitung ins Neue Testament, ed. By G. Wolde (Sämmtliche Werke, 1. Abteilung, viii; Berlin, 1845): 32-75; citado em Metzger, op. cit.18

[183] Metzger, op. cit.: 4

[184] “falsa prisão” é comumente usado no Inglês legal para representar uma falsa representação; aqui, entretanto, Bloom quer dizer em um sentido positivo. Se você ler isto onomatopeicamente, você poderá quase ouvir a incrustação secular de anos de Helenismo, Protestantismo e Farisaísmo quebrando-se a medida que se separam e afastam-se da religião original de Deus.

[185] Harold Bloom, The American Religion (New York: Simon & Schuster, 1992):184-5.

[186] Ibid. 99-100.

[187] http://apoc.faithweb.com/gnostic/secm.htm

[188] Richard Hopkins, Biblical Mormonism: Responding to Evangelical Criticism of LDS Theology (Bountiful UT: Horizon, 1994): 221-3.

[189] Trumbower, op. cit. 100

[190] Orígenes, Hom. In Luc. 4.27.10-4.28.4; Comm. Jn. 2.24; cf. Daniel Sheerin, “St. John the Baptist in the Lower World” VC 30 (1976): 1-22, citado em Trumbower, op. cit. 100

[191] Orígenes, Contra Celsum2.43; citado em Trumbower op. cit. 100.

[192] Ibid. 100

[193] Orígenes, De Prin. 2.5.3; citado em Trumbower, op. cit. 101.

[194] Orígenes, Homily I Sam 28, Homily in Luc 4.20; cf. Crouzel, “L’Hades et la Gehenne selon Origène,” Gregorianum 78, 1978: 295n33.

[195] Orígenes, Homily I Sam 28.9.

[196]  Orígenes, Homily Exod 6.6

[197]  Orígenes, Contra Celsus 2.43; Commentar on John 32.32. 394-400; cf. Crouzel, “LHades”299

[198]  Orígenes, Homily Jer 12.5; Homily Josh 9.7

[199]  Orígenes, Commentary on Matthew 17.24

[200]  Orígenes, Commentary on Romans 6.5

[201]  Ambrose, De Fide 3.14.11; cf. 3.4.27-8: 103

[202] . Kaske, R. E., "The Conclusion of the Old English ‘Descent into Inferno,’" Paradosis: Studies in Memory of Edwin A. Quain, S.J. (New York: Fordham University Press, 1976): 47. Meus agradecimentos a Ted Jones por trazer-me esta referência até minha atenção.

[203] Ibid. 47.

[204] Thomas D. Hill, "Cosmic Stasis and the Birth of Christ: The Old English Descent into Inferno, Lines 99-106," Journal of English and Germanic Philology 71 (1972): 387-9, citado em Kaske, op. cit. 48.

[205] John Dublin, "The Descent into Hades and Christian Baptism (A Study of I Peter 3.19ff)," The Expositor 11 (1916): 241-74, citado em Kaske, op. cit. 48.

[206] Kaske, op.cit. 48.

[207] Ibid. 48n4.

[208] Ibid. 52.

[209] Ibid. 57, com duas placas (livro de capa de Marfim(?), 9o século, em Antuérpia; e Benedicional de Santo Aethelwold, 10o século, MS London).

[210] Ibid. 58, citando Josef Strzygowski, Iconographie der Taufe Christi: ein Beitrag zur Entwicklungsgeschichte der christlichen Kunst (Munich 1885), numerosas placas.

[211] Ibid. 58.

[212] Ibid. 59.

[213] Tertuliano, Homily III, Chapter XLVIII; ver também http://www.tertullian.org/anf/anf03/anf03-41.htm 

[214]  Kalendae Februariae. A grande expiação ou lustração, celebrada em Roma no mês em que recebia seu nome do festival, é descrita por Ovídio, Fasti, book ii., linhas 19-28, e 267-452, em que numa passagem mais tarde o mesmo festival é chamado Lupercália. É claro que a medida que os rituais eram celebrados no 15o dia do mês, a  palavra  kalendae (de onde deriva nossa palavra calendário) aqui não tem  mais seu significado mais usual. (Paley's edition of the Fasti, pp. 52-76). Oehler refere-se também a Macrobius, Saturno. i. 13; Cícero, De Legibus, ii. 21; Plutarco, Numa, p. 132. Holding também percebe (note in loc.), que Tertuliano, ao intimar que os rituais pagãos de Fevereiro sustentaria uma resposta bastante satisfatória para a questão do apóstolo, concernente ao para que a superstição Cristã aludia, conclui que apenas significava nenhuma autorização da dita superstição para si mesmo, mas expressava sua crença de que o único objetivo de São Paulo fosse ajuntar algumas evidências  para a grande doutrina da ressurreição a partir da fé que servia de base para a prática a que se aludia. A este respeito, entretanto, o festival pagão ofereceria uma ilustração ainda mais oposta; pois era verdadeiramente uma lustração para os mortos, “peri nekrón,” e tinha como seu objetivo a felicidade e o bem estar deles, não ia mais além do que uma vaga noção de uma imortalidade indefinida,e nada falava sobre a recuperação do corpo. Há portanto força na alusão de Tertuliano. [Parece que Tertuliano começou a ler cada vez mais sobre este ritual perdido a medida que o tempo passava.]

[215] Tertuliano, De Resurrectione 48,Homily III, Chapter X

[216] Adversus Marcionem, Book V:10; ver também http://www.tertullian.org/articles/evans_marc/evans_marc_12book5_eng.htm

Menu Principal